Provações

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- Abismo de Helm! - Gimli exclamou, irritado - Fogem para as montanhas quando deveriam ficar e lutar! Quem os defenderá senão o seu rei?

Era o dia seguinte, e nós andávamos pelas ruas movimentadas em direção aos estábulos. O capitão de Théoden reunia o povo de Rohan para que partíssemos para o abismo de Helm, alertando-os de que levassem apenas o mais necessário. 

Eu podia compreender a frustração de Gimli. Tampouco me agradava com a ideia de se esconder no abismo enquanto Saruman estava planejando alguma coisa por trás das paredes de Isengard. Mas eu sabia, que se Théoden não dera ouvidos a Aragorn ou a Gandalf, não havia quem pudesse convencê-lo. 

- Ele está fazendo o que pensa ser melhor para o seu povo. - Eu disse.

- O abismo de Helm já os salvou no passado. - Aragorn completou.

- Não há como sair daquela ravina. - Gandalf interrompeu - Théoden está indo para uma armadilha, acha que os leva para a segurança. O que conseguirá é um massacre.

Entramos nos estábulos, enquanto Gandalf continuava.

- Théoden é muito tenaz, mas temo por ele. Temo pela sobrevivência de Rohan. - Ele se aproximou de Shadowfax, que estava parado tranquilamente em uma das baias - O Peregrino Cinzento, era como me chamavam. Por trezentas vidas humanas andei por esta terra, e agora não tenho mais tempo. Com sorte, minha busca não será em vão.

Ele montou em Shadowfax, o cavalo relinchando levemente ao reconhecer Gandalf.

- Esperem minha chegada ao amanhecer do quinto dia. De madrugada, olhem para o leste. - Ele disse. E com isso, Gandalf esporeou o cavalo, e saiu cavalgando apressado do estábulo, obrigando Legolas e Gimli a se desviarem para os lados.

Eu me aproximei de Aragorn, com um olhar de resignação.

- Espero que ele saiba o que está fazendo. - Eu disse. - Se o que Gandalf disse é certo, estamos correndo para uma armadilha. Não temos condições de lutar contra um exército de Saruman, e tampouco podemos nos esconder atrás das muralhas do abismo de Helm. 

- Temos que confiar nele. - Aragorn disse - Para nossa sorte, normalmente Gandalf têm sempre razão. 

Eu dei a ele um sorriso cansado, antes de me virar para as baias dos cavalos. Os soldados tentavam retirar os cavalos dos estábulos, e pareciam ter dificuldade com um deles. O animal empinava e relinchava como um louco.

Ignorando os avisos dos homens para que se afastasse, Aragorn caminhou até o animal, dizendo algumas palavras em élfico em um tom tranquilizante. O cavalo imediatamente se acalmou, deixando que Aragorn o tocasse.

Com um pequeno sorriso, eu deixei os estábulos, com uma lembrança vívida em minha mente. Eu sentada ao lado de Aragorn, na época um garoto de 10 anos, ajudando-o com a pronúncia élfica.

...

Eu estava no salão de Théoden, enquanto os guardas reuniam provisões e as levavam para fora, quando vi Eowyn. Ela estava agachada na frente de um baú, remexendo dentro dele. Vi quando ela tirou uma espada longa de dentro dele.

- O que pretende fazer com isso? - Eu disse, me aproximando.

Ela olhou para mim, um pequeno sorriso em seu rosto.

- Bem, espero que usá-la - disse ela.

- Sabe manejar uma espada? - Eu perguntei.

Em resposta ela ergueu a espada, descrevendo um arco complicado com ela antes de dirigi-la na minha direção. Meus reflexos foram perfeitos. Tirei minha espada da bainha, e com um simples movimento bloqueei seu golpe.

- Impressionante. - Eu disse.

Ela abaixou a espada, parecendo decepcionada.

- Quem é você? - Ela perguntou. Em sua voz não havia hostilidade, apenas curiosidade - Me surpreendi ao ver uma elfa entre tantos homens.

- Meu nome é Aerin. - Eu disse - Sou filha adotiva de Elrond, de Valfenda.

- Aragorn disse que cresceu em Valfenda. - Ela disse.

- Sim, é verdade. Eu o conheço desde que era um garotinho, correndo pelos corredores e ansioso por sair e caçar orcs.

Eowyn fez uma pausa, uma nova pergunta se formulando em sua mente.

- Onde aprendeu a lutar?

- Bom, essa é uma história interessante. Como você provavelmente deve saber, nós mulheres não somos treinadas na luta como os homens. Mas eu sempre fui um tanto... rebelde. - Eu fiz uma pausa, com um sorriso - Eu gostava de observar os outros treinando, e gravava cada movimento em minha mente. Depois de muito insistir, meu pai permitiu que eu começasse a treinar. É uma habilidade extremamente útil quando você passa a maior parte de sua vida viajando ou se metendo em missões complicadas.

Ela riu, enquanto guardava sua espada em uma bainha de couro. Eu a observei por um segundo, antes de falar.

- Minha vez. Posso perguntar algo? - Ela assentiu, e eu continuei - Porque deseja lutar? Quando há um exército inteiro para fazer isso por você.

- As mulheres de nosso país aprenderam a manejar a espada a muito tempo. - Ela disse - Não temo a morte, ou a dor.

- E o que teme?

- Uma jaula. Ficar atrás das grades até que o costume e a idade as aceitem. E todas as grandes oportunidades fiquem na lembrança ou na vontade.

Eu não respondi imediatamente, refletindo sobre suas palavras. Podia ver o quão corajosa Eowyn era, mas ainda assim...

- Entendo que queira se provar. Sei como é a sensação, porque sempre fui igual. - Eu parei por um segundo, medindo sua expressão - Mas não busque a honra ou a glória longe demais. Uma coisa que eu aprendi na vida é que os homens nunca acreditarão em nosso potencial mesmo que provássemos infinitas vezes que somos capazes. 

Ela olhou em meus olhos, e percebi que ela realmente prestava atenção em minhas palavras.

- Você é forte Eowyn, e sei que é mais do que capaz de lutar. Mas não se esqueça de que não há vergonha alguma em ficar para trás, e assumir responsabilidades para com seu povo. Independentemente de sua escolha, não a faça para provar aos outros que é capaz. Faça para provar a si mesma. E eu lhe garanto, que isso a trará maior paz do que a aprovação de qualquer pessoa no mundo. 

Eowyn sorriu para mim, e nesse momento, eu soube que ela entendera minhas palavras.


O Retorno do Anel #2Onde histórias criam vida. Descubra agora