capitulo17

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Não, Kaderin não costumava sonhar desde que recebera o dom da
insensibilidade. Por causa disso se viu confusa sobre o motivo de sonhar que o
vampiro lhe empurrava as pernas para os lados, abrindo-as.
Claro que é um sonho. Um pesadelo. Eu nunca dormiria na presença de um
vampiro.
Mesmo assim, permitiu que o vampiro do sonho continuasse a tocá-la e se
percebeu seduzida pela respiração entrecortada dele ao deslizar os dedos trêmulos
ao longo das suas pernas e seguir, logo depois, por dentro das coxas. No sonho, os
dedos dele eram muito quentes; um deles apertava a sua bunda, e o outro puxava
de lado o shortinho de seda, para expor seu sexo.
Ele sugou o ar, quase sem fôlego. Sonhos poderiam ser tão reais? Ela não conseguia lembrar! Mas
não devia estar sentindo-o daquele jeito, inclinando-se sobre ela e pressionando seu peso sobre a cama.
Para beijá-la, talvez? Beijá-la onde, precisamente?
Sua voz grossa estava mais rouca quando ele disse: – Quero minha boca em você…
Os olhos dela se abriram. Ela girou para o lado e pousou a mão livre no punho da espada, erguendo-
a. A lâmina atravessou a colcha e foi parar debaixo do queixo dele. Mantendo a arma firme no lugar, ela
se apoiou com as costas na cama, deu um pulo, sentou-se e soltou uma exclamação de espanto.
Viu que estava seminua, ainda arfava pesadamente e se percebeu ofuscada pela excitação. Diante
dela, a óbvia e imensa ereção do vampiro pressionava com força a calça jeans que ele vestia.
Kaderin engoliu em seco e ergueu a cabeça, mas lamentou fitá-lo diretamente, pois os olhos dele
ardiam de desejo; os pensamentos dela pareceram sumir por completo diante disso. Quando os olhos dele
baixaram para seus seios nus, Kaderin o empurrou com força.
– Muito bem – admitiu ele, erguendo as mãos. – Talvez eu mereça isso por tocá-la enquanto você
dormia, mas saiba que agora, no finalzinho, pensei que já estivesse acordada.
– Há quanto tempo você está aqui? – quis saber ela, com a voz muito aguda.
– Quase dez minutos.
Ela olhou atrás dele e viu sua espada pousada em cima do banco e a jaqueta pendurada ao lado.
Tentou se segurar para o queixo não cair.
– Impossível.
– Noiva, você continua dizendo “impossível” sobre coisas que já aconteceram.
Ela não conseguia pensar direito! Nenhum vampiro a pegara desprevenida daquele jeito. Nunca!
Kaderin tinha sono leve, pois fora treinada para isso ao longo de muitos anos de batalha. Como acreditar
que tinha dormido e sonhado enquanto uma sanguessuga se deliciava, acariciando-lhe as partes íntimas?
O que havia de tão especial naquele vampiro em particular?
Por que eu não consigo passar a espada nele e acabar com isso?Um leve flexionar do pulso e a lâmina correndo debaixo do queixo do vampiro acabaria com ele para
sempre. Um balanço vigoroso com o braço cortaria fora a sua cabeça.
Mas ela não podia fazer isso por causa da competição.
Isso mesmo… Só as regras cruéis da competição me impedem de fazer isso.
Havia outra razão para ela explicar de forma satisfatória o motivo de não feri-lo, mas Kaderin se
recusou a aceitá-la. Se o fizesse, a vida como ela conhecia chegaria ao fim…
– Eu não aguento continuar nessa posição por mais tempo, Katja – avisou ele, com toda a calma do
mundo. – Mas posso ficar de costas, se você quiser se vestir.
Um vampiro cavalheiro. Suas palavras eram firmes, e ele falava em voz baixa, mas ela percebeu que
ele mal conseguia se controlar, como se realmente considerasse a possibilidade de dar um tapa forte para
afastar a espada e cobrir o corpo dela com o dele, ali na cama. Como ela reagiria se ele fizesse isso?
