Investigação e Heleanor

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Qual o meu nome? Onde estou? Eu vejo sob meus pés uma pilha de corpos humanos e poeira, sim, é verdade... O extermínio de toda a vida nesse mundo, o extermínio de todo o sofrimento gerado por essas infinitas linhas do tempo criadas apenas pelo prazer de alguém maior... Se for assim... Então é melhor que eu mesmo acabe com tudo... Eu só queria me lembrar... Quem eu sou?
 
Acordo com aquela mesma sensação estranha e AI DROGA.... Tentei levantar mas desisti, mas que puta dor no corpo.
 
O que eu estava esperando dormindo no sofá? Não era possível ter outro resultado que não fosse um puta torcicolo e dor no corpo todo, acordei mais quebrado do que dormi e meu quadril está doendo por causa da queda ontem, pelo menos não estou mais com aquela ressaca de ontem, então pelo menos a dor de cabeça passou.
 
Abro os olhos e viro pra televisão que já está ligada a essa hora, na poltrona da mamãe está Frisk, sentadinha e tentando virar o pescoço pra ver o desenho que passa, logo em seguida a senhora minha mãe chega com um pratinho com torradas e um copo de leite achocolatado. Isso me faz pensar, Azzy e eu nunca pudemos nem pensar em sentar e comer nessa poltrona, mas agora tem uma criança privilegiada na casa... Enfim a hipocrisia.
 
-Só cuidado pra não, ta bom Frisk? - Ela faz um carinho na cabeça da menina e então volta pra cozinha.
 
Levanto devagar, tentando estalar o pescoço, mas desisto depois de sentir a dor intensa do torcicolo, vou só aceitar o fato de durante hoje vou ter que me virar igual ao Batman nos filmes antigos. Vou pro banheiro, pra fazer o mesmo velho ritual de sempre, escovar os dentes, lavar o rosto e todo o resto que eu precisar, incluindo me vestir pro trabalho, voltando pra cozinha vejo Asriel, Chara e mamãe sentados na mesa, puxo uma cadeira pra mim e me sento também.
 
- Bom dia. - Azzy diz alegremente.
 
- Dia... - Bocejo enquanto puxo o pacote de pão de forma, ao que parece a torta de ontem acabou e eu nem mesmo provei. - Cara... Trabalhar é uma merda...
 
- Você é meio deprimente né? - Chara diz enquanto passa geléia em uma torrada.
 
- O que? Claro que não, eu sou a personificação do alto astral, eu só não gosto de trabalhar. -  Mordo meu pão, puro mesmo.
 
- Quer a gente espere você chegar pra se despedir? - Azzy pergunta e então dá um gole em sua xicara de chá.
 
- O que? Eu não, credo, vão me obrigar a ser meloso, quando eu chegar quero ter o quarto todo pra mim de novo. - Azzy ri e então toma outro gole.
 
- Relaxa, não vai nem sentir falta, estamos pensando em vir morar em Hometown em breve.  - Chara comenta, mas acho que foi mais pro marido dela do que pra mim.
 
- Ah é, eu tinha esquecido disso, faz tempo que a imobiliaria não entra em contato. - Asriel responde e então se volta pra mim. - Vai ser que nem antigamente, vamos poder nos juntar sempre nos fins de semana e fazer coisas de irmãos.
 
- ... Rico. - Uau, agora ele estará ao vivo pras pessoas verem a diferença entre o irmão médico e bem sucedido e o fracassado que mora com a mãe. - Pelo menos você vai parar de me chamar pra ir conhecer sua faculdade.
 
- Quem disse isso? Vai ser mais fácil ainda pra eu te levar até lá de carro. - Oh, que bom pra mim...
 
- Bom... Eu vou indo, não quero me atrasar. - Levanto assim que termino de comer.
 
- Deixa que eu te levo então. - Azzy se levanta e dá um beijo em Chara. - Vamos?
 
- Okay, né? - Bom, vou economizar a passagem da ida... Então, por que não?
 
O carro de Azzy era um desses carros elétricos super modernos que só faltam declarar imposto de renda pra serem completos, mas é claro que eu não tenho inveja, afinal de contas eu sou muito funcional só no velho estilo de pegar ônibus como um assalariado normal.
 
No meio do caminho eu peço pra ele parar na loja do Sans, quero comprar um refrigerante eu mesmo hoje, depois de ontem eu sinto que o clima entre a Noelle, Susie e eu está mais estranho que o normal, então eu duvído um pouco que ela vá me trazer alguma coisa hoje, fora que eu também sinto que estive mal acostumado por ela.
 
- Tá, eu vou ficar esperando no carro então. - Ele diz assim que encosta o carro em frente a loja.
 
- Okay, é rapidão. Já volto.
 
Desço do carro e entro na loja, eu vou direto na geladeira e pego uma lata de refrigerante de Cola e aí sim eu passeio um pouco pela loja, vou na parte de jornais e revistas, folheio um pouco uma HQ e então pego a edição do dia da versão impressa do jornal onde trabalho... A Susie não vai ficar nada feliz com isso... Vou até o balcão pra pagar tanto o jornal quanto o refrigerante.
 
- Eae pivete, indo trampar? - Sans me pergunta enquanto passa o que peguei na registradora.
 
- Infelizmente...
 
- E seus sonhos... Espero que nada muito sombrio. - Os olhos de Sans pareceram se tornar profundos e muito mais escuros, durou menos de um segundo, mas durante esse período foi como se o ambiente inteiro se tornasse frio. - Há, to te zoando, é só pra eu saber que número vou jogar no bicho.
 
- Há... Há há.... Há.... - Eu só pego minhas coisas e vou rapidinho pro carro do Azzy, mas sinto que ele ficou me encarando o tempo todo.
 
O resto do caminho foi normal, mas não consigo parar de pensar que minha mãe fofocou dos meus sonhos pro Sans, Asriel passou boa parte do tempo cantarolando músicas infantís, eu acho que ele deve ouvi-las muito mais do que gostaria, vez ou outra nós trocamos ideia sobre ele voltar a morar em Hometown, eles estão procurando uma casa em nosso bairro, assim eles não morarão tão longe da mamãe e do papai.
 
- Quando viermos eu tenho que lembrar de pedir ao papai pra deixar Chara trabalhar na floricultura, com a Frisk indo pra uma escola próxima, acho que vai ser bom se ela tiver algo pra se distrair durante o dia. - Ele diz quando paramos em um semáforo.
 
O que aconteceu com meu irmão? Ter esse tipo de conversa de adulto é tão chato, queria poder voltar ao passado onde só nos preocupavamos com o De quem era a vez de brincar com tal brinquedo, ou com quem estava trapaceando no jogo.
 
- Okay... Então é isso... - Ele diz parando o carro em frente ao meu emprego.
 
- Pois é...
 
Desço do carro, ele desce logo atrás, ficamos um tempo em silencio até que eu resolvo entrar, dou alguns passos em direção ao prédio.
 
- Cara, não vai se despedir não? - Ele pergunta, paro, viro para trás.
 
- Tchau? - Volto a caminhar pra dentro.
 
- ASSIM NÃO CARAMBA, VOLTA AQUI. - Dou risada e então volto.
 
Nós nos abraçamos, dou uns tapas nas costas do meu irmão e então nos afastamos.
 
- Cara, você é um mala mesmo, se cuida heim? Pelo menos até eu voltar pra ficar de olho em você.
 
- Desapega, já sou grande, não preciso de babá. - Fazemos um toque de mãos e então ele entra no carro e buzina antes de ir embora.
 
Observo enquanto ele vira a esquina, depois disso eu realmente entro no prédio, era minha intenção, mas... AH, Seu Spike, depois de perder ali pelo menos uns dez ou quinze minutos enquanto confirmo minha identidade e espero ele encontrar o meu crachá na parede, vejo outros funcionários apenas passando direto, afinal de contas, eu sou o único que esse véio caduco não lembra, logo, eu sou o único cujo o crachá já não está no balcão pra eu só pegar e subir.
 
Assim que finalmente consigo ENTRAR no prédio, eu subo pelo elevador até o andar onde trabalho, parece que Susie não chegou ainda, suspiro aliviado, cheguei cedo o suficiente pra não ver ela, obrigado pela carona Azzy.
 
Passo pelas mesas dos meus colegas, indo direto para a sala da supervisora, apenas coloco o jornal na mesa dela e então vou pra minha própria mesa, sento e ligo o computador, ah cara, é verdade, hoje é meu dia de escrever o horóscopo, preguiça de pegar a tabelinha de palavras genéricas... Vou inventar qualquer coisa ambígua mesmo, não é como se o jornal realmente se importasse com essa parte.
 
 Demora um pouco até Susie chegar, mesmo quando ela chega ela ainda dá uma enrolada, toma café, passa pelas mesas vendo o que cada um faz, mas hoje ela simplesmente pulou minha mesa, suspeito... Ela vai pra sala dela depois de um tempo, não demora nem três segundos até todo o escritório ouvir.
 
- MAS QUE PORRA É ESSA? PUTA MERDA, COMO NÃO FALARAM NADA DISSO COM A GENTE? - Susie sai de dentro da sala dela com o jornal na mão. - KYLE, LIGA COM O PESSOAL DO IMPRESSO, AGORA.
 
Kyle é o cara que senta atrás de mim, ele rápidamente obedece e então entrega o fone pra Susie que bateu o pé até lá pra falar com o pessoal do setor do jornal impresso, ela estava completamente P da vida, viro minha cadeira pra olhar pra trás e ver o que ela vai falar, não só eu, mas todo mundo se virou curioso, esperando, quando o outro lado atende, ela já se prepara para esbravejar, mas então ela respira e se contem.
 
- COMO vocês não nos avisaram que ontem aconteceu um homicídio? - Os meus colegas se entreolham e sussurram entre si. - HÁ, manda ele ir a merda, essas coisas importantes deviam ser mandadas pra gente também. - Ela bufa e então desliga. - O QUE ESTÃO FAZENDO PARADOS? VOLTEM AO TRABALHO.
 
Vejo todos voltando aos seus afazeres, então eu me viro também, mas uma força além de minha vontade, uma força alta e roxa vira minha cadeira de volta pra ela.
 
- Você não Dreemurr, você vem comigo até o local do crime. - Ela diz de forma tão doce quanto uma garrafa de vinagre.
 
- Por que eu?
 
- Só levanta a porra da tua bunda dessa cadeira e vamos. - Bom, pelo menos ela voltou ao normal, então eu acho que está tudo bem.
 
Nós descemos juntos e vamos em seu carro, ela dirige sem falar nada e a única coisa que quebra o silêncio é o metal pesado que está sendo reproduzido no aparelho de som do carro, em algúm momento ela abaixa o volúme e resolve falar alguma coisa.
 
- Você lembra de algo do dia do bar? - Ela pergunta baixo... Eu sabia... Eu realmente fiz ou disse algo que não devia.
 
- Bem pouco. - Respondo olhando ela pelo reflexo da janela.
 
- Okay, eu imaginava. Estamos chegando. - Ela então aumenta o som novamente.
 
Eu conheço a área, estamos no meu bairro de novo, mas pegamos uma rua que eu não pego pra ir trabalhar, deve ser por isso que eu não sabia que alguém morreu ontem, Susie dirige até o velho bunker que fica bem ao sul de onde moro, é um lugar onde crianças as vezes vão pra explorar, mas os adolescentes e jovens adultos gostam de ir a noite pra beber e se drogarem, então é uma parte que muita gente evita.
 
- Claro, tinha que ser por aqui né... - Comento, apesar disso, assassinatos e suicídios são extremamente raros em Hometown, salvo poucas exceções que ocorrem em grandes intervalos.
 
- Já veio aqui? - Ela pergunta e então estaciona próximo a faixa da policia que separa a área do crime dos curiosos que podem querer ver o que está acontecendo.
 
- Não... - Minto antes de descermos do carro. Susie não diz mais nada e eu não olho pra ela pra ver como ela reagiu a isso. Ela apenas me entrega uma câmera digital pequena o suficente pra caber no bolso.
 
Nós caminhamos até onde os policiais estão, ali o único que eu conheço é o Napstablook, ele conversa com seus colegas e então se dirige até uma barraca que armaram dentro do cerco, Susie toma a frente já tirando a credencial de sua bolsa e colocando no pescoço.
 
- Hey, nós viemos do Home Diary, se pudermos falar com alguns policiais, tirar umas fotos, entrevistar os curiosos e testemunhas, seríamos muito agradecidos. - Susie sendo educada com alguém é de dar medo, os policiais olham pra gente, um deles que parece ter uma patente maior dentro daquele grupo olha a credencial.
 
- Vocês já não vieram aqui ontem? Seu jornal deve estar caído mesmo, né? - Quando ele fala isso eu consigo ouvir Susie respirando fundo.
 
- É que alguns detalhes ficaram faltando, queriamos tirar fotos melhores também, então, poderia pelo menos chamar alguém com cargo maior? - O policial olha pros colegas dele e então vai em direção a barraca. - Pelo menos parece que não vou precisar deformar ninguém aqui, por que esses guardinhas são sempre tão arrogantes?
 
Dou de ombros.
 
Não demora muito e um segundo rosto familiar sai da barraca, uma das amigas dos meus pais, do meu pai principalmente, quando ele ainda era prefeito parece que ele ajudou ela a se tornar policial e subir dentro da instituição, quando eu estava no ensino médio ela começou a sair com uma das minhas professoras, e como minha mãe é diretora da escola desde que me lembro, ela sempre era convidada a jantar em casa.
 
- Hey, é o Asgore Junior Número Dois e a Mocinha que Comia Giz, fala aí, que cês querem? - Ela se aproximava da faixa.
 
- A gente quer entrar pra investigar pro jornal. - Susie diz mostrando a credencial mais uma vez.
 
- Ah é, cês tão com a imprensa né? Okay, vou deixar cês entrarem só por que o moleque do Asgore tá aqui. - Oh, é por isso que ela me trouxe junto, pra comprar a tia Undyne com a minha presença. Ela levanta a faixa da policia o suficiente pra gente conseguir passar. - Entra ae.
 
Susie e eu entramos e então começamos a seguir a Capitã, ela nos guia até um punhado de poeira que foi protegida por uma lona para que o vento não levasse embora ou então não molhasse caso chovesse, sem sinal de objetos pessoais ou até de roupas. Eu só olho para aquilo, eu não sei bem como me sinto, é só um vazio se abrindo, medo, medo de ser alguém que conheço.
 
Humanos tem seu corpo constituído principalmente de água, quando morremos nossos corpos permanecem, podemos ser reconhecidos, podemos ser velados por nossas famílias na maioria dos casos, mas monstros não tem esse privilégio em uma taxa muito maior de casos, quando um monstro morre de causas naturais é fácil saber o que aconteceu, mas quando eles são assassinados a céu aberto, muitas coisas podem acontecer, eles são feitos de magia, quando morrem viram poeira e ela muitas vezes se perde, na maioria dos casos demoram-se dias, meses ou até mesmo acontece de nunca descobrirem quem foi a vítima ou como morreu, principalmente quando esses monstros não tem mais familiares presentes pra deporem ou notarem o sumiço.
 
Respiro fundo e então continuo seguindo Undyne e Susie pra barraca onde foram. Tem uma mesa bem no centro da barraca, em cima da mesa há um mapa do local marcado com caneta e circulando uma área em torno do bunker, provavelmente é um esquema de como iriam fazer busca.
 
- Parece que estão dando duro. - Digo assim que vejo o mapa.
 
- Sim, estamos tentando achar pistas de quem pode ser o assassino ou a vítima, mas até agora não achamos nada. - Undyne se senta e coloca os pés na mesa. - E sendo bem sincera, acho que nem vamos encontrar.
 
- Caramba, que que droga, - Digo enquanto olho para o mapa.
 
- Se quiser nossa ajuda, a gente vai andar por aí, se acharmos algo a gente te avisa na hora. - Susie começa a sair da barraca e eu começo a ir atrás dela.
 
- Hey Kris, se qualquer hora quiser mudar de emprego, é só avisar a tia que eu te ajudo a entrar na polícia. - Sabe, eu me pergunto por que todo mundo está sempre tão preocupado com meu futuro.
 
- Ah... hã... Okay, valeu. - Saio da barraca.
 
Eu acho que estou bem trabalhando onde estou agora, sei lá, eu me sinto confortável apesar de todas as irritações, por enquanto não tenho motivo pra buscar nada novo. Sigo Susie e tiro fotos das coisas para as quais ela aponta, a pilha de poeira principalmente, já que é a única evidência mais clara no local, também marcaram várias pegadas na grama que podem ser de qualquer pessoa, mas já que está tudo marcado eu fui tirando fotos também.
 
Nós falamos com alguns populares, mas é o de sempre, ninguém sabe de nada, ouviu ou viu nada, desse jeito fica difícil pra gente escrever qualquer coisa que aqueles caras do jornal impresso já não tenha escrito, apesar que eu nem ligo muito, por mim eu só copiava o texto inteiro deles e jogava no site.
 
