capitulo 12

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12
Ao entrar na Corrida do Talismã, o vampiro tinha acabado de proteger a sua
própria vida da ameaça dos outros competidores, inclusive Kaderin, até as rodadas
finais.
Ao se intitular representante de Riora – uma estratégia brilhante –, ele
automaticamente se protegera das possíveis e chocantes traições de todos os demais
concorrentes.
O vampiro irritante estava se mostrando muito difícil de descartar.
Kaderin começava a se lembrar do que era irritação. Algo muito parecido com frustração. Ela já
sentira ambas.
Desceu do gradil mais uma vez, decidida a ir até o altar pegar seu pergaminho. Passou por seres
obsequiosos que desejavam demonstrar seu respeito a ela, ao Tratado, à grande Freya e ao poderoso
Wóden – como se Kaderin pudesse simplesmente enviar uma mensagem de texto para dois deuses
adormecidos.
– Katja! – chamou o vampiro, abrindo caminho entre a multidão de seres que mergulhavam no chão
ou se encolhiam com medo dele.
– Meu nome não é esse – reclamou Kaderin sem diminuir o ritmo, mas ele conseguiu alcançá-la com
facilidade. Quando o ambiente tinha ficado tão quente? Ela prendeu o cabelo num coque. – Diga-me
uma coisa, sanguessuga: Você entrou na corrida para Bowen não matar você ou para evitar que eu o
mate?
– Sanguessuga? – Ele franziu o cenho, mas pareceu não se importar com o insulto. – Já chegamos à
conclusão de que você não pode me matar.
Ela olhou com raiva para ele por sobre os ombros e avisou: – Estou louca para fazer com que essas
sejam as suas últimas palavras.
– E eu estou começando a entender as coisas por aqui. – Ele aparentava calma, até mesmo gentileza,
mas Kaderin conhecia bem a ferocidade que se escondia ali dentro… naquela noite mesmo ela a vira. –
Se essa competição é importante para você, deixe-me ajudá-la. – Colocou a mão no ombro dela com leve
hesitação, mas retirou-a assim que percebeu que Kaderin soltaria um silvo de ódio.
– De qualquer modo, eu vou derrotar todos.
– Mas por que não usar o caminho mais fácil para isso?
– Muito bem, eu topo a brincadeira. – Ela cruzou os braços sobre o peito, e o olhar dele desceu até a
profunda fenda do decote que se formou. Ela estalou os dedos diante dele.
Quando os olhos de Sebastian encontraram os dela, ele passou a mão nos lábios.
– Eu peço desculpas. – Mas sua expressão dizia que obviamente valera a pena a olhada. – Você vai…
topar?
– Já esteve em Nova Orleans, vampiro?
– Nos Estados Unidos? – Diante da confirmação dela, sua resposta foi: – Ainda não.– E quanto à América do Sul? – insistiu Kaderin. – África?
Ele hesitou, mas logo balançou a cabeça para os lados.
– Os vampiros só podem se teletransportar para lugares onde já tenham estado antes. Sendo assim,
para onde você planeja me teletransportar? Para o seu quintal? – quis saber ela, com uma cara de
decepção fingida que desapareceu em segundos. – Vampiro, esse é um jogo somente para adultos. –
Olhou para o alto, na direção do domo de vidro rachado, e viu que o céu continuava cheio de
relâmpagos. A alvorada chegaria logo. – Está quase na hora de você ir para a caminha.
– Eu posso viajar com você e mantê-la a salvo.
– Viajar comigo? Você acha que eu aguentaria parar e esperá-lo, sem fazer nada ao longo de cada
dia? Cortar meu tempo pela metade só porque você não pode pegar sol?
Ele pareceu ter se esquecido, por um momento, da dura realidade que ela acabara de fazê-lo lembrar.
– Não, é claro que não – disse por fim, baixinho. – É que eu só queria…
– Você está me atrapalhando e empatando a minha vida. Nunca lhe contaram que as mulheres não
gostam de homens que impõem a sua presença? Esse é um dos três broxantes de qualquer mulher. Pode
acreditar, não é nem um pouco sexy.
Por algum motivo, isso o fez franzir o cenho e recuar na mesma hora. Sua voz estava rouca, quando
perguntou: – Quais são os outros dois?
– Você já está abusando do primeiro. Que tal cuidar disso antes? – Deu as costas para ele e seguiu em
direção ao altar. Para sua surpresa, ele não a seguiu.
