Prólogo

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[Eddie Munson]

"Blinded by me, you can't see a thing
Just call my name, 'cause I'll hear you scream
Master
Master"

Ouço vozes que ecoam por toda parte, cantam algo que já conheço e arrastam consigo o ritmo enfático dos amplificadores da guitarra elétrica. Estou em meu quarto, mas quase não o reconheço, pois agora tudo parece diferente, os lençóis da cama, os armários de livros e até mesmo as paredes, que ganham vida com sua nova cor. Mas, há algo estranho aqui. Sinto uma leve brisa bater contra minha nuca, mas as janelas estão fechadas, não há mais saídas de ar neste quarto. É quando percebo que havia alguém respirando em meu pescoço. Olho para os lados, aflito, mas enxergo com dificuldade, pois as luzes vão se apagando aos poucos.

As revistas e quadrinhos que deixei sobre o armário caem todas ao chão quando os móveis começam a tremer e, de repente, escuridão. Não vejo nada. As notas musicais, que antes eu mal conseguia ouvir, agora vagam pelo quarto, altas e distorcidas, como se alguém ligasse uma caixa de som em um túnel vazio. Escuto algo. Ele vem se aproximando, está cada vez mais perto. Mas, não sinto medo, pois eu conheço esse fantasma. O poder sônico das cordas vocais de James Hetfield me fizeram reconhecer a mais pura obra-prima já escrita. Master of Puppets.

A música tocava em algum lugar, por algum motivo, mas eu não me importava com o quão estranho e sobrenatural isso parecia ser. James estava cantando pra mim e essa era a única coisa que importava.

Mas, espera... Como vim parar no show do Metallica se a última coisa que fiz foi deitar na cama?

- O despertador está tocando há cinco minutos, moleque. - Sinto uma mão pesada cair sobre meu rosto, marcando um tapa em minha bochecha e, quando abro os olhos, vejo meu tio me encarando, rindo do que provavelmente seria a situação em que eu me encontrava. - Vamos, Eddie, você tem três minutos pra se arrumar, se não quiser chegar atrasado.

- Droga, não ouvi o alarme. - A última coisa da qual me lembro foi ter chegado em casa, quase desmaiando de sono, depois de ter jogado D&D por seis horas seguidas. É um milagre eu lembrar meu nome. - Que horas eu cheguei em casa?

- Tarde. - Ele morde um pedaço do pão que segurava em sua mão. - O que você estava fazendo que chegou de madrugada? Estava com garotas? - Sua pergunta parece até uma piada e eu acabo rindo.

- Quem me dera.

- Vê se não demora, garoto. - Ele aponta para a porta. - Aqueles seus amigos esquisitos estão te esperando lá fora.

- Vou sair em um minuto. - Fecho os olhos novamente e tudo o que ouço é o barulho da porta fechando.

Movimento a cabeça entre os travesseiros e travo uma luta interna para conseguir ao menos por o pé para fora da cama. Meu sono me atormenta mais uma vez. Bocejo e me remexo entre os lençóis enquanto minhas narinas queimam com cheiro denso e quente da manhã ensolarada. Mal consigo levantar. Talvez meu tio tivesse razão quando me disse para não passar a madrugada jogando D&D, ainda mais quando tenho aula no dia seguinte.

- Eddie! - Ele me grita do outro lado da porta. Merda.

Pulo da cama de uma vez, esbarrando em sei lá quantas coisas eu deixei jogadas pelo chão, e corro até a porta para fechá-la. Abro uma das gavetas do armário e procuro pela camisa do Clube Hellfire, mas havia tantas roupas misturadas em um só espaço que quase não consigo achá-la. Abro o pequeno porta-jóias e escolho quatro dos inúmeros anéis espalhados pela caixa e encaixo nos dedos, três na mão esquerda e apenas um na mão direita para não me atrapalhar quando eu estiver tocando as cordas da guitarra. Mesmo com o pouco tempo que tenho, consigo me vestir a tempo e, em alguns segundos, arrumar meu cabelo de uma forma que eu não pareça ter levado um choque. Volto à cama e pego a mochila que deixei no chão, jogando todo seu peso por cima dos ombros. Estou pronto.

LOVER |  Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora