Edoras

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Nos levantamos com o raiar do sol, desmontamos o acampamento e apagamos qualquer vestígio de nossa presença, apesar de isso não adiantar de muita coisa. Qualquer um minimamente experiente em rastreamento poderia ver as pegadas dos cavalos, e saber que tínhamos passado por lá recentemente.

Montamos em nossos cavalos e partimos rapidamente. Agora estávamos perto de Edoras, a menos de meio dia de cavalgada. Ainda não sabia exatamente qual era o plano de Gandalf para convencer o rei Théoden a se posicionar contra Sauron, considerando que sua mente era agora controlada por Saruman. Mas como sempre, o que fiz foi confiar em Gandalf, e acreditar que como de costume ele sabia o que estava fazendo. 

Sim, essa era uma lição que eu aprendera muito rapidamente na companhia do mago. Ele nem sempre expressava seus pensamentos com clareza, muitas vezes os mostrava em forma de enigmas, ou nem ao menos isso fazia, nos deixando confiar em sua sabedoria e experiência. E eu confiava nele cegamente. Colocaria minha vida nas mãos dele sem pestanejar. 

Finalmente, pudemos avistar um grande morro a nossa frente, coberto por telhados de casas e construções. A base da colina era completamente cercada por um grande muro de pedra, que protegia a capital de possíveis ataques.

- Edoras. E o palácio dourado de Meduseld. - Gandalf anunciou, parando seu cavalo para apreciar a vista. - Ali vive Théoden, rei de Rohan, cuja mente está sob controle. O controle de Saruman sobre ele é agora muito forte.

- E como pretende libertá-lo? - Eu perguntei, mesmo sabendo que minhas palavras não teriam o mínimo efeito. Gandalf nos contaria o que planejava se quisesse.

- Verá. - Ele disse apenas, com um pequeno sorriso no rosto. - Cuidado com o que dizem. Não esperem serem bem vindos aqui. - E com isso, ele esporeou o cavalo, voltando a se movimentar.

Fomos atrás de Gandalf, rapidamente terminando o trajeto até os altos muros que cercavam a cidade. Cruzamos o portão, e entramos.

Agora com o passo dos cavalos mais lento, eu parei para observar a cidade. Pequenas casas bem distanciadas entre si permeavam o lugar, pessoas cruzavam as ruas cuidando das próprias tarefas do dia a dia. De certa forma, me trazia uma sensação de conforto. Ver como apesar de todo o mal de Sauron, e apesar de esse mal estar dentro dos muros da cidade, ainda existiam pessoas vivendo suas vidas normalmente, realizando as tarefas domésticas e tendo vidas completamente comuns e longe de aventuras. Eu nunca havia desejado viver uma vida dessas. Pacata, todos os dias iguais e intermináveis. Mas agora, essa ideia não me parecia tão ruim. Não haver nada pelo que lutar, apenas a paz. Poder viver sob um lugar que eu considerasse meu lar, formar uma família. Eu desejava um dia poder ter isso.

Desviei meu olhar das pessoas que nos observavam com olhares curiosos, e voltei a me concentrar no palácio a nossa frente. Era uma bela construção, mas parecia de certa forma triste. Não é surpreendente, eu pensei, combina com os tempos atuais. 

- Até um cemitério é mais alegre que este lugar. - Gimli comentou, olhando para as pessoas a nossa volta.

Não respondi. Não havia o que ser dito, considerando que ele tinha completa razão.

Desmontamos, e subimos as escadas até a entrada do palácio. No mesmo momento, um homem saiu de dentro do lugar, acompanhado por dois guardas vestindo armaduras brilhantes. 

- Não posso permitir que vejam Théoden, o rei, com essas armas Gandalf. - O homem disse, lançando um olhar significativo para o mago. - Por ordem de Gríma Língua de Cobra. - O rosto do mago instantaneamente se fechou. Mesmo assim, ele acenou em nossa direção, deixando claro que não deveríamos discutir.

Um pouco receosa, entreguei minhas armas para o guarda que se aproximou de mim. Após me olhar de cima a baixo por um segundo, como se procurasse qualquer outra arma que eu pudesse estar escondendo, ele deu um passo para o lado, liberando minha passagem. Legolas, Aragorn e Gimli também entregaram suas armas, apesar de Gimli não parecer nem um pouco satisfeito com isso. Por fim, Gandalf também entregou sua espada, e fez menção de entrar no palácio. O homem bloqueou sua passagem.

- Seu cajado. - Ele disse. Gandalf pareceu hesitar, como se procurasse as palavras certas antes de responder.

- Não vai separar um velho de sua bengala de apoio. - Ele disse, com um olhar inocente no rosto. Eu resisti a vontade de levantar uma sobrancelha, porque essa provavelmente fora uma das maiores piadas que eu já ouvira.

O homem pareceu não querer discutir, então apenas se virou de costas e entrou no palácio, sendo seguido por nós. Legolas parou ao lado de Gandalf e lhe ofereceu seu braço com um sorriso, e Gandalf fingiu se apoiar nele. Eu segui atrás deles com um meio sorriso no rosto. Aquela com certeza era uma cena que eu nunca imaginara que veria um dia.

Assim que entramos, ouvi o barulho das portas sendo fechadas às nossas costas. Olhando em volta, vi que nos encontrávamos em uma grande sala do trono. Guardas se enfileiravam nas paredes em toda a extensão da sala. No final dela, havia uma parte elevada, com um trono no meio. Nele se sentava um velho de aparência precária, seus cabelos brancos caindo em volta de seu rosto, sua pele pálida e enrugada, e seus olhos cinzentos e sem brilho. Como se não estivesse completamente vivo, ele olhava em nossa direção, apesar de parecer não ver nada.

Ao seu lado, se curvava outro homem, de cabelos negros e pele tão pálida que parecia gesso. Seus olhos eram negros e cheios de malícia, e percebi que ele cochichava algo ao ouvido do velho que eu supus, deveria ser o rei Théoden. Não gostei do homem apenas ao olhar para ele. Algo em sua aparência e postura me lembrava terrivelmente de Alfred, o fiel ajudante do Senhor da Cidade do Lago em Esgaroth. 

- A cortesia de seu palácio parece ter diminuído, Théoden rei. - Gandalf disse, parando no meio da sala.

O homem de cabelos negros cochichou algo ao ouvido do rei novamente.

- Por que eu deveria lhe dar as boas vindas, Gandalf Corvo da Tempestade? - O rei perguntou lentamente. Sua voz era grossa e arrastada, como se ele realmente estivesse morrendo aos poucos.

- Foi uma boa pergunta, meu soberano - O outro homem disse ao rei, e então se virou para nós. - É tarde a hora em que este mágico decide aparecer. Más notícias não fazem bons hóspedes.

- Silêncio! - Gandalf ordenou. - Mantenha sua língua mentirosa atrás de seus dentes. Não venci o fogo e a morte para trocar palavras mentirosas com um verme ignorante. - Ele disse, com desprezo, ao mesmo tempo em que começava a erguer seu cajado.

- O cajado! - O homem exclamou, de repente alarmado. - Eu falei para pegarem o cajado!

Eu me preparei enquanto os guardas deixavam seus postos, vindo em nossa direção.

O Retorno do Anel #2Onde histórias criam vida. Descubra agora