[03] - Amigos

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[Catherine Madison]

"Vizinhos escutaram gritos por volta de oito horas da noite e constataram a polícia. Os profissionais logo responderam às denúncias e, ao chegar no local, se depararam com o corpo da adolescente na sala, já sem vida. A identidade da vítima ainda não foi identificada e o principal suspeito não foi encontrado. Mais informações sobre o caso a seguir..."

- Sinistro, não é? - Tony mastiga um pedaço do pão enquanto se remexe entre as almofadas do sofá. - Hawkins era uma cidade tão calma, aí, de repente, um cara maluco mata uma adolescente na própria casa. Os tempos estão realmente mudando.

- Espero que esse garoto seja encontrado e punido. - Bruce atravessa a sala e senta em sua poltrona, que agora afunda com seu peso e inclina-se para trás. - Esses adolescentes de hoje em dia... - Meu pai e Tony parecem compartilhar do mesmo pensamento.

- Você não sabe se ele realmente matou ela... não tem provas. - Puxo o cabo da televisão, separando-o da tomada. Não aguento mais ouvir falar sobre esse caso. Essa é a única notícia que sai nos jornais da cidade. Já fazem dois dias desde que isso aconteceu, e como se não bastasse transmitir a mesma informação a cada minuto, sempre que fecho os olhos a cena vem à minha mente. Eddie, Chrissy, ossos quebrados. É tudo o que consigo pensar, tudo o que consigo sentir. - Parem de assistir essa bobagem.

- Ei! Eu não terminei de assistir! - Meu irmão grita, mas ignoro. - Você está cada vez mais chata.

Mostro o dedo do meio.

Agarro a alça da mochila e a jogo por cima do ombro. O peso dos livros quase entortam minha coluna, mas mantenho-me em pé. Confiro as horas no relógio da parede e percebo que estou alguns minutos atrasada. Procuro algo que eu possa ter esquecido sobre a mesa e confiro meus bolsos. Acho que estou pronta.

Pego as chaves de casa e guardo-as dentro do casaco, dirijo-me à porta.

- Não vai comer? - Mamãe surge entre o corredor. Ela segura uma frigideira com panquecas e parece me oferecer. - Pode passar mal na escola, é melhor tomar o café da manhã.

- Não estou com fome.

- Você não come nada desde ontem. - Seus passos são pequenos, mas precisos. Ashley vem até mim e ergue a panela até minhas mãos. - Vamos, está uma delícia.

- Mamãe, estou atrasada. - Recuso mais uma vez. - Mas, não se preocupe, vou almoçar em casa hoje.

- Ainda vamos no fliperama quando você voltar? - Bruce me olha do outro lado da sala, chamando a minha atenção. Ele parece determinado a reconstruir a relação com seus filhos e o primeiro passo para isso acontecer é realizar passeios em família. Apenas assinto. - Ótimo, vai ser divertido.

- Hasta más tarde.

E fecho a porta.

Me apresso entre o caminho. Meus passos são abruptos e tento não me distrair para não acabar errando o trajeto, mas a paisagem me rouba a atenção. Procuro pedestres para esbarrar, mas não encontro ninguém. Olho para os lados para me certificar de que não há perigo ao atravessar a rua, mas não há carros em lugar nenhum. A avenida está vazia. As crianças abandonaram os parquinhos. Os cachorros nem sequer latem mais ao ver um estranho passando pelo seu quintal. O tempo parece mais sombrio que nunca.

Os sussurros do vento produzem lamentos repletos de suspense e agonia. Hawkins está com medo, consigo sentir seus corações atormentados, angustiados pela notícia que preenche os jornais da cidade. Todos temem Eddie Munson, pois acreditam fielmente que ele é um assassino, afinal, uma garota foi encontrada morta no tapete de sua sala. E o pior de tudo isso é que eu sei exatamente o que aconteceu e posso afirmar com toda a certeza que o garoto que conheci há uma semana atrás não é o culpado desse crime. Não sei como Chrissy flutuou, como todos os ossos de seu corpo foram estraçalhados como se fossem uma simples palha, ou como seus olhos foram cruelmente arrancados, mas Eddie não fez isso. Ele não teria coragem e nem QI suficiente para matar alguém. Foi outra coisa que a matou. Uma coisa muito, muito ruim.

LOVER |  Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora