Desci com Legolas até um dos salões inferiores, onde encontramos Aragorn se preparando para a batalha. Eu sabia bem que nenhum dos dois se sentiria pronto para lutar sem resolver sua pequena discussão. Nesse momento, nossos laços eram tudo que possuíamos.
Legolas pegou a espada de Aragorn, e ofereceu o cabo a ele, que imediatamente sorriu.
- Confiamos em você até agora, e não nos decepcionou. - Legolas disse - Me desculpe. Não devia me desesperar.
- Não há o que perdoar Legolas. - Aragorn respondeu, colocando uma mão sobre o ombro do elfo. Me senti melhor ao ver os dois trocando um sorriso.
- Se tivéssemos tempo, arrumaríamos isto aqui. - Gimli resmungou, se aproximando de nós. Ele segurava uma cota de malha ao redor do corpo, e assim que a soltou, ela caiu em volta dele, fazendo Legolas e Aragorn trocarem um olhar divertido.
- Está um pouco apertado no peito. - O anão reclamou.
- Bom, desde que você não corra e tropece nos próprios pés, acho que está ótimo. - Eu disse, sendo acompanhada pela risada de Legolas, e recebendo um olhar acusatório de Gimli em troca.
Ele abriu a boca para retrucar alguma coisa, mas nesse momento, um som penetrante se fez ouvir. O som de uma corneta, que atingiu todos os cantos do abismo. Reconheci o som na mesma hora, pois ele não me dava arrepios como os das cornetas dos orcs.
- Isso não é dos orcs. - Legolas disse, como se tivesse lido meus pensamentos. Ele correu para fora, e eu o segui, com Aragorn e Gimli em nosso encalço.
Saímos para o ar frio da noite, e eu pude ver imediatamente. Um grupo enorme de figuras vestindo capas negras entravam enfileirados pelos portões do abismo, carregando arcos dourados. Por algum motivo, eu não tinha dúvidas de quem os havia enviado.
Desci até os portões, onde o rei Théoden se aproximava do líder a frente do grupo. Reconheci Haldir imediatamente, com seus longos cabelos loiros, e um olhar sério e concentrado.
- Como isso é possível? - Théoden perguntou.
- Trago mensagem de Elrond, de Valfenda. - Haldir disse - Já houve uma aliança entre elfos e homens. Há muito tempo, lutamos e morremos juntos. Nós viemos para honrar essa aliança.
Aragorn o cumprimentou com um abraço, que Haldir, depois de parecer um tanto surpreso, retribuiu com alegria. Depois ele cumprimentou a mim e Legolas, e até mesmo a Gimli, com um aceno de respeito.
- É com orgulho que combateremos ao lado dos homens mais uma vez. - Ele anunciou a Théoden, enquanto todo o exército élfico se virava para nós.
- Obrigada. Nos trazem esperança novamente. - Eu disse, ao que os olhos de Haldir se fixaram em mim.
- Senhorita Aerin. Trago também uma mensagem de minha senhora Galadriel para você. - Ele fez uma pausa, preenchida pelo silêncio a nossa volta. - Poderíamos conversar por um momento, a sós? - Ele completou.
Senti meu coração bater mais rápido. O que Galadriel poderia querer me dizer, depois de todo esse tempo? Em nosso último encontro, havia sido deixado claro para mim que nada havia que ela pudesse fazer para mudar meu destino. Ela me deixara sem respostas, sem caminho para onde seguir. Mas agora... Sobre o que mais poderia ser a mensagem da qual Haldir falava? Por mais que eu tentasse, não podia deixar de ter esperanças.
- Sim, é claro. - Eu disse, e com isso, sinalizei para que ele me seguisse.
Não foi muito difícil encontrar um local vazio, pois todas as mulheres e crianças estavam nas cavernas, e os homens reunidos lá fora. Eu me sentei em um banco vazio, e Haldir se sentou a minha frente.
- Bem, o que Galadriel têm a me dizer? - Eu perguntei, sem rodeios.
- Veja Aerin, não é bem uma mensagem que minha senhora pediu que eu lhe entregasse. - Ele disse - E sim um assunto sobre o qual queria que eu conversasse com você. Acredito que já saiba do que se trata.
- Sim, imagino o que é. Mas não compreendo. Quando estive em sua terra, Galadriel disse que não havia nada que pudesse fazer por mim, nem um conselho que pudesse me dar. - Eu fiz uma pausa - Eu queria saber o que mudou agora?
Sabia que minhas palavras transbordavam ressentimento, mas não me importei. Pois eu não merecia explicações? Afinal, fora Galadriel que me mostrara aquelas imagens terríveis, plantara o medo e a dúvida em minha mente.
- Antes de mais nada, Aerin, gostaria de pedir que não nutra ressentimentos por minha senhora. Sei que suas motivações podem lhe parecer obscuras agora, mas posso lhe assegurar que seu coração é bondoso. - Haldir fez uma pausa, organizando seus pensamentos - Estou a par de sua situação, e sei sobre as dúvidas que passam em sua mente. Mas eu espero que minhas palavras possam agora lhe servir de algum esclarecimento.
- Não consigo entender. - Eu disse - Como ela sabia que eu devia olhar no espelho? Como sabia o que eu veria?
- Essa não é uma pergunta fácil de ser respondida - Haldir suspirou, parecendo não saber por onde começar - Talvez você nem imagine Aerin, mas têm uma grande reputação. É bem conhecida por toda a Terra Média, principalmente pelo período em que fez parte da companhia de Thorin Escudo de Carvalho. - Ele fez uma pausa - Depois da batalha dos Cinco Exércitos, só se falava da filha de Elrond, aprendiz de Gandalf e amiga dos anões, que ajudara o rei sob a montanha a voltar a sua morada, e salvara sua vida.
"Notícias chegaram também até nós em Lórien. Minha senhora nutre grande amizade pelo senhor Elrond, mas até então nunca tinha prestado grande atenção a sua família. Pode chamar de coincidência, ou obra do destino, mas ela ficou curiosa sobre você. E ela acompanhou seu destino, desde o início da batalha."
- E então ela sabia, desde essa época, o que aconteceria comigo? - Eu perguntei.
- Em vez disso, deixe-me lhe perguntar uma coisa. Você sabe o que faz de nós, elfos, diferentes de todas as outras criaturas?
- Nossos destinos. - Eu disse, entendendo imediatamente aonde Haldir queria chegar - Já são definidos desde o dia em que nascemos. Não podem ser mudados. - Eu acrescentei, com um nó na garganta.
- Sim. - Haldir assentiu - Naquele dia, Galadriel não pôde ver nada sobre o seu futuro. Ela imediatamente percebeu o que aquilo significava. Que você não voltaria da batalha.
Algo não fazia sentido em minha mente. Aquilo não se encaixava.
- Mas eu voltei. - Eu disse - Voltei da batalha.
- A visão durou apenas alguns segundos. Depois, seu futuro era completamente visível novamente. Mas não havia engano, aquela visão fora real. Algo completamente impossível, mas que mesmo assim aconteceu.
- E o que isso significa exatamente?
Eu estava nervosa, e ansiosa. Aquelas informações simplesmente não faziam sentido. Se meu destino no dia da batalha dos cinco exércitos apontava para minha morte, não estaria certo eu estar aqui agora. Olhei para baixo, e percebi que eu mexia nervosamente no anel, Narya, em minha mão. Senti ele esquentar em meus dedos, aquela sensação que eu já sentira algumas vezes em momentos de tensão.
- Não sei exatamente, e nem Galadriel tem ideia. Significa, no mínimo, que há algo de diferente em você.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Retorno do Anel #2
FantasiaA sociedade está separada. Aerin carrega um grande segredo, que além de cultivar seu medo, carrega seu destino iminente. Agora longe de Frodo e Sam, ela segue um caminho diferente na guerra do anel, partindo em busca de seus amigos capturados. Enqua...