capitulo28 e 29

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28
Medellín, Colômbia
Dia 17
Prêmio: Um anel de ouro e opala forjado na
Mesopotâmia, valendo doze pontosNaquela noite, a missão de Kaderin era chegar perto o
suficiente de Rodrigo Gamboa, narcotraficante colombiano, que era mais vigiado e protegido que a
realeza. Precisava pegar um anel que nunca, na verdade, pertencera a ele.
Gamboa era notoriamente cauteloso, e ouviam-se rumores de que algum sangue do Lore corria nas
suas veias. Ele se mudava todas as noites, e a fortaleza onde morava era inatacável. Então, Kaderin iria
participar da inauguração do Descanso de Gamboa, seu mais novo clube exclusivo e também uma
máquina de lavar dinheiro. Um evento raro, o que garantia a presença dele no local.
No entanto, ao contrário do que acontecia nas festas do Lore, Lady Kaderin teve de esperar do lado
de fora para entrar – e estava no fim da fila.
A dificuldade nessa tarefa residia no fato de que haveria muitos seres humanos no clube. O
competidor teria de pegar o anel e evitar criar uma cena que servisse de alerta para os humanos sobre a
existência do Lore, ou enfrentar a desclassificação no torneio.
Kaderin tinha de fazer com que Gamboa se comportasse de forma imprudente, convencê-lo a
acompanhá-la para fora do clube e, em seguida, tomar o anel quando estivessem sozinhos no carro. Se ela
tentasse pegar o prêmio em público e, em seguida, tivesse de lutar para sair dali, acabaria revelando que
não era uma típica frequentadora de baladas como aquela. Suas orelhas pontudas e o fato de poder atirar
automóveis bem longe costumavam entregar o quanto ela era diferente.
Portanto, naquela noite, Kaderin planejava ser simpática com o sujeito.
Os sapatos de escalada e a mochila pesada tinham ficado para trás. Sua espada estava debaixo da
cama, no hotel. Dessa vez, ela planejava usar ferramentas de natureza diferente.
Aproximar-se do homem com toda a calma do mundo. Ela era uma mulher. Um mais um é igual a
dois.
A vantagem dessa tarefa era que Kaderin poderia apostar que Bowen não estaria ali.
Antes de tudo, porém, teria de conseguir entrar no clube.
Espere aí!… Era Cindey que estava bem ali adiante, na fila? Oh, não, era inaceitável ela estar na
frente de Kaderin. Intolerável! Para piorar, Kaderin não podia simplesmente ir até lá e arrastar Cindey
pelo pescoço para fora da fila. Como se sentisse o olhar de Kaderin, Cindey se inclinou para trás e lhe
acenou com ar arrogante.
Você não pode atacar a sereia… não pode…
De repente, o celular com número secreto de Kaderin tocou. Ela o pegou na bolsinha e viu o número
de Myst no identificador de chamadas.– Oi, Myst! E aí, como vão as coisas? – alegrou-se, em saudação. – Parece que estou lhe devendo
felicitações, pois soube que você se casou com o seu senhor da guerra.
Myst expirou com força.
– Não foi ideia minha esconder isso de você. Mas também não achei que faria mal atrasar a notícia
por algumas semanas. Ainda mais porque Nikolai e eu fugimos.
– Oh. Vocês se casaram numa cerimônia pagã?
– Civil.
– Que legal!… Eu acho.
– Quer dizer que você é a Noiva de Sebastian? – Ao perceber que Kaderin não negou, Myst quis
saber: – O que anda rolando entre vocês dois?
Kaderin ficou na ponta dos pés para ver a frente da fila.
– Não faço ideia. – Desde o deserto, ela só o vira em mais uma ou duas ocasiões. Estava
ziguezagueando por todo o planeta, e ele a pegara em pleno sol mais duas vezes depois daquela. Quando
estavam juntos, ele se mostrava reservado com ela, até mesmo distante; isso não a surpreendia, depois de
sua reação atormentada com a ideia de se casar com ele.
Por que a fila levava tanto tempo para andar? Kaderin tinha determinado que aquela tarefa seria do
tipo “entrar e sair”. Suspeitava que, se Sebastian aparecesse ali por acaso, ele poderia torcer o nariz
para o flerte que ela planejava colocar em prática – e para as roupas que vestia. Mesmo assim, arriscar-
se a enfrentar a ira de Sebastian era melhor do que um encontro com um lobisomem muito irritante.
– Sebastian está aqui em casa neste exato momento. Veio visitar Nikolai. Pelo que eu tenho
conseguido ouvir das conversas deles nos últimos dois dias, Sebastian captou suas lembranças – avisou
Myst. – Você está permitindo que ele beba de você?
– Ora, pelo amor de Freya, você só pode estar de sacanagem comigo! – gritou Kaderin. Olhou em
volta, mas ninguém na fila prestava atenção, e não havia ninguém atrás dela. Num tom mais baixo,
admitiu: – Ele entrou numa de me enfiar o dente. Mas foi um acidente.
– Escute, Kad, estou em verdadeiro êxtase com Nikolai, mas entendo que isso não significa que todas
as Valquírias poderão ser felizes com qualquer vampiro. E não tenho certeza se… Não sei se a cabeça de
Sebastian combina com a sua. Especialmente com o que você está tentando fazer. Ele ainda não sacou que
você precisa tentar qualquer coisa para salvar seus entes queridos. É um cara do tipo “é melhor a morte
que a desonra”.
– Sim, eu já percebi isso.
– Nikolai prefere morrer a ver o irmão sofrer, mas eu não posso deixar que você cometa um erro. Eu
não abaixaria a guarda com ele, por enquanto – aconselhou Myst. – Além do mais, existe a questão de
Furie…
– Sabe de uma coisa, Myst? – interrompeu Kaderin. – Não posso conversar sobre isso agora, não
posso mesmo. Quer me fazer um grande favor? Mantenha Sebastian longe de mim esta noite.
– Como eu poderia fazer isso? – gritou Myst. – A única coisa em que ele está interessado é ouvir
mais coisas a seu respeito.
– Então, conte-lhe algumas histórias. Só não relate detalhes sobre o meu dom. E não fale nada a
respeito de Dasha e Rika.
– E existe mais alguma coisa sobre você para eu contar?– Muito engraçada, Myst.
– Você pediu por isso, Kaderin Coração Bondoso – disse Myst, chamando Kaderin pelo antigo e
constrangedor apelido. – Atente-se ao meu conselho e não baixe a guarda – completou.
Assim que desligou o telefone e guardou o celular na bolsa, um segurança corpulento analisou a fila e
a avistou. Estranhamente, pareceu se interessar mais pela região de suas orelhas pontudas, ocultas
debaixo do cabelo, em vez de esbugalhar os olhos com sua saia curta.
De repente, porém, puxou-a para fora do cordão de veludo que delimitava a fila e a levou para
dentro.
Ao passar por Cindey, Kaderin encolheu os ombros, tentando transmitir solidariedade.
– Parece que seu visual de vadia retrô não fez sucesso essa noite, Cindey.
Sebastian finalmente deixou Blachmount, depois de se despedir de Nikolai e de Myst, que naquela noite
parecia desconfiada e muito tagarela. Teletransportou-se até Kaderin e se viu dentro de uma casa noturna
diferente de tudo que já vira antes. Aquela só podia ser a tarefa a ser realizada na Colômbia. Uma missão
que ele imaginara que ela não escolheria.
Luzes como lasers eram lançadas na direção do teto abobadado, em padrões rápidos e bizarros.
Dançarinas seminuas estavam dentro de jaulas penduradas no alto, sobre a pista de dança.
As jaulas fizeram-no lembrar-se de seu último sonho.
Nele, Kaderin se encaminhava na direção de um homem aprisionado. Ele era jovem, fora espancado e
estava cheio de fraturas. Sem levantar a cabeça, ele cerrara os dentes e pedira: “Mate-me.”
“Claro, sanguessuga.” Kaderin sorrira, com voz açucarada. “Mas só daqui a alguns meses.”
Ele fizera um som estranho, como o de quem fosse chorar.
“Eu também poderia deixar você escapar para o sol”, continuara Kaderin. “Seus órgãos iriam se
liquefazer dentro de você bem antes de a morte chegar, e tudo ficaria embolado debaixo da sua pele. A
essa altura, você estaria rastejando desesperadamente em direção à luz…”
Mais uma vez, ela não sentira nada. Nenhuma compaixão, nenhum remorso, nenhum ódio. Nada.
Desde que despertara, Sebastian sentia um desgosto acentuado do qual não conseguia se livrar.
Visitara Nikolai para lhe perguntar sobre esses sonhos, e seu irmão o aconselhara a não analisar aquelas
lembranças fora de contexto. Mas como poderia Sebastian entender errado uma cena como aquela? Nada
poderia ser mais claro.
Ele percebera a crueldade da cena, mas isso não significava que era algo facilmente identificável
ou…
Sebastian olhou com mais atenção ao avistar Kaderin no meio do salão, pois mal a reconheceu.
Seus olhos estavam maquiados com kohl num azul profundo, e seus lábios carnudos brilhavam ainda
mais. Sua blusa era muito curta e exibia deliberadamente a renda do sutiã. A saia minúscula quase não
cobria nada. Deu para ver suas coxas ágeis quase até a bunda, quando ela deslizou para dentro de uma
espécie de cabine onde já estava um grupo de pessoas. Suas botas pretas iam até os joelhos e tinham
saltos absurdamente altos.Mesmo que Sebastian estivesse furioso com ela por estar ali, para começo de conversa – ainda mais
vestida daquele jeito –, a visão do seu corpo fez com que ele experimentasse uma ereção forte na mesma
hora. Naquele instante, tomou uma decisão: qualquer noite dessas, entraria nela, mas ela teria de usar
aquelas botas.
Ao que tudo indicava, Kaderin sorria muito e se divertia, mas havia um ar duro em seu semblante. O
jeito como tinha se vestido para aquela balada não lhe deixou dúvidas sobre como ela planejava pegar a
pedra do colombiano. Não era de admirar Myst ter demonstrado tanta disposição para tagarelar e puxar
assunto.
Quando ele conseguiu arrastar o olhar para longe de Kaderin, reparou que todos os homens ao redor
dela a encaravam ou sorriam ao olhar para o corpo dela. Sebastian cerrou os punhos.
Quem eu vou matar primeiro…?
– Você bem que podia se sentar um pouco – propôs uma voz atrás dele. Ele girou o corpo e encontrou
as duas ninfas. – Kaderin vai estar muito ocupada por algum tempo.
Sebastian voltou a tempo de ver um sujeito chegar junto de Kaderin e colocar o braço sobre seus
ombros. Sua mão quase roçou num dos seios dela. Pela primeira vez na vida, Sebastian sentiu uma
necessidade urgente de matar alguém.
Uma das ninfas se esgueirou para perto dele.
– Nós bem que poderíamos passar algum tempo juntos, vampiro, para fazê-lo esquecer a Valquíria.
Você também é alguém proibido para nós, caso seja essa a atração que sente por ela.
Sebastian mal ouviu o que elas diziam por causa do batuque dentro dos ouvidos.
– É o colombiano que está com ela? – grunhiu.
– Sim, é ele.
O canalha se inclinou sobre Kaderin e colocou a mão na parte alta da coxa dela, os dedos brincando
junto da bainha da sua saia.
A raiva explodiu dentro de Sebastian. Aquilo só podia ser um sintoma de transformação iminente. Ele
nunca sentira tanta fúria. Nunca.
Ele está tocando no que pertence a mim.
Capitulo29🌠🌠🌠🌠🌠🌠🌠🌠🌠🌠
29
Sebastian caminhou em direção a ela com passos largos e olhos pretos de raiva,
forçando as pessoas a se apressar para sair do seu caminho. Kaderin deu um pulo,
desculpou-se com o sujeito e seguiu depressa para trás da pista de dança, antes que
Sebastian armasse uma cena ali.
Quando a alcançou, apertou o braço dela e a arrastou para um canto escuro
junto à parede dos fundos.
– O que você está fazendo? – A voz dele fervia. – Permitindo que ele toque em você!
– O que você está fazendo? – rebateu ela. Já sabia que, se ele aparecesse ali, não ficaria nem um
pouco satisfeito, mas imaginou que poderia ter uma chance de se explicar, em vez de ser maltratada. Ele
agia como se a tivesse apanhado na cama com um time de futebol.
No início, ela ficou perplexa com a expressão enlouquecida e a fúria palpável que viu em Sebastian.
Mas, quando ele tentou teletransportá-la dali e quase conseguiu, sua própria ira fervilhou.
– Ei, me solta! – Kaderin tirou a mão dele do seu braço. – Ou então me ajude. Se aquele colombiano
for embora daqui sem mim…
– Você pretende sair com ele? – gritou Sebastian, segurando seus ombros e tentando teletransportá-la
com ele mais uma vez. Quando ela tentou se desvencilhar novamente, ele examinou a construção do lugar
e descobriu um local privativo. Arrastou-a para dentro de uma cabine pequena onde havia dois bancos e
um telefone instalado sobre uma prateleira. Bateu a porta atrás deles, mas o tum-tum baixo e marcante da
música eletrônica ainda vibrava nas paredes.
– Como você pode pensar em sair com ele hoje à noite?
– O que eu faço não é da sua conta – avisou ela, rangendo as palavras com os dentes cerrados.
– Porra, claro que é! As mãos dele estavam em cima de você… E você ainda deixou que ele a
esfregasse numa boa?
– Se eu lhe der satisfações, estarei reconhecendo que você tem o direito de saber. E não tem.
– Vou pegar o anel do colombiano – avisou ele, falando depressa. – Vou me teletransportar para o
lado dele, pegar o anel e tornar a sumir.
– Isso é proibido. Você sabe como todo mito tem início? – Como Sebastian não respondeu, ela
explicou: – Esse é um exemplo gritante de situação em que uma criatura do Lore se descuida. Cada mito
criado representa uma falha cometida. Riora não só vai desclassificar você por tentar um golpe como
esse, como também vai castigá-lo.
– Trata-se disso, então? Você simplesmente me diz que está indo para casa com outro homem? Depois
de eu tê-lo visto tocando em você? – Sebastian parecia querer estrangulá-la.
Quando ela empinou o queixo no ar, os olhos dele se estreitaram.
– Você pode ter conseguido os sentimentos de volta, mas ainda é uma mulher fria, Kaderin. Fria e sem
coração. – Ele a agarrou pela nuca e a trouxe para mais perto. Por algum motivo, ofegavam pesadamente,
e quase dava para ouvir a respiração entrecortada de ambos, mesmo sob o pulsar da música. Antes queela pudesse resistir, ele a levantou, colocou-a em cima da prateleira e enfiou a mão por baixo da sua saia.
Gemeu ao não encontrar calcinha alguma, e seu rosto se transformou em pedra, no formato de uma
máscara de raiva.
– Você veio até aqui para foder com ele? – Com as duas mãos segurando a cabeça de Kaderin, ele
empurrou seus lábios para o cabelo dela. – Você quer me ver pirar? Quer me ver matar? Por que acha que
eu deixaria o mortal viver se ele te comer?
– Sebastian, por favor, espere…
Ele lhe aplicou um beijo implacável, punindo-a ao pressionar as palmas das mãos sobre suas coxas.
O corpo dela estava tenso, a princípio, mas logo em seguida, lentamente, começou a responder – mesmo
contra a vontade, mesmo contra a razão.
Sua respiração era rápida.
– Não faça isso.
Embora ele ainda estivesse tremendo de raiva e de luxúria, seus dedos eram gentis quando ele os fez
deslizar por sua coxa.
– Você quer meu toque, Kaderin? Quer me sentir?
Aquilo não deveria estar acontecendo. Não naquele momento, não naquele lugar. Que inferno,
simplesmente não deveria. Mesmo quando ela se obrigou a focar a mente na tarefa, viu-se respondendo
às carícias dele.
Uma onda de fúria o fez arder por dentro e ativou suas presas afiadas com a inegável necessidade de
marcá-la, para reivindicá-la como sua, de algum jeito. Seu sangue vampiresco trabalhava dentro dele
mais uma vez.
As presas de Sebastian quase doíam na ponta, loucas para furar o pescoço dela, e ele sabia que não
conseguiria resistir por muito mais tempo. Pressentiu que logo iria sugar-lhe a carne de forma selvagem.
E por que deveria resistir a isso? Se ela quer sair com outro homem, vai com a minha marca…
Ele a beijou, começando por sua delicada clavícula, os lábios subindo mais e acompanhando o
movimento das mãos nas coxas. Acariciou-a e deslizou os dedos sobre o sexo dela, deixando-a excitada
mais uma vez. Quando a penetrou com um dedo, ela gritou, suas mãos lhe apertaram os ombros e as
garras dela se enterraram em sua pele. Ele enfiou um segundo dedo e ela revirou os quadris na sua mão,
como se estivesse sendo fodida pelos seus dedos.
Nada disso, ele não aguentaria aquilo por mais tempo.
