capitulo20 e 21

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20
Caverna dos Basiliscos, Las Quijadas,
Argentina – Dia 10
Prêmio: Dois ovos de basilisco,
cada um valendo treze pontos
O crepitar de escamas flexíveis e o sibilar de uma língua bifurcada se fizeram
ouvir atrás de Kaderin e ecoaram pelo conjunto de cavernas.
Com sua espada embainhada nas costas, ela correu, e sua visão noturna levou-a de uma câmara
subterrânea para a seguinte. Já tinha coberto cada centímetro daquela verdadeira colmeia de túneis
escavados através da rocha viva desde a antiguidade.
No entanto, não fora capaz de localizar a posição exata dos três animais que ouvira se movimentando
ali dentro. Nem tinha conseguido encontrar algum dos seus ovos ou uma saída alternativa.
Cada túnel tinha, no final, uma câmara de teto elevadíssimo. Naquelas câmaras estavam os mais
antigos ninhos de basiliscos, dragões gigantes escamados, com presas pontudas do tamanho do braço de
Kaderin, e uma cauda letal e musculosa.
Ela já verificara cada ninho em busca dos ovos, mas não descobrira nada. Havia outro sistema de
cavernas sob uma montanha na ravina seguinte – os prêmios deveriam estar lá. As únicas coisas que
encontrara tinham sido antiquíssimos restos mortais de fêmeas humanas entregues em sacrifício, e outros
restos mais recentes de arqueólogos que haviam experimentado uma morte funesta.
O nome da região, Las Quijadas, significava “os maxilares”. Muitos pensavam que o lugar tinha sido
batizado devido aos bandidos que atuavam naqueles vales, alimentando-se e roendo mandíbulas de
vacas. Outros imaginavam que o nome fosse uma alusão aos abundantes fósseis de dinossauros
encontrados ali.
Nenhuma das lendas se aproximava da verdade. Os basiliscos jovens matavam as vítimas, arrancando
as mandíbulas dos humanos oferecidos em sacrifício.
Os arqueólogos que escavaram o lugar não entendiam o porquê de nem todos os dinossauros dali
serem fósseis preservados na rocha. Punham-se a explorar o mistério cada vez mais a fundo, até uma das
equipes ser devorada e o governo dizer que todos tinham sido levados por uma inundação súbita e
fatídica…
Não havia mais escamas se movimentando. Apenas silêncio. Na calmaria, as orelhas de Kaderin se
contraíram e detectaram passos rápidos, com pisadas barulhentas e pesadas. Bowen. Só podia ser ele.
Ela sabia que haveria um confronto entre os dois muito em breve, e desconfiava que a pontuação
elevada daquele prêmio poderia atraí-lo. Mas também estava ávida por esses pontos, e havia dois ovos.
Mais um detalhe: só para tornar a disputa mais interessante, Cindey também estava a caminho dali.
Kaderin vira-a alugando um jipe em San Luís, a cidade mais próxima, assim que chegara à região.Um terremoto forte e repentino derrubou boa parte do túnel. Um basilisco ficou irritado, porque
estava pronto para matar, e sinalizou sua fúria com golpes poderosos da cauda maciça contra as paredes
do túnel. A cada novo golpe mais pedras caíram, forçando Kaderin a desviar o tempo todo delas,
saltando e contornando os obstáculos, pisando nos ossos antigos.
Embora os basiliscos fossem seres terríveis, eles se moviam lentamente pelas colmeias de pedra, e
ela sabia que seria possível matar um ou possivelmente dois ao mesmo tempo. Mas não queria fazer isso,
pois tinha alguma afinidade com monstros.
A própria Kaderin se transformara numa ameaça que era feita na hora de dormir de muitas das jovens
criaturas das espécies mais inferiores do Lore: “Coma todas as suas larvas, senão Kaderin Coração
Gelado vai se esconder debaixo da sua cama para roubar a sua cabeça.”
Voltando-se para a entrada, correu ao longo das paredes com pinturas rupestres fantasmagóricas, até
alcançar a junção tripla dos vários caminhos que levavam à porta principal da caverna. O sol brilhava
ali, como se lhe desse boas-vindas, e iluminava um tipo diferente de pintura rupestre. Antes de ser
encarcerada ali dentro, cada vítima entregue em sacrifício recebia um caniço cheio com uma espécie de
tinta. Ela deveria espalmar sua mão contra a rocha e soprar a tinta do caniço sobre ela, deixando um
contorno assinalado na parede. Aquela marca de mão seria o único monumento que receberia em vida.
Havia milhares deles ali…
Kaderin viu Bowen de relance, semioculto do outro lado da galeria.
Chegara a hora do confronto direto. O tempo pareceu se arrastar subitamente. Ele já eliminara metade
dos concorrentes e todos os mais fortes, com exceção de Lucindeya, Kaderin e Sebastian. Ela sabia que
ele pretendia eliminá-la naquele lugar e naquela prova.
