A Supervisora, O Sonho e o Bar

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O dia está bonito, o sol está brilhando, as flores estão desabrochando, os passaros estão cantando, em dias como esse, eu ainda tenho que trabalhar, fazer o que né? Olhar a paisagem através da janela do ônibus e ver toda essa gente com tempo livre me dá até uma tristeza, mas não é como se eu tivesse pra quem contar, okay, talvez eu deva parar então. Suspiro...
 
Viro pra olhar o resto do veículo, quase ninguem ainda está aqui, meu emprego é bem próximo ao terminal, então já paramos na maioria dos pontos e por isso só sobraram os poucos deslocados que descem no fim da linha, cara, que sono, tomara que a Susie não vá hoje... Se ela for, tomara que arranje outro pra encher o saco...
 
Apenas depois de o ônibus abrir as portas e desligar o motor é que eu desço, prefiro sempre ser o último a desembarcar, assim eu evito levantar e ser visto por algum conhecido que tem algo sobre a qual queira conversar, eu não gosto muito de conversar, sempre é um pouco desgastante, não desgosto das pessoas, mas só de ter que falar com elas eu prefiro evitar ao máximo possível.
 
- Nome? - Me pergunta o porteiro do prédio onde eu trabalho, um monstro idoso, parecido com um cacto, TODO DIA ele me pergunta a mesma coisa.
 
- Bom dia seu Spiker... Lembra de mim? - Ele tira os olhos do computador e olha pra mim, cansado e... bem... velho. - O mesmo que veio trabalhar ontem, e antes de ontem e TODOS OS DIAS HÁ UM ANO E MEIO.
 
- NOME? - Ele pergunta mais alto depois de pigarrear.
 
- KRISTOPHER DREEMUR. - Ele digita meu nome pra checar e então olha demoradamente pra parede, onde vários crachás estão pendurados, quando finalmente encontra o meu ele me entrega.
 
- Aqui. - Eu o pego e então vou em direção ao elevador. - TERCEIRO ANDAR.
 
-EU SEI. - Ooooh véio, não devia aposentar não?
 
Com o elevador já chegando ao terceiro andar eu baixo a cabeça, quando a porta abre eu caminho rápido olhando pro chão pra minha mesa, aqui é o prédio do jornal local, eu trabalho na parte online, o que não vai pra versão impressa vai pro site e redes sociais, mas as vezes, quando a notícia é realmente importante então sai em tudo, pra informar todo mundo, afinal de contas, quem lê jornal de papel hoje em dia?
 
Eu me sento e aperto o botão pra ligar o computador, enquanto ele inicia eu pego um bloco de notas em uma das canetas e escolho o lápis melhor apontado que eu tenho e já começo a anotar algumas coisas, alguns dos outros funcionários riem alto e conversam, eu até olho pra ver do que se trata, mas sem entender eu volto ao que estava fazendo.
 
- Atrasado Dreemur, quer levar uma surra? - Viro minha cadeira pra ver Susie, minha supervisora, uma mulher alta de pele roxa e aspecto de lagarto, ou dinossauro ou seja lá o que for, ela não trabalha muito, mas foi escolhida pra liderar por causa do "pulso firme" que tem, mas eu sinto que comigo ela é particularmente implicante.
 
- Foi mal, o ônibus que eu peguei enguiçou no meio do caminho. - Bem, na verdade eu me atrasei por que o Sr Spyker demorou um pouco a mais pra achar meu crachá hoje, mas eu não vou jogar pra cima do véinho né?
 
- Porra, vê se acorda mais cedo e pega o ônibus anterior então. - Ela se vira e vai em direção ao sala dela. - Babaca.
 
- Puta. - Ela para e vira pra mim.
 
- O que disse? - Ela pergunta meio nervosa.
 
- Eu disse "Pódeixar".
 
- Hum... - Ela termina o trajeto até a sala.
 
Depois disso ela ainda veio atazanar mais três vezes naquele dia, uma vez por causa de um erro de digitação em uma matéria que foi pro site, e outra por que não tinha mais ninguem pra mandar na cafeteria na hora do almoço, então adivinha quem teve que ir, pois é, eu.
 