Enterrou as presas no pescoço dela numa mordida frenética, quase gozando na mesma hora, a partir
de uma sensação de prazer indescritível. Viu-se perdido no calor daquele sangue, na riqueza de sabores
que eram exclusivos do sangue dela. Estava louco ao sentir o quanto a carne dela parecia resistir às suas
presas doloridas, e sentiu seu corpo enrijecer em torno dos dedos, explodindo num orgasmo repentino.
Provocado também pela sua mordida.
Ele nem se lembrou de colocar a mão sobre a boca de Kaderin para lhe abafar os gritos.
A vagina dela continuou a se apertar em torno dos seus dedos de forma tão furiosa, que ele rosnou
contra a pele dela, sugando-a com força. A sensação de beber dela era perfeita. Como se o instinto oestivesse recompensando por fazer algo que era inevitável de qualquer modo.
Mas Sebastian evitou beber com muita avidez. Mais tarde, quando ele a tivesse na cama, levaria a
libertação ao próprio corpo enquanto bebesse o sangue dela.
Lentamente, retirou suas presas, lambeu as marcas que lhe haviam ficado no pescoço e tirou os dedos
de dentro dela. Quando ela estremeceu, como se lamentasse a perda, ele percebeu que a mesma mordida
que o deixava indignado tornara-a unicamente dele – ainda que apenas por um momento.
Com os olhos arregalados e os lábios entreabertos, ela coçou com força as marcas que ele fizera. Ele
a deixara chocada. Ótimo.
Então, Kaderin pareceu acordar e se afastou dele. Rapidamente, espalhou cabelo ao redor do pescoço
para cobrir a marca da mordida e, em seguida, puxou a saia para baixo.
Quando o fitou, seus olhos passearam pelo rosto dele como se nunca o tivesse visto. Sua expressão
mostrou que ela parecia ter nojo do que via.
– Eu não me importo se você vai se transformar num monstro ou não. Você não tinha o direito de
tomar o meu sangue.
– Ah, Kaderin, você não pareceu se importar nem um pouco.
– Obrigada – murmurou ela.
– Pelo quê? – quis saber ele, com uma careta de deboche.
O tom dela era calmo e grave.
– Por tornar tudo muito mais fácil. Por me fazer enxergar que não existe nada em você que sirva de
tentação e me leve a aceitar um vampiro na minha vida.
– Você queria saber por que eu desejava morrer? – rebateu ele. – Porque me via como você está me
vendo nesse momento. Você me odeia por razões que eu não posso controlar. Razões que me faziam ter
ódio de mim mesmo. Agora, porém, vendo a sua reação, ficou bem claro que eu estava errado. Pelo
menos, você me salvou da minha aversão a mim mesmo. – Depois dessa noite, ele não sentiria mais
vergonha de andar pela rua. Ele se recusava a olhar para si mesmo do jeito que ela o via.
– Você acha que a questão aqui é unicamente a sua sede de sangue? Dê-me uma razão por que eu
deveria escolher você, em vez de todos os outros homens que conheci em milênios, e cada um que vou
conhecer na eternidade que ainda tenho pela frente? Você não pode. – Ela o olhou fixamente. – O
problema é muito maior do que simplesmente você ser um vampiro.
Foi então que ele percebeu. Por que ela o enxergaria de forma diferente das outras mulheres, ao longo
da sua vida mortal?
Porque era sua Noiva. Ele seria seduzido para desejá-la de novo e de novo, repetidamente, vezes sem
conta, enxergando coisas que não existiam. Em seguida, sua verdadeira natureza trairia as esperanças
dele, num ciclo interminável.
Ele não conseguiria conquistá-la.
Vou lutar com ela por toda a eternidade. Foi esse o dilema que surgiu diante dele. Essa ideia
deixou-o exausto.
– Estou cansado disso. Cansado de você. – Ele colocou a mão acima dela, contra a parede,
inclinando-se mais. – Você tem razão. A respeito de tudo. Não há nenhum motivo para você me aceitar. E
tinha razão em dizer que fui obrigado a desejá-la simplesmente porque você é a minha Noiva. Meu
desejo por você foi forçado dentro de mim. Eu não tive escolha alguma nesse assunto.– Você age como se eu lhe tivesse dado algum motivo para pensar diferente – disse ela. – Eu lhe disse
o tempo todo que você não deveria se dar ao trabalho de tentar me conquistar.
Ele agarrou a parte de trás do pescoço dela para obrigá-la a olhar para ele.
– Você também me disse, em mais de uma ocasião, que não queria me ver nunca mais. Vou lhe fazer
esse favor. Eu fui o primeiro vampiro a se teletransportar até uma pessoa, e serei o primeiro a abandonar
a Noiva. – As fêmeas humanas começavam a olhar para ele com interesse indisfarçado, um contraste
marcante com a óbvia repulsa no rosto da sua Noiva. Ele sairia com uma delas. Ou várias.
Antes de partir, deu-lhe um beijo rude e escaldante.
– Vou esquecer você, nem que seja preciso trepar com mil mulheres para isso. – Quando a soltou, não
havia nada em sua expressão, o que o enfureceu ainda mais. – Talvez eu comece com uma das fêmeas do
Lore.
Será que ele imaginou o brilho prateado que surgiu nos olhos dela?
– Divirta-se!
– Se você vai sair com um humano, eu também não sairei daqui sozinho.
Enquanto caminhava de volta à cabine, Kaderin ergueu o colarinho da blusa, sentindo os olhos de
Sebastian sobre ela. Ele a mordera. E, dessa vez, não tinha sido por acidente. Nem de forma delicada. O
pior, na sua opinião, era ela não ter sido exatamente capaz de disfarçar sua reação intensa a ele.
Sebastian a mordera!
E ela se deliciara com a mordida, gozando com uma intensidade que a deixara zonza.
Ela o odiava por isso. Durante toda a sua longa vida, nunca fora mordida, e agora ele atacara seu
pescoço dentro da cabine telefônica de um bar sórdido. Ela estava enojada com a situação e com a
resposta devassa que dera a ele. Sentia-se saturada de tudo naquela noite e ansiosa para finalizar a
missão.
Quando chegou à mesa de Gamboa, Kaderin viu que Cindey já tomara seu lugar ao lado dele.
Isso ela não aceitaria.
– Você! – Ela apontou para Gamboa. Sabia que, por causa do toque de Sebastian, sua voz estava
rouca, seu cabelo despenteado e seus mamilos duros sob o tecido fino da blusa.
Gamboa olhou, parecendo atordoado, depois deu de ombros, desvencilhou-se dos braços de Cindey e
se levantou. Cindey lançou-lhe um olhar amargo, reconheceu a derrota e bebeu o drinque de uma só vez.
Quando Gamboa caminhou até onde estava Kaderin, parecendo encantado, ela murmurou: – Leve-me
para algum lugar onde possamos ter privacidade.
O queixo dele caiu.
– É… é claro. – Ele se afastou às pressas para mandar trazer o carro, e Kaderin teve a oportunidade
de murmurar para Cindey, ao sair: – Por que você simplesmente não cantou?
– Quinhentos homens aqui ouviriam a minha canção – explicou ela, com impaciência. – Além do
mais, acho que prefiro não ter o chefe do mais poderoso cartel de drogas no mundo de quatro por mim e
pegando no meu pé pelo resto da vida. Mas torço muito para que essa paixão funcione com vocês dois,
crianças.Quando Kaderin se virou para sair, Gamboa veio se juntar a ela. Enquanto caminhavam para fora
dali, ela viu Sebastian inclinando-se sobre uma das ninfas, com os olhos pretos. Ele lançou um olhar
assassino para o colombiano e depois se fixou em Kaderin. A ninfa lançou para Kaderin um sorriso
triunfante e agarrou o braço de Sebastian.
Se Sebastian estava tentando fazê-la ficar com ciúmes… tinha conseguido. Será que continuava com a
mesma ereção de há pouco? O que ele faria com a ninfa naquele estado de excitação despertado pelo
sangue e pelo corpo de Kaderin? Será que se teletransportaria com a vadia para algum lugar e começaria
a abrir mão de Kaderin?
Quando Gamboa colocou a mão na parte inferior das costas de Kaderin para lhe indicar o caminho,
ela afastou os olhos de Sebastian e se obrigou a olhar para frente. Não tornou a olhar para trás nem
quando deslizou com sensualidade para dentro da limusine de Gamboa, que logo se pôs em movimento.
Lá dentro, suas emoções fervilharam. Gamboa falava com ela em voz baixa e com um sotaque forte,
mas ela não prestava atenção a uma palavra sequer.
A mordida de Sebastian ainda latejava…
Ela olhou para Gamboa, interrompendo-o de repente para dizer: – Dê-me seu anel de opala, senão
vou matá-lo.
Ele simplesmente sorriu, os dentes brancos se destacando contra o rosto bronzeado.
