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Ceifador


Eu sabia que tinha alguma merda acontecendo po, já tava quase uma semana nessa porra, óbvio que aqui dentro eu tinha o mundo aos meus pés, mas não tinha ela, os agentes me colocaram em uma cela separada dos demais, pura maluquice, se eu quisesse fazer qualquer coisa, eu faria

Acendi um cigarro, o quinto do dia esperando uma ligação para saber como ela tava, sabia que até o celular que eu dei pré-pago estava grampeado e só tinha notícias dela pelo Papagaio, ou quando Rafaela comprava o agente para me avisar alguma coisa, a doidinha até que era fechamento

Meu celular tocou e eu atendi soltando o cigarro

Ligação ON

Ceifador: Da o papo de como ela tá, o morro eu sei que tu sustenta-mandei logo sem muita enrolação

Papagaio: Tamo indo te buscar hoje-escutei algumas vozes ao fundo e enrijeci a postura

Ceifador: Como.ela.tá?-perguntei pausadamente rangendo o dente

Papagaio: Pegaram ela

Ceifador: Quem?-Vociferei sentindo meu sangue subir

Papagaio: Ainda não sei, ela me ligou e eu só escutei ela gritar

Eles machucaram ela, porra, eles encostaram nela, eles encostaram na porra da minha mulher, comecei a enxergar tudo vermelho e me controlei para não fazer nada antecipado, uma fuga de última hora era difícil pra caralho de conseguir

Ceifador: Quanto tempo vocês me tiram daqui?

Papagaio: Duas horas, um agente vai te entregar uma remédio e você vai passar mal, vamos te tirar dai pelos fundos, a família da médica já está rendida e ela resolveu colaborar

Ceifador: Duas horas-confirmei desligando o celular

Ligação off

Eu ia fazer eles sangrarem, agora não era sobre mim, era sobre ela, e ninguém encostava no que era meu.

                                                                                              ***

Assim como Papagaio me disse, eu apliquei uma seringa  em mim e comecei a sentir uma dor incomoda no peito, nada insuportável, pelo menos não pra mim, agachei na cela e fingi uma reação de muita dor, vieram me tirar depois de quinze minutos e me levaram algemado para enfermaria onde uma mulher alta com seus quarenta anos me olhava em pânico, essa reação agora me causava tédio

Médica: Pode deixar que eu cuido dele-ela falou tentando manter uma voz firme

Agente: Ele é perigoso-um deles rebateu e eu sorri

Sim, eu era

Médica: Pode deixar, ele está algemado e mal consegue se manter em pé-mentira, eu poderia correr uma maratona

O agente assentiu e saiu em seguida dando uma boa olhada antes de ir, a porta bateu e ela tirou uma chave do jaleco

Ceifador: O que você me deu para injetar?-perguntei enquanto ela lutava contra as chaves e a fechadura da algema

Médica: A..a.adrenalina-ela gaguejou

Ceifador: Fica de boa po, vou fazer nada com você se você me ajudar, eu saindo daqui sua família vai ser solta-vi que ela contraiu os lábios e apenas assentiu me soltando

Médica: Você não está sentindo nada do medicamento?

Ceifador: Não-dei ombros enquanto pegava uma muda de roupas da sua mão, era de alguma empresa de lixo infectante

Médica: Impressionante, eu dei uma dosagem a mais para te dar indício de infarto

Não respondi, coloquei uma roupa de faxineiro com cheio de poeira e meu celular escondido na cueca apitou

Tentação|Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora