- Não, não, não... NÃO!! - Eu grito, sem conseguir parar de andar de um lado ao outro na sala de casa, infelizmente pode ser que eu tenha assustado meu irmãozinho Papyrus que tentava ver desenhos enquanto eu só passava surtando na frente da televisão.
- Você está bem, irmão? - Ele me pergunta, eu paro um pouco de andar, respiro fundo e tento recuperar a minha compostura.
- Claro, claro, só continua assistindo, eu vou pro meu quarto agora, só me deixa ficar SoOssinho um pouco okay? hahahahaha. - Mal termino de falar e eu já subi as escadas e entro em meu quarto.
Os ossos que usei pra selarem a alma do Kris estão se partindo, eu esperava que algo assim nunca acontecesse, tudo bem... Tudo bem, Sans, se acalma... Foram só dois, ainda tem cinco, é improvável que ele tenha qualquer emoção tão forte a ponto de partir mais alguma, fora que está tudo bem, o que de pior pode acontecer? Ele se tornar mais livre pra fazer as coisas que sente vontade? Isso é até bom pra ele, desde que não faça nada exagerado eu não vou precisar selar ele de novo... Mas por que isso está acontecendo? Será que são as linhas do tempo colidindo?
Eu quero que a Toriel possa ter uma vida normal com os filhos dela, pelo menos em uma linha do tempo, eu faria qualquer coisa pra que isso acontecesse... Mesmo que eu tenha que isolar completamente essa linha das outras.
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Passei o resto da semana dormindo no apartamento da Heleanor... Não podia deixar minha mãe ver meus ferimentos, sei lá, a véia iria morrer se visse, fora que eu não tenho muita explicação do por que de as minhas roupas terem estragado daquela forma, então eu só joguei no lixo da casa da boa pessoa que me hospedou.
Eu li no site a notícia que Susie públicou, ela não pediu pra que eu me afastasse, mas eu não voltei ao trabalho depois da luta, é meio estranho ir trabalhar normalmente agora que todos os meus colegas sabem que eu sou suspeito de um assassinato, então eu só fiquei derretendo no sofá do apartamento durante esses últimos dias, já durante boas horas das minhas noites eu tenho saído disfarçado pra tentar atrair o verdadeiro assassino de novo, mas como pensei, ele não é tão burro, não é tão fácil disfarçar a forma de andar ou então ignorar certos "vícios" que seu corpo tem, como a forma que você movimenta seus braços por exemplo, então acho que vou ter que achar outra pessoa pra ser isca.
Tenho que aproveitar enquanto nenhum juíz liberou o mandato contra Chara ainda. Recebi também notícias de Undyne, como pensei, o DNA da outra parte dos fios de cabelo é meu, eu me pergunto se quando ele deixou aquilo para trás ele já sabia que meu LOVE era zerado, se sim, então eu só consigo imaginar que ele o fez para deixar um recado e atrasar a polícia enquanto incriminava Chara... Seja como for, eu tenho que vencê-lo na próxima luta, e tenho que ser rápido, se a Chara for presa antes de eu pegá-lo, então ele provavelmente vai mudar a área de atuação e sossegar durante um bom tempo, aí eu vou perder minha chance, tenho que agir enquanto ele se sente seguro.
- Como estão seus cortes? - Heleanor se senta ao meu lado e então se aninha no meu peito, como em um abraço, eu só recuo um pouco, com dor nas partes feridas.
- Fechando. - Respondo.
- Só você mesmo pra rolar bêbado por cima do arame. - Bem, ela me conheceu bêbado, então não foi muito difícil de ela comprar que eu faria uma idiotice dessas.
- Aliás, desculpa o incômodo de ter que ficar aqui, minha mãe queria me matar quando cheguei, então eu não tinha pra onde ir. - Eu digo passando meu braço ao redor dela em um abraço.
- Que incômodo? Eu estou é feliz, com você machucadinho assim eu posso cuidar de você, de mais de uma maneira e você nem vai conseguir me impedir.