– Só a opala, mi cariña? – Olhou para um enorme anel de diamantes que ele também usava, mas ela
não acompanhou seu olhar. – Você não vai nem mesmo apreciar meus diamantes? – perguntou.
Ela ergueu uma sobrancelha. Ele já sabia sobre ela.
– E por que você quer que eu olhe?
– Só para tirar a limpo se os rumores são verdadeiros.
Kaderin expirou com força.
– Você sabe o que eu sou?
Ele assentiu com a cabeça.
– Minha mãe era um demônio. Eu sei tudo sobre o Lore.
– Se sabe, por que me deixou ir em frente? – quis saber ela, num tom exasperado.
– Fiquei curioso para saber o motivo de meu clube estar cheio de seres do Lore.
– Estamos em plena Corrida do Talismã – explicou Kaderin. – O anel de opala é um dos prêmios e
vale um número elevado de pontos. Há muitos concorrentes aqui, e provavelmente outros espectadores
locais.
Ele girou o anel de opala no dedo.
– Sonhei em ver uma Valquíria verdadeira a minha vida toda. Estava escrito que esta pedra traria
alguém da sua espécie até ela.
Kaderin não duvidou disso. Aquele era outro exemplo da mão do destino em ação.
– Pois aqui está. Contemple a Valquíria bem à sua frente. – Estendeu a palma da mão. – Agora, o anel
de opala.
– Não vai ser tão simples assim.
– Pois é, eu não imaginava que você fosse um traficante de drogas com um coração mole.
– Por que eu deveria dar este anel a você… – quis saber ele, num tom razoável – sem receber nada
em troca?Um pensamento repentino surgiu.
– Não é a mim que você quer especificamente, certo? Deseja apenas passar uma noite com uma
Valquíria. Acertei?
Seus olhos pareceram escurecer de desejo.
– Essa sempre foi a minha fantasia.
– Então, eu vou enviar outra Valquíria aqui para baixo. Uma que é solteira. – Eu não sou solteira? –
O nome dela é Regin, a Radiante. Ela é uma criança selvagem. E seu corpo brilha. E o mais importante: é
uma aposta com ganho certo.
– Como posso acreditar que você vai realmente fazer isso? Envie essa sua amiga para mim e eu lhe
darei o anel.
– Preciso desse anel agora. E juro pelo Lore que ela estará aqui – garantiu Kaderin. Em seguida,
alterou ligeiramente o que prometia, ao completar: – Na verdade, eu não posso prometer de forma
inequívoca que ela vai aceitar dormir com você. E não recomendo beijá-la. Tirando esses detalhes, ela
adora uma festa.
Quando Gamboa parecia estar considerando seriamente a oferta, Kaderin escondeu a surpresa e
disse: – Simplesmente aceite o acordo, Gamboa. Eu não quero partir seu coração, nem surrá-lo, nem lhe
dar marretadas de nenhum tipo esta noite.
Depois de uma curta hesitação, ele disse: – Como posso entrar em contato com essa tal de Regin?
Lembrando que Regin tinha marcado o seu toque Sapo Maluco na lista de favoritos do seu celular,
Kaderin propôs: – Que tal eu lhe dar o número do celular secreto dela?
A vingança é doce, Regin.
Ele prontamente lhe entregou um cartão; na parte de trás, ela rabiscou o código de área e o número
completo de Regin: oito, seis, sete, cinco, três, zero, nove. Quando Kaderin lhe entregou o número, ele
tirou o anel do dedo. Inclinou-se mais para perto e roçou a mão sobre a pele dela quando lhe entregou a
joia. O toque não causou uma reação, mas ele obviamente achava que causaria. Ele devia se achar,
mesmo. Qualquer mulher certamente o consideraria sexy. No entanto, Kaderin não sentia nenhuma faísca,
nenhuma atração.
– Diga ao motorista que vou saltar no sinal da esquina.
– Eu lhe daria o diamante se você ficasse comigo esta noite, cariña.
Ela bem que deveria ficar com ele naquela noite. Sebastian, provavelmente, estava dando um dos
seus ferozes e ardentes beijos numa ninfa qualquer, naquele exato momento.
Em vez disso, Kaderin murmurou: – Isso me basta.
Por que não levar aquele meio-demônio para a cama? Porque ela queria voltar direto para o seu
quarto. Para poder chorar.

prazeres sombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora