Nossos olhares se encontraram e não pude sustentá-los por muito tempo. Afastei a mão do rosto dele e atravessei a cozinha, me apoiando no balcão.
- Estou me sentindo péssima por ter agido daquela forma. - Comentei enquanto buscava coragem para tornar a encará-lo. - Fiquei desesperada, perdi a razão.
Lucas me olhava com atenção numa mistura de admiração e descrença.
- Não acredito que você está aqui...
- Você ouviu alguma palavra do que eu falei?
- Claro que sim! Mas sei que minha atitude não foi correta. Deveria ter contado, mas minha filha perdeu a mãe muito cedo, já passa por dificuldades naturais por ter apenas pai. - Ele tocou meus cabelos delicadamente. - Tive medo de magoá-la.
Finalmente consegui voltar a olhar para ele, sentindo minhas bochechas ruborizarem intensamente. O toque suave de Lucas em meus cabelos cessou e ele deixou a mão escorregar para longe de mim, mas seus olhos continuavam a prescrutar cada expressão em meu rosto com intensidade. Ele esperava alguma resposta da minha parte.
- Foi por isso que voltei, para ouvir essas coisas e ter certeza de que foi pela menina.
Nos assustamos com a correria de Vivi e Fantasma, que chegaram na cozinha naquele instante, completamente elétricos, em meio a risadas e latidos estridentes.
- Clara, quer ver minha casinha? - Os olhos da menina brilhavam.
- Filha, acho que a Clara não quer ver isso agora. - Lucas disse enfiando as mãos nos bolsos da calça.
- Por que não? Eu adoraria ver sua casinha! - Arqueei a sobrancelha para Lucas e logo tive a mão agarrada pelas mãozinhas da garota que me conduziu ao seu quarto.
- Olha como ela é linda! Mas você precisa entrar pra ver.
- Vivi, por favor, não faça isso. - Lucas estava muito constrangido com as atitudes da menina, e eu tive vontade de rir. - A Clara não precisa entrar.
Sem esperar que Lucas concluísse com seu discurso de adulto chato, Vivi e eu entramos na casinha feita de lençóis, almofadas e brinquedos. Finalmente o papai turrão e reclamão desistiu de ser chato e, dando de ombros, veio logo depois de nós duas para dentro da casinha. Vivi deitou-se primeiro e fez sinal pra que eu deitasse ao seu lado, logo em seguida Lucas acomodou-se do outro lado e acabei ficando no meio de ambos.
- Você parece a minha boneca. - Vivi comentou enquanto me olhava.
- Obrigada. Você é muito linda. - Falei pra ela e Lucas sorriu.
- Sabe, papai nunca traz amigas meninas aqui em casa. - A garotinha confidenciou em tom conspiratório. - Você é a primeira e eu gosto de ter outra menina pra conversar.
- Vivi! Falando assim a Clara vai achar que você vive presa dentro de casa, e que não tem nenhuma amiguinha.
- Pai! Estou falando de amigas grandes!
Todos rimos.
- Clara!
- Oi Vivi, pode falar.
- Você é muito cheirosa.
A garotinha se acomodou mais perto de mim e começou a brincar com meus cabelos, enrolando-os entre os dedinhos.
- Ela tem razão. Você é cheirosa. - Lucas sussurrou no meu ouvido e beijou meu ombro.
- Obrigada, princesa. Você é muito boazinha.
- Nossa! Você usa batom?
- Sim! Só um pouco.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Virtual
RomanceUm relacionamento virtual pode resistir ao tempo? E se o dia tão esperado para o encontro chegar, o sentimento permanecerá? O amor pode superar segredos? Qual é o limite para definir a verdade de um sentimento? Clara e Lucas estão a ponto de desc...