[Catherine Madison]
São dez da manhã. Os raios solares invadem a janela e produzem esculturas feitas de luz e sombra nas folhas do diário. Movimento o lápis sobre as páginas e rabisco minhas histórias. Uso os acontecimentos dos últimos dias como inspiração para preencher as folhas e me concentro nos mínimos detalhes para não esquecer nada. Escrevo sobre a trajetória na floresta, a cabana de jogos, o galpão abandonado. Quem visse meu diário diria que sou uma roteirista, ou simplesmente maluca. Não julgo, o que escrevo aqui é coisa de doido, mas é a minha loucura que vai resolver o mistério dos assassinatos e finalmente pegar seja lá quem ou o que matou Chrissy. Pensei sobre isso a noite inteira, sobre sua morte, sobre o sobrenatural. A racionalidade não entra nesse caso. Anotei todas as teorias e nenhuma delas bate com os ossos quebrados ou o corpo flutuante. Nenhuma. Minha criatividade se esvai.
Finalizo mais uma página, descartando o lápis no estojo. Abro a gaveta da escrivaninha e devolvo o diário a sua zona segura.
Fito o jardim, pensativa. A brisa fresca que assovia na grama verde chega em meus cabelos através da brecha da janela. Os galhos das árvores balançam e eu me conforto com o som dos respingos de água que escorrem pelo vidro e caem direto na madeira. A luz do sol ofusca minha visão, mas aquece minha pele e faz minha mente voltar ao estágio do sono em poucos segundos. Fecho os olhos e permaneço encolhida sobre a cadeira, aproveitando o que seria meu último momento de paz, pois as próximas horas seriam pura adrenalina. Passamos horas e horas discutindo um plano para deixar Eddie em segurança, mas só o que conseguimos foi criar uma nova identidade para ele e, sinceramente, não sei por quanto tempo vamos conseguir manter essa mentira. Se meus pais descobrirem, tudo isso vai acabar muito, muito mal.
Balanço os pés debaixo da escrivaninha, inquieta.
Há quanto tempo está acordada? - Assusto-me quando ouço sua voz rouca ecoar por trás de meus ouvidos. Meus olhos se abrem e eu encontro o reflexo de seu corpo alto e robusto desenhado no vidro da janela. E, para a minha surpresa, Eddie está sem sua blusa, mais uma vez. Ele boceja enquanto se apodera do pufe ao meu lado.
- O que você tem contra blusas? Nunca está usando uma. - Cruzo os braços sobre a camisola e o encaro.
- Você dorme em um forno, garota. Eu quase morri sufocado, sabia? E o que está fazendo aí? - Seus olhos curiosos recorrem a gaveta entreaberta na qual guarda meu diário. Ele observa o caderno e o distingue por meio da decoração. - É um diário?
- Sim. Eu estava escrevendo, mas já acabei. - Fecho a gaveta e giro a tranca. - Não consegui dormir muito bem nessa noite.
- Pesadelos?
- Como adivinhou?
- Você ficou se contorcendo toda, puxou meu cabelo e quase me empurrou pra fora da cama. Poderia até regravar aquele filme de terror. O exorcismo de Catherine Madison. - Ele diz como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Tampo o rosto com as mãos, envergonhada.
- Meu Deus...
- Estou brincando. - Um sorriso sarcástico pinta seu rosto e o faz parecer ainda mais idiota que antes. Parece que Eddie se diverte com o meu constrangimento. - Você resmungou algum nome enquanto dormia. Vagner, Vecner, algo assim.
- Vagner? Deve ser o tio da pizzaria que traz minhas encomendas.
- Falando em comida... Já tomou café da manhã? - Ele se levanta e vem em minha direção, passa os braços pelos meus e me puxa para o meio do quarto, em direção à porta. - Estou com fome.
- Você só pensa em comer. - Resmungo.
Eddie nem espera uma próxima resposta e me puxa corredor afora. Tropeço em alguns brinquedos pelo caminho, mas chego intacta à cozinha. Paro alguns instantes em frente ao cômodo e me pergunto se eu estava mesmo na minha casa. Os móveis escuros, de madeira com acabamento antiquado, agora estão brilhantes e servem de apoio para alguns produtos de limpeza. As janelas não têm uma mancha sequer e deixam a luz de um sol poente entrar. Procuro o motivo da minha casa estar tão limpa e logo o encontro. Bruce dançava com um pano sob seus pés, limpando o que seria o piso da nossa cozinha. A música espanhola toca em seus fones de ouvido e canta algo como "Viva, viva, mi amor".
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LOVER | Eddie Munson
Fanfiction"Eu pensei que fosse invisível, pensei que as pessoas não reparavam em mim, mas ele reparou. Ele me reconheceu. Eddie Munson viu em mim tudo o que me empenhei para esconder, todas as minhas farsas, os meus defeitos, e me fez sentir a felicidade qua...