[Catherine Madison]
- O quê foi? Há algo de errado? - Sinto suas mãos tocarem meu rosto. Quero fugir de seu toque, mas não consigo, não consigo afastá-lo e mantê-lo longe, assim como ele faz comigo. Sua carícia me afoga em lembranças das quais não quero me esquecer. Estou presa. - Catherine?
- Por que você vai embora? - Minha pergunta o pega de surpresa. - Você disse que ficaria.
- Não estou indo embora. Estou indo trabalhar. - Seu sorriso me desconstrói, não há sinceridade em suas palavras. - Vai ficar emburrada, mi hija?
- Você nunca está em casa. - Quero brigar com ele, ficar brava, questionar suas atitudes, mas tudo parece momentâneo, não consigo afrontá-lo. - Já está de noite. Não é hora de ir trabalhar.
- Eu vou voltar, você só precisa esperar um pouquinho. - Ele ajoelha-se à minha frente e passa o polegar sobre minha bochecha. - Quando eu chegar em casa, podemos ir ao parquinho. Eu, você, Tony e Elizabeth.
- Promete?
- Prometo. - De repente, me sinto bem. Sei que ele não quebraria essa promessa. E como poderia? Não éramos apenas família, éramos melhores amigos, e amigos não mentem. - Me espera aqui, tá?
- Posso te acompanhar até a porta?
- Não. Não saia do quarto até que a mamãe te chame. - Há torpor em seu olhar, uma sensação estranha me invade. Por que ele me pediria isso? - Fica aqui. Vai ficar tudo bem. - O vejo se afastar aos poucos.
A porta bate. Ele vai embora, mas eu lhe espero.
Converso com meus bonecos, leio livros e até monto quebra-cabeças.Tento me distrair enquanto sigo as ordens do papai, mas a demora está me entediando. Ele pediu para que eu ficasse no quarto, mas por quê? Por que não posso sair daqui? Os minutos passam devagar e minha curiosidade cresce a cada segundo. Ele ficaria bravo se eu não realizasse o seu pedido? Me sento no chão, abraçada ao meu amigo Freddy, meu leal urso de pelúcia. Reflito. Há algo de errado.
Minhas costas doem, quase não sinto meus joelhos, mas continuo encarando a porta. Por que não ouço nada? Mamãe não está em casa? Há luzes piscando do outro lado da janela. Vermelho, azul, vermelho, azul. As cores cintilam e revezam nos refletores do jardim, invadem meu quarto e produzem sombras no chão e nas paredes. Me deito sobre o tapete e tento bisbilhotar por debaixo da porta, mas não vejo nada. Me levanto e vou até a porta, pronta para desobedecer a ordem do papai.
"Não saia do quarto até que a mamãe te chame."
Sua mensagem é clara, mas minha curiosidade é maior. Talvez ele esteja preparando uma festa surpresa pra mim, afinal, amanhã completo treze anos. Desvencilho-me do medo e giro a maçaneta, esgueirando-me pelo corredor até a sala de jantar. A mesa está servida, mas não vejo ninguém. Não encontro minha família.
- Pai? - O chamo, mas não recebo resposta. - Por que está tão claro? - As luzes vermelha e azul estão mais fortes agora e elas vêm do lado de fora, no jardim. Sigo-as até a porta de entrada e o que vejo me deixa confusa.
Homens fardados discutem com o papai. Algemas aprisionam suas mãos e ele é detido em uma viatura. Mamãe tenta puxá-lo para fora, mas um dos policiais a empurra em direção ao chão. Tony abraça Elizabeth enquanto ela grita em desespero e, de repente, perco o foco. Estou cansada. O ar que me cerca se torna seco, minha garganta arranha. Quero impedi-los, tento andar, mas não consigo mover minhas pernas. Estou presa ao pânico. O mundo ao meu redor se torna um vulto, não vejo nada, tudo se torna preto, escuridão. Eu devia chorar, gritar, mas não faço nada. Absolutamente nada. Não entendo a dor que estou sentindo. Me agarro à esperança e caio em um poço de verdades, e a verdade dói. Ele não vai voltar amanhã, não vai voltar depois de amanhã e talvez também não volte na semana que vem.
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LOVER | Eddie Munson
Fanfiction"Eu pensei que fosse invisível, pensei que as pessoas não reparavam em mim, mas ele reparou. Ele me reconheceu. Eddie Munson viu em mim tudo o que me empenhei para esconder, todas as minhas farsas, os meus defeitos, e me fez sentir a felicidade qua...