Bem que ela gostaria de saber. A Kaderin previsível, a Kaderin estável… agora era volúvel.
A maneira como ele a estudava com ar de flagrante apreciação deixou-a nervosa. No seu velho país
de origem, durante uma tempestade, o mar sempre crescia e assumia tons violentamente coloridos, para
em seguida se movimentar em tons sombrios ou pretos como carvão.
Esses eram os olhos dele naquele momento, brilhando na escuridão: uma tormenta em mar alto.
Um pensamento vazio surgiu na mente dela.
Eu sempre adorei tempestades.
Ela se sacudiu por dentro. A cada segundo passado com aquele vampiro, possivelmente o exemplar
masculino mais sexualmente atraente que ela já conhecera, mais ela brincava com fogo. Ali estavam em
ação não só os desejos dele, mas também os sentimentos dela… O prazer de ouvir o trovão profundo da
sua voz; a excitação diante dos seus olhares sedentos; a satisfação por não estar mais sozinha naquele
quarto.
Durante uma eternidade, Kaderin considerara todos à sua volta como escravos da emoção,
comportando-se de forma injustificada e irracional. Agora, era mais uma entre eles, ainda por cima
inexperiente.
À deriva.
– Vou me vestir. – Ela abaixou a espada e se levantou, agarrando sua blusa e passando junto dele.
Sebastian devia ter visto os seios dela apenas de relance, mas não se deu ao trabalho de disfarçar um
gemido de prazer. Quando ela seguiu em frente para pegar a bolsa, sentiu o olhar dele colado na sua
bunda.
Desde que tivera idade suficiente para deixar Valhalla na condição de novo ser imortal, Kaderin
sempre notara que os homens consideravam excitante seu traseiro. Agora ela rebolava ainda mais,
exagerando o balanço dos quadris. Ele a deixava com calor.
Uma reviravolta dessas não era nada fácil.
Ele praguejou algo baixinho em estoniano, e ela percebeu na mesma hora que Sebastian não fazia
ideia de que ela pudesse conhecer o idioma. Por algum motivo, acreditou que ele jamais falaria daquele
jeito perto dela se soubesse que era compreendido.
– Katja – chamou ele, atrás dela. – O que seria preciso para levar você novamente para essa cama, na
minha companhia?Katja! Por cima do ombro, ela respondeu: – Esse não é o meu nome, e nada do que você exibe teria
esse poder. – Mudar ao seu bel-prazer um nome que era honrado e reverenciado havia mais de vinte
séculos era muita audácia dele! Para puni-lo, ela se inclinou para frente com as pernas retas e abertas,
pousou a espada ao lado de uma mala aberta e pescou lá de dentro um top para usar debaixo da blusa.
Quando tornou a se levantar e olhou por sobre o ombro, ele esfregava a mão na boca, parecendo
hipnotizado.
Isso foi gratificante. Apesar de ele parecer que estava prestes a jogá-la sobre o ombro e carregá-la
para o seu covil.
Como seria ser possuída por um homem como Sebastian? A ideia de estar realmente à mercê de um
macho dominante que tinha uma única coisa em mente era… excitante.
Embora isso nunca fosse acontecer. Ainda de costas, vestiu as roupas lentamente.
– Você precisa entender que eu nunca vou dormir com um ser como você. – Virou-se a tempo de ver
seus olhos assumirem um tom sombrio quando ele ouviu isso.
– Um ser como eu? – Ele fervia de tensão.
Será que as palavras dela tinham descoberto uma fenda desconhecida em sua armadura?
– Eu mato vampiros, não transo com eles.
– Você dormiria comigo se eu não fosse um vampiro? – O mesmo assunto, e agora essa pergunta…
Ela conseguiria desejá-lo? Isso parecia muito importante para o vampiro.
Kaderin inclinou a cabeça para o lado, exagerando o jeito como o avaliava de cima a baixo. Ele
pareceu parar de respirar.
Como responder a essa pergunta?
Admitir em voz alta seu vergonhoso desejo por um vampiro ou, quem sabe, esmagar o ego dele? E
por que então ela deveria se preocupar com a segunda hipótese?
Porque eu nunca fui uma pessoa cruel.
– Você acha alguma coisa atraente em mim? – Ele foi muito arrogante ao perguntar isso, mas sua voz
estava mais rouca, e ela percebeu sua incerteza. No mesmo instante, entendeu que uma mulher já o fisgara
antes e fizera algum estrago.
Ele tinha acabado de revelar uma fraqueza para ela.
Sebastian deu um passo hesitante na direção dela. Ele também tinha feito isso no castelo e no templo,
mas evitara continuar e seguir em frente apesar de, obviamente, querer chegar mais perto.
O vampiro era um macho com um corpo belo e marcante, embora parecesse não ter consciência
disso. Nas outras duas vezes em que aquilo ocorrera, ele se colocara, de forma inconsciente, numa
posição que fosse menos ameaçadora para ela, forçando-se a parecer distante. Quando estava calmo,
mantinha o corpo imóvel. Não fazia gesto algum com seus braços longos e musculosos, nem dava passos
largos. Era pura calmaria.
Quando não estava calmo – como quando era atacado por um lobisomem, por exemplo – ele se movia
com velocidade e agressão incomensuráveis.
Provavelmente, tinha intimidado um monte de mulheres na juventude. Os homens não costumavam ter
um metro e noventa e oito de altura, nem um físico tão avantajado naquele tempo. Ele nem precisaria ter
se dado ao trabalho de parecer pouco ameaçador para ela. O prazer que Kaderin obtivera devorando com
os olhos aquele corpo maciço era o motivo de ele ainda estar ali de pé, e não sangrando no chão.– Qual é a importância de eu achar ou não algo atraente em você? – perguntou ela, por fim. – Você me
acha pequena demais.
– Não! – Ele se apressou em negar e expirou com força. – É que eu sempre ouvi dizer que as
Valquírias eram guerreiras imensas, parecidas com as Amazonas.
– Obviamente, essa é a versão das lendas. Se você fosse o único sobrevivente de um exército
exterminado por nós, sairia por aí contando à sua galera que seus soldados tinham sido colocados para
correr ou haviam amanhecido com a boca cheia de formigas devido ao ataque de fêmeas de compleição
pequena e aparência frágil ou por monstros que conseguem dobrar um Buick ao meio?
Ela sabia que tinha falado depressa demais e colocado algumas gírias na conversa. Depois de alguns
instantes, porém, ele entendeu o básico do que ouvira e exibiu um sorriso.
Pelos deuses, ela não precisava ser lembrada daquele sorriso, o mesmo que ele exibira quando se
esfregara com vigor por cima dela, depois de fazê-la ter um orgasmo pela primeira vez em dez séculos.
– Isso faz sentido – foi o que disse. Ficou sério de repente e completou, baixinho: – Saiba que eu
acho você perfeita. – Olhou para algum ponto ao longe. – Você é o ser mais lindo em que algum dia eu já
pus os olhos. Era isso que eu queria lhe dizer no Templo de Riora.
O coração dela se acelerou de tal forma que quase teve certeza de que ele percebeu, pois se virou
mais uma vez para ela e insistiu: – Você não respondeu à minha pergunta.
– É difícil enxergar algo além do seu vampirismo – disse Kaderin, com honestidade.
– Juro por Deus que eu não gostaria de ser um vampiro.
Ela deu um tapinha na bochecha dele.
– Sei… me engana que eu gosto. Se você não queria ser o que é, certamente não deveria ter bebido o
sangue de um vampiro quando estava prestes a morrer.
Num tom inescrutável, ele garantiu: – Minha transformação aconteceu contra a minha vontade. Eu
estava ferido e fraco demais para resistir.
Ele havia lutado contra a transformação?
– Quem fez isso?
– Meus… meus irmãos.
Que história interessante.
– Eles ainda estão vivos?
– Sei que dois deles estão. Mas um terceiro desapareceu. – Cerrou o maxilar com força, e os
músculos de sua mandíbula pareceram latejar, como se ele tentasse controlar a raiva. – Eu… eu não
quero falar sobre isso.
Ela encolheu os ombros como se não desse a mínima para aquilo, mas ficou curiosa. Atravessou o
aposento até onde estava a espada dele e a tirou da bainha. Era uma espada de batalha. O cabo de pau-
rosa tinha entalhes para os dedos e era muito comprido para ele poder segurá-lo com as duas mãos. A
lâmina com corte somente de um lado era larga e inflexível. Conseguiria atravessar uma cota feita de
malha de ferro e cortaria a barriga de um homem com um único golpe.
– Você trouxe isso até aqui? – Ela olhou para ele. – Achou que poderia me subjugar com ela?
– Pensei em protegê-la, caso fosse necessário.
Ela ficou impressionada com o peso da espada e com o óbvio cuidado que ele tinha para mantê-la
sempre polida.– É muito boa, suponho… para um iniciante.
– Iniciante? Eu tingi essa espada de vermelho durante muitos anos, até a noite em que morri.
Ele era um estoniano que morava na Rússia, tinha um ar de nobreza estampado em sua figura e gestos,
e contou que estava naquele castelo havia alguns séculos. Isso significava que tinha lutado na Grande
Guerra do Norte entre a Rússia e os países nórdicos vizinhos. Uma guerra sangrenta, por sinal. A fome e
a peste haviam dizimado populações inteiras, embora ela suspeitasse que o homem diante dela morrera
no campo de batalha.
– Você sabe o suficiente sobre espadas para ver que essa é uma arma excelente – disse ele.
Kaderin a embainhou e tornou a colocá-la no lugar.
– Eu prefiro espadas leves e rápidas, mas, com esse corpo pesadão, o seu estilo de luta deve ser
baseado em força bruta.
– Pesadão? Não é uma coisa ruim haver muita força por trás de uma espada – rebateu ele, num tom
defensivo.
– Pode ser, mas a força não consegue derrotar a velocidade.
– Eu discordo.
– Já vivi por muitos anos – disse ela. – Minha própria existência é um testemunho de louvor à minha
velocidade.
– Então, você nunca enfrentou um brutamontes pesado que mereça esse nome.
Ela reprimiu um sorriso e disse: – Vampiro tolo, eu tiraria o seu couro se lutássemos um contra o
outro. Mais uma pergunta, sem querer ofender… Você não morreu pela ação de uma espada?
– Morri. E quanto a você, que defende uma luta à base de espadas? Sem querer ofender, mas será que
conseguiria aplicar um golpe mortal contra um dos seus inimigos mais antigos?
– Eu poderia ter escolhido não matar você, mas, nesse instante, a ideia de mutilar você aos poucos e
durante vários dias me parece muito mais atraente. Quem sabe, arrancar um órgão interno seu e aguardar
a regeneração dele? Essa tortura nunca sai de moda. – Na verdade, tinha saído, sim. Mas ela já fizera
isso com uma sanguessuga antes, repetidas vezes, mesmo depois de estar cansada de repetir a mesma
coisa.
– Como espera que eu possa acreditar em algo assim, Katja? Acho que você não deseja me ferir nem
uma única vez. Não creio que consiga fazer isso.
Ela se aproximou dele com rapidez.
– Vampiro… – A mão de Kaderin se projetou para frente com uma velocidade espantosa, agarrou-lhe
o espaço entre as pernas, segurou-o pelos testículos, deixou que uma das garras furasse a calça e tocou
com ela num deles. Os olhos de Sebastian se arregalaram e suas pernas se abriram um pouco mais,
afastando os pés para impedi-lo de tombar para frente. – Eu poderia castrar você com um simples
movimento dessa garra. – Puxou-o mais para baixo, fazendo-o grunhir de prazer e de dor. – E ainda
ronronaria enquanto estivesse fazendo isso.

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