Passado e Feridas

20 1 0
                                    

 No fim das contas a tal análise demorou cerca de três dias pra ser terminada, mandaram as amostras para outra cidade e tivemos que ficar esperando, durante esses três dias constantemente eu ia importunar a tia Undyne pra ver se havia alguma novidade, as vezes eu ia por conta própria, normalmente eu não ligaria mas eu realmente quero descobrir quem matou o Burgerpants.
 
No escritório Susie tem me tratado normalmente, as vezes parece até que ela esqueceu o caso, mas sei que ela tem ligado todos os dias pra famíliares e conhecidos da vitima, bem, não havia muito o que fazer, então só esperamos. Fora do serviço a minha vida ainda continuou um tanto quanto diferente do habítual, eu voltei a ver Heleanor todos os dias desde que... Bem, desde que rolou aquilo lá, e repetimos todas as vezes que nos encontramos, mas não fazemos só isso, uma vez nós fomos ao cinema e as vezes nós comemos em fast-foods. Com um adendo que minha mãe jamais vai poder saber que quase todo dia eu tenho jantado dois cheese bacons com coca-cola.
 
Mas, voltando aos dias atuais, o resultado chegou, soube através da Susie que recebeu a ligação na sala dela e em seguida veio me avisar, eu só me levanto, calmamente e respiro profundamente antes de descer e pegar o onibus de volta pro meu bairro, chegando lá eu vou direto pro posto policial onde Undyne trabalha.
 
- HUMANO. - Ela grita assim que me ve.
 
- Sim? Eu sou humano, obrigado por notar. - Eu  digo já me sentando em frente a mesa dela.
 
- Não, oh moleque burro, o cabelo que encontramos é que é humano. - Ela diz jogando os papéis dos resultados sobre a mesa. - Infelizmente não é ninguém com antecedente, então não sabemos a identidade, mas também encontraram resquicio de poeira post-mortem preso nos fios,  fora o detalhe que apesar da cor de todos os fios ser a mesma haviam cabelos de duas pessoas diferentes.
 
- Caramba, bem, então é isso aí... - No fim das contas não consegui nada útil, mas pelo menos dá pra escrever sobre isso.- Só não diz nada pro pessoal do jornal impresso, senão minha supervisora vai surtar.
 
- Se é você que está pedindo... Mas... Tenho que fazer algumas perguntas pra você. - Ela então se senta a minha frente.
 
 
- Tudo bem, manda.
 
- O cabelo que encontramos, a cor dele bate com o seu, fora que você é um dos poucos humanos residindo na cidade e é o único em todo o bairro. - Oh, é ESSE tipo de pergunta. - Onde você estava durante o dia do homicídio?
 
- Pode me relembrar qual foi o dia do homicídio?
 
- De acordo com as análises que fizemos no pano, somada as investigações, a vítima ainda foi vista viva até as duas da tarde de domingo.
 
- Bem, durante o fim de semana inteiro estive com meu irmão. - Ela suspira aliviada ao ouvir isso.
 
Undyne permanece em silencio, pensativa sobre o que deveria fazer, eu consigo ver claramente o conflito dentro dela sobre ser uma policial ou ser minha amiga.
 
- E quanto a sua cunhada?
 
- Eu posso afirmar que ela esteve conosco durante toda a estadia dela na cidade. - Respondo sériamente.
 
- Kris, eu mentí, sobre os cabelos não terem sido compátiveis com ninguem do banco de dados. - Ela abre uma gaveta e pega mais uma folha de papel, sem me mostrar ela lê. - Um dos DNAs são compatíveis de uma pessoa que já foi presa... Por assassinato...
 
- Quem?
 
- Chara Fox.
 
- É só o mesmo nome, pode ser uma coincidencia. - Respondo, mas então Undyne coloca essa folha sobre a mesa, assim como as outras, no canto superior tem uma foto, ela estava mais jovem, mas inconfundivelmente era a Chara.
 
- Essa é sua cunhada, não é Kris?
 