Kaderin passou por Escriba, que já começava a limpar o templo, embora não parecesse muito
empenhado em restaurar a ordem. Ao pegar o galho quebrado da árvore decorativa que escondia a coluna
de mármore avariada, viu as marcas de garras e olhou com cara feia para algumas criaturas ali perto, que
analisavam os cascos como se nada tivesse acontecido.
Kaderin passou por ele, executou uma reverência gentil e o chamou de “Sagrado Escriba”, o que
sempre o levava às alturas de tanto orgulho. Ele quase tropeçou nas próprias pernas e tentou responder,
mas conseguiu apenas gaguejar.
No altar, Riora conversava com dois elfos, dizendo algo como “quero cobertura da competição em
tempo real”, ordenando em seguida que “atraíssem todos os visitantes para o seu site”.
Ainda sentindo os olhos do vampiro colados nela, Kaderin subiu até o degrau mais alto. Era a única
no Lore que ousava fazer algo assim. Pegou um dos pergaminhos da pilha e o desenrolou. Todos os
competidores receberiam aquela mesma lista de tarefas. Cada lista incluía o nome dos talismãs ou
objetos que deveriam ser procurados, as coordenadas para encurtá-los e uma curta descrição para cada
um deles. Como sempre, havia dez tarefas para cada rodada.
Quando Riora acabou de despejar as ordens para os Relações-Públicas, perguntou: – Como estão
seus pais, Kaderin Coração Gelado?
Kaderin sabia que ela perguntava sobre dois dos três pais que tinha. A mulher que dera Kaderin à luz
tinha sido uma mortal.
– Eles ainda dormem, minha Deusa – disse ela, com ar distraído, lendo o pergaminho. Os deuses
continham mais força e poder por meio das muitas preces e oferendas que recebiam dos devotos a cada
passagem do sol pelo firmamento. Esse era o motivo de Riora tentar obter cada vez mais atenção através
da internet. Freya e Wóden tinham tão poucos adoradores que os dois viviam dormindo para conservar aprópria energia. – Vejo que há muitos prêmios e talismãs interessantes nesta edição da competição –
observou Kaderin.
No passado, Kaderin saíra à caça dos talismãs que estavam mais perto, assim que começava a
disputa. Dessa vez, como havia mais de um participante de peso, ela pretendia usar novas estratégias
para agitar todo mundo. Decidiu que partiria de imediato para realizar as tarefas mais difíceis e buscar
os objetos localizados nos pontos mais distantes.
– Sim, eu também acho – concordou Riora. – É uma pena saber que não vou conseguir mais que
metade da lista, devido aos muitos acidentes fatais que sempre acontecem.
Kaderin concordou com a cabeça, em sinal de solidariedade. De repente, sua atenção se fixou nas
tarefas que rendiam mais pontos naquela edição: doze pontos para quem trouxesse um dos três espelhos-
amuletos descritos ali. O maior prêmio que Kaderin já buscara valia quinze pontos. Mas aquela tarefa
não envolvia perigos nem ameaças à vida, tinha mais a ver com logística. Quem os conseguisse primeiro
venceria a disputa.
Embora a localização do prêmio estivesse fora do alcance da rede de transportes fornecida pelo
Tratado, Kaderin dispunha de outros recursos. Pela primeira vez, numa Corrida do Talismã, pensou em
pedir a ajuda do seu coven.
Mas tomara que não seja Regin que atenda a ligação…
Kaderin ouviu o som de helicópteros, os motores roncando mais forte conforme suas frentes
embicavam para pousar.
Ataque de forma objetiva e rápida. Sim, vai ser esse.
Enrolou o pergaminho e desceu do altar.
Antes de ter chance de partir, Riora quis saber: – Você desaprovou a escolha do meu cavaleiro
vampiro?
Kaderin se virou e olhou-a fixamente.
– Sei muito bem que você está pouco se lixando quanto à minha aprovação. Ou minha extrema e total
desaprovação. – Por que Riora a analisava com tanta atenção? Kaderin sentiu-se enrubescer sob o exame
detalhado da deusa. Riora sempre demonstrava um incompreensível interesse por Kaderin, mas aquilo
era intenso.
– Você me parece diferente – afirmou Riora.
Porque estou tendo sentimentos, cacete!
