III

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O dormitório — embora carregasse uma atmosfera grandiosa —  era frio, tanto, que Sasuke quase podia ver algum vapor saindo de sua boca a cada respiração mais pesada que soltava.

A cama de cabeceira ornamentada em prata velho, encontrava-se intacta, tão bem arrumada quanto quando deixou a sala comunal, horas antes.

O fato de ser monitor, dava a Sasuke certos benefícios, um deles, o luxo de ter um quarto só seu. No momento, pensava que se houvesse mais alguém ali, importunando-o, seria capaz de ceder a um colapso nervoso. Sua cabeça pulsava enquanto era engolido pelos próprios pensamentos, enquanto era traído por suas vontades, seus desejos. Regurgitava os acontecimentos recentes; se condenava por sua fraqueza perante as tentações. Nunca pensou que fosse ceder de tal modo, e, principalmente, que fosse perder esse jogo. Estava ganhando, quase havia saído por cima. Quase. Mas ela o contornou, o contornou e agora seus olhos não saíam da cabeça de Sasuke.

Condenava-se por ser tão tolo, por ser tão fraco e maleável quando o assunto era ela. Tudo encontrava-se confuso, indefinível. De repente, as coisas haviam mudado, e agora, tentava lidar com o misto de emoções que bombardeavam-no.

Sentava-se numa espécie de divã posto bem próximo a uma longa tapeçaria que tapava uma das paredes revestidas de grandes pedras acinzentadas e geladas. Seus olhos miravam na larga janela bem a sua frente, esta, encontrava-se levemente embaçada. Sua vista tirava-o a atenção. O intenso verde-escuro que coloria o lago negro refletia a cor característica no restante do quarto, e isso só fazia Sasuke lembrar da íris esmeralda dos olhos oblíquos de Sakura e toda intensidade que seu olhar o capturava.

Embora lutasse contra seus próprios instintos, falhava ao tentar ignorar sua mente traiçoeira que gostava de vê-lo agonizar por não conseguir deletá-la de sua cabeça. Cada pequeno detalhe à sua volta, em algum momento ou outro, o fazia lembrar dela. Era totalmente inconsciente e irritante.

Inevitável, para ser mais exato.

Encontrava-se num terrível impasse. Apesar de com o ego ferido e orgulho despedaçado, ainda sim havia apreciado os amassos com Sakura como se aprecia um jogo acirrado de quadribol em meio a uma tempestade raivosa. Foi emocionante e intenso em níveis que não pensou que pudesse ser. Isso o excitava. Quando o nome de Sakura era lembrado, arrepiava-se. Talvez, por culpa da adrenalina que queimava sua pele; o receio de ser pego somado a boca perversa dela e o rosto de boneca não ajudavam em nada. Não conseguia desfazer-se da imagem dela tão próxima de si, ajoelhada, com a língua para fora, uma expressão de sapeca, e os lábios em volta do seu pau.

Perguntava-se como iria esquecer algo como aquilo. Sem fechar os olhos, ainda conseguia sentir a quentura dela ao redor dos seus dedos. Estava tão molhada que fazia barulho ao tê-lo socando o indicador dentro.

Olhava para a própria mão tentando resistir a imensa vontade de lavar os dedos até o nariz e inspirar fundo. O coração encontrava-se acelerado, a boca seca, a respiração desregulada. Mentiria se dissesse com veemência que lutava para controlar sua vontade insana que tinha de Sakura. Não lutava. Embora trancafiado em seu interior, recluso e isolado, Sasuke aceitava sua pequena obsessão, e não fazia nada para acabar com ela.
Queria Sakura. Queria de tal modo, que essa vontade insana extrapolava até mesmo seu anseio pela taça da liga britânica de quadribol. Parecia incoerente comparar coisas tão diferentes, mas seu sonho mais profundo sempre fora esse: levar a taça dos campeões para casa. Desde que se viu fascinado por voar é só isso que tem impulsionado-o durante os anos; esta era sua meta, sua vontade mais ardente, sua ambição. Mas, durante os últimos meses — talvez anos — tem-se questionado sobre o que de fato sentia por Sakura. Percebeu que, se a troca fosse ela, desistiria de tudo: do torneio, dos prêmios, da glória. Por ela, aposentaria sua vassoura, e isso o envergonhava. Não se constrangia pelo sentimento, longe disso, mas pelo fato de Sakura ter um peso tão grande em sua vida sem nem mesmo se esforçar para tal. Ainda que só o tivesse jurado ódio eterno e nada mais que isso, conseguiu uma parte especial do seu coração.

Corvus l SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora