Sujeira escorria do corpo da fêmea que se banhava em um cachoeira dentro de uma floresta que achara dois dias depois de partir.
Desde que saira daquela prisão nojenta o único objetivo que tomará a sua cabeça era de voltar pra ilha cravejada. A ilha que as suas irmãs e líder estavam. Pouco tempo antes de ser pega e levada recebeu um falcão correio negro com uma mensagem de sua líder a mandando voltar para resolver "assuntos inacabados", não podia negar seu pedido. Primeiro porque ela era sua líder e não proibiu quando a bruxa saiu 60 anos atrás para saciar as suas regalias, e segundo porque queria depois de seis décadas ver como as coisas estavam. Não porque era sentimental e sim porque tinha curiosidade em saber como as bruxas que foram mortas, dilaceradas, obrigadas a se esconderem em uma ilha e consequentemente esquecidas não se intrigaram e foram embora.
Boiando a mulher conseguia ouvir tudo ao seu redor. Os pássaros piando, os pequenos e grandes animais e o vento balançando as árvores, mas seus olhos estavam presos no céu, pensava como ele ainda podia ser tão azul e belo quanto as águas cristalinas de um foço mágico. Ela gostava muito de observar o céu. A bruxa mexia os dedos do pé conforme sentia a água balançando o seu corpo de uma forma calma, parecia que fazia anos que não tomava um banho descente.
Tenna seu dragão - ou besta alada. Estava perto deitado em uma colina que pegava uma boa quantidade de sol. Encolhido e espremido pelo tamanho pequeno do lugar. Precisava descansar antes de voltar aos céus de novo, voaram por horas seguidas e pararam apenas duas vezes pra se alimentar.
A bruxa ficou mais alguns minutos na água até seu estômago reclamar de fome. Saiu em busca das suas roupas que estavam secando em uma rocha perto de Tenna. Um glorioso dragão de centenas de anos com escamas pretas e prateadas que iam em um mesclado de seu pescoço até o final de suas costas. Tenna era, de fato, enorme e extremamente rápida. Cobria cidades inteiras ao levantar vôo e suas chamas vermelhas queimavam do mais puro cobre em segundos. A bruxa descobriu isso quando queimou uma vila de carpinteiros moribundos. Chamava muita atenção, mas com o tempo soube que voar acima das nuvens era melhor.
Mas o dragão era dolorosamente, preguiçoso, dormia vários dias seguidos e em todas as ocasiões que podia. Até mesmo conseguiu se embolar em uma minúscula floresta. Passou a mão pela pele grossa do animal, sentindo suas cicatrizes até chegar no enorme rosto. Uma horrorosa e enorme cicatriz atravessava todo o seu olho direito e era possível ver várias outras pequenas ao longo de todo seu rosto, sua mandíbula estava entreaberta dando pouco da visão do enorme anel de dentes afiados e alguns quebrados.
Aquela não era sua pior marca. Suas asas tinha cicatrizes piores por toda sua extensão. De suas montadoras passadas, bruxas que enfrentaram guerras e o levavam como sua principal fonte de poder. De fato, ele era.
Era pouco mais que meio dia pela posição do sol, no ponto em que estava não seria difícil achar um animal para caçar. Apesar de conseguir matar um facilmente com as suas mãos, não queria se sujar inteira de novo.
Pegou um graveto e um pedaço de cipó que achou pelo caminho, enrolou a ponta de um a outra, formando um arco. Tirou a flecha que tinha conseguido dias antes e esperou.
A corça nem viu a flecha chegando. O gosto da carne era com mil maravilhas em sua boca. Não se alimentava só de pessoas, sangue ou animais é claro, comia comidas de todos os tipos, apenas tinha suas preferências.
Levantou-se do chão e caminhou até o seu dragão. Guardou parte do alimento em uma pequena bolsa e colocou as mãos já com suas luvas de couro em umas de suas escamas e se ergueu sobre o animal que balançava as asas se preparando.
As poderosas asas arrancando todas as folhas do chão enquanto erguia vôo.
Estacas. Estacas estavam cravadas em volta da ilha com cabeças de homens féericos. A bruxa estava apenas a alguns metros de pousar na ilha com sua besta, passou três noites no ar até finalmente chegar.
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Corte de Espadas e Sombras • Azriel •
Fiction générale" - Eu não preciso recorrer a poemas, bruxinha. Um sorriso ladino apareceu no rosto da fêmea quando saiu em direção a porta, olhando por cima do ombro antes de responder: - Vai precisar recorrer a muito mais que poemas, sombrinha."