– É o meu novo corte de cabelo – murmurou Kaderin, em vez de dizer o que veio à mente. Será que
Riora conseguia enxergar suas novas emoções, em especial a vergonha extrema de sentir atração pelo
vampiro? O olhar dela pousou em Sebastian.
– Ora, ora… Quer dizer que esse interesse é mútuo, Lady Kaderin? Muito inconveniente isso!
– O que quer dizer?
Riora virou a cabeça de lado e o analisou atentamente. Sebastian estava encostado a uma parede,
olhando para Kaderin com os braços cruzados sobre o peito musculoso, cobrindo os ferimentos.
– É claro que se alguém se interessar por um vampiro, aquele ali quase justificaria esse interesse.
– Riora, eu nunca disse que…
– Estou só comentando que, pelo visto, alguns deuses abençoaram o meu cavaleiro em ótima forma.
Kaderin sentiu sua expressão endurecer.– Será que eles também abençoaram seu cavaleiro com furioso apetite por sangue? – rebateu ela,
chocando até a si mesma.
– Cuidado com seu tom de voz, Valquíria! – As chamas do altar silvaram e balançaram com mais
força. – Isso não é uma pausa para o cafezinho. – Atrás delas, Escriba deu um pulo e bateu com força na
manga do seu manto, que pegava fogo.
Kaderin rangeu os dentes e, por fim, disse: – Sim, Riora.
– Vá! – ordenou a deusa, suspirando. Em seguida, num tom mais gentil, completou: – Se você vencer
a corrida, poderá trazer suas irmãs de volta.
Os olhos de Kaderin se estreitaram.
– Você sabe sobre elas? Eu nunca lhe contei a minha perda.
– Eu já sabia a seu respeito quando elas foram mortas.
– Se percebe o quanto isso é importante, será que a incandescente Riora não poderia me dar algumas
dicas sobre a corrida?
Riora fez cara de espanto e respondeu, com jeito brincalhão: – Você está me achando com cara de
“serviço de atendimento ao cliente”? Isso é um insulto! – Olhou para as unhas. – Já deixei homens cegos
por muito menos. – Escriba estava novamente ocupado com alguma coisa atrás da deusa, apagando alguns
insistentes focos de incêndio, mas parou e confirmou com a cabeça, como se já esperasse que aquilo
fosse acontecer.
– Desculpe, eu já deveria saber – disse Kaderin. – Todos dizem que é impossível arrancar
informações de você.
– Tenha cuidado onde pisa, Valquíria – avisou Riora, mas disse isso com ar divertido. Aproximou-se
e colocou um braço sobre o ombro de Kaderin, o que a deixou surpresa. O toque de Riora era quente e
macio, e ela puxou Kaderin para um canto. Então, com a voz baixa, disse: – Aqui vai uma dica: se você,
por acaso, encontrar a espada de Honorius, o cego místico, saiba que ele a enfeitiçou para que nunca
deixe de acertar o alvo.
Antes de Kaderin ter chance de perguntar mais a respeito daquela dica enigmática, Riora se virou
abruptamente: – Veja, aí vem o seu vampiro. Ele não aguenta mais ficar longe.
Kaderin tentou negar que ele fosse dela, mas Riora tornou a falar: – Veja a avidez com que ele olha
para você! E como é arrogante a sua pose! Que excesso de confiança! E que ombros largos! – Soltou um
grunhido de desejo. – Devo atrasar a permanência dele aqui quando você for embora? Para mim, isso não
será nenhum martírio.
Kaderin apertou os lábios de irritação, mas logo se sentiu ridícula. Não poderia sentir ciúmes de um
vampiro.
– Eu agradeceria muito. Embora não creia que seja possível você conseguir atrasá-lo por mais que
algumas horas.
– Quanta audácia a sua, Valquíria! – exclamou Riora, sem tirar os olhos de Sebastian por um instante
sequer. – Você terá um dia de dianteira.– Vampiro! – chamou Riora, num tom rouco, quando Sebastian já se preparava para sair. – Quero uma
palavrinha com você.
Ele se virou para a deusa com um jeito impaciente, mas continuou observando Kaderin, que
atravessava o salão para sair do templo. Ela encontrara o lobisomem junto do portal em arco e trocara
com ele olhares tensos.
– Relaxe… Sim, ela está se afastando de você. Mas nada mudou nos últimos cinco minutos, quando
ela parecia nunca mais querer olhar para a sua cara. Conte-me: quem arranhou você desse jeito? Foi
aquele Lykae cruel de garras vermelhas, que agora parece ameaçar Kaderin com os olhos?
Sebastian pretendia matá-lo.
– Sim, tivemos uma discussão – confirmou, de forma casual, saindo atrás de Kaderin. – Mas agora eu
preciso ir…
Riora surgiu subitamente na frente dele.
– Como você encontrou este lugar? – quis saber ela, sua voz ficando mais forte. – Não me lembro de
ter enviado nenhum convite para você, e Escriba também não se lembra. – Estalou os dedos; o
homenzinho largou o apagador de velas e correu para se colocar ao lado da deusa. – Ainda não consegui
decidir se gostei de você ter entrado de penetra na minha festa.
– Eu me teletransportei até aqui. – Sebastian precisou lembrar a si mesmo que poderia alcançar
Kaderin a qualquer momento que quisesse. E achou melhor não enfurecer a divindade que lhe fizera o
favor de deixá-lo competir.
– Mas não é possível que alguma vez você tenha estado aqui.
Por fim, o Lykae desapareceu. Kaderin fez um gesto obsceno por trás das costas do escocês e olhou
com ar de perplexidade para o próprio dedo.
– Eu me teletransportei até Kaderin. – Quando Sebastian viu Kaderin pegar um celular na jaqueta e
sumir em seguida pelo portal, virou-se para Riora com o maxilar cerrado e explicou: – Ela era o meu
destino.
Os lábios de Riora abriram um leve sorriso, como se estivesse deliciada ao ouvir isso. Subitamente,
porém, seus olhos pareceram arder mais uma vez.
– Pois saiba, vampiro, que isso é impossível.
Com um tom de voz casual, ele replicou: – Talvez fosse considerado impossível antes, mas agora…
– Como você fez isso? – Ela colocou o indicador na borda do altar e o usou para erguer o corpo e se
sentar na ponta.
Ele respondeu, falando depressa, que as limitações variáveis não poderiam ser separadas. Não era
possível existir uma possibilidade e uma impossibilidade tão similares lado a lado. Quando havia
perícia, agilidade mental e um apurado senso de detalhes na memória, o resultado é que o teletransporte
poderia ser levado a extremos nunca antes vistos.
– Que coisa fascinante! – Riora se virou para o homenzinho ao lado e se abanou de leve. – Escriba,
acho que estou apaixonada. Ele é meu verdadeiro soldado de infantaria! Como deverei recompensá-lo?
– A julgar pelo ranger de dentes dele e pelo seu maxilar pulsante, eu diria que ele tem um único
desejo, neste instante – disse Escriba.
Foi nesse momento que Sebastian percebeu que Escriba não apreciava seu interesse na Valquíria.– Ah, sem dúvida. Kaderin. – Riora bufou com força. – Estou com ciúmes, vampiro… e também
arrasada. Mais tarde, talvez eu até chore.
Sebastian sentiu o poder dela, um poder volúvel; até descobrir o que ele mesmo representava naquele
mundo desconhecido, achou melhor agir com cautela.
– Eu… não quis ofendê-la.
Escriba pigarreou e, como se suas palavras estivessem sendo arrancadas sob tortura, afirmou: –
Deusa Riora, é meu dever informá-la de que sua atração por este macho é aceitável e possível. Ouso
ainda dizer que a vitória dele sobre Lady Kaderin, considerando-se a história dela, é impossível.
Os olhos da deusa se arregalaram, e ela concordou com empolgação.
– Ah, você tem razão. É por isso que eu mantenho você vivo, Escriba, e…
– Qual é a história de Kaderin? – interrompeu Sebastian.
Riora estreitou os olhos ao fitá-lo, como se Sebastian fosse um inseto que ela nunca tivesse visto, e
inclinou a cabeça para se colocar mais próxima do rosto dele.
– Você me cortou a palavra. Tenho impulsos conflitantes entre cozinhar você vivo e afagá-lo.
– Peço mil perdões, Deusa – reagiu Sebastian, sem se deixar intimidar, e olhou para Escriba. – Vocês
mencionaram a história dela…
Como se as transgressões tivessem sido esquecidas, Riora sussurrou, num tom conspiratório: –
Vampiros já trataram Kaderin muito mal. E você, afinal de contas, é um vampiro.
As presas dele pareceram se aguçar só de imaginá-la sendo ferida.
– O que fizeram com ela?
Riora ignorou a pergunta feita entre dentes e quis saber outra coisa: – Acaso faz ideia de quanto
alguém como ela está acima de você?
Na verdade, ele estava se acostumando com a ideia. Embora Kaderin execrasse o que ele era,
Sebastian não poderia estar mais satisfeito com sua Noiva. Ao subir até o altar, junto de Riora, ele
percebera que a deusa não parecia superar sua Noiva em nada.
Mesmo assim, empinou o queixo ao replicar.
– Tenho uma bela fortuna para poder mimá-la e muita força para protegê-la. Existem maridos piores
por aí.
– Que vampiro arrogante! – Riora riu. – Ela é filha de deuses!
Ele engoliu em seco. É por isso que ela ofusca uma deusa.
– Continua com a mesma autoconfiança? – insistiu Riora.
Ele se sentira confiante, mas agora se perguntava se as chances minúsculas que calculara para si
mesmo não tinham sido superestimadas.
– Você planeja ganhar a chave para ela? – perguntou Riora.
– Sim, exatamente!
– Não gostaria de ficar com o prêmio para si mesmo? Imagine as possibilidades.
– Custo a acreditar que isso poderia funcionar – admitiu ele. – Existe alguma prova de que a chave
realmente dá certo?
– Não. Na verdade, não tenho prova alguma. – Riora suspirou. – Apenas a palavra do sr. Thrane.
Sebastian passou a mão pela nuca, mas o movimento fez com que os músculos do seu peito gritassem
em sinal de protesto.– Então posso lhe perguntar por que está convencida de que isso poderá dar certo?
– Estou convencida de que vai funcionar, vampiro, pelo simples fato de ser impossível!
No instante em que Sebastian se perguntava se alguma discussão racional com a deusa seria possível,
Riora sugeriu: – Você deveria passar um dia aqui para aprender tudo sobre Kaderin.
Essa pareceu uma boa ideia para Sebastian.
– Eu adoraria fazer isso, mas me faltam recursos para aprender alguma coisa.
– Pois saiba que aqui os recursos abundam. Kaderin gosta do aqui e agora, e as Valquírias são
fascinadas pelo desenvolvimento da cultura humana. No entanto, me parece que você não sabe muito
sobre a época em que estamos. Leia o máximo que você conseguir ao longo do dia. E observe o que
passa na TV enquanto isso.
– TV? Eu não tenho uma.
– Eu me atreveria a dizer que Kaderin tem, e afirmo com certeza que ela não estará em casa hoje.
Invadir o espaço de sua Noiva quando ela não estaria em casa?
– Escriba saberá informar o endereço dela em Londres. – Uma troca furtiva de olhares aconteceu
entre eles, e o rosto pálido de Escriba pareceu assumir um tom mais forte, talvez de rubor.
– Sim – confirmou Escriba, com um sorriso acompanhado de um esgar de desdém. – Caso consiga
chegar lá, lembre-se de que os canais Spike e Playboy poderão deixá-lo mais informado sobre a época
atual que quaisquer outros. Comece por eles.
Sebastian fez a anotação mental de se manter o mais afastado possível de qualquer coisa que ele
sugerisse. Olhou para a porta mais uma vez, embora soubesse que Kaderin já saíra havia muito tempo.
– Continua inquieto? – perguntou Riora. – Você pode se teletransportar até ela quando bem entender.
– Você disse que os prêmios estão espalhados pelo mundo todo. Não tenho certeza se serei capaz de
me teletransportar para o outro lado do planeta. Muito menos de acertar o local com precisão para surgir
diante dela.
– Isso poderia parecer impossível – murmurou a deusa. – No passado, porém, ela sempre ficou deste
lado do planeta no começo da corrida. Perto da Europa, para pegar primeiro os frutos mais baixos da
árvore, por assim dizer. Essa sempre foi a sua forma de competir. E considerando que o amanhecer
acontecerá daqui a menos de uma hora, pode ser que você a encontre bem debaixo do sol…
Observando o peito ferido dele, Riora completou: – Deixe-a ir, cavaleiro. Além do mais, você
precisa se curar. Receio que Bowen ainda não tenha usado todas as suas armas.
Valia a pena confiar numa deusa louca e num escriba vingativo? A cavalo dado não se olham os
dentes.
E você não tem um único amigo no mundo.
– Tudo bem – concordou Sebastian, aceitando com firmeza. – Quão longe ela poderá ir num único
dia?

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