- Heim? Será que eu deveria chamar a polícia pra prender uma aliciadora de incapazes? - Nós rimos juntos. - Mas é sério agora, você fetiche em bêbado, né?
- Claro que não, tontão. - Ela dá um tapinha no meu peito, foi como um choque pra mim, doeu foi tudo. - Ah, desculpa... Hey... A gente está saindo há alguns dias e temos nos dado bem, não quer ficar um pouco mais sério?
- Como assim mais sério?
- Quero dizer, namorar mesmo, sem ser só um negócio de sexo. - Ela se aninha um pouco mais, sinto o resto do corpo dela se aproximar do meu, aliás... O cabelo dela pega fogo mas não queima, me pergunto se ela controla isso ou se é simplesmente mágico.
- Ah, bem, ter certeza que quer namorar comigo?
- Tenho, por que? Você não quer? Ou será que é por que tem outra pessoa? - Gente quanta pergunta.
Mas... Quando ela pergunta se tem outra pessoa, minha cabeça me trouxe imediatamente a imagem de alguém, mas, é alguém que há muito tempo não está mais disponível pra mim, não tem por que eu ficar pensando nisso, então eu só respiro fundo antes de responder.
- Claro que não tem ninguém, claro que eu quero... Se estiver tudo bem pra você. - Desvio o meu olhar pra cima, um pouco envergonhado.
- Bem, cuide bem de mim então. - Ela me abraça forte.
- Eu digo o mesmo... - Ela então começa a rir. - O-o que foi?
- Ah, é que agora eu oficialmente namoro um badboy.
- Como assim?
- Fala sério Kris, em uma noite você chega todo cortado no meu apartamento, parecendo uma picanha de tanto corte, aí no dia seguinte e durante todo o resto da semana só falam de você como um suspeito de um crime.
- Ah... Então você viu...
- E tem como não ver? - Depois que Susie públicou no site, não só o jornal impresso publicou também, como outros jornais também escreveram matérias e a notícia foi parar até na televisão... Mas eu fiquei tão abalado da surra que levei, que nem cheguei a pensar que Heleanor óbviamente também veria assim como TODO MUNDO. - Mas, eu sei que você é um doce, não tem como ter matado ninguém...
Eu só me calei, afinal de contas, eu não sei como vou parar aquele cara... Será que se for preciso eu vou ter coragem de mata-lo?
Nós assistimos televisão juntos por mais um tempo, até que ela ficou com sono e resolveu ir dormir antes, olha só, é só começarmos a namorar que do nada não tem mais sexo, na real, eu nem sei do que eu estou falando, é minha primeira namorada, eu estou me baseando nos tiozões amigos do meu pai.
Deixando as brincadeiras de lado, pego meu celular pra ver as mensagens, boa parte são da minha mãe, preocupada, claro, afinal de contas o filho e a nora são o assunto do momento, e eu também não voltei mais pra casa depois do incidente, Asriel também me mandou mensagens, ele pediu pra eu fazer logo seja lá o que eu planejo fazer, mal sabe ele que eu não faço ideia do que eu estou fazendo, também me mandou voltar pra casa, tontão, como se eu fosse obedecer.
E chegou também uma mensagem de Undyne, mais alguém morreu...
Assim como eu imaginei... Enquanto Chara não estiver presa ele tem uma desculpa pra continuar matando, ela é o Bode Expiatório dele, não tem como provar que ela não estava em Hometown, mas normalmente a polícia coloca gente pra observar a casa do suspeito pra ver movimentação, pelo menos é assim que fazem nos filmes e séries, se isso realmente acontecer na vida real, então não vão poder culpar ela, já que haviam policiais observando o tempo todo.
Assim que desci do ônibus de volta ao meu bairro eu já fui direto pra parte de trás da Pizzaria, eu combinei com Undyne de me encontrar com ela ali, onde não haveria ninguém que pudesse nos encontrar, a polícia estava investigando há uns dez ou vinte metros a frente, esperei ali durante alguns minutos, mas, logo pude ouvir o som dos passos se aproximando.
- Tá com azar heim? - Ela diz e então se senta, encostada pra parede da pizzaria. - Parece que sua cunhada saiu de casa duas horas antes do assassinato.
Chara saiu? Ainda assim, não tem como ter sido ela... Eu me encontrei com o cara, eu sei que é um homem, não tem por que eu duvidar agora. Só se acalme e pense no que importa... Estranhamente, é bem mais fácil de eu me acalmar agora...
- E vocês não seguiram ela? - Perguntei direto, não pretendo extender muito a conversa, preciso pensar nos meus passos seguintes.
- Claro que não, tá achando que a gente é o que? Stalker? Mas sabe uma coisa interessante? Da casa do seu irmão até aqui, de carro dá um pouco menos de duas horas... Só aceita Kris, é ela. - Undyne diz com um tom meio de superioridade.
- Não é... Eu vou provar, de qualquer forma, não foi pra isso que vim aqui... Quem foi a vítima? - Pergunto até meio ríspido, cara, que raiva, se eu to dizendo que não é, então não é, mas eu também não posso simplesmente chegar e dizer "Ah, sabe como eu sei? Tentei esfaquear alguém e por coincidencia era o assassino".
- Ah, era o carinha de orelhas azuis que trabalhava na pizzaria aí, igual a outra vítima, aparentemente o assassíno não curte funcionário de restaurante italiano. - Blue Ears? Um dos amigos do meu irmão, mas... Ele não era viciado, não pelo que eu me lembre, ele era até que bem popular também...
- Entendi... Como identificaram esse? - Pergunto, tentando me conter.
- A pessoa que fez isso não esperava que uma senhora ia levar o cachorro pra fazer cocô na rua durante o crime, então só fugiu e deixou as roupas da vítima pra trás, a carteira no bolso da calça com a identidade. Aliás Kris, deixa eu checar uma coisa. - Ela se aproximou e então olho bem no fundo dos meus olhos. - Okay, Zero de LOVE.
- Oh, não faz isso, droga, não conta pra ninguém.
- Por que não? Se seu LOVE tá zerado então não tem como você ter matado alguém, isso te inocenta. - Ela volta a se sentar, confusa.
- Bem, só continua confiando em mim, okay Capitã? - Aponto para ela, como se estivesse armado e então abaixo o polegar pra simbolizar o tiro. - Eu vou provar que estou certo.
- É sério garoto, é melhor você não se meter em problemas, nem sei como vou encarar seus pais se deixar você numa fria.
Ela volta até onde estão os outros policiais, eu discretamente saio dali também e volto pro centro, tenho muitas coisas pra pensar agora, eu acho que já entendi... Ele está tentando isolar o Azzy, primeiro atacou o Burgerpants e plantou provas contra Chara e eu, em seguida atacou Blue Ears, ele está tentando deixar o Asriel sozinho, pelo bisturí que ele usava, sim, ele realmente poderia ser médico, igual Asriel, mas por que? O que meu irmão, que é completamente doce com todos, poderia ter feito pra gerar esse desejo de vingança?
E a próxima vítima? Poderia ser minha mãe, meu pai, minha sobrinha... Se ele está atacando as pessoas mais próximas do Azzy, então faz sentido, mas não posso proteger todos eles, não consigo ME proteger, preciso relatar essas coisas pra Undyne, preciso ligar pro Asriel...
Chego no apartamento, entro rápidamente e então me certifico de que Heleanor está de fato dormindo, em seguida eu vou até a cozinha, fecho todas as portas que levam ao quarto e então me sento no chão, próximo a geladeira, puxo um cigarro e então ligo pra Undyne primeiro.
A conversa foi breve, eu só expliquei tudo que eu pensei, com exceção de uma coisa, eu acho vou ser um dos últimos que provavelmente vai ser caçado, ele mesmo disse que "ainda não", ele não queria me matar naquela hora, ele tem algo planejado pra mim, peço pra que Undyne garanta a segurança dos meus pais, ela só concorda e diz que vai mobilizar quantos policiais puder.
Em seguida ligo pra Azzy e explico meu plano...
"Você quer que ela faça o que?" - Ele pergunta, incrédulo depois de eu terminar de falar.
- Então... Seria muito bom pro meu plano se ela se entregasse.
"Okay... Deixa eu pensar... NÃO!" - Eu entendo ele estar assim, quero dizer, eu estou básicamente pedindo pra esposa dele ir presa sem nenhuma garantia de que vou conseguir fazer dar tudo certo.
- Olha, só pergunta pra Chara, se eu puder explicar, talvez ela tope.
"Nem precisa, eu topo." - Chara responde do outro lado da chamada, ouço a voz de Asriel longe gritando algo como " DEVOLVE MEU CELULAR" E sons de respiração pesada, como se ela estivesse correndo
- Certo... Undyne provavelmente vai conseguir o mandato dela em breve, quando forem até aí não resista, eu tenho alguém que pode te representar como advogada se precisar, então não precisa se preocupar. - Digo tentando parecer calmo, e de certa forma estou, tenho que estar. - Fala pro Asriel deixar uma procuração por escrito pronta e assinada por ele, a advogada vai precisar pra poder te ver quando você for presa, eu preciso que Ele e Frisk vão para um lugar seguro depois que te levarem.
"Tudo bem." - Ela então desliga com Asriel sendo interrompido no fundo "TUDO BEM É ME-"
Suspiro, pronto pra ir dormir, ergo a cabeça pra poder me levantar sem bater em nada e me assusto com Heleanor, parada olhando perpléxa, já que eu basicamente estou basicamente sentado encolhido em um espaço entre a parede e a geladeira.
- É... Não pergunta.
- Não, eu nem quero saber. - Ela diz e então bebe um pouco de suco do copo que está segurando. - Eu vou voltar pro quarto... Vai vir?
- Vou, vamos... - Eu me levanto com um pouco de esforço por causa do pouco espaço que tinha pra "manobrar" e então vamos juntos pro quarto.
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Eu tive outro daqueles sonhos, mas... A sensação de ter algo errado, só foi... Menor, eu acho. Tanto que eu não me lembro muito bem o que sonhei, só sei que tinham várias coisas fora do lugar, como sempre, era sombrio e... Sei lá, tinha gente morta.
Quando acordo Heleanor não está mais aqui, provavelmente ela foi pro bar trabalhar, o toque do telefone foi o que me acordou, eu sento e esfrego os olhos, bocejo e então me espreguiço antes de ver quem está me ligando, Undyne, atendo.
- Alo. - Digo ainda dando aquele bocejinho inevitável da manhã.
"Então, parece que sua cunhada se entregou sem resistir, estão levando ela até uma delegacia do centro, onde vai ficar provisóriamente." - Ela diz com um tom meio vitorioso. - "E ae? Qual sua próxima jogada?"
- Hum? Sei lá, olha, eu acabei de acordar, me dá um tempo okay? - Ainda estou com dificuldade pra manter os dois olhos abertos.
" Tome todo o tempo do mundo. " - Ela desliga. Caramba, ninguém consegue se despedir direito no telefone? Um "Até logo, beijo, tchau" não machuca ninguém.
Ligo então pra Noelle, não preciso esperar muito, ela me atende bem rápido, suponho que representar o único banco de uma cidade em que quase nunca tem grandes crimes deve ser bem monótono pra ela estar desocupada assim.
"Oi Kris, como está? Eu vi nas notícias, você entrou em uma encrenca feia heim?" - A voz de Noelle é aveludada até pelo telefone, caramba.
- Pois é... Ah, minha cunhada foi presa, acha que pode me ajudar?
" CLARO! " - Ela grita e então ouço o som de algo caindo. -" Oh, droga..."
- Tá tudo bem aí?
" Tá, tá, eu só derrubei um copo, mas acho que já dei um jeito." - Sons de cadeira arrastando e então ela volta a falar. - " Pra onde levaram ela?"
- Pra delegacia do centro.
" Okay, eu vou pra lá agora mesmo, nos falamos depois Kris."
- Okay, até logo, beijo, tchau. - Viu? Fácil.
" Até." - Desligo a chamada.
Se minhas teorias estiverem certas, agora só sobrou eu como alvo, meus pais estão seguros com a polícia, Asriel e Frisk a essa altura já devem estar escondidos, eu sou a única pessoa próxima a Azzy que está no alcance do assassino, mas é claro, vou ter que esperar até a noite pra poder ir procurar por ele, então eu só preciso esperar o próximo movimento do meu adversário, aí, eu vou dar o xeque-mate.
Assisto um pouco de televisão, sem prestar realmente atenção no que está passando, gosto de deixar ela ligada em canais aleatórios pra não me sentir sozinho em casa enquanto uso o celular, rolo o feed do meu Instagram por um tempo, muita gente só vivendo normalmente, mas também vi alguns falando de mim, sobre como "Sempre soube que era estranho, desde que estavamos na escola eu sentia que ele era esquisito." Okay, eu não me importo muito, pelo menos essas pessoas lembram de mim, já que nunca fiz muita questão de manter qualquer tipo de amizade depois da formatura.
Passo horas só gastando tempo na internet, hoje pode ser a última vez que vou poder assistir qualquer coisa no Youtube, ou pesquisar minhas maiores dúvidas no Google, então eu quero morrer sem nenhum arrependimento, mas por mais que eu assista videos de gatinhos ou pesquise como as aguas vivas vivem, sinto que tem algo que eu estou deixando incompleto.
Eu como, deito no sofá e assisto um filme qualquer que já estava passando, então peguei ele na metade, e por fim, ligo pra Susie.
" Idiota, achei que não fosse mais dar notícias, como está indo?" - Ela pergunta nervosa do outro lado da linha.
- Eu vou sair e me encontrar com ele hoje. Acho que vou resolver tudo essa noite. - Digo, não me expresso muito na voz, só agora notei que eu quase sempre falo na mesma tonalidade, nunca grito, nunca expresso muita alegria. Acho que eu deveria ter mudado isso antes de morrer.
" Ah, que bom... ESPERA, VOCÊ VAI ENCONTRAR COM O ASSASSINO? VOCÊ É LOUCO?" - Caramba, eu quase fiquei surdo agora.
- Eu já encontrei ele uma vez, mas dessa vez eu sei que vou conseguir resolver tudo, de um jeito ou de outro.
"..." - Adoro quando as pessoas estão em ligação e não dizem nada, como se eu pudesse ver a expressão delas, não é uma chamada de vídeo sabe? - " Okay, vamos então. Que horas?"
- Desculpa, "vamos"?
"É, o que queria? Ir sozinho? Até parece, se eu te deixar trancado com uma formiga, ela te mata, com um assassino então, eu não posso saber que você vai se encontrar com ele e te deixar fazer isso por conta própria." - Ela diz, de forma que eu achei até meio autoritária.
Penso um pouco sem dizer nada, eu não quero que ninguem de fora se envolva, já morreu alguém que eu poderia ter salvado se tivesse vencido da primeira vez, não quero que haja mais uma morte em cima de mim, mas, não tem como convencer a Susie.
- Tá... Mas você vai observar de longe, eu vou resolver isso, okay? - Suspiro e coço o cenho, o estresse de tudo isso acumulado está fazendo eu sentir um incomodo ali.
"Okay, é só me dizer a hora e o lugar que vamos nos encontrar."
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Eu só digo a Heleanor que vou sair a trabalho pro jornal, na hora em que ela chegou do trabalho já tinha aparecido em tudo quanto era canal a respeito da prisão de Chara, aí eles meio que me esqueceram, então eu falei que o jornal pediu desculpas e me pediu pra voltar, espero que ela tenha acreditado, por que eu sinceramente não estou com cabeça pra pensar em uma desculpa melhor pra sair por aí caçando criminosos, não é como se eu pudesse abrir a camisa e dizer "Hey, olha só, sou eu, o amigão da vizinhança."
Fui andando até o prédio do jornal, acho que é a primeira vez que venho aqui de noite, já saí muito quando já estava escuro, mas a sensação é bem diferente quando eu me aproximo do prédio já completamente apagado, Susie já está parada com o carro encostado me esperando, ela está apoiada no capô, quando vê eu me aproximando acena com a cabeça e entra pelo lado do motorista, eu entro no carro logo em seguida.
- Então... Pra onde? - Ela pergunta já dando ignição.
- Pro bairro onde crescemos, é lá que ele tem atacado. - Respondo, mas ela simplesmente não acelera. - Hum... Não vamos?
- Coloca o cinto. - Ela manda.
- A gente não demorar nem quinze minutos de carro.
- SÓ COLOCA A PORRA DO CINTO. - Ela grita, apontando pro cinto, o movimento foi tão brusco que fez o carro todo balançar.
- Tá, calma. - Coloco o cinto e ela parece se acalmar.
- Pronto, agora sim, vamos. - O carro acelera.
Nós chegamos rápido ao bairro, a rua já está bem vazia, mas dá pra ver que ainda tem algumas pessoas mais jovens na rua, conversando, alguns estão bebendo, outros só estão passeando de mãos dadas, me pergunto se eu deveria convidar Heleonor para um passeio assim de vez em quando.
Susie e eu conversamos em voz baixa enquanto esperamos, aos poucos as ruas vão se tornando vazias e nossas conversas vão se tornando cada vez mais como eram antigamente, nós rimos um pouco, principalmente quando falamos de video game, eu não consegui deixar de olhar pra expressão dela enquanto ria, mas... Eu só desvio o olhar, não posso pensar que tudo vai mágicamente se consertar assim... Mas eu sinto algo me impelindo a perguntar.
- Você me odeia? - Eu olho pela janela do carro, observando a rua deserta e também, a observando pelo reflexo.
- Eu nunca odiei, idiota... Talvez... Ressentimento, acho que isso sim... Primeiro quando você se afastou no Ensino Médio e depois quando o pai da Noelle morreu, você não foi no velório, não foi no enterro... Pensei que como amigo dela você iria pelo menos dar seus pêsames, mas você não foi. Mas então passou, quando te vi uma vez, um pouco antes de eu ir pra faculdade eu te vi na rua, péssimo, eu só percebi que você estava sofrendo do seu próprio jeito...
- Entendi... Acha que poderiamos voltar a ser como antes?
- Não sei Kris, VOCÊ quer que volte?
- Eu não sei...
Nós só ficamos em silêncio, ninguém passa na rua, ninguém fala nada, o rádio está desligado pra não chamar-mos atenção... Está bem desconfortável, talvez eu não devesse ter perguntado, agora estou com vergonha de puxar qualquer assunto.
- Então... Se quiser me adicionar na PSN... - Digo tentando puxar algo diferente.
- Eu tenho um XBox.
- Ah... Okay...
Eu só volto a prestar atenção na rua, mais uns bons quarenta minutos passam e nada...
- Então... Você sabia dos boatos? - Perguntei depois dessa grande pausa.
- Que boatos?
- Sabe, os da escola, de que nós estavamos... - Evito olhar pra ela agora. - Sabe... Saindo e tal.
- Ah, sabia, acho que todo mundo sabia, mas eu não ligava muito.
- Ah, sim... Okay...
Por favor assassino, aparece logo... Mais um tempo passa, já está começando a esfriar, mas aos poucos eu começo a ouvir som de passos, ecoando pelas ruas vazias, olho pra tentar ver de que direção está vindo, do início da rua vem vindo alguém com o rosto coberto por um capuz, é exatamente o mesmo moletom, ele nem sequer se deu ao trabalho de costurar a parte do ombro onde eu havia cortado.
- Fique aqui. - Digo a Susie que apenas concorda com a cabeça.
- Mas se eu ver que a coisa está ficando feia, então eu vou ir lá quebrar ele no seu lugar. - Dou uma risada nervosa ao ouvir isso, então, eu desço do carro.
Ele para de andar assim que me vê, dessa vez eu não estou escondendo meu rosto, ele por outro lado, não consigo ver direito, apenas sei que ele sorri ao me ver, como eu pensei, ele estava me esperando, mais do que isso, ele estava me procurando.
Eu me aproximo um pouco, então aponto para ele, mirando, como uma arma.
- Se entregue, por que está fazendo isso afinal? - Ele apenas ri baixo antes de me responder.
- Você não entenderia, mas independente do resultado de hoje, eu ainda vou sair ganhando. - É como eu pensei... Hoje, ele planeja me matar, mas se não conseguir, ele quer que EU o mate e então acabe sendo preso por isso, de um jeito ou de outro, ele vai conseguir isolar o Asriel da maioria das pessoas com quem ele se importa. - Apesar que... Você moveu muito bem as suas peças, perdeu seus peões e a rainha, mas conseguiu esconder o rei e algumas outras peças, parabéns.
Eu estou suando, mas eu mantenho minha posição, no entanto, com a outra mão eu já materializo minha faca, de alguma forma eu sinto, esse cara não vai se entregar, eu tenho certeza de que ele mal vai me ouvir pra começo de conversa.
- O Burgerpants foi sua primeira vítima? - Eu lembro de que Undyne falou que haviam tido outros casos semelhantes ao do Burgerpants antes, casos que não haviam tido solução.
- Será que foi? - Ele lentamente leva a mão ao bolso e puxa um bisturi, ainda com sangue, provavelmente o MEU sangue. Mas ele não a materializou, ele não consegue usar magia...
Ao contrário do que a maioria das pessoas acreditam hoje em dia, não são apenas Monstros que podem usar magia, eles apenas tem um contato e um controle muito superior ao dos humanos, afinal, enquanto humanos são limitados a usar a magia que existe ao redor, Monstros são literalmente constítuidos dela, antigamente houve uma guerra entre Monstros e Humanos, e magos humanos tentaram selar os monstros, no entanto a proficiencia que eles tinham em magia impediu que isso acontecesse, os humanos com medo resolveram desistir da guerra e fazer um tratado de igualdade, com medo de uma possivel retaliação. Com o tempo, a humanidade se acomodou ao uso da tecnologia e esqueceu a mágica... Mas eu cresci entre monstros... Eu posso usar magia, essa é a única vantagem que tenho...
Sem falar mais nada, ele pra cima de mim, tão rápido quanto da última vez, seu bisturi corta o ar enquanto tento desviar e me defender, mas o resultado é o mesmo, depois dos estalos daquele dia eu sinto que ficou mais fácil ver seus movimentos, mas ainda assim, não estamos no mesmo nível, eu consigo evitar ser ferido mortalmente, mas aos poucos eu acumulo cortes em várias partes do meu corpo e o sangue já começa a tingir minhas roupas de vermelho, respingando pelo lugar e manchando ele, tento revidar, mas ele é rápido demais pra mim.
Começo a recuar, eu sei que estou recuando e eu tento não faze-lo, mas ele está me pressionando, mais uma vez eu corto o ar, tentando acerta-lo, mas ele apenas se desvia indo para trás e logo em seguida já está me atacando novamente... Ele me pressiona até que sinto minhas costas batendo em uma parede, não tenho mais como recuar, ele se prepara para atacar mais uma vez quando Susie surge por trás dele, o pega e o arremessa para longe de mim, com um giro no ar ele cai em pé, como um gato e então se vira para nós, Susie cerra os punhos.
- Bem, então era uma emboscada? - Ele pergunta e então ri, como se a presença de Susie não o intimidasse nem um pouco. - Seja boazinha e espere sua vez, sim?
Ele então dispara pra cima de Susie, ela está em minha frente, então não consigo ver muito bem o que ele faz, mas assim que Susie se prepara para dar um grande soco nele, o cara salta para o lado e então pega impulso em uma caixa de correio e passa por cima dela, já pronto para cair em cima de mim com seu bisturi me furando, antes que isso aconteça no entanto Susie gira o corpo e o pega pela perna e o atira contra um poste, o corpo dele se choca com o obstáculo, a luz do poste pisca no momento do impacto e ele cai, cuspindo um pouco de sangue.
- Se está com tanta pressa assim...
Ele se recompõe e parte em direção dela, Susie se assusta com a velocidade do homem meio ferido e tenta dar um passo pra trás, ela é forte mas não consegue acompanhar, ele mira na garganta dela, vou o mais rápido que consigo, a pego pelo braço e a puxo, ela tenta me acompanhar deixando-se mais mole e se vira para mim com a força descomunal que fiz no desespero, no momento eu respiro fundo e aliviado, mas então vejo que ela está sangrando e faz uma expressão de dor, em seguida olho para o braço dela, um corte de pelo menos 180 graus próximo a axila dela...
Eu sinto quatro estalos de uma vez, seja lá o que for que aconteceu na minha alma, eu me sinto completamente livre, mas ao contrário das outras vezes, eu não me sinto mais calmo, eu não sinto nada, nada além de repulsa e raiva...
- Susie... - Me abaixo perto dela, por algum motívo o advesário recuou um pouco e está me observando. Eu tiro o meu cinto e passo pelo braço dela para conter o sangramento em um torniquete improvisado. - Segura uma coisa pra mim, okay?
( Kris se levanta e então caminha em direção ao oponente, ele não podia ver, mas naquele momento, o assassíno tinha olhos que estavam entre a dúvida e o medo, sabia que tinha feito que algo que não devia, mas era tarde demais.
Susie não sabe o que está acontecendo, mas também ficou completamente espantada e assustada quando o jovem Dreemurr enterrou o punho em sua própria caixa toráxica e de lá puxou o que parecia ser um coração, que tinha uma vívída cor vermelha, ele então jogou esse coração para ela que o pegou, era quente, um calor gentil que não sentia mais em Kris logo a sua frente.
Ele então cambaleou um pouco em direção ao assassino e inesperadamente disparou em direção a ele com a faca em mãos, eles trocam golpes, mas diferente de antes, era Kris quem pressionava seu adversário que apenas conseguia se proteger com o bisturi, o primeiro golpe que o jovem atinge é um corte proximo a axila, da mesma forma que Susie havia sofrido, nenhum deles tinha certeza, mas parecia que o rapaz estava sorrindo, pela ironia? Ou talvez por ter feito isso de proposito?
O homem tentou lutar de volta, mas ao ver que não conseguiria resolveu fugir, talvez conseguisse se Kris não arremessasse sua faca, visando o calcanhar de sua agora vítima, os tendões eram cortados e o homem apenas caía, seu sangue esguichava formando uma pequena poça, não era o suficiente para mata-lo, entretanto, a dor era o suficiente para faze-lo QUERER morrer.
Com custo ele se vira para conseguir olhar para Kris que lentamente caminhava, o que o homem viu o assustou, apesar do brilho vermelho nos olhos do Dreemurr, ele tinha um olhar morto de desprezo, o desprezo de alguém que já não tinha alma.
A faca desapareceu da perna dele e reapareceu nas mãos do rapaz que a essa altura já estava irreconhecivel, ele lentamente se abaixa para seus olhos ficarem na mesma altura. )
-Por que se importa com esses monstros? - (Gemeu o homem.)
- O único monstro que vejo, está em uma posição patética na minha frente.
-Não, você não entende...
- Você é desprezível, chega a dar pena... - Kris diz enquanto ergue a faca e olha para a garganta do homem.
(E então a faca desce...)
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Vida Adulta e Compromissos
FanfictionComo teria sido se Kris e Susie jamais tivessem ido ao Darkworld? Será que ainda teriam conseguido se dar bem? Ou será que ela ainda implicaria com ele? E na vida adulta? Sem faculdade e com um emprego mediano, as vezes Kris sonha coisas esquisitas...