Capítulo 8 - Reconciliação

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- Vá embora! - A voz de Fernando saiu monótona quando me viu entrar em sua sala com passos decididos. - Tenho uma reunião em 5 minutos.

- Sua reunião será comigo, irmão. - Lutei para manter a firmeza na voz e a expressão tranquila.

- Para de idiotice, Clara. Está gastando meu tempo. - Meu irmão tinha vestido a imagem do advogado sério e me dava uma bronca.

- O único idiota aqui dentro é você! - Gritei de repente, fazendo com que ele erguesse os olhos assustado.

- Não tenho tempo pra isso. - Fernando disse transparecendo uma calma que, certamente, não sentia.

- Você é meu irmão! - Minha voz saiu trêmula. - Não pode fazer isso comigo! Não pode!

Deixei-me cair em uma poltrona e o controle da minha voz e das lágrimas se esvaiu. Parecia uma menina assustada, trêmula e desesperada. Fernando sempre foi um irmão protetor, amigo, sempre pronto para mim. Fazia três anos que sequer olhava nos meus olhos, ou me dirigia a palavra. Quando era obrigado a dividir o mesmo espaço que eu, ocupava-se em ignorar-me.

- Você quer me comover, irmã? - Ele tinha deixado sua cadeira e havia contornado a mesa, vindo ao meu encontro. - Acha mesmo que vou cair nesse joguinho?

- Quero conversar, quero que me perdoe. Quero meu irmão de volta.

- Você precisa do seu irmão agora, Clara? - Ele abaixou ao meu lado até ficar na mesma altura que eu. Sua voz era baixa e contida.

- Não me trate assim, Fernando. - Pedi a ele, tentando conter o tremor no queixo. - Por favor, converse comigo.

- Tudo bem! - Ele aceitou de repente, me deixando perplexa. - Quer falar sobre o Pedro? Ou sobre a vagabunda da minha noiva? Ou melhor... Quer falar sobre a vagabunda da sua melhor amiga, que estava transando comigo e com o seu namorado?

O sangue sumiu do meu rosto subitamente. 

Meus olhos ficaram vidrados e o choque daquela revelação me fez abraçar as pernas, encolhendo-me no sofá. Nunca soube que Fabi e Pedro tiveram ou tinham um caso. Fabi, minha melhor amiga, aquela que foi até o saguão do prédio onde trabalho naquela manhã, pra saber como eu estava. A pessoa pra quem confidenciava tudo de importante na minha vida. 

Eu podia entender que ela ficou com meu irmão pra dar o troco no namorado infiel, mas quem ela pretendia atingir quando dormiu com meu namorado?

- Ela quer ferir a mim. - A voz de Fernando saiu num sussurro de sua garganta, lendo meus pensamentos como ele sempre fez desde que eu me entendia por gente. - Não é nada pessoal, irmã. Sua amiga quer atingir a mim, não a você.

- Por que você está fazendo isso comigo? - Perguntei baixinho, muito tempo depois, quando consegui me recuperar um pouco do choque.

- Clara, você é muito inocente. - Ele disse e percebi que estava agachado do meu lado, segurando minha mão. - Precisa aprender como a vida real funciona.

- Queria me magoar, não é? - Encarei meu irmão diretamente nos olhos. - Queria me fazer sofrer.

- Isso também, não nego. - Ele admitiu com olhar entristecido. - Acreditei que você soubesse de alguma forma, mas pela sua reação, vejo que não tinha ideia de nada disso.

- Meu erro foi não ter contado sobre a traição da Suzanne. Conversei com o Pedro na ocasião e ele me convenceu a não dizer nada.

- A culpa ainda é sua.

- Eu teria dito. Teria contado à você. - Justifiquei. - Eu queria ter dito.

- Mas não disse! Não fez, não falou! - Ele respondeu rispidamente. - Pedro te deu uma ideia, mas a decisão foi sua. Você traiu minha confiança, Clara.

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