Capítulo 7

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A idéia de fracassar ou errar nunca lhe foi permitida, nunca se permitiu.

Nem sequer deu falta daquilo, de sentir algo além do que era apresentado aos seus olhos. O resto eram no mínimo um extra que as pessoas colocavam para adicionar emoções as suas vidas.

Chorar, implorar ou amar eram motivos o bastante para punições de onde vinha. Se lembrava perfeitamente quando aos seus 52 anos presenciou pela primeira vez uma bruxa sendo espancada e chicoteada por ter dito que estava grávida e que queria se casar com o macho féerico.

Nenhuma bruxa tinha consciência de quem era o seu genitor, em sua maioria, elas procuravam um homem qualquer para engravida-lás e depois iam embora. Podiam ser qualquer coisa; féerico, grão-féerico, illyriano até humanos.

Mas, se casar era fruto de um sentimento a qual detestavam e aboliam. E no final, tudo foi em vão, ela morreu no parto e o macho nunca apareceu.

Ela não achava que todas as emoções eram desnecessárias, ela mesma sentiu algumas quando voou pela primeira vez em Tenna. E quando resolveu sair em uma aventura secreta junto as únicas duas pessoas que confiava. Ela ignorava o fato de que um deles era um macho, talvez porque ele a intrigava com as suas respostas persuasivas demais e a forma distinta que vivia.

E a outra, uma fêmea que treinou alguns anos antes do extermínio e que tinha sido mandada para as montanhas rochosas. Ela era relaxada na vida, sabia aproveitar a imortalidade de forma mortal e era a única que tinha coragem de fazer aquelas piadas idiotas sobre elas em momentos errados.

Estava quase amanhecendo e Dyana estava sentada em uma árvore com um pano pressionando a coxa sangrando enquanto vigiava a floresta ao seu redor.

Azriel tinha ido fazer a ronda mais cedo, e murmurou algo como ela ser incomunicável demais para sequer dividir o turno e não a dirigiu mas nenhuma palavra. Mas ele ironicamente estava dormindo a alguns metros dela com as sombras o tampando.

Não entendeu quando o mesmo resolveu deitar longe da fogueira, ela estava embutida na terra então não tinha riscos de queima-lo ou sair fumaça. Estava com um pano enrolado na mão que ela cortou e desde a pequena discussão não tiveram mas nenhuma interação.

Graças aos deuses.

Não sabia como ele a "treinaria" assim, mas se fosse pra continuar por todo o caminho desse jeito, ela agradeceria.

O sol já estava dando indícios de sair quando Azriel se levantou, a encarou por alguns segundos sentada na árvore e começou a verificar se suas armas estavam no lugar.

Riu daquilo.

– Se acha tão ruim ao ponto de pensar que peguei algo seu e não sentiu?

– Me acho bom o bastante para verificar se pegou algo meu que não senti.

– Eu chamo de lerdeza – Falou a bruxa, se segurando em um galho para saltar da árvore.

– Não me importo com o que pensa.

Azriel pegou sua espada que estava encostada em uma pedra ao seu lado e começou a amassar os últimos vestígios da fogueira.

– Vamos caminhar até a fronteira da Corte Crepuscular e voar até a corte invernal, caminhar de novo e atravessar até a corte primaveril – Azriel se virou para a encarar enquanto colocava a espada na bainha – Seus treinamentos vão começar quando chegarmos.

– Que tipo de conhecimentos irá atribuir em mim se já sei de tudo e um pouco mais?

– Verá quando chegarmos – Ele a inspecionava, a bruxa já tinha se acostumado, fazia o mesmo que ele.

Corte de Espadas e Sombras • Azriel •Onde histórias criam vida. Descubra agora