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24 de março,
1986.
henry campbell.

Estávamos novamente passando um dia na estrada, dentro da vã fedorenta do Argyle. É sério, cada dia que passa, ela tem mais cheiro de maconha ainda.

Eu me sentia exausto, como se tivesse corrido uma maratona. Minha cabeça doía e meus olhos ardiam. Tentei dormir, mas só escutava as vozes de Mike e Will conversando ao meu lado, mas eu realmente não estava prestando atenção.

Percebi que estava dormindo só quando fui cruelmente acordado por Jonathan que tinha freado a vã abruptamente.

— Eu parei antes que a gente se perca mais ainda! - Ele falou.

Eles decidiram checar a localização novamente, e começaram a discutir. Eu realmente não estava com cabeça para isso, então, fui atrás de Argyle que estava alguns metros a frente.

— Ei, Henry. Se liga - Apontou para baixo. — São marcas de pneus, não são?

— Eita porra, são mesmo. - Apertei os olhos para ver melhor, enquanto Argyle gritava chamando os outros.

— Então, não é nenhuma menina chamada Nina, mas você pediram qualquer sinal de vida. Não é isso? - Os três concordaram, e ele fez sinal para se abaixarem. — Isso, não é um rastro de pneu qualquer, muchachos. São enormes. Sabe o que quer dizer?

— A porra do governo tá aqui. - Eu resmunguei.

— Vamos logo. - Jonathan os avisou, e nós saímos correndo. E de volta para a vã!

Estávamos agora nos escondendo enquanto os carros do governo passavam, eram inúmeros carros, gigantes e também um helicóptero.

Lentamente fomos seguindo eles, chegamos quando um dos policiais do helicóptero apontava uma arma para Eleven, caída no chão.

— Ali! Ela tá ali! - Mike gritava.

— A NINA? - Argyle perguntou. Puta merda, ele ainda tá muito chapado.

Acho que atraímos a atenção dos policiais para nós, já que eles perderam a Eleven de vista por alguns segundos, e quando acharam-a novamente, ela estava em pé com o braço estendido.

Igual no pátio da escola. Mas desta vez, ela realmente fez algo. Ela fez o helicóptero rodar e cair em cima de uma espécie de porta, e explodir. Desta vez, Eleven parecia um personagem de X-Men, não pude discordar.

Pedaços do helicóptero caíam, e desapareciam em meio a sombra de fumaça formada pela explosão.

Ela pareceu não notar quando nos aproximamos, pois quando Mike pulou da vã e foi abraca-la, assustou-se.

— Mike? É você mesmo? - Ela dizia emocionada.

— Sim! Eu tô aqui. Estamos todos aqui! - Eles se viraram para mim e Will.

Eleven se soltou de Mike e foi correndo abraçar o irmão, mas quando se virou para mim, arregalou os olhos.

— Não! Não se preocupe eu já sei de tudo. - Me apressei em dizer. - Mas puta que pariu aquilo foi foda demais! - Eu disse animado. Ela soltou uma risada e me abraçou.

— Gente, nós temos que sair daqui. - Escutamos Jonathan falar.

Todos nós escutamos um barulho, um 'pi' para ser mais específico. E relutante, Eleven tirou uma espécie de "colar" que estava em seu pescoço, e se virou para um homem e nós fizemos os mesmos.

O homem, de cabelos brancos e um terno chique tinha uma marca de tiro no peito, ainda estava vivo mas não por muito tempo.

A garota conosco se aproximou dele, ele falou algumas coisas para ela que era inaudível para nós, mas ficamos olhando a interação do mesmo jeito.

Até que, a cabeça do velho pendeu para o lado. No início eu achei que ele havia morrido, ou estava esperando sua hora. Mas não, ele levantou minimamente o braço, e apontou para mim.

Eu olhei confuso para Will, mas em passos lentos fui me aproximando do homem. E me ajoelhei ao seu lado, como Eleven, que me olhava confusa também. Eu nunca vi esse cara.

— Você... você tem o mesmo nome que ele, mas vocês não são os mesmos. Lembre-se de quem você é. - Dizia tudo de uma forma lenta, provavelmente estava com muita dor.

— O que..? Mas quem caralhos eu sou?

Ele não respondeu. Ao invés disso, pegou meu pulso e direcionou minha mão até sua testa.

Eu senti a falta de ar novamente e a necessidade enorme de fechar os olhos. E quando o fiz, parecia que estava nas lembranças daquele homem. Mas não era como se eu lesse sua mente, era mais para um controle. Eu decidia o que via, mesmo sem saber o porquê disso.

Mas de repente, tudo começou a ficar preto, as memórias estavam sumindo. E foi quando eu senti que aquele homem estava morrendo.

Quando saí de sua mente, o homem estava olhando diretamente para mim, com os olhos lacrimejando. Eu não o disse nada, apenas me levantei assustado e fui andando rapidamente para a vã.

Me encolhi no canto dela, abraçado aos meus joelhos e de cabeça baixa pensando em tudo o que eu vi nas memórias daquele homem. Crianças mortas, gritando em uma espécie de laboratório doentio. Aquilo foi muito para mim.

Eles demoraram um pouco para voltar, e eu agradeci por isso. Mas quando o carro deu partida, eles começaram a tagarelar sobre ir para Hawkins, e sei lá mais o que.

Depois de um longo tempo de viagem, tudo ficou quieto, imaginei que estavam todos dormindo — exceto por Jonathan que estava dirigindo —. Mas eu me enganei quando senti alguém mexer em meus cabelos.

— Ei. Você está bem? O que aconteceu lá? - Levantei a cabeça, e me deparei com Will me olhando preocupado.

— Sinceramente? Minha cabeça está explodindo dês de ontem. E eu não sei o que porra foi aquilo, aquele homem... Foi tudo confuso pra caralho. - Era nítido em minha voz que eu estava completamente cansado e perdido. Will tirou a mão do meu cabelo e começou a afagar meu ombro.

— Eu não entendi muito bem o que aconteceu lá, mas estou aqui caso queira conversar, tudo bem? E tenta dormir um pouco, talvez a dor de cabeça seja o cansaço. - Sugeriu.

Eu estendi as pernas e me sentei corretamente no banco.

— Eu vi as memórias daquele homem. - Disse depois de um longo silêncio. — Foi como um flash, mas eu consegui ver cada uma.

— Oh... sombrio. - Ele olhou para o chão. — Quer dizer que você é o Professor X agora? - Tive que soltar uma risada.

— Quem me dera.

Ficamos em silêncio depois disso, olhando para o teto. Eu não estava com sono, mas soube quando Will dormiu pois sua cabeça se apoiou em meu ombro quando passamos por uma curva. Eu sorri e inclinei minha cabeça para descansar na dele, enquanto pensava em tudo.

𝐦𝐚𝐠𝐞 𝐨𝐟 𝐦𝐲 𝐡𝐞𝐚𝐫𝐭 , will byers.Onde histórias criam vida. Descubra agora