Seus olhos brilhavam no escuro – exatamente como os dela –, e sua expressão era de pura ameaça.
Um corte irregular lhe marcava o rosto e não mostrava nenhum sinal de regeneração. Um ar de
esgotamento parecia lhe pesar sobre os ombros. A maldição da bruxa. Então, era verdade.
A cabeça dela virou para a direita – a direção de seu único ponto de escapatória.
Quando ele começou a correr em direção à entrada, ela reconheceu imediatamente o que ele pretendia
fazer: aprisioná-la ali, como os outros. Enterrou os dedos dos pés no cascalho e se lançou para frente
com determinação e foco.
Ela era muito rápida para uma Valquíria. Ele, porém, mesmo amaldiçoado, conseguiria vencê-la
nisso. Saindo ao sol novamente, olhou para cima. Ela teria de ser capaz de escapar dali antes que ele
conseguisse derrubar as rochas e bloquear a entrada.
Lançando-lhe um sorriso cruel, Bowen enfiou a mão no bolso do jeans. Uma sensação de terror se
abateu sobre ela. Ele deslizou para fora do bolso a mesma gargantilha de diamantes que ela vira antes.
Kaderin não se preocupara em treinar contra esse golpe…
A joia brilhou sob o sol do deserto, irradiando penetrantes raios azuis e brancos de luz.
Eu lhe revelei a minha fraqueza, entreguei-a de bandeja para ele.
Aquela luz era hipnotizante, aparentemente infinita.
Bowen atirou a joia na direção dela.
Eu quero apenas tocá-la…
Quando a gargantilha ainda estava no ar, o olhar de Kaderin se fixou nela, acompanhando-a como se
fosse em câmera lenta, até que aterrissou aos seus pés, em meio ao cascalho solto. Ela congelou, sentiuse paralisada e caiu de joelhos como se orasse para a impressionante gargantilha. Algo tão maravilhoso
não poderia ser deixado ali no chão. Isso nunca! Kaderin pegou a joia com as duas mãos, passando os
polegares amorosamente por sobre as pedras radiantes.
Ouviu Bowen se esforçando ao máximo para fazer alguma coisa, praguejando numa antiga língua
celta. Conseguiu ouvir as garras dele escavando em torno de gigantescas rochas para desalojá-las. Mas
não conseguia afastar os olhos da joia.
Pelo menos, até a caverna ficar completamente escura, depois de estrondos ensurdecedores, e o
brilho cessar.
Naquela manhã, Sebastian deixou Kaderin dormindo tranquilamente. Então, como de hábito, ele se
teletransportou para a townhouse dela, a fim de tomar banho e beber sangue.
Enquanto se vestia, refletiu que não fizera com Kaderin progresso algum que fosse perceptível em
relação à semana anterior. Ainda que não houvesse outra razão para isso, decidiu que carecia ir a
Blachmount porque estava ignorando um recurso do qual muito precisava – seu irmão se casara com uma
Valquíria. Alguém que tinha laços de sangue com Kaderin. Havia informações valiosas ali, prontas para
serem compartilhadas.
Depois de se forçar a beber algum sangue, teletransportou-se para o escritório pessoal de Nikolai.
Encontrou-o folheando alguns papéis. Embora fosse um homem normalmente reservado, Nikolai não se
deu ao trabalho de esconder sua satisfação com a chegada do irmão. Levantou-se na mesma hora e
ofereceu: – Sente-se. Por favor.
Sebastian sentou-se onde lhe foi indicado, mas voltar àquele lugar provocou-lhe nós de tensão nos
ombros.
– Soubemos que você está competindo na Corrida do Talismã – disse Nikolai, voltando a se sentar na
sua cadeira de trabalho. – É o primeiro vampiro de todos os tempos a fazer isso. Ficamos muito
surpresos.
Sebastian deu de ombros.
– Myst entra no computador todos os dias e verifica os resultados. Ela tem uma meia-irmã que está
concorrendo com você. Ela é a sua Noiva?
– Sim – admitiu Sebastian. – Kaderin.
– Myst me contou que Kaderin é… como foi mesmo que ela descreveu?… glamourosa em
elevadíssimo grau. E também uma guerreira vigorosa. – Com tom esperançoso, perguntou: – Você a ama?
– Não. Mas reconheço que ela é minha. E que estou destinado a protegê-la.
– É o bastante. O resto virá com o tempo – garantiu Nikolai. – Nós já andávamos especulando sobre
o que fizera você decidir disputar como representante de Riora.
Sebastian deu de ombros mais uma vez.
– Eu não me alinho com grupo algum, e ela exigia isso. Foi uma aposta no escuro.
– Você poderia ter dito que é ligado aos Abstêmios ou ao Rei Kristoff.
Sebastian ficou ainda mais tenso. Rei Kristoff. Sebastian nunca conseguira compreender como
Nikolai poderia ter morrido nas mãos dos russos e, em seguida, no mesmo campo de batalha aindamolhado de sangue, ter jurado lealdade a Kristoff, que era um russo, independentemente de ser vampiro
ou não.
– Foi apenas uma sugestão – completou Nikolai. – O convite para se juntar a nós está sempre em
aberto. Toda vez que eu mato um vampiro de olhos vermelhos, fico feliz.
– Você já os encontrou alguma vez? – perguntou Sebastian.
– Já entrei em guerra contra eles. Estamos ganhando impulso nessa luta. – Nikolai juntou os dedos
erguidos das duas mãos. – Sebastian, eu sempre respeitei a sua inteligência. Gostaríamos de receber, de
bom grado, consultoria sua sobre diversos assuntos. Após o término da competição, é claro.
Depois de Sebastian vivenciar os sonhos de Kaderin, lutar contra a Horda começava a ser uma
atração especial. Só que ele planejava levar Kaderin para algum lugar bem longe das guerras e mortes
constantes. Os últimos mil anos da vida de sua Noiva tinham sido infernais, mas ele não permitiria que
seus mil anos seguintes fossem do mesmo jeito.
– Não pretendo participar do seu grupo – disse simplesmente.
Nikolai assentiu, mas Sebastian sabia que aquilo estava longe de terminar.
– Sobre essa competição e o prêmio final – começou Nikolai –, você já pensou em usá-lo para salvar
a nossa família?
Obviamente, Sebastian já pensara nisso. Mesmo depois de tanto tempo, a sua sensação de culpa era
implacável. Quando fora chamado para proteger a família, ele tinha falhado cinco vezes –
sucessivamente.
– Eu não acredito que a chave funcionará – afirmou. No entanto, se funcionar… Se ele puder fazer
alguma coisa para desfazer o passado…
Não era razoável culpar a si mesmo, não era lógico, mas ele não conseguia parar. Conrad tinha
sentido o mesmo – antes de perder a cabeça por completo, pelo menos.
A cultura aristocrática de Sebastian ensinara-o a reverenciar os militares e a lutar. No entanto, o
destino lhe dera um inimigo invisível determinado a aniquilar sua família e para o qual não existia
nenhuma defesa nem batalha. Teve de assistir sentado e impotente, enquanto tudo que amava morria.
Sebastian tinha sido o irmão favorito para as quatro irmãs mais novas. Era quase velho o suficiente
para ser pai delas, e cumpria mais esse papel do que o pai verdadeiro, que sempre parecia preocupado
demais com outras questões. A cada uma das suas pequenas crises, as meninas corriam para Sebastian.
Ele arrancara muitas farpas dos seus dedos e secara suas lágrimas. Também lhes ensinara ciência e
astronomia.
Quando elas adoeceram e suas mentes jovens perceberam que talvez estivessem realmente morrendo,
voltaram-se para ele em busca de uma solução imediata.
E pareceram perplexas ao ver que ele não conseguiria resolver o problema. Era como se, em vez
disso, ele não quisesse resolver.
– Ninguém pode voltar ao passado para mudar o futuro – afirmou Sebastian, com olhar distante. –
Não sem criar o caos. – Parte dele queria acreditar na chave, mesmo que isso fosse contra a razão, e nem
mesmo a deusa Riora tinha provas de que a viagem no tempo era possível.
E se Sebastian se permitisse acreditar que poderia conseguir sua família de volta e, em seguida, ter
suas esperanças destroçadas… Ele não acreditava ser capaz de perdê-la duas vezes. Até hoje nãosuportava a lembrança da noite em que seus familiares tinham morrido. Revia o desespero em seus olhos,
e depois, quando ele e Conrad tinham caído em desgraça, ouvia seus gritos fracos e aterrorizados.
Tanto ele quanto Conrad gostariam de ter morrido naquela noite, com a família. O país estava em
ruínas, destruído pela peste e pela fome. E eles estavam acabados. Tinham lutado, tinham feito o melhor
que podiam. Deveriam ter autorização para morrer em paz.
E suas irmãs? Eram tão delicadas e frágeis quanto os quatro irmãos mais velhos eram sombrios e
ferozes. Teriam morrido de fome antes de beber sangue voluntariamente. Sequer teriam contemplado essa
possibilidade.
– Por que você tentou transformar as meninas? – quis saber Sebastian. Não exibia raiva na voz, mas,
agora que se sentia mais firme e racional, desejava ouvir a explicação de Nikolai. Queria, pela primeira
vez, tentar compreendê-lo.
– Eu tive de tentar. – Nikolai mordeu as palavras, desviando o olhar, mas Sebastian viu que seu
semblante ficou sombrio. – A lembrança de vê-las morrer tão jovens seria um tormento eterno.
– Elas poderiam ter sido congeladas num estado de infância perpétua, sem nunca mais poderem ver o
sol.
Nikolai olhou para ele.
– Não temos certeza disso; talvez elas continuassem a crescer normalmente até a idade adulta, como
acontece com os imortais natos. Poderia ter sido assim.
– E nosso pai? – perguntou Sebastian. Seu pai tinha um desejo de se reencontrar com a esposa desde
o dia em que ela morrera ao dar à luz, onze anos antes.
A expressão de Nikolai foi de cansaço.
– Eu nunca fui nobre como você, Sebastian. Sobreviver e ter uma boa vida são as coisas que eu
reverencio. Eles todos poderiam ter vivido. Para mim isso é o que importa, o resto é acessório. Mesmo
depois de tanto tempo, vejo que ainda discordamos nesse ponto.
Sebastian se levantou para sair.
– Discordamos, sim.
Nikolai também se levantou.
– Pense sobre o convite para se juntar à ordem, Sebastian.
Sebastian viu que era hora de informar ao irmão a decisão final.
– Não posso entrar na sua ordem. – Encolheu os ombros com indiferença. – Não sou mais abstêmio,
como antes. Já provei sangue de um ser vivo.
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21
Devido ao seu dom de insensibilidade perdido, Kaderin se viu incapaz de se
mover, de atacar Bowen ou de fugir. Queria apenas contemplar as pedras e luzes
facetadas que os diamantes emitiam. Mesmo agora, enquanto os acariciava, seu
coração ansiava pelo instante em que conseguiria ver novamente o seu brilho.
Os silvos dos basiliscos e seus rugidos gargarejados fizeram-na estremecer e
voltar ao momento presente. Os animais estavam a centenas de metros abaixo dela,
nas cavernas inferiores, muito longe da entrada brilhante, mas escalavam para
voltar a ela naquele exato momento. Só que viriam sem pressa, pois, provavelmente,
sabiam que Kaderin era uma oferta deixada em sacrifício e não tinha escapatória.
Expirando com força, obrigou-se a lançar a gargantilha longe, levantou-se e avaliou sua difícil
situação. O canalha fizera um bom trabalho ao bloquear a entrada.
Mesmo com a sua força, ela não conseguiria deslocar as pedras. Correu para elas e tentou movê-las,
empurrando-as com o ombro. Nada. Era impossível usar a espada, pois não era tão volumosa e pesada
quanto a de Sebastian. Teria de cavar.
Calculou que perderia as garras para cada dez centímetros de terra que deslocasse e escavasse na
rocha. As garras tornariam a crescer em poucas horas. Só que o diâmetro da pedra maior era de um metro
e meio.
Portanto… fazendo os cálculos… estou ferrada.
O pior é que a escuridão da câmara começava a ter efeitos pesados sobre ela – como se um feitiço
poderoso a envolvesse. Sorriu, com amargura. Agora ela era oficialmente uma Valquíria cruel e
assassina, mas que sentia pavor de escuro.
Nunca se assustara antes com os espectros, e achava os basiliscos animais cativantes. Na verdade,
poderia estar trancada numa jaula com mais de mil fantasmas ladrões de túmulos que isso não a abalaria
– desde que a jaula não estivesse num lugar escuro e opressivo.
Se tivesse algum plano de ação, poderia ignorar o medo, mas ficar ali sentada sem nada fazer, apenas
contemplando a escuridão…
Havia duas alternativas. Ela poderia aguardar pelo vampiro e torcer para que ele tivesse ignorado o
pedido para deixá-la em paz. Entretanto, mesmo que ele viesse resgatá-la, não seria capaz de levá-la
para onde precisava ir, poucos metros além daquelas pedras. Ela seria capaz de apostar que Sebastian
nunca visitara antigas entradas de cavernas na Argentina.
Além do mais, durante quanto tempo mais ela poderia esperar que ele a salvasse? Mais cedo ou mais
tarde, os basiliscos estariam de volta à superfície.
Sua segunda alternativa era começar a cavar.
Essas rochas são o único obstáculo entre mim e o prêmio.
Caiu de joelhos mais uma vez e enfiou as garras sob as rochas. Alguns centímetros adiante perdeu a
primeira, depois outra. Droga, aquilo era inútil. Um desperdício de esforço num lugar escuro e sujo. Elaestava prestes a perder os treze pontos.
O pó da pedra fez seus olhos lacrimejarem. Sim, era o pó que a fazia chorar…
– Ora, ora… – disse uma voz retumbante atrás dela. – Aposto que você está feliz em me ver agora.
Sebastian.
Kaderin girou o corpo. Embora estivesse escuro como breu, percebeu que ele conseguia vê-la
perfeitamente, porque estudava a sua expressão. Quando seu olhar desceu até suas garras, Kaderin as
escondeu atrás das costas. Não havia como negar que estava abalada.
– Perdeu suas garras, Kaderin? – Ele caminhou até onde ela estava e a ajudou a se levantar. – Há
quanto tempo está presa aqui dentro?
Ela limpou os joelhos.
– Algumas horas.
– Como isso aconteceu?
– Bowen bloqueou a minha saída da caverna com essas rochas.
– MacRieve? – Sebastian cerrou os punhos. – Vou matá-lo por causa disso.
Ela deu de ombros.
– Promete? Porque isso eliminaria dois concorrentes.
