Ceifador
A primeira semana sem a Laura do meu lado foi a pior que eu já vivi em muito tempo, minha filha teve alta mais cedo e eu a trouxe pra casa, não fazia ideia de como cuidava de um bebê e se não fosse meu irmão que participou de umas aulas com a Laura eu tava fodido
Rafaela e Diana também vinham me ajudar quase todo dia, era um caos, Rafaela me ajudava enquanto Diana não sabia lidar com criança, Papagaio chorava junto com a Manu e eu estava exausto
Pesadelo: Por quê ela tá chorando?-ele perguntou saindo do quarto de hóspedes com a cara toda amassada
Ceifador: Eu não sei porra, já tentei tudo, troquei fralda, dei mamadeira, estou a quase quarenta minutos com ela em pé e não para-respondi nervoso enquanto seu choro ficava mais alto, se isso era possível
Pesadelo: Me dá ela
Não pensei duas vezes e a entreguei, meu irmão começou a andar com ela pela casa e nada tava funcionando, cogitei liguei para pediatra dela mas acho que quatro da manhã não era um horário que ela atenderia
Pesadelo: Vou ligar pra minha mãe-ele me devolveu ela e a apertei forte contra meu peito
Chequei a fralda novamente e não era isso, não fazia nem uma hora que ela mamou então também não era, a temperatura estava normal, eu estava entrando em colapso
Pesadelo: Oi mãe, tá tudo bem
Manu não para de chorar
Já fizemos de tudo
Ela mamou não tem nem uma hora
A fralda tá trocada
Sim, mãe
Ele olhou pra mim afastando o celular da orelha
Pesadelo: Pode ser cólica-ótimo, mais uma coisa que eu não fazia de como cuidar
Meu irmão continuou falando algumas coisas e desligou logo em seguida
Pesadelo: Da três gotas de remédio de gases e coloca ela com a barriga virada para o seu peito, minha mãe disse que passa na hora
Balancei a cabeça e fui até o seu quarto, entrar aqui era sempre uma dor imensa, tudo aqui dentro foi Laura e eu que escolhemos, ainda conseguia lembrar do brilho em seu olhar enquanto acariciava a barriga já pontuda
Ceifador: Calma filha, vai passar-falei com a voz baixa enquanto alcançava o remédio, dei as gotinhas e me deitei na cadeira de amamentação, levantei minha blusa e coloquei sua barriga contra a minha
Foram questões de minutos até ela parar de chorar e voltar a dormir resmungando, minha adrenalina acalmou e o cansaço acumulado dos dias fizeram com que eu dormisse ali mesmo.
****
A
cordei em um pulo quando senti que faltava algo, tatiei meu corpo em busca da minha filha e levantei assustado saindo do quarto rapidamente, meu corpo relaxou quando escutei a voz das meninas e minha arma em punho também
Ceifador: Que susto do caralho-falei descendo as escadas
Papagaio: Quem seria o maluco que ia sequestrar sua filha?-perguntou me dando uma xicara de café
Rafaela: Dani acabou de levar ela pra pegar sol
Ceifador: Aonde e com quem?
Rafaela: Na piscina com a Giovanna-apontou com o queixo
Dei uma olhada por cima do ombro e vi os dois rindo enquanto meu irmão segurava minha filha no colo, eles dois eram um problema que eu teria que resolver depois que a merda estourasse
Rafaela: Não precisa falar, eu sei-ela resmungou enquanto temperava um frango
Ceifador: Tem alguma coisa que você não sabe?-perguntei bebendo meu café
No momento que as palavras saíram da minha boca eu me arrependi sentindo um gosto amargo na boca, era óbvio, o dia que a Laura ia acordar, ninguém sabia se ela ia voltar
Ceifador: Vou ao hospital- avisei me levantando
Escutei a porta abrir e escutei a voz da Diana, fui direto para o meu quarto tomar um banho e trocar de roupa.
***
Vinte minutos depois eu parei na porta do hospital, estacionei no mesmo lugar de sempre e subi pelas escadas de emergência, fui até o quarto 934 e entrei vendo minha mulher ali, a pele pálida e os lábios vermelhos, era tão irreal que ela estivesse daquela maneira, parecia estar em um sonho profundo, os fios ainda estavam ligados monitorando seus sinais, me sentei na poltrona ao seu lado e segurei suas mãos geladas
Ceifador: Você precisa acordar meu amor-acariciei seus cabelos-Nossa filha está impossível, essa noite ela acordou chorando ás quatro da manhã, precisei coloca-lá na minha barriga e acabei pegando no sono, já encomendei outra poltrona para você, suas costas não aguentariam alguns minutos naquele desconforto
Olhei para seus batimentos e nada se alterou, comecei a me sentir tão nervoso que precisei me acalmar, ela ia voltar, eu sabia, era questão de tempo
Ceifador: Eu tô tentando amor-suspirei- E eu não vou desistir de você
Fiquei por quatro horas naquele quarto até a hora da minha visita acabar, beijei sua testa deixando um pedaço do meu coração pra trás, precisei sentar alguns segundos antes de ir pra casa enfrentar minha realidade
Júlia: Ceifador?-escutei sua voz atrás de mim e me virei
Ceifador: Oi Júlia-acenei com a cabeça
Júlia: Sinto muito pela Laura-ela falou com tom de voz triste mas sem indícios de pena, eu não suportaria olhares de pena em cima de mim
Ceifador: Um dia após o outro-dei ombros
Júlia: Manu melhorou?
Ceifador: Sim, obrigada por aquilo-ela acenou com a cabeça
Júlia: Olha-ela suspirou-Eu acho que você devia conversar com alguém de fora
A encarei vendo que ela tirava um cartão do bolso
Júlia: Doutor Eduardo, psicólogo especializado em pessoas-ela pensou por alguns segundos escolhendo a palavra certa-Intensas
Ceifador: Não acredito nesse tipo de ajuda
Júlia: Deveria, ele foi o único que me tirou do fundo do poço-peguei o cartão branco de sua mão-Vamos fazer o seguinte, eu vou marcar uma hora essa semana com ele e você vem sem compromisso
Ceifador: Júlia..-estava pronto para dizer que não ia rolar quando ela me cortou
Júlia: Faça isso pela Laura e pela Manu
Ponderei por alguns segundos, o máximo que poderia acontecer e que iria era o cara sair correndo e me mandar para casa, eu poderia lidar com isso
Ceifador: Pode marcar para amanhã-ela deu um sorriso
Júlia: Vou marcar e peço para o Dani te avisar
Balancei a cabeça e acenei me despedindo, eu não podia negar que estava tentando, não por mim, mas sim por ela.Sempre por ela.
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Nosso bichinho tá tentando, será que ela vai voltar? :(
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