- Undyne, ela esteve com a minha família durante todo o dia do homicídio, não pode ter sido ela. - Pego a folha de papel para olhar melhor, era uma ficha, Chara foi presa 7 anos atrás por múltiplos homicídios, todas as vítimas eram seres humanos, mas tem algo que me chamou atenção, nessa ficha consta que Chara está morta. - Eu não entendo...
 
-Olha Kris... Eu acredito em você, mas... Como policial eu não posso ignorar isso, eu já pedí um mandato de busca, se um juíz aprovar então sua cunhada será presa por mais esse homicídio. Além de todos os assassínatos esporádicos e sem solução que seguem esse mesmo padrão.
 
Tento me acalmar... Deve haver algo que eu possa fazer, só não fique apavorado, aja como sempre. Nós passamos um tempo sem falar nada, ainda estou absorvendo essas informações.
 
- Certo... Kris, eu não sei se as vítimas estão limitadas a monstros, mas...  Se formos ver, apesar de serem poucos, todos os assassinatos sem solução na área eram de pessoas solitárias e com problemas de dependencia.
 
- O que está tentando insinuar?
 
- Só toma cuidado moleque.
 
- Tá tá, não é como se eu fosse precisar me preocupar, afinal de contas você nunca deixaria o filho dos seus amigos morrer, né? - Dou uma piscadinha. - Hey, tia Dyne, pode me fazer um favor?
 
- Tudo que tenho feito nos últimos dias são favores. Mas diz aí. - Antes de ela terminar a frase eu já arranquei alguns dos meus próprios fios de cabelo. - O-o que está fazendo?
 
- Pede pra compararem meu cabelo com aqueles que vocês acharam.
 
- Qual a sua ideia?
 
- Bem, são da mesma cor, e você mesma disse que eu sou único humano que mora no bairro... E NÃO diga pra ninguém o resultado, NINGUÉM alem de mim, okay?
 
- Tá... Não entendi muito bem, mas se você diz... Só não esquece que você também é suspeito, só estou fazendo vista grossa pela sua família.
 
Me levanto e então me despeço, assim que saio eu dou um suspiro antes de pegar no bolso uma carteira de cigarros, puxar um e fumar, faz tempo que não tenho sentido vontade, mas desde que comecei a me encontrar com Heleanor e a beber diáriamente praticamente não faz muita diferença, afinal, se eu já fui pro inferno então o melhor é abraçar o capeta.
 
Pego meu celular e ligo pra Susie, demora um pouco pra ela atender, o que me dá tempo pra pensar... O que eu deveria fazer agora? Sinto aquela mesma sensação de quando eu sonho, é uma sensação de liberdade, como se eu pudesse fazer absolutamente tudo... Mas está bem mais contida agora, como se algo me amarrasse em frente a um bolo que eu só pudesse sentir o cheiro... O bolo vai ser minha vingança pelo Burgerpants.
 
- Fala. - Susie atende.
 
- Tenho novidades, mas... Algumas coisas aconteceram, será que tem algum lugar onde podemos conversar em particular sobre isso? - Ela passa um bom tempo em silêncio e então responde:
 
- Me encontra no meu apê, agora a Noelle deve estar trabalhando então não vai ter ninguém lá, vou te mandar o endereço no chat.
 
Desligo a chamada e espero chegar a notificação, é um endereço no centro, Susie mora praticamente colada no escritório, não faz nem sentido ela ir todo dia de carro, mas tudo bem, volto ao ponto de ônibus pra retornar pro centro da cidade.
 
Durante a viagem eu vejo as pessoas andando pela calçada, qualquer uma dessas pessoas pode ser uma vítima ou o assassino, eu mas quem e por que? Eu tenho quase certeza de que aqueles cabelos pertencem a Chara e eu, mas por que? Qual o objetivo? Nos incriminar e se livar da culpa, ou talvez só atrasar a polícia? Minha respiração começa a acelerar e meus batimentos cardíacos acompanham, antes era só pra achar quem matou o amigo do meu irmão, agora a felicidade que vi quando ele estava brincando com a família dele está ameaçada... Não posso deixar que interfiram nisso... Eu sinto algo se partir dentro de mim... Não sei o que é... Mas é como se algo na minha alma se quebrasse com um estalo... Isso me acalma um pouco, meus pensamentos se organizam melhor, me sinto um pouco mais livre pra pensar sobre quais passos devo dar.
 
Assim que desço do ônibus chega uma mensagem no meu celular, é Heleanor "Hey gatinho, que tal dar uma passada no meu apartamento agora? Podemos fazer algumas travessuras juntos antes de acabar seu intervalo, certo?", bem... A Susie mora no centro, Heleanor também... Não dever demorar tanto se eu passar na casa dela antes de ir na Susie né? Não deve ser nada demorado eu acho... Ela podia ter específicado o que vamos fazer...
 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
 
Kris me mandou uma mensagem dizendo que vai se atrasar... Que cara irresponsável, namoral... Eu solicitaria a demissão dele se não fosse jogar todo o trabalho que eu tive no lixo, suspiro, bem, não tem o que fazer né? Eu sento no sofá e ligo a televisão, já que vou ter que esperar de qualquer forma, quero pelo menos estar confortável.
 
Bem, estou com fome, levanto e vou até a geladeira, tem um prato isolado com insulfilm, é parte da mistura que sobrou de ontem, a Noelle deve ter guardado... Bem, se ficar aí ninguém vai comer de qualquer forma, então eu o pego, fora isso eu também pego um dos gizes da caixa em cima da geladeira.
 
Volto a me sentar no sofá, tiro o plástico do prato e como rapidámente seu conteúdo, logo em seguida de sobremesa vai o Giz... Aquele infeliz realmente vai me fazer esperar, né? Pensando bem... Foi por causa de um Giz como esse que nossa amizade começou...
 
Diferente da maioria dos outros alunos, Kris nunca sentiu medo de mim, por mais que eu tentasse assusta-lo, sempre me tratou igual a todo mundo, foi por isso que naquela época eu acabei desistindo disso e só aceitei, durante muito tempo ele foi a única pessoa que eu via como um amigo, depois disso chegou a Noelle e parecia que nosso trio estava completo, por mais que as vezes ela não nos acompanhasse já que ficava muito tempo estudando com o Berdly, mas em algum momento, ele começou a se afastar, e, quando Noelle e eu começamos a namorar ele só parou de vez de falar comigo.
 
Vez ou outra eu sabia de notícias dele, afinal de contas Kris e Noelle eram vizinhos próximos, então não tinha muito o que ele pudesse fazer pra se afastar dela também, por isso mesmo que distantes, eles ainda conseguiram manter um mínimo de amizade, fora que ela é super gentil e fofa, então acho que não tem ninguém que queira realmente se afastar dela.
 
A primeira vez que realmente tive algum contato com ele depois de tanto tempo foi naquele dia... Há um ano e meio atrás...
 
"
- Ah cara... Parece que ninguém quer trabalhar em um jornal caído como o nosso. - Meu supervisor da época diz enquanto se larga na cadeira dele. - Outro assistente se demitiu...
 
- Por que não chama outro então? - Perguntei enquanto colocava na mesa as cópias de uma matéria que havia terminado de escrever recentemente, pra que ele possa ler e aprovar pra ir online.
 
- Não tem muitos candidatos, e quando eu digo isso é só uma forma de dizer. - Ele então bufou.- Pra falar a verdade, só tem um único candidato.
 
- Se tem um então só contrata de uma vez. - Me sentei em frente a mesa dele, já eram vinte pras quatro, a essa hora, desde sempre o movimento no escritório já começava a desacelerar e vários funcionários gostavam de dar uma pausa.
 
- Você está brincando né? - Ele joga uma folha de papel na mesa. - O cara é um ninguém, o único trabalho que teve na vida foi na floricultura do pai e nem lá conseguiu manter o emprego, fora que ele não tem nenhuma formação. Não vai sobreviver em um jornal tradicional como esse.
 
Pego o currículo, nome Kristopher Dreemurr, vinte e um anos, prestes a fazer vinte e dois, a foto no canto, estava bem acabado, como era uma foto formal ele teve que tirar o cabelo dos olhos então eu podia ve-los, completamente fundos e apagados, cheio de olheiras e muito mais magro do que eu me lembrava, eu sabia que ele estava mal por conta do que a Noelle me dizia que ouvia da senhora Dreemurr, mas... Eu não esperava que fosse tão mal assim.
 
- Bem, se for só pra assistente, acho que não tem problema. - Devolvo o currículo pra ele. - O máximo que ele precisa saber é fazer café direito, de resto ninguém vai se importar.
 
- Sim, mas ninguém vira assistente só por virar assistente, é só um passo pra ter um cargo mais importante depois, com esse currículo, ele nunca vai conseguir ser nada além de zelador aqui. Sei lá, é algo um pouco pessímista pra alguém tão jovem. - O supervisor tenta parecer durão mas tem um coração muito mole.
 
- Então deixa que eu me responsabilizo... Se ele fizer algo de errado então eu mesma irei demiti-lo. - Você me deve uma Dreemurr.
 
- Bom, você é bem competente, então... Acho que tudo bem, vou ligar pra casa dele antes de ir embora e pedir para que venha amanhã...
 
O dia seguinte chegou rápido, mas eu não consegui dormir muito bem, Noelle ficou muito feliz quando soube que Kris e eu trabalharíamos juntos, algo sobre "Ser como antigamente", quando eu cheguei o supervisor estava no escritório parado em frente ao elevador, até levei um susto quando a porta abriu e dei de cara com ele.
 
-O QUE DEMÔNIOS ESTÁ FAZENDO? - Gritei por instinto e em seguida saio ofegante do elevador.
 
- Ah... Eu só estou esperando o novato... Mas já que está aqui, então eu vou pra minha sala enquanto você o recebe. - Ele então só me deixa ali sozinha, suspiro pesadamente enquanto o vejo se afastar.
 
Naquele dia ele chegou mais de quarenta minutos atrasado, eu já estava bem cansada de esperar, me viro pra ir em direção a minha mesa quando ouço o elevador abrir, olho por cima do ombro e então me viro completamente, ele havia chegado, vestia um terno amarrotado e tinha uma cara talvez até mais acabada do que a que estava na foto do currículo.
 
- ESTÁ ATRASADO DREEMURR... DA PRÓXIMA VEZ EU VOU RASGAR SEU ROSTO FORA. - Grito, sem conseguir me segurar, só senti muita raiva naquele momento, mas ela foi substituída por vergonha quando notei que todos no escritório estavam olhando pra mim.
 
- Hum? Ah... Foi mal... É só que eu acordei de ressaca então perdi a noção da hora... - Ele disse sem nem se preocupar e olhar pra ver com quem estava falando, ele só mantinha os olhos no chão, as vezes olhava em volta mas sempre evitando olhar pra mim... Eu senti como se ele simplesmente quisesse continuar me evitando, como começou no ensino médio.
 
- Okay... Então, vem, vou te mostrar o que você precisa saber. - Eu o chamo e ele começa a me seguir.
 
Primeiro o levei até onde fica o carrinho de correspondencia.
 
- Aqui é o carrinho, você cuida da correspondência desse andar, se alguém precisar que um documento daqui vá pra outro lugar do prédio então também é sua responsabilidade, fora que você também precisa distribuir as tarefas de todos os funcionários desse escritório e ajudar eles com o que precisarem. - Pego um dos documentos que está no carrinho. - Vem, vou mostrar como fazer.
 
Ele me segue até a mesa de um funcionário mais velho que estava absorto na matéria que estava escrevendo.
 
- Hey Sid, chegou coisa pra você. - Eu o chamo e então entrego o papel a ele.
 
- Oh, obrigado Susie, deixe-me ver. - Ele então lê o que está escrito. - Poxa vida, vou ter que escrever uma matéria de esporte? Catapimbas. De qualquer forma obrigado por me trazer isso. - Ele então volta ao trabalho.
 
 
-Viu Dreemurr? É assim. Vamos.
 
Nós andamos até a sala de descanso, onde havia a geladeira, cafeteira e entre outras coisas do tipo, mostrei pra ele onde ficam todos os utensílios e tudo o que ele podia usar dali e o que fazer caso alguma coisa acabasse.
 
- De vez em quando passe pelas mesas oferecendo café e coisas do tipo, as vezes o pessoal esquece de fazer as pausas e ter quem os ajude com isso é bem conveniente. - Expliquei enquanto ele olhava em volta, ainda sem olhar pra mim.
 
- Opa, eae... Vim só tomar um café. - Hector diz pegando uma caneca na copa ele então serve um pouco de café e dá um gole. - Esse é o assistente novo?
 
- Ele mesmo. - Respondo.
 
- Eae, eu sou o Hector, você é? - Ele pergunta educado a Kris.
 
- Kristopher... - Ele olha em direção a Hector, mas... Não sei se fui só eu que percebi mas... Kris não olhou pro Hector em si, ele só pareceu focar na parede atrás do homem que o cumprimentava, logo em seguida voltou seu olhar pro teto.- Prazer em conhece-lo.
 
- Prazer man, qualquer coisa que precisar de ajuda no trabalho é só perguntar pra alguém, eu mesmo ajudo se precisar. - Ele então bebeu mais um gole. - Seguinte galera, vou voltar pra minha mesa agora beleza? Depois a gente se fala. "
 
 
Foi depois disso que eu percebi  o quanto o Kris tinha mudado, quando ele se tornou alguém incapaz de olhar as outras pessoas nos olhos? Será que desde a escola ele já estava se tornando alguém inseguro e por isso se afastou? Será que eu que estava magoada demais pra perceber e puxar ele de volta pro meu convívio? Esses pensamentos nunca foram embora e depois daquele dia, mas agora já é tarde demais pra ficar remoendo isso, então, eu tenho sido rígida com ele pra garantir que ele fizesse um bom trabalho e não houvesse motivos pra manda-lo ir embora, mas acho que isso só piorou nossa relação... Depois que o supervisor desapareceu e eu fui promovida parece que nos distanciamos novamente... Bem... Atualmente nossa relação se resume a um Giz como esses que eu como: Branco, Frágil e se transforma em pó quando se desgasta.
 
A campainha toca, eu me levanto e abro a porta, é o Kris.
 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
 
- Então... O que quer fazer? - Asriel me pergunta, faz poucos minutos desde que ele desligou a ligação de Kris - Vamos esperar? Vamos fugir antes que venham atras de você?
 
Frisk está em meu colo, eu a coloco no sofá e então puxo Asriel até a cozinha, ele se senta em uma das cadeiras da mesa e eu me sento junto, olho para o rosto do meu marido, ele está apenas encarando a superfície da mesa, não só descobriu que um de seus melhores amigos havia morrido, como também soube que seu irmão e esposa são os principais suspeitos desse assassinato, eu nem mesmo consigo imaginar o que está se passando pela cabeça dele nesse momento.
 
- Você sabe que não pode ter sido seu irmão, né? - Eu pergunto depois de um tempo em silencio, isso parece te-lo feito acordar de seu transe. - Pelo que vi quando tentei matar ele, aquele garoto não machuca nem uma mosca.
 
- Sei disso... Mas... Eu também não acho que tenha sido você. - Ele diz depois de um bom tempo.
 
- Hum? Como poderia saber disso? Você sabe quantas pessoas eu já m-
 
- Eu sei disso também... Mas você mudou, e... E aquelas pessoas não eram... Eles sequer mereciam ter nascido. - Asriel quase nunca demonstra raiva ou desprezo, até que ele fica bonitinho quando faz isso...
 
- O que seu irmão pretende fazer?
 
- Colocaram ele pra investigar pro jornal, ele disse que vai continuar fazendo isso e tentar descobrir uma forma de tirar as suspeita de vocês. Disse que vai tentar nos manter atualizados.
 
Suspiro e então levanto, vou até a copa e pego duas canecas, sirvo um pouco de café em cada uma delas e então entrego uma a Asriel. Em seguida me sento novamente e dou um gole.
 
- Parece que meu novo irmãozinho está dando duro no trabalho heim? Que gentil. - dou uma risadinha quando vejo o rosto de Azzy ser preenchido de ciúme.
 
- Pois é, MEU irmãozinho é de fato incrivel. - Ele diz e eu rio um pouco mais e então dou mais um gole.
 
- Bem... Acho que vou confiar nele então... Vamos esperar aqui e ver no que dá. - Dou um sorriso. - Afinal de contas se ele é seu irmão então deve ser tão incrivel quanto você.
 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
 
- Então, é isso... - Terminei de contar pra Susie tudo o que descobri mais cedo na delegacia.
 
- Então... Básicamente você e a esposa do seu irmão podem ser presos. - Susie pergunta um pouco incrédula. - Certo... Que porra heim?
 
- Pois é... E é por isso que sería muito bom se você publicasse isso. - Digo sériamente a olhando nos olhos.
 
- Espera, você quer que eu exponha você e a sua família?
 
- Básicamente, só confia em mim, okay? - Ela me encara um pouco depois de eu dizer isso. - O que foi?
 
- Nada... É só que você mudou desde que começou a trabalhar no jornal. - Susie então suspira e se levanta. - Okay, vou publicar.
 
- Ah, se possível, será que a Noelle poderia ajudar também? É que se meu plano não funcionar a gente vai precisar de uma advogada, e ela é a única que conheço então...
 
- Relaxa, a Noelle não pensaria duas vezes em te representar, você ainda é um amigo precioso pra ela. - Sorrio ao ouvir isso. - Certo... Agora, qual o seu plano?
 
- É melhor se eu não sair espalhando por aí. - Dou uma risada nervosa e então me levanto. - Bom, é melhor eu ir pra casa.
 
Nos despedimos e então eu saio do apartamento dela, em seguida do prédio e então pego um ônibus pra voltar pro meu bairro, o crime foi lá, então, acho que deve ser o lugar mais plausível de encontrar alguma pista do que fazer. Se possível, queria poder encontrar o assassíno ainda hoje.
 
Bom, suponho que ele deve estar se sentindo seguro... Quero dizer, se eu for pela ideia de que os fios de cabelo eram provas falsas, então imagino que ele não deve estar preocupado em se esconder, já que quem está no escopo da polícia sou eu... Pelo menos por enquanto ele deve se sentir livre pra fazer mais vítimas.
 
Espero anoitecer completamente e ando pelo bairro por pelo menos umas duas ou três horas, mas... Nada, pelo menos por hoje, amanhã talvez seja diferente, talvez eu esteja esquecendo de algo? Ah, é verdade, as vítimas eram solitários e dependentes, nesse caso, veja só, que maravilha, eu Kristopher Dreemurr atendo aos requisítos, mas como eu faço pra chamar a atenção dele?
 
Coloco o capuz do meu moletom e então acendo um cigarro e coloco na boca, vou andar assim nas ruas mais isoladas e ver o que acontece.
 
Mas uma hora passa e nada, depois de andar durante boa parte da noite eu me canso e me sento no meio fio, a essa hora não vai passar mais carro nenhum mesmo, então foda-se...
 
- Te peguei. - Ouço atrás de mim, tento pular pra frente e sinto uma dor gritante no meu ombro, seguida por uma sensação de algo escorrendo. - Droga, você sentiria menos dor se só deixasse eu te transformar em pó.
 
- Foi mal... Na minha agenda morrer ainda está pra daqui uns cinquenta anos. - Materializo minha faca e olho na mão dele pra ver o que me cortou, um bisturí, sério? Um médico está tentando me matar, que irônico. - Agora, vamos pras perguntas okay? Valendo 500 Doletas, Você matou o Burgerpants?
 
-Oh, parece que você já estava esperando por mim... Veio se vingar? - Bem, esse é o tipo falante, igual aos vilões dos desenhos que eu via na televisão. É só o herói perguntar que eles respondem. Ele então dispara em minha direção, não é tão veloz quanto a Chara, mas com certeza é mais rápido que eu...
 
Ele faz vários movimentos seguidos tentando me cortar, desvio da melhor forma que consigo, mas não consigo evitar completamente a maioria dos golpes, nenhum fatal, mas agora tenho pelo menos quatro ou cinco cortes pelo corpo, e tenho vários outros cortes menores na mão que segura a faca, tentei usar ela pra me defender algumas vezes, mas sempre acabava cortando a mão no bisturí dele, estou sangrando , não quero prolongar muito isso aqui, se eu não vence-lo então vou ter que fugir...
 
- Mesmo que tenha vindo atrás de mim, você não sabe lutar né? - Ele ri, ele também está usando um capuz, então não consigo ver seu rosto completamente por causa das sombras que as luzes dos postes produzem, mas o pouco que consigo enxergar é o suficiente pra eu saber que é humano... Arrumo minha postura e então estico o braço apontando pra ele, como se eu segurasse uma pistola.
 
- Se entregue, por que está matando pessoas por aí? - Eu pergunto impostando minha voz, pra demonstrar confiança, coisa que eu não tenho uma vez que estou perdendo a luta.
 
- Vocês monstros realmente se consideram pessoas? Não... Vocês são uma praga, eu estou aqui para exterminá-los, um a um, mesmo que leve minha vida toda, eu juro que vou acabar com todos vocês e transforma-los em poeira pra ser pisada. - Ele ri um pouco mais e então parte pra cima de mim, eu não consigo desviar, é rápido demais, apenas dou um passo pra trás pra ter mais tempo de erguer minha faca pra desviar seu bisturí, mais um corte na minha mão, mas eu consigo pelo menos proteger pontos vitais.
 
Já que não consigo convencê-lo então eu vou pelo menos atacar de volta, corro na direção dele com a faca pronta pra corta-lo, minha adrenalina se eleva, meu coração bate forte, e então eu sinto novamente, aquela mesma sensação do ônibus, um estalo, algo na minha alma se partiu novamente, minha mente se acalma, tenho uma sensação maior de liberdade, eu ia corta-lo e ele provavelmente ia defender, quando minha faca está prestes a atingir o bisturí dele, dou um passo pra trás e troco a faca de mão, isso me dá tempo de cortar seu ombro, da mesma forma como ele fez comigo, mas, ao perceber que seria cortado, ele também muda a tragetória de seu bisturí, ao invés de tentar se defender ele corta meu rosto e com o movimento retira meu capuz.
 
Não consigo enxergar, o corte na bochecha espirrou sangue no meu olho esquerdo e não consigo abri-lo já que está ardendo, eu só o ouço rindo.
 
- Ah, então é você, desculpa, erro meu, não quero que você morra... Não ainda, mas sério que tentou lutar comigo? - Ele passa os dedos em sua própria ferida no ombro e então lambe o sangue. - Pelo que estou vendo, você está com seu LOVE zerado, certo? Nunca matou ninguém, nem sequer saberia como fazer, certo? Não se preocupe, eles vão notar isso, então não vão te prender, a sua cunhadinha por outro lado? Ela provavelmente vai apodrecer na prisão, ou talvez seja executada. - Ele ri. - Bem, até outro dia pra gente brincar mais.
 
E então... Eu estava sozinho ali, derrotado, tudo bem... Enquanto eu não for pego pela polícia eles não tem como ver meu LOVE, e enquanto Chara ou eu estivermos livres então ele vai continuar caçando por aqui... Tudo que tenho que fazer é... Não ser preso... E formar outro plano...
 
Por agora... Eu preciso ir remendar essas feridas...
 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
 
( Mas durante a luta, não foi apenas Kris que sentiu que algo se partiu em sua alma...)
 
 

Vida Adulta e CompromissosOnde histórias criam vida. Descubra agora