Capítulo 3 - Dúvidas traiçoeiras

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Quando saí do banheiro estava usando um camisão de dormir e os cabelos estavam enrolados numa toalha grande e felpuda.

- A gente tem tempo pra conversar agora? - Lucas estava sentado do lado direito da cama e também tinha tomado banho, estava usando apenas a calça comprida do pijama. Aquela combinação: Eu de camisão + Lucas de calça + zero camisa, não daria certo. Não conseguia raciocinar desse jeito.

- Pode ficar à vontade. - Dei de ombros e sentei na beirada oposta, esfregando a toalha na cabeça pra secar os cabelos.

- Não sabe o quanto esperei pra te ver assim, tranquila, ao alcance das minhas mãos, secando os cabelos dentro do meu quarto. - As palavras dele me comoveram um pouco, porque ele sempre dizia aquilo desde que nos conhecemos.

- Muitas vezes nossos desejos se realizam. - Peguei minha escova de cabelo que tinha deixado em cima da cômoda e comecei a desembaraçar os cabelos. - Coisas boas acontecem o tempo todo.

- O que está havendo, Clara? Você está estranha desde que voltamos da rua. - Ele levantou e caminhou em minha direção.

- Não está havendo nada. - Menti porque não queria parecer uma louca. - Só estou cansada e triste porque, bem, o fim de semana está acabando. 

Senti as mãos do Lucas pousarem sobre meus ombros - seus dedos longos brincando com meus cabelos -, em seguida deslizaram pelos meus braços. Minha cintura envolvida por ele, logo seu corpo estava mais próximo e compartilhávamos um abraço caloroso.

- Também estou triste. Não quero que você vá embora.

- A gente sabia que em algum momento teríamos que nos despedir. - Estava com muito ciúme daquela tal de Vivi. Ao ponto de não conseguir ser espontânea com o Lucas.

- Clara, tem alguma coisa errada. Você está fria comigo. Quer dizer o que houve?

- Nada, Lucas. Já disse. Estou cansada. - Me soltei do abraço dele e entrei debaixo das cobertas. - Você vem?

E foi neste momento que ele hesitou. Ficou parado, de pé, me olhando nos olhos.

- Lucas, por favor, vou embora amanhã. Fica aqui comigo. - Supliquei com voz baixa. 

Ele pensou por alguns instantes e não resistiu à vontade de ficar perto e também aos meus apelos.

- Não vai ser sempre tão fácil... - Ele avisou com amargura enquanto se ajeitava do meu lado.

Senti um incômodo na perna e alguma coisa se mexendo embaixo do edredom.

- Ei, para de se mexer, está apertando minha perna. - Reclamei.

- Estou parado, oras. - Lucas respondeu um pouco intrigado. Ambos erguemos a coberta e encontramos um visitante indesejado: Fantasma.

- Não acredito nisso... - Comentei incrédula.

- Fantasma, fora! - Lucas deu o comando mas o cachorro ignorou, simplesmente se acomodou do meu lado e deitou a cabeça na minha barriga. Comecei a rir.

- Que safado! Já trocou de líder... E olha que você nem gosta dele. - Assim que Lucas terminou o comentário, Fantasma começou a rosnar para ele, o que me fez rir muito mais.

- Ele parece aborrecido contigo. - Provoquei um pouquinho.

- Ela é minha! Pode arrumar outra namorada pra você, porque essa já tem dono. - Ele reclamava com o cachorro, como se Fantasma fosse capaz de compreendê-lo. O cão apenas firmou ainda mais o lugar ao meu lado, como se fosse meu dono. Lucas suspirou, dando-se por vencido e virou de lado, ficando de costas para mim.

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