Quando chega a noite, todos começam a levantar e ir embora, assim como no ônibus, eu prefiro ir por último, mas é claro que eu quase nunca consigo, Susie quase sempre vai embora bem tarde e apesar de a gente não se cruzar, eu vejo a sombra dela na persiana, então eu sei que ela está la e se eu for esperar ela sair pra poder ir embora eu com certeza só saio daqui de madrugada.
 
O mesmo trajeto que fiz pra ir eu faço pra voltar, chegando em casa eu sinto o cheiro de torta, eu acho que Asriel veio visitar, desde que eu terminei a escola a minha mãe só faz torta quando meu irmão vem.
 
Entro em casa e a primeira coisa que vejo é Asriel abaixado esfregando o tapete, do lado dele tem alguns cacos brancos do que um dia parece ter sido um prato, por cima dos cacos tem um garfo. Ele olha pra mim por alguns segundos e então levanta a mão e acena.
 
- O que aconteceu aí? - Pergunto pendurando meu paletó no portacasacos.
 
- Ah, eu tropecei e acabei derrubando tudo, aí a mamãe ficou brava e me mandou limpar... - Ele diz voltando a esfregar.
 
- E cadê ela? - Eu passo meio que por cima dele, tentando não atrapalhar.
 
- Saiu pra tentar comprar um prato novo, já que esse aqui quebrou.- Ele aponta pros cacos. - Ta com fome?
 
- Um pouco.
 
- Okay, tem torta em cima do fogão e acho que a mamãe deixou um prato de macarrão pra você na geladeira.
 
Coloco o macarrão no microondas e então volto pra ajudar Asriel com a sujeira, alguns minutos depois nós já estamos na cozinha, Asriel se senta na mesa pra me fazer companhia enquanto eu como.
 
- Cara, como tá o emprego? - Ele pergunta assim que eu me sento com o prato.
 
- Sei lá... Normal, eu acho. - Esse é meu único emprego até hoje, então não sei se é bom ou ruim.
 
- Bem, e faculdade? Já pensou em fazer? - Oh... Então é por isso que ele está aqui.
 
- Eu nem sei o que faria, então, não. - Digo colocando o garfo na boca e então mastigando.
 
- Já sei, por que você não vem qualquer dia me visitar? Aí eu te levo até a faculdade em que eu estudei e te mostro, talvez isso te ajude a escolher um curso.
 
- Veremos... - Suspiro e termino de comer.
 
Me levanto e lavo meu prato, durante um tempo nenhum de nós falamos nada, eu realmente não tenho vontade nenhuma de fazer faculdade, sendo bem sincero, eu acho que estou bem do jeito que estou.
 
No meu emprego ninguem alem de Susie exige algo de mim, meu salário é o suficente, e não é como se houvesse alguma área em que eu me destacasse, eu sou mediano em praticamente tudo, então o que eu faria na faculdade?
 
- Bem, eu vou ir dormir. - Digo depois que já terminei de lavar e secar minha louça.
 
- E a torta? - Ele diz apontando pro fogão.
 
- Talvez outra hora, eu tô meio cansado agora... Então... - Aponto em direção ao quarto.
 
- Ah... Claro... Pode ir...
 
- Boa noite. - Eu digo já indo em direção ao quarto.
 
- Boa noite.
 
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Eu me encontro em uma praça, alguem que nunca vi antes ou já vi? Parece-se com Asriel, mas ao mesmo tempo eu sei que não é ele... Essa pessoa está chorando, implorando, mas eu não ouço nada, por que eu não ouço? Olho em volta e tem gente correndo, fugindo, em desespero, deveria estar barulhento aqui... Então por que eu não ouço nada? Espera, eu ouço algo sim, som de gotas batendo no chão... Eu olho pra baixo... Eu olho pras minhas mãos, algo as mancha... Por que estou com uma faca? Eu olho pra pessoa que se parece com Asriel... Eu a mato.
 
O despertador toca, eu acordo com um salto, eu estou suado e ofegante, que sonho estranho... Eu não lembro de muita coisa... Onde era aquela praça? Era tudo tão escuro... Enfim, preciso tomar banho e ir trabalhar.
 
Quando chego no escritório, Susie já está me esperando na minha mesa, o que é estranho, afinal de contas eu tenho certeza de que dessa vez eu não atrasei.
 
- Hey... - Ela diz um tanto desanimada, parecendo mais cansada que o normal.
 
- Oi. - Eu não sei bem como eu devo trata-la, acho que é a primeira vez que ela só fala comigo normalmente, sem se grossa ou algo assim.
 
- Será que nós podemos ir beber depois do expediente de hoje? - Okay, isso é estranho.
 
- Tá bom, eu acho... Por que? - Eu não sei como agir cara, o que eu faço?
 
- Eu meio... Meio...
 
- Meio?
 
- Tá, Eu sonhei... Com você.
 
 
 
Okay, acho que talvez eu vá precisar mesmo de uma bebida.
 
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Durante o horário de almoço a maioria dos meus colegas saem pra comer fora, menos eu, e Susie, é claro. Assim que todos já foram embora, alguns conversando alegremente, eu abro a última gaveta na lateral da minha mesa e puxo um pacote de batatas fritas, dessas que metade do pacote é vento, tem outras porcarias que deixo guardadas ali, minha mãe me mataria se soubesse que eu almoço essas besteiras, mas o que os olhos não veem o coração não sente, né?
 
Eu abro o Instagram e simplesmente vou rolando enquanto como minhas batatas, eu gosto de ver fotos enquanto saboreio com cuidado toda a gordura trans que com certeza vai me matar no futuro, a maioria das pessoas que eu sigo são os meus antigos colegas de escola, mas não tenho mais contato com a maioria deles... Pra falar a verdade eu acho que eu nunca tive um contato muito forte com eles... Mas tudo bem, ainda é bacana ver o que eles estão fazendo da vida.
 
mk_noarms: Hey, saca só essa promoção no Subway. (A foto é basicamente uma placa com várias fotos de lanches do Subway com os preços redefinidos pra promoção... Espera um pouco, como essa foto foi tirada? Quem segurou o celular se é "No Arms"?)
 
Oh, minha mãe publicou uma foto do jogo de pratos novos que ela comprou, e olha que o Azzy derrubou um prato só, agora temos o suficiente pra alimentar a cidade se quisermos. Vou dar like só por que é minha mãe, tenho medo de dar like nos conhecidos e eles acharem que sou stalker ou algo do tipo.
 
Quando chego na metade da quantidade original de batatas, eu escuto a porta do elevador abrir, não me viro pra olhar, mas sei exatamente quem é, afinal de contas é alguem que vem todos os dias desde antes de eu começar a trabalhar aqui.
 
- Oi Kris, como vai hoje? - Noelle me pergunta vindo de trás de mim e então parando a frente da minha mesa, de forma que eu podia ve-la atrás do monitor do PC.
 
- Normal, eu acho... Veio trazer o almoço dela? - Pergunto, mais por educação do que por curiosidade.
 
- Ah sim... E pra você eu trouxe isso, toma. - Ela passa uma lata de refrigerante por cima da tela do computador, eu a pego e coloco próximo ao teclado. - Hey, coloca a proteção em baixo pra não marcar a mesa.
 
- Ah, foi mal. - Eu pego o bloco de Post-its e coloco por baixo da lata. 
 
Não demora muito pra Susie aparecer, sei lá de onde ela veio, deve ter sentido o cheiro ou visto a Noelle pelo vidro, sei lá, mas ela sorrateiramente chega por trás da moça enquanto nós conversamos e então ela a abraça por trás.
 
Noelle leva um susto e até solta um gritinho fino quando Susie a levanta, e esse gritinho ME assustou, dou um leve salto na cadeira mas acho que nenhuma das duas percebe, eu tambem disfarço bem, eu acho.
 
- Oi amor - Susie diz logo a colocar no chão, elas dão um breve beijo e então se afastam um pouco com as mãos dadas. - Estou com a fome de uma familia inteira hoje.
 
- Jura? Que bom, por que eu preparei um almoço digno. - Noelle se abaixa pra pegar algo no chão que eu não podia ver, então quando ela volta a se erguer eu me impressiono um pouco com o tamanho da marmita que ela trouxe, acho que dava pra alimentar minha familia inteira com aquilo... Se desconsiderarmos meu pai, obviamente.
 
Elas conversam um pouco mais, depois de mais alguns poucos minutos elas se despedem com mais um beijo e Noelle se despede, não me viro pra ver mas mais uma vez eu ouço o elevador quando ela se vai.
 
Quando comecei a trabalhar aqui, durante a primeira semana a Noelle trazia marmita pra mim tambem, mas eu acabei ficando um pouco envergonhado e não queria mais problemas ainda com a Susie, então acabei falando pra ela que eu não precisava, fora que ela não cozinha nada bem, então eu acho que ninguem alem de Susie é capaz de sobreviver depois de comer. Desde então ela me traz bebidas, apesar de eu ter dito que não precisava, acho que ela se sente desconfortável se ela simplesmente passar por mim sem me dar nada.
 
Fora que quando ela está no escritório a Susie nunca briga comigo, então de toda forma é stonks.
 
 
 
 
O dia seguiu quase que normalmente, escrevi algumas notícias para o site, atualizei os perfis das redes sociais, interagi como a página no Twitter, que por sua vez é algo que sempre me dá vontade de morrer... Odeio rolar o Twitter e ver perfis de empresa fingindo que são pessoas, mas tudo bem, e por fim, perto do final do dia eu vi a Susie dando sermão em algum pobre coitado que publicou uma notícia sem confirmar as fontes pra ver se sequer faziam sentido. Ainda assim, infinitas vezes mais leve do que seu eu tivesse cometido o erro.
 
Naquele momento, vi Susie respirar fundo e então o chamou pra conversarem em frente a sua sala, apesar de falar baixo, o escritório estava tão silencioso que era simplesmente IMPOSSIVEL não ouvir o que falavam, e, apesar de não me interessar pela vida dele, eu acho que precisava de uma distração do trabalho e aquela novela serviu muito bem.
 
- Olha, dona, eu... Me desculpe, eu devia ter checado tudo. - Ele parecia ser um pouco mais novo do que eu, era um monstro magro e alto, completamente coberto de pelos negros.
 
- Olha, eu não posso só ficar aqui aceitando suas desculpas, essa não foi a primeira vez, você vem cometendo esses erros. - Ela levou a mão até o próprio rosto e então cobre os olhos antes de suspirar, em um misto do que parecia ser impaciência e até um pouco de compaixão. Ela passa um tempo em silencio, pouco tempo, mas que pelo constrangimento pareceram décadas, até que ela tirou a mão dos olhos e voltou a falar. - Infelizmente vou ter que pedir pra você esvaziar sua mesa... Você está demitido.
 
Ele nem consegue responder... Tenta, mas não consegue, ele só concorda com a cabeça e então entra na sala junto com Susie, provavelmente pra poderem assinar a ordem de demissão.
 
Quando ele sai de lá, alguns dos colegas dizem coisas como "sinto muito" ou "vai ficar tudo bem mano, se precisar de ajuda, é só falar", bem, eu realmente não me importo muito, eu nem mesmo sei o nome dele, então não é como se eu pudesse tentar consola-lo agora.
 
- E o resto de vocês, voltem ao trabalho. - Ela diz da porta da própria sala. Imediatamente todos voltam ao trabalho, mas eu ainda a olho por um tempo antes de voltar a me concentrar no computador.
 
Ela foi escolhida pelo pulso firme, ela é dura, mas quando são com os outros funcionários ela até que pega bem leve... POR QUE SÓ EU QUE TENHO QUE OUVIR GRITO E RECLAMAÇÃO TODOS OS DIAS? AAAAAAAAAAAAAAAAAH
 
 
Mas... Estranhamente, durante o dia inteiro, ela não brigou comigo nenhuma vez, me pergunto se eu fui mais competente que o normal, ou, talvez o sonho dela realmente a tenha abalado, não importa... O que importa é que mais cedo eu fiquei tão em choque que só aceitei, meio que sem querer.
 
Se eu pudesse eu não gostaria de ter feito isso... Se pelo menos ela... Nah, deixa pra lá, tenho que parar de pensar nisso... Mas agora que já aceitei...
 
Vou até o vidro que separa a sala dela do resto do escritório e então dou uma batidinha no vidro antes de ir até a porta.
 
-Então, vamos nos encontrar onde pra beber? - Pergunto baixo, tentando não parecer grosso ou algo do tipo.
 
- Você é burro ou algo do tipo? Vamos no meu carro, não tem por que ficar perdendo tempo. - E aí estão os insultos, dou de ombros. - Só me espera perto do elevador, eu já estou indo.
 
Ela está olhando algumas fotos de notícias que publicamos hoje, aparentemente são as fotos que não foram postadas, algumas apenas estão em baixa qualidade, outras são pesadas demais pra um site de notícias que qualquer um pode entrar.
 
Bom, eu faço o que ela pediu, não demora muito pra ela finalmente apagar a luz da sala dela e então do resto do escritório, que só não fica completamente escuro por causa das luzes do Roteador de internet em um canto, e do brilho dos botões do elevador.
 
- Vamos. - Ela diz já apertando o botão do elevador.
 
Tudo o que faço é seguir ela, nós vamos em silencio, descer três andares de elevador não demora tanto, mas é o suficiente pra eu perceber mais uma vez o quão mais alta que eu ela é... Oh, é verdade, melhor eu não olhar demais... Eu me viro pra encarar a porta do elevador, eu também percebo que nós descemos direto pro estacionamento subterraneo.
 
- Vem, meu carro está logo ali. - Ela diz assim que a porta do elevador se abre.
 
Ainda em silencio eu a sigo até um sedan quatro portas bem maior do que o convencional, eu já vi alguns outros desse modelo por aí, é um dos maiores do mercado e ainda assim tem alguns monstros que não conseguem dirigir por serem grandes demais pro veículo, cara, deviam pensar na população toda, nem todo mundo tem dinheiro pra adaptar um carro.
 
Eu entro e coloco o cinto, eu não sou tão pequeno pra um humano, mas eu não consigo tocar o chão do carro da Susie, me sinto uma criança de novo com as pernas balançando no ar. E olha que a Susie nem é tão alta assim, diria que ela deve ser do mesmo tamanho ou um pouco menor que um jogador de basquete.
 
- Onde vamos? - Pergunto baixo, mas suficiente pra ela ouvir.
 
- Grillby, a Noelle vai nos encontrar lá, ela foi discutir algumas coisas no banco do Berdly e depois os dois vão vir beber com a gente, mas acho que teremos tempo o sufiente pra conversarmos sobre... - Ela aperta um pouco o volante. - Sobre o sonho.
 
O bar do Grillby não fica nem a dez minutos de carro do escritório, é um dos melhores bares do centro da cidade, mas eu sinceramente preferia só beber uma cerveja na lanchonete perto de casa, muito mais fácil de voltar pra minha caminha e dormir.
 
Ela estaciona na rua mesmo, uma nota mental que eu vou deixar aqui, Susie é muito boa de baliza, se fosse eu, não entraria na vaga que ela entrou nem com lubrificante.
 
Eu desço do carro, nós caminhamos juntos pra dentro do bar, Grillby cumprimenta com a cabeça, eu o cumprimento de volta, como é sexta feira, tem outros grupos bebendo depois de sairem de seus trabalhos. Sentamos e uma garçonete entrega um par de menús de drinks e outras bebidas.
 
- Vai beber o que? - Susie pergunta olhando o menúzinho dela.
 
Olho meu próprio menú, a cerveja mais barata era mais de dez dólares... Discretamente eu olho minha carteira por baixo da mesa, pois é, é isso mesmo, eu tenho a incrivel fortuna de dois e cinquenta.
 
- Eu acho que vou pedir só uma água mesmo. - Respondo, cara, eu realmente não devia ter vindo.
 
- Porra cara, só pede alguma coisa, eu te convidei, então eu pago, para de ser fresco. - Ela diz impaciente
 
Suspiro e então eu volto a olhar o menú pra escolher, caramba, tem mais cores nessas bebidas do que no arco-iris, Susie abaixa o menú dela, faço o mesmo enquanto observo ela chamar a garçonete novamente.
 
- Sim, o que vão pedir? - A moça pergunta educada, já com o bloco de notas a postos
 
- Kris? - Susie pergunta.
 
- Eu acho que vou querer só uma cerveja mesmo, a mais barata, se possível.
 
- Eu vou querer um rabo de galo. - Que raio de bebida é essa?
 
- Só isso? - A garçonete pergunta arrancando a folha do bloco e então o guardando no bolso do avental.
 
- Não, provavelmente ainda vamos beber mais, alguns conhecidos vão se juntar a nós depois, então deixa a comanda aberta. - Susie diz enquanto coloca o menú no canto mais afastado da garçonete.
 
- Tudo bem, esperem um pouquinho só. - Ela sai, indo em direção de Grillby, o homem flamejante que limpava copos no balcão.
 
-Que bar gourmet... - Comento, mais pra mim do que pra Susie, mas ela ainda assim escuta.
 
- Pois é né, aqui enche de almofadinhas filhos de papai. - Ela ri. - São bem parecidos com você até.
 
- Vai te catar. - Respondo. - Então... E o sonho?
 
- Espera eu beber uma primeiro, okay? Senão eu não vou ter coragem de dizer. - Ela aponta pra direção de Grillby ao dizer isso. - Foi um pouco estranho.
 
Concordo com a cabeça, se ela diz, então eu também prefiro ter bebido algo pra poder escutar... Mas... Eu estou com um pouco de medo, eu aceitei por que... Bem, por causa do meu próprio sonho, mas não é possível que tenhamos sonhado com a mesma coisa... Né?
 
Depois de alguns minutos, a garçonete volta com uma caneca de cerveja e uma dose de rabo de galo, ela nos serve cuidadosamente e se retira logo em seguida, eu dou um gole em minha cerveja, fazendo careta logo em seguida, eu realmente não gosto de beber, mas eu pedi isso por ser comum e não ter um teor de alcool tão elevado, já Susie, simplesmente vira todo o rabo de galo e ainda bate o copo na mesa.
 
- Okay. - Ela limpa a boca. - Eu não sei como diabos ou porque fui sonhar com você, mas... Bem...
 
"Tudo começou normal, sabe, no sonho, mas você estava de armadura, como um cavaleiro medieval, só que mais moderno, e as minhas roupas, eu parecia uma punk, o tipo de roupa que eu com certeza gostaria na adolescencia.
 
Estavamos nos dando bem, e tinha mais uma pessoa, alguem que não conheço, mas eu não sei... Parecia bastante com seu irmão... Eu acho... Faz tempo que não vejo ele por aí. ( Ah, ele está na cidade. ). Ah é? Caramba, daora. Enfim, estava bem divertido, parecia um tipo de conto de fadas, nós passamos por um bocado de coisa juntos.
 
Mas em algum momento... Você não estava mais lá, nós te procuramos até chegar em uma praça, algo me acertou por trás, várias pessoas que estavam lá foram morrendo, tentei lutar e feri a pessoa que fez isso... Eu... Eu não tenho certeza... Era só uma silhueta negra... Mas o olhar assassino, de alguma forma, me lembrou você... Eu fui jogada pra longe, e a pessoa que parecia seu irmão... Essa silhueta... a matou."
 
- E foi isso... Mas no fim das contas foi só um sonho, eu acho... Mas... Senti que eu tinha que te contar, senão eu não conseguiria mais dormir tranquila por um tempo... - Ela diz. Eu não consigo deixar de pensar nisso tudo... Eu não sei bem o que pensar... Com exceção do começo, a parte final bate completamente com o que lembro do sonho. - Você... Diz alguma coisa...
 
- MOÇA, DESCE MAIS UMA AQUI PRA MIM, POR FAVOR. - Grito levantando o braço pra chamar a atenção da garçonete.
 
A conversa fluiu muito pouco desde então, eu bebi mais uma caneca de cerveja e Susie bebeu em silencio mais algumas doses de outras bebidas, eu não sei bem o que pensar direito, talvez tenha sido só uma coincidencia... Mas foi igual demais, bom, não parece que algo mudou hoje, e não foi a primeira vez que sonhei com algo do gênero, há muito tempo atrás eu tinha sonhos do tipo o tempo inteiro, essa só foi a primeira vez que alguem alem de mim teve tambem. Devo estar paranóico.
 
Consigo ver Noelle e Berdly entrando no bar, a moça chega super carinhosa com a namorada, as duas flertam um pouco depois de um beijo e então sentam lado a lado na mesa, eu meio que sinto inveja, mas... Bom, eu já aceitei que sempre vou ser um solitário triste, e, Berdly... Bem... É o Berdly, ele é chato, não importa a época, a diferença é que agora ele é um chato que fez sucesso.
 
- Hey Kris, como vai ser emprego? Já te rebaixaram ao nivel de limpar o chão com a lingua? - O passaro pergunta logo depois de se sentar ao meu lado.
 
- Pois é... Eu uso a lingua muito bem, sua mãe nunca reclamou. - Dou um gole, eu é que não quero me estressar com esse daí.
 
- Há, como se você tivesse nivel pra sequer olhar pra ela, mas se um dia estiver na sarjeta, eu posso te contratar como limpador de privadas no meu banco. - Nem respondo, só deixo ele falando sozinho.
 
Berdly depois que saiu da escola pulou a faculdade, ele conseguiu planejar e construir um banco, e, como antigamente a maioria ou guardava dinheiro em casa, ou tinha que ir pro centro pra usar o único caixa eletronicos da época, a idéia de um banco foi bem aceita e ele logo fez uma fortuna consideravel.
 
- Quer mais alguma coisa Kris? - Pergunta Noelle enquanto escolhia o que ela própria ia pedir.
 
- Ah, relaxa, se eu quiser eu pe-
 
- EU ODEIO MUITO VOzCÊ... SEU PASARO DO CARALHO, EU QUERO QUE VOzCÊ MORRA. - Grito para Berdly enquanto tiro a camisa em cima da mesa de bilhar, essa passaro vai ver só. As pessoas estão gritando em volta de mim, tem luzes piscando... sei lá o que ta rolando.
 
- AAAAH É? ISSO, É POR QUE VOCÊ É UM PÉ RAPADO E NÃO ENTENDE QUE EU ZOU SSSSSSUPERIR... SUPERIO... SUPERIOR. - Ele arranca a própria gravata e tenta subir na mesa, ele perde o equilibro e cai sentado, ele tenta de novo e então sobe.
 
Ele me soca e eu caio pra trás, tropeço e despenco da mesa de bilhar, algumas pessoas me aqjudam a me levantar e então me entregam um Blue Lagoon, viro numa golada só.
 
- EU VOU MATAR VOCÊ - Grito e então materializo minha faca, começo a subir na mesa. - AAAAAAAAAAA MORR-
 
- Foi mal Berdly... Eu juro, eu não zsie o que deau em mim. - Viro duas caipirinhas seguidas e então abraço Berdly que tambem estava bebendo. - Cara, a gente se conhece desde a a escola... Não tem por que brigar assim... Foi mal mano.
 
- DESCULPA MANO... EU NÃO SEI O POR QUE EU FALO ESSAS COISAS TABMEM... É SÓ QUE.... SÓ VEM ISSO NA MINHNA CABEÇA E... EU SEI LÁ, EU SEMPRE MAE SITNO TÃO PERDIDO... - Ele grita, eu não entendo muita coisa, mas eu sei que foi bonito, nós dois começamnos a chorar...
 
- Foi mal cara... Foi ma-
 
- SUSIE... SUS... SUA... SUA MALDIGTA... EU TE ODEIO, POR QUE VOCÊ É LINAM,SNNNNNNJ - A Susie e a Noelle estão olhando engraçado pra mim. - NÃO OLHAEM PRA MEIM AASS-
 
Alguem está me segurando... Eu sinto o cheiro, é o mesmo perfume que a Susie usa no trabalho...
 
- Susie... Desculpa... Eu não ddevia ter me afastado de você naquela época... Eu me pergunto... Se eu não tivesse sido covarde... Será que seria eu? Eu... Eu devia ter dito antes que eu... -
 
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A ressaca me obriga a acordar...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Vida Adulta e CompromissosOnde histórias criam vida. Descubra agora