Nós ficamos lá durante a manhã inteira sem nada mudar, ninguém encontrou nada, as buscas policiais ainda estão avançando mas tem muito mato pra eles procurarem, então acabamos ficando até próximo da hora de almoço procurando junto e esperando que o assassino caíssem em nossos colos.
 
- Alô? Oi amor, tá tudo bem, estou voltando pro escritório me espera aí. Okay, até mais. - Susie diz  assim que atende seu celular, aparentemente Noelle estava ligando, deve ter levado o almoço mas não tem ninguém lá. Ela desliga o celular e então se vira pra mim. - Eu vou voltar pro escritório agora, tenta ver se algo acontece aqui, se nada mudar nas próximas horas só desencana.
 
- Tá... Tanto faz.
 
- E vê se não faz nenhuma merda, senão eu te esfolo e te jogo na rua. - Ela suspira e então começa a caminhar pro carro dela. - Noelle deixou um refrigerante na sua mesa, não esquece de tomar quando voltar ao escritório.
 
E assim ela se foi de volta pro centro.
 
Eu ando mais um pouco pela cena do crime, mas sem a Susie aqui eu meio que não sei muito bem o que fazer, a jornalista aqui é ela, eu sou o cara que contrataram pra... Eu não sei bem qual a minha função, eu acho que sou meio que um quebra galho? O café com leite do escritório que eles põe pra fazer de tudo um pouco? De qualquer forma eu não sou um repórter de verdade... Bem, eu estou com fome, já que eu estou perto de casa mesmo, eu acho que vou ir almoçar... Vai ser vergonhoso chegar lá e ver o Asriel depois de já ter me despedido dele... Dane-se.
 
Demoro uns dez minutos caminhando pra chegar em casa, mas é mais por andar devagar do que pela distancia, eu moro realmente muito perto da cena do crime. Andar de terno nesse calor é uma droga, eu devia ter deixado o paletó no escritório, vou ouvir música pra tentar pelo menos me distrair, paro um pouco e pego o celular, coloco meus fones e deixo tocando Billie Jean e volto a caminhar.
 
- Kris... Hey , Kris. - Ouço alguém me chamar, abafado pela música, não consigo reconhecer a voz até tirar um dos lados do fone. - Vem cá. - Bratty chamava de trás de uma moita, já proximo de casa, ela não está me stalkeando não né?
 
- Oi, posso ajudar? - Pergunto me aproximando com cautela, até onde sei ela pode estar armada, acabei de sair de uma cena de crime, não duvido de mais nada.
 
- Seu irmão ainda não foi embora né? - Ela pergunta olhando em direção a minha casa, da distancia em que estavamos já dava pra ver claramente o carro de Asriel parado próximo ao carro da minha mãe.
 
- Hã... Sim? Por? - Eu sei o porque.
 
- Ah, você sabe... Eu só queria poder dizer oi pra ele, afinal de contas eu sou quase sua cunhada.
 
- Bratty, meu irmão é casado, eu JÁ TENHO uma cunhada. - Ela coloca a mão no peito e faz cara de ofendida.
 
- Que isso Kris? Acha que sou o que? Talarica? Não, eu só vou falar oi, mas se por ventura ele resolver largar a esposinha sem graça dele e ficar comigo, então eu não iria ser contra. - Okay, eu só vou ignorar e ir pra casa. - Hey, eu ainda estou falando com você.
 
- Sem tempo irmão. - Aceno enquanto vou pra casa.
 
Entro, Frisk está deitada com a cabeça no colo de Chara que afaga a cabeça dela, pela cara dela parece que chorou bastante recentemente, Azzy estava sentado no outro lado do sofá com o kit de primeiros socorros ao seu lado, em sua mão ele segurava um algodão usando uma pinça comprida e limpava uma ferida no joelho da menina.
 
- Ué, chegou cedo. - Azzy diz quando me percebe entrando.
 
- Ah é... A Susie me mando averiguar uma matéria aqui no bairro, então eu resolvi almoçar em casa... O que aconteceu aí? - Aponto para o joelho de Frisk.
 
- Ela estava correndo lá fora, tropeçou e ralou o joelho. - Azzy diz ainda limpando o machucado.
 
- Liga o nintendo, deve ter algum jogo que ela consiga brincar, aquele do Yoshi de lã é bonitinho, talvez ela goste. - Aponto pro Switch e então vou pra cozinha.
 
- Oi filho, está quase pronto, só esperar um pouquinho, está com tempo? - Mamãe pergunta.
 
- Estou, tenho coisas pra fazer perto de casa hoje, então não estou muito preocupado com a hora.
 
- Ufa, que bom que vamos ter você aqui hoje.
 
Ela sorri e então volta a se concentrar no almoço, eu subo pro meu quarto e abro uma das minhas gavetas, começo a revirar ela até encontrar um par de chifrinhos falsos, desses de fantasia, eu lembro de usar isso o tempo todo quando era criança, queria ser igual a Asriel e meus pais, mas com o tempo fui desencanando.
 
Volto pra sala, onde Azzy já havia terminado de limpar a ferida de Frisk, ela estava sentada vendo desenho, acho que a idéia do nintendo não rolou, me ajoelho na frente dela com o chifrinho na mão.
 
- Hey Frisk, o tio vai te dar isso aqui. - Coloco os chifrinhos na cabeça dela. - Agora você está igualzinha ao seu pai.
 
- Colocou torto. - Chara arruma pra ficar certo na cabeça da criança.
 
- Faz muito tempo que não vejo isso. - Azzy fala. - Você me seguia o tempo todo com esse negócio... Era um menino tão fofinho e alegre... Como se tornou tão chato e pessimista?
 
- E eu que vou saber?
 
Nós almoçamos uma lasanha, Asriel e Chara tiveram que ficar brigando com Frisk pra que ela comesse pelo menos um pouco já que a menina só queria saber de tentar voltar pra sala ver televisão, depois do almoço eu ainda assisti um pouco, me despedi de todo mundo de novo e então saí pra caminhar tudo de volta até o bunker.
 
A primeira pessoa que vejo quando volto é Undyne se espreguiçando do lado de fora da barraca, eu me aproximo e então me sento no chão mesmo, acho que eu vou só enrolar e então voltar pro escritório, quero ficar no meu canto em baixo do ar condicionado.
 
Apenas continuo sentado observando durante algumas horas, as vezes eu entro na barraca quando o sol está quente demais pra eu suportar, mas na maior parte do tempo eu só estou sentado do lado de fora vendo a correria dos policiais, até que em determinado momento todos eles se juntam na barraca e eu os sigo pra ver o que está acontecendo.
 
- Capitã, olha, achamos isso. - O mesmo policial que falou com a gente primeiro mostrava animado um pedaço de pano dentro de um daqueles plásticos de policial em que colocam evidencias.
 
- Onde acharam? - Undyne pergunta pegando o plástico com o pano na mão  e então observando. - Vamos ver se algum dos populares lá fora reconhece isso.
 
Levanto a mão, é como eu temia, eu acho que reconheço isso... Por que isso teve que acontecer justo quando Asriel está aqui? Por que tinha que ser justo essa pessoa?
 
- Kris? - Undyne se aproxima de mim e me entrega o pano, agora eu tenho certeza.
 
- É do Burgerpants, eu não sei o nome de verdade dele mas ele é um dos amigos do meu irmão... Ele trabalhava como um dos mascostes fantasiados perto da minha casa.
 
- Hum... Eu acho que sei onde é. - Ela se aproxima de um dos policiais e ele chama mais uns dois e então saem de lá, provavelmente vão ir até onde o Burgerpants trabalhava pra poderem fazer perguntas. - Alguém achou mais alguma coisa?
 
- Nós achamos alguns fios de cabelo que pareciam ser de uma mesma pessoa, já mandamos pra análise. - Napstablook comenta baixinho do cantinho da barraca.
 
- Valeu Blook - Undyne agradece. - Bom, continuem as buscas. Apesar de que eu acho que não vamos ter mais nenhum milágre por hoje.
 
Me disseram que a análise provavelmente só vai estar pronta amanhã e com sorte o dono vai ter antecedente criminal pra sabermos de quem são os cabelos, caso contrário, pelo menos saberemos de é de monstro ou de humano. Eu só tiro fotos do pano e então vou em direção ao ponto de ônibus pra poder voltar ao escritório com as novidades.
 
Levo a camera direto pra sala de Susie e coloco sobre a mesa, ela então para o que está fazendo pra pegar e olhar a galeria do objeto, ela passa um tempo olhando tentando entender o que está vendo e então pergunta:
 
- Certo, e isso é?
 
- Um pano, provavelmente parte das roupas da vítima.  - Me sento em uma das cadeiras em frente a sua mesa.
 
- Certo, agora volte pra sua mesa e volte a escrever o horóscopo. - Ela manda, então eu levanto e começo a ir embora da sala. - Valeu, pelo trabalho duro.
 
- A postos chefe. - Eu não consigo conter um pequeno sorriso que escondo com a mão, me espreguiço e volto pra minha mesa.
 
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- Que bom que conseguiu chegar a tempo de ver nossa partida. - Azzy me diz assim que me vê subindo a rua pra casa, Chara e Frisk já estão no carro, elas acenam pra mim pela janela.
 
- Ah... é... - Eu não esperava que Azzy ainda estivesse aqui... Eu preferia que ele já tivesse ido, não consigo olhar pra ele. - Hey... Azzy, você chegou a ver o Burgerpants?
 
- Vi, Eu, ele e o Blue Ears saímos juntos quando eu cheguei, por que? - Ele pergunta claramente confuso.
 
- Nada...
 
- Está tudo bem?
 
- Ah claro... É só por que você vai embora, então eu vou sentir sua falta. - Minto.
 
- A gente vai voltar em alguns meses. - Chara diz da janela. - Parem de ser dramáticos.
 
- Ah... é... é verdade.- Forço um riso, Azzy coloca a mão no meu ombro e então vai em direção ao carro.
 
- Nos vemos por aí irmão... Se cuida. - Ele diz antes de entrar pelo lado do motorista.
 
Eu aceno sem dizer nada... Eu não sei bem o que eu deveria ter feito, será que eu deveria ter contado pra ele?
 
Eu preciso de uma bebida...
 
Tomo banho, troco de roupas pra algo mais casual, eu acho que preto não combina muito comigo, mas não acho que tenha cor mais adequada... Uma roupa de manga comprida completamente preta deve bastar, vou ir pro ponto de ônibus e passo meu vale transporte pra ir pro centro.
 
Ao entrar no bar do Grillby ele está vazio, sento em uma das mesas e uma garçonete diferente da do outro dia me atende, ela parece ter a minha idade mais ou menos, ela tinha uma pele alaranjada, quatro braços e cabelos flamejantes, seu corpo era esbelto e alto, acho que a altura também deve ser a mesma que a minha... Alto pro padrão humano eu quero dizer.
 
Eu escolho uma cerveja, abro minha carteira pra ver quanto eu tenho e... Oh, é verdade, eu sou quebrado, corro atrás da garçonete pra cancelar meu pedido.
 
- Olha, foi mal, eu acho que não vou querer nada não... er... - Eu queria chamar ela pelo nome, mas não faço ideia de como se chama.
 
- Heleanor. - Ela responde e então ri um pouco. - Eu sei quem você é... Vi você outro dia aqui.
 
- Ah... é... Viu? - Coro um pouco, oh droga, tomara que não tenha sido nada vergonhoso.
 
- Foi só um pouco, eu vi quando você estava em cima da mesa de bilhar, mas depois eu fui embora. - Oh, não é tão ruim quanto eu penso então. -Você é engraçado.
 
-Ah sou? - Rio um pouco junto com ela. - Bem... Foi mal o incômodo...
 
- Eu saio daqui duas horas... Se quiser beber por minha conta até lá... Talvez... A gente poderia conversar um pouco? - Ela pergunta, muito gentil, mas não sei se devo.
 
- Eu não quero ser um incômodo.
 
- Que incomodo? Hoje é segunda, provavelmente você vai ser o único cliente. - Apesar de eu não estar comprando nada. - Vem, vamos sentar ali, se aparecer mais alguém então é só eu ir atender.
 
Nós nos sentamos juntos em uma mesa, assim como ela disse, ninguém mais entrou no bar, nós conversamos sobre nossos trabalhos, descubro que ela é filha do dono  e que ela só trabalha lá por que não conseguiu decidir o que faria na faculdade, então trancou o que já estava fazendo e resolveu ajudar o pai, como durante a semana praticamente ninguem vai ao bar, ela acaba ficando uma boa parte do dia "trabalhando" sozinha.
 
Nós rimos muito, ela é muito engraçada e temos muito em comum, a irmã mais velha dela inclusive estava na mesma turma de Azzy no ensino médio, mas em determinado momento a conversa começa a ir pra um lado mais sensível:
 
- E namorada, você tem? - Ela pergunta dando um gole na caneca de chopp dela.
 
- Há, até parece. - Dou um gole também.
 
- Ué, não tem nem alguém que goste?
 
- Por que? Quer se candidatar? - Ela cora um pouco por causa de bebida e então começa a rir.
 
-  Cara, você é engraçado. - Ela ainda ri um pouco, eu acompanho, mas então ela para. - Mas sério, ninguém?
 
- Bem, acho que não, se eu tinha então eu já perd -
 
-A que se foda. - Ela se apoia na mesa, me pega pela gola e então me beija.
 
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Ela abre a porta do apartamento dela tateando a porta logo atrás de si, não há tempo pra parar e olhar onde está a fechadura, não enquanto nos beijamos enfurecidamente, andando pelos comodos sem termos visão completa as vezes tropeçamos e mesmo antes de chegarmos ao quarto ela já havia tirado minha camiseta, a jogo na cama e fico por cima dela, a beijando enquanto minhas mãos deslizam por dentro de sua camisa.
 
Seu corpo é quente, mais do que o normal, é atraente como uma fonte termal no inverno, porque eu estava reclamando de calor mesmo? Não importa, eu interrompo o beijo e começo a desabotoar a camisa dela e então ela por conta própria retira o sutiã, ela corava enquanto eu admirava seus seios expostos, com um dos seus pares de braços ela me puxou para mais um beijo enquanto eu apalpava seus seios e acariciava seus mamilos, o outro par de braços ela desliza nas minhas costas até chegar na cintura e então "escorregar" pra dentro da minha calça.
 
Paramos de beijar outra vez, ela fica por cima e então abaixa minha calça completamente, ela lentamente começa a ir pra fora da cama, até que ela consiga finalmente me chupar, ela segue nesse embalo enquanto abaixa a própria saia e calcinha, ela então sobe na cama novamente e iniciamos um meia nove, lambo e chupo o grelo dela, parando somente quando extase é grande demais pra eu me concentrar, mas voltando a minha missão logo em seguida, ficamos nessa até que tanto eu quanto ela já estamos em um ponto muito alto de excitação. Ela então pega um preservativo em uma das gavetas da mesa de cabeceira, com cuidado coloca em mim e se vira pra ficarmos de frente um para o outro e então senta em cima de mim e começa a cavalgar comigo dentro dela, muitas vezes passando suas mãos em meu peito ou então se inclinando pra que possa me beijar ou então chupar e morder meu pescoço, dói, mas é bom, nós mudamos de posição, ela praticamente me dá uma chave de pernas e arranha minhas costas quando estou por cima dela.
 
Eu finalmente gozo, mas ela não se dá por satisfeita, mais uma vez voltamos para o meia nove, ela retira a camisinha e chupa até que não tenha nem sequer vestígio de semen, como eu acabei de ejacular eu ainda estou sensível e a cada lambida dela é como se um pequeno choque de prazer passasse por todo o meu corpo, e eu tento passar isso para ela enquanto eu chupo minha parceira, depois de vários minutos me esforçando ela finalmente tem um orgasmo.
 
Nós deitamos lado a lado, respirando fundo, completamente cansados, eu particularmente estou desidratado de tanto que suei com o calor do corpo de Heleanor.
 
- Então... Você era virgem. - Ela comenta ainda ofegante.
 
- Deu pra perceber? - Ela ri e então solta um "uhum". - Ah, foi mal... Mas... Você gostou?
 
- Bem, você com certeza se esforçou. - Ela então riu e se virou pra mim, passando a mão nos meus cabelos. - Vamos repetir isso qualquer dia, okay?

- Ah, okay, claro. - Digo tentando tomar folego. - Bem, é melhor eu... Eu ir agora...
 
- Okay. - Ela ri novamente. - Quando quiser repetir, então é só aparecer no bar, tenho me sentido tão sozinha ultimamente. - Ela diz fazendo charme.
 
Eu me visto e então tropeço ao acenar pra ela andando de costas pra fora do quarto, ela ri novamente, me levanto rápido e saio do apartamento dela... Bom, eu tentei me manter fora dos bares, mas o destino quer me por numa mesa de boteco a qualquer custo, eu que não vou contrariar... Dou risada por esse pensamento enquanto pego o elevador pra sair do prédio... Tadinho do Burgerpants... Tinha até esquecido...
 
 
 
 

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