– Ele ainda está por perto? – Sebastian estreitou os olhos, torcendo para poder enfrentá-lo sem mais
demora.
Ela balançou a cabeça para os lados.
– Ele deve ter recolhido um dos ovos e sumido. Fez comigo o que se propôs a fazer desde o início. Já
eliminou da competição os demônios e as fadas. Todos que o enfrentaram estão fora.
– De que modo?
– Tudo o que sabemos é que ele os aprisionou em algum lugar.
– E a jovem bruxa? – perguntou Sebastian. – Certamente, MacRieve não feriu aquela menina.
– Ele prendeu Mariketa também, mas ela conseguiu amaldiçoá-lo antes – informou Kaderin. – Ele
parece estar enfraquecendo, e suas lesões não estão se regenerando. – Empinou o queixo para Sebastian.
– Bowen virá atrás de você em seguida. Até ontem, eu estava empatada com ele…
– Conforme o esperado…
– Eu também estava empatada com você. Ele vai tentar nos tirar do caminho.
– Estou ansioso para enfrentá-lo. Vou curtir muito matá-lo, só por ele ter prendido você aqui dentro.
A resposta de Kaderin foi outro dar de ombros. Sebastian ficou em silêncio, mas ela sabia que ele
aguardava o momento em que ela pediria para que ele a teletransportasse para fora dali. Chutou o
cascalho com a ponta da bota.
– Droga, peça-me logo para tirar você daqui! – reclamou ele.
– Não.
– Você prefere apodrecer neste lugar?
– Eu estava fazendo progressos – retrucou ela.
– Fêmea obstinada. Não consegue admitir que se sente aliviada por eu estar aqui?
– Não – respondeu ela, com toda a naturalidade, sem dar mais detalhes, e isso o fez ter vontade de
estrangulá-la.Kaderin assumiu que Bowen já havia recolhido o prêmio na ravina seguinte, mas Cindey ainda
poderia ser derrotada. Desde que Kaderin conseguisse sair dali depressa.
– Muito bem, então… Vou deixá-la com seus fabulosos progressos. – Virou-se de costas para se
teletransportar, mas ela correu e tocou seu braço.
– Escute, eu não quero ser teletransportada para o seu quintal. O prêmio deve estar num grupo de
cavernas aqui perto, basta atravessar a próxima ravina. – Foi até as rochas e empurrou-as, frustrada. –
Preciso ir para o outro lado dessas pedras, e sei que você não pode me levar até lá.
– Por que imagina que eu nunca estive lá?
Ela soprou um dos cachos que lhe caiu sobre os olhos.
– Você costuma visitar Las Quijadas, Sebastian? – Diante do seu olhar vazio, ela completou: –
Estamos na Argentina.
– Não. Eu não posso teletransportar você para lá. Mas… – Estudou as pedras e as empurrou com
força, até que uma delas começou a se mover.
Quando Kaderin suspirou de empolgação, ele parou.
– Parece que eu consigo tirá-la daqui, afinal.
Ela tocou o peito dele, com hesitação.
– O que é preciso para você acabar de mover essas pedras?
– O que você me oferece? – quis saber ele, com a voz áspera.
– Dinheiro? Você aceitaria dinheiro para empurrar essas pedras?
– Eu já tenho muito dinheiro. Mais que suficiente para nós dois.
Ela fez uma careta ao ouvir isso.
– O que você quer, então?
– Quero… – Passou a mão sobre o rosto dela. – Tocar você… Não aqui, mas hoje à noite.
– Isso não vai acontecer. – Ela cruzou os braços sobre o peito, e os olhos dele pousaram no vale
úmido do seu decote. Como fizera naquela outra noite, ele parecia estar pensando em jogá-la por cima do
ombro e teletransportá-la até sua cama. – Eu adoraria que meus seios parassem de olhar fixamente para
você.
A cabeça dele se ergueu e ele pigarreou com força.
– Beije-me. Beije-me, e eu liberto você.
– Na última vez em que isso aconteceu, você me mordeu, e poderá muito bem fazê-lo novamente. –
Beijar Sebastian sempre levava a outras coisas. Da última vez, o resultado tinha sido ele sugar o sangue
dela.
E, possivelmente, suas lembranças.
– Eu nunca mordi você. Apenas rocei sua pele, acidentalmente.
– Então me garanta que não pretende fazer isso de novo.
– Eu… – Ele expirou com força. – Não posso fazer isso. O prazer foi intenso demais para ignorar.
Ela ficou chocada pela honestidade dele e não se deu ao trabalho de disfarçar.
– É por isso que estou achando que aquilo vai se repetir.
– Eu garanto que não vai acontecer.
– A não ser, é claro, que aconteça – fez aspas no ar com os dedos – … “acidentalmente”. Já que eu
acabarei conseguindo me libertar, esse beijo não vale o risco.Ele assentiu, resignado.
– Muito bem. Podemos nos sentar aqui até fossilizarmos, então. Eu posso ser tão teimoso quanto
você, Noiva.
– Então, você vai esperar aqui comigo? – perguntou ela. – Não se incomoda de perder o prêmio
também?
– Não tenho nenhum interesse em vencer essa competição.
– Eu sabia que você tinha entrado só para que eu não pudesse matá-lo.
– Você já não conseguia me matar antes de eu entrar, lembra? Não especula sobre o motivo de ter
conseguido destruir tantos inimigos da minha espécie antes de mim, mas não ter sido capaz de me
decapitar?
– Eu não sei por que aquilo aconteceu – admitiu ela. – Parei de questionar a respeito.
– Por que você não me deixa vencer essa competição para você? Essa foi a única razão pela qual eu
entrei.
– Não há ninguém que você gostaria de salvar em seu passado? Nenhum ente querido? – quis ela
saber, notando que uma sombra passou sobre os olhos dele. Quem será que ele tinha perdido? – Uma
esposa falecida, talvez?
– Você sabe muito bem que eu não acredito que essa chave possa funcionar.
Ele não tinha respondido à sua pergunta. Tinha sido casado?
– Por que tem tanta certeza disso?
– Viagens no tempo são impossíveis – retrucou ele, com um tom de quem não admitia dúvidas.
E a esposa?
– Aposto que você acreditava que vampirismo também era impossível, até acordar um dia com a
maior sede de sangue.
– Não, porque minha cultura era supersticiosa até a raiz. Porém, mesmo com o meu passado de
cientista, a crença veio com mais facilidade do que eu teria imaginado. Mas viagens no tempo são
impossíveis pelas leis da natureza.
E quanto à esposa?
– De qualquer forma, nunca fui casado.
Ela se maravilhou com o fato de ele nunca ter sido casado e se sentiu satisfeita por algum motivo.
– Você ainda era solteiro na sua idade? – interessou-se ela, sentando-se. – Já devia ter uns trinta anos.
– Trinta e um. Mas vivi numa frente de batalha desde os dezenove anos. Não havia como ter uma
mulher só para mim.
– E agora se sente pronto?
Como se estivesse lhe fazendo uma promessa, ele encontrou os olhos dela ao garantir, com
determinação: – Sim. – Os dedos dela se curvaram dentro das sapatilhas de escalada. – E quanto a você,
Kaderin? Será que vai me contar por que está tão empenhada em vencer? – Olhou para longe quando
perguntou: – Vai tentar recuperar um marido?
Quando ela não respondeu, ele se virou para trás.
Depois de alguns instantes, ela balançou a cabeça, a contragosto.
– Nunca fui casada. – Ela jamais teria contado a ele qual a sua verdadeira motivação; não havia
motivo, apesar de ela se sentir inclinada a confessar tudo. Só que também não pretendia deixá-lo achandoque lutava com tanta garra por um marido ou amante perdido. – Meus covens e as Fúrias me
proporcionaram uma grande honra ao me escolher para essa competição. Não pretendo decepcioná-las. –
Deu de ombros e acrescentou, com honestidade. – E simplesmente quero derrotar todos os oponentes.
– Então, tudo se resume a orgulho e ego?
Ela fez uma cara de tédio e perguntou: – Essas não são razões boas o suficiente?
– Eu não acredito nisso. Existem mais coisas na vida além de vencer essa competição.
– Eu concordo. Matar vampiros, por exemplo. Essas duas coisas dão propósito à minha vida.
Ele ficou calado em resposta ao comentário, apenas lançou-lhe um olhar inescrutável. Ela sabia que
ele desaprovava suas prioridades e a forma como vivia a vida. Depois daquele olhar, porém, começou a
suspeitar que ele também sentia pena dela, e inclinou a cabeça.
– Diga-me, então, vampiro: como é que você imagina nossa vida juntos?
– Nós poderíamos conhecer o mundo. Reconstruir o castelo, dar início a uma família.
Uma família? Se ela e Sebastian tivessem filhos, eles poderiam nascer como a sua sobrinha
Emmaline, que era metade vampira. Estremeceu por dentro só de pensar nisso.
– Eu moro em Nova Orleans, participo de competições e mato vampiros. Você espera que eu desista
de tudo isso? – Levantou os joelhos contra o peito. – Quer que eu seja como as mulheres que você
conheceu? Saiba que isso nunca vai acontecer.
– Não. Na verdade, eu não quero que você seja como as mulheres que conheci – garantiu ele com
tanta veemência, que ela foi pega de surpresa. – Também não tenho preferência pelo lugar onde
poderíamos morar. Iria para onde você se sentisse mais feliz. Quanto a matar vampiros, por mim tudo
bem. A Corrida do Talismã? Também é aceitável, desde que eu esteja sempre ao seu lado.
– Aceitável? – Será que ele estava brincando? – Quanto mais eu o conheço, mais percebo que o fato
de você ser um vampiro é apenas parte do motivo pelo qual sou indiferente a você.
Aceitável? Assim que acabou de pronunciar a palavra e mesmo antes de ver os olhos dela cintilando de
raiva, Sebastian percebeu que aquela talvez não fosse a melhor palavra para usar com uma filha de
deuses. Tinha menos de um quinto do charme de qualquer um dos seus irmãos.
– Enumere as outras razões para você ser indiferente a mim – pediu ele.
– Falar com você é como falar com um ser humano.
Ele retrucou: – Eu bem que gostaria de ainda ser humano…
– Mas não é. Você é um inimigo da minha espécie.
– Eu já lhe disse que isso não aconteceu por escolha minha. Ou por algo que eu tenha feito.
– Pois saiba que me causa nojo saber que você bebe sangue. E vive uma existência parasitária.
Isso sempre lhe provocava nojo também. A única exceção fora a vez em que sentira o sabor quente e
rico dela. De repente, viu-se defendendo aquele ato vil.
– Eu pego sangue com um açougueiro. Qual é a diferença disso para os seres humanos, que
conseguem carne da mesma forma? Além do mais, qual a coisa viva que não é um parasita?
– Eu.
– Você não come carne? Nem bebe vinho?– Não para as duas perguntas. Eu não ingiro nada.
– Como isso é possível? – quis saber ele, incrédulo, embora o kobold tivesse dito exatamente isso
naquela noite no Polo Sul.
– Fui projetada desse jeito – explicou ela, num tom que deixou claro que não diria mais nada sobre
aquele assunto.
Droga, ele teria de voltar a Blachmount para perguntar a Nikolai sobre aquele mistério.
– Projetada? No sentido de planejada?
Ela estreitou os olhos.
– Eu não posso ter sido planejada? Você olha para mim e acha que eu não passo de um acidente da
natureza?
– Não – respondeu ele, depressa, percebendo que a insultara mais uma vez. – Nada disso. É só que…
– Muita gente da minha espécie está se preparando para a guerra. Você sabia disso? Será uma guerra
como você nunca imaginou…
– Sim, o Acesso – disse ele, com um tom de desprezo.
– Não é algo a ser descartado com tanta displicência.
– Meu irmão me disse que você mencionaria isso como um obstáculo à união entre nós dois. Mas
também me assegurou que os Abstêmios vão se aliar às Valquírias. – Quando Kaderin quis protestar, ele
a cortou: – Quer as Valquírias aceitem ou não.
Ela apertou os lábios.
– Você me parece ter uma vontade férrea – disse ela, por fim. – Por que não usa isso para se livrar
dessa compulsão por uma Noiva franzina e não programada?
– Por que eu iria gastar tempo e esforço para tentar esquecer você, quando posso gastar o mesmo
tempo e o mesmo esforço para conquistá-la?
– Porque me conquistar é impossível. A outra opção pode não ser.
– Tenho que tentar. – Não havia jeito de ele repensar isso. – Quero você na minha vida.
Ela deu um tapinha no queixo dele.
– Quando você diz “na minha vida”, obviamente quer dizer “na minha cama”.
– Não vou negar que quero as duas coisas. – Ele obtivera o gostinho da paixão por ela e não
descansaria até consegui-la. – Passo o tempo todo imaginando como será possuir você.
Um tom rosado surgiu nas bochechas de Kaderin, e ela mordeu o lábio inferior. Esse hábito sempre o
deixava fascinado.
– Mas você não me ama mais do que eu amo você – disse ela.
– Não, eu não amo – admitiu ele.
Ela o fascinava e frustrava. A cada hora desde que o sangrara, precisava dela, mas compreendia que
não era amor.
Ela revirou os olhos para cima.
– Quer uma dica, Sebastian? Quando um homem está cortejando uma mulher, deve esperar um
nanossegundo antes de declarar que não a ama. Talvez você devesse agir como se considerasse essa
possibilidade. Ou, quem sabe, poderia mentir. Ou poderia dourar a pílula, prever ou prometer que irá
amá-la no futuro.– Não vou mentir para você. E sobre o amor? Muitos casamentos foram construídos com muito menos
do que existe entre nós. Temos paixão. Atração. Respeito.
– Você se acha o máximo, não é? – debochou ela, examinando suas garras quebradas.
– Uma coisa eu posso lhe prometer: os próximos mil anos da sua vida não serão nada como os
últimos. Pelo menos enquanto eu viver.
Os olhos dela se ergueram, e ela perguntou, com ar desconfiado: – O que você quer dizer com isso?
– Eu sei sobre o seu… dom. Você não sente emoções há mais de um milênio.
Ao ouvir isso, ela empalideceu.
– E você sabe o motivo de isso ter acontecido?
Sua voz estremeceu ao perguntar.
– Não. Também não sei como foi. Só que você acordou uma bela manhã e não havia… nada.
Ela olhou para ele com raiva.
– Não se atreva a dizer isso assim! Como se eu tivesse algum defeito.
– Kaderin, não ser capaz de sentir as coisas é um defeito.
– Você acha que é necessário sentir para sobreviver? Ou imagina que eu gostaria disso, por algum
motivo?
– Não, eu…
– Você soube disso através do meu sangue, certo? – Quando ele assentiu com a cabeça, ela
completou: – Quando você roubou meu sangue também levou minhas lembranças. Que coisa adorável!
Quantas coisas você descobriu?
– Vi velhas batalhas, caçadas, flashes aleatórios de conversas, como quando Riora lhe falou da
espada de um místico cego. – Ele a vira sendo atacada por dezenas de kobolds, mal conseguindo derrotá-
los, para, em seguida, ao olhar para baixo, ver que sua perna tinha desaparecido logo abaixo do joelho.
Não era de espantar que ela tivesse eliminado o kobold na Antártida. E eu o levei até o prêmio que seria
dela.
– Agora você entende por que eu fiquei tão indignada? Você pode conhecer os meus pensamentos
secretos. E as minhas ações. Você me viu com outros homens?
– Não, e meu irmão me garantiu que isso não vai acontecer porque você é minha Noiva – garantiu.
– Você viu por que minhas emoções voltaram?
Ele correu os dedos pelo cabelo.
– Acredito que eu tenho algo a ver com esse fato. Você mesma reconheceu isso naquela primeira
madrugada.
– Falei nessa possibilidade sem pensar. – Ao ver o olhar dele, completou: – Foi apenas coincidência.
– Talvez eu pudesse acreditar nisso se você não fosse minha Noiva.
– Então você acha que eu despertei você fisicamente e você me despertou emocionalmente? –
perguntou ela, em tom de escárnio. – Um chá feito só para nós dois?
– Sim. Exatamente.
– Mesmo que fosse verdade, isso não significa que teremos um futuro juntos. Eu não sou o que você
precisa e só vou tornar sua vida infeliz. Isso eu lhe garanto. E mais: se eu aceitasse você como meu
parceiro, minha família me baniria. Eu seria marginalizada.
– Myst, a Desejada, não parece se preocupar com isso.Kaderin inclinou a cabeça e ficou subitamente quieta.
– Do que você está falando?
– De Myst, a esposa do meu irmão.
Ela se levantou na mesma hora.
– Myst pode ter a moral de uma gata de rua, mas jamais ousaria se casar com uma sanguessuga.
– Você não sabia disso? – Ele fez cara de estranheza. – Eles já estão casados há algum tempo.
Kaderin pretendia chutar a bunda radiante de Regin na primeira oportunidade, e com muita força…
Myst tinha se casado com… um vampiro!
Kaderin segurou a parte alta do nariz com o polegar e o indicador.
– Seu irmão é o general abstêmio que a libertou da prisão da Horda? Wroth, se não me engano…
Nikolai Wroth?
Bem que eu desconfiei que ela não tinha superado a paixão por ele.
– Ele mesmo. Você o conhece? – quis saber Sebastian.
– Já ouvi falar. – E agora que tudo estava se tornando mais claro, ela se lembrou que também já tinha
ouvido falar de Sebastian. Os quatro irmãos estonianos. Líderes militares tão ferozes e obstinados
quando eram humanos que tinham conseguido até mesmo atrair a atenção do Lore.
Tinham sido valentes e incansáveis na defesa do seu povo.
Ele analisou a expressão dela.
– Estou me perguntando se essa notícia vai ajudar ou atrapalhar minhas pretensões.
– Eu… eu não sei de nada. – Não sei de mais nada. Então, os Abstêmios eram confiáveis? Não…
Dasha e Rika jamais aceitariam que ela se juntasse a um vampiro.
– Então me diga uma coisa, Kaderin. Alguma vez você pensa em mim quando estou longe?
Minta para ele.
Ela poderia ter um caso com aquele vampiro? Do tipo mais ilícito possível? Só para desfrutar do
fabuloso corpo dele por uma noite?
Myst tinha se casado com um deles! Que estranho! Myst era uma pagã, como ela! Kaderin duvidava
muito que o general Nikolai Wroth tivesse concordado em se casar de acordo com o paganismo ortodoxo.
Uma ligação como o casamento era um assunto muito sério para uma Valquíria e para os imortais em
geral. Até que a morte nos separe assumia um novo significado quando ambas as partes tinham o
potencial de viver para sempre.
Não, Kaderin não poderia ter um caso. Não se fosse a Noiva, a Prometida de Sebastian. Porque ele
jamais aceitaria apenas isso e ela nunca poderia lhe prometer mais.
– Você quer saber se eu penso em você? Sebastian, eu sou uma pessoa ocupada. Não costumo passar
muito tempo com introspecções. Que tal deixar isso para você?
– O que está querendo dizer?
– Parece que tudo que você fez durante três séculos foi pensar.
Ele ficou furioso, como ela planejara.
– Você não sabe de nada!…Um rugido soou à sua esquerda, estremecendo a caverna. E então, do lado direito, outro rugido
respondeu. Em algum lugar além, ouviu-se um terceiro chamado.
Os basiliscos estavam se aproximando, se reunindo.
Bem ali.

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