[01] - Clube Hellfire

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[Catherine Madison]

Abro a gaveta da escrivaninha e pego uma caixa de comprimidos. A burla diz que é preciso tomar apenas uma pílula para fazer efeito, duas, caso não haja diferença, mas pego três, pois minha cabeça dói tanto que mal consigo pensar nas sequelas que o remédio irá me gerar. Não me lembro da última vez que dormi, meus olhos estão pesados e quase não consigo mantê-los abertos, mas faço um esforço, porque ainda faltavam duas folhas de exercício para terminar. Giro o lápis entre os dedos e encaro o caderno que pairava sobre a mesa. Não sei a resposta de nenhuma das últimas doze questões de matemática.

Afasto a mesa e estico as pernas, esperando aliviar a tensão em meus músculos. Meus olhos vão logo ao encontro da janela. A tarde chega em Hawkins mais uma vez. O sol torna-se apenas um pequeno ponto no horizonte enquanto a sombra começa a vestir toda a cidade. As nuvens formam-se em montes nublados e fecham o céu em uma vista vaga e escura. Ouço risadas do lado de fora do quarto, meus irmãos assistem ao seu programa favorito, com a mamãe. Parece divertido. Bebo um gole do café gelado e passo a língua pelos lábios. Imagino como deve ser a sensação de assistir televisão, passear ou ir ao cinema com a família. Deve ser legal.

Guardo o lápis no estojo e abandono a escrivaninha. Decido deixar a tarefa de casa para outro dia. Tenho um compromisso no tal Clube Hellfire, não daria tempo de responder aos questionários, de qualquer forma. Guardo os materiais na mochila e, apesar do cansaço, o banho gelado que tomo me faz despertar. Visto a roupa mais simples que encontro no guarda-roupa: uma calcinha de ursinho, um sutiã sem bojo e um vestido branco com alguns girassóis na estampa. É, de longe, uma das roupas que mais odeio, mas minhas opções eram bem limitadas para esta ocasião. Penteio os cabelos, deixando-os soltos para secar, e caminho até o espelho com alguns itens de maquiagem na mão. O batom que uso é um pouco mais escuro que os demais, mas o gloss disfarça a cor forte do vermelho cereja. Passo duas ou três camadas de rímel e finalizo a maquiagem com um pouco de blush. Decido não usar anel, pois pode me atrapalhar a movimentar as peças do tabuleiro, então uso apenas um pingente de coração como acessório. Vou até a sapateira e calço uma Mary Jane, junto à meia que já estava dentro do sapato. Por último, pego minha bolsa. Acho que não estou esquecendo nada.

Abro a porta do quarto e dou de cara com toda a minha família reunida no sofá da sala. Estavam tão concentrados no que passava na televisão que apenas mamãe notou minha presença.

- Finalmente está usando o vestido que comprei pra você. - Ela se levanta devagar e vem até mim, segurando um balde de pipoca na mão direita e um cigarro na esquerda. - Quer um pouco?

- A pipoca ou o cigarro? - Ironizo, mas parece que ela não compartilha do mesmo humor que eu. Abaixo a cabeça. - Não, obrigada.

- Vai sair? - Ela pergunta, mas não demonstra interesse em saber.

- Acho que eu não vestiria um vestido de girassol pra ficar em casa, mamãe. - Tento evitar respostas complexas, pois sei que esse simples diálogo poderia facilmente tornar-se um interrogatório. - Estou atrasada.

- Vai se encontrar com aquele seu namorado? - Ashley passa os dedos em meus cabelos, arrumando alguns fios que estavam fora do lugar. Ela sorri enquanto fala e seus olhos viram riscos apertados. Tinha me esquecido de como mamãe fica bonita quando sorri. - Querida?

- É, vou. - E lá se vai a primeira mentira do dia. - Vou encontrá-lo em uma lanchonete aqui perto. Não vou demorar.

- Catherine... - O balde de pipoca que estava em suas mãos agora paira sobre a mesa e o cigarro pousa entre seus lábios. Ela puxa a fumaça uma, duas, três vezes, e depois a solta, me encarando. - Sabe que não gosto quando mente, não sabe?

LOVER |  Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora