- Tem um balde do seu lado caso queira vomitar. - A voz de Asriel vem da minha direita, suave, mas, com a dor de cabeça que eu tô, acho que vou explodir. - O que você tem na cabeça, pra beber igual ontem?
Eu apenas ouvi, não disse nada, apenas encaro o teto, até virar pra ele parece ser um sacrifício, um que infelizmente eu me disponho a fazer. Com um grande esforço eu giro minha cabeça para a direta e vejo finalmente meu irmão, ele está sentado na própria cama, com as costas na parede, olhando e por vezes digitando em um celular.
- Devia ver a mamãe ontem, eu tive que segurar ela pra que você não fosse executado com uma surra. - Ele ri e então se estica para pegar algo na mesa de cabeceira, logo em seguida ele me arremessa uma cartela de comprimidos para dor de cabeça. - Toma, talvez diminua um pouco a dor.
- Valeu. - Agradeço, já prestes a engolir dois comprimidos sem água mesmo. - Então... Com quem você tanto fala nesse celular?
- Hum? Ah, é com a Chara. - Ah sim pô.
- Ah, okay... - Vomito um pouco no balde, oh droga, lá se foram os comprimidos. - ... Espera, quem é Chara?
- Minha esposa. - Claro, caramba, a esposa...
- OH MÃE! - Grito o mais alto que consigo, já me levantando da cama, a informação me acertou tão forte que por um instante a dor de cabeça até some.
O som dos passos apressados da minha mãe não tem como passarem despercebidos, ela abre a porta completamente desesperada, ela estava com um livro grosso nas mãos e tinha um olhar assustado, como se estivesse sendo chamada pra reconhecer um cadáver.
- Mãe, o Azzy está contando mentiras. - Digo apontando para Asriel. - Diz pra ele que ele não tem esposa.
- Azzy, acho que a bebida afetou a memória do seu irmão. - Minha mãe me ignora completamente, não pode ser que só eu não aceitei essa informação.
- Talvez. - Ele olha pra mim um pouco confuso, mas quem deveria estar confuso aqui sou eu.
- D-do que vocês estão falando?
Asriel suspira, ele levanta lentamente e então coloca a mão no meu ombro, eu não consigo deixar de pensar onde eu estive a minha vida inteira, por que... Cara, como eu não sabia que o meu irmão é casado?
- Ouça Kris... Eu já sou casado há 6 anos. - Ele diz isso numa tranquilidade muito assustadora. - Ah é... Mãe, acho que aconteceu bem quando o Kris estava no "Periodo de Trevas" dele, deve ser por isso que ele não se lembra.
- Pois é né? - Eles riem um pouco juntos, mas eu só consigo sentir minhas bochechas corarem, essa não foi uma época do qual eu sinto orgulho. - Ontem a noite eu até fiquei com medo de ele estar tendo uma recaída... Então, Kris, por favor, não vá pra esse lado de novo, tudo bem querido?
Eu realmente não gosto muito de tocar nesse assunto, mas, seis anos atrás eu... Bem... Eu entrei em uma época muito ruim de distorcida da minha vida... Eu só estava com alguns problemas que nem eram tão graves, mas eu não consegui lidar com eles naquele momento, então eu só... Bem, eu fugí deles.
Asriel se espreguiça e acompanha minha mãe, então, depois de ambos terem saído do quarto eu só me jogo novamente na cama, olho para o teto enquanto tento esquecer novamente da dor de cabeça, que voltou com tudo assim que fiquei sozinho, passo umas boas duas ou três horas a mais na cama antes de finalmente ter coragem de me levantar e então descer pro andar de baixo. Das escadas eu ouço a televisão ligada e tambem ouço o bater de panelas da cozinha, eu só entro direto no banheiro pra escovar meus dentes e lavar meu rosto.
Assim que eu saio do banheiro eu passo pela minha mãe que estava ocupada na cozinha e então me sento no sofá, ao lado de Asriel na sala, na televisão está passando um velho filme de monstros gigantes.
- Bem, não tem problema você não se lembrar do meu casamento, amanhã você vai ter a oportunidade de conhecer a Chara. - Ele diz, apesar de estar com a televisão ligada, ele ainda está com a cara enfiada no celular.
- Se você gosta dela, então eu acho que deve ser uma moça legal. - Pego o controle e mudo de canal, para um show de stand-up de algum comediante qualquer.
- Vai ser uma boa oportunidade de você conhecer a sua sobrinha.
- ... - Viro meu rosto para Asriel, tiro o cabelo dos olhos que a essa hora já devem estar arregalados. - VOCÊ É PAI?
- Sim, eu acho? - Ele nem para de olhar o celular pra me responder, desgraça.
É nesse momento que eu percebo.... Em só alguns anos eu sinto que já joguei toda a minha vida fora.
- Bom... é melhor você ir se arrumar, o pai quer levar a gente pra pescar. - Suspiro, depois de tudo que ouvi, nem questiono, só me levanto e começo a subir pro meu quarto pra trocar de roupa.
Enquanto subo eu ainda consigo ouvir minha mãe dizer animada algo como "Então finalmente vou conhecer minha neta" e Asriel falar algo sobre ela estar saudável o suficiente pra viajar.
Não demorou muito pro nosso pai buzinar na frente de casa, ele foi com a caminhonetezinha dele, mas como na cabine claramente não caberia todo mundo, foi decidido que iriamos em dois carros, sendo assim, eu vou com meu pai na caminhonete e então voltaria com Asriel no carro dele, dessa forma, nenhum dos dois teriam que viajar sozinhos.
Durante a viagem eu nem comentei sobre o que Asriel havia me revelado, tenho certeza de que sou o único da família que não sabia de nada, me sinto realmente culpado por isso, afinal de contas, eu sei que sou um péssimo irmão e filho.
Nós saímos da cidade e pegamos a estrada, seguindo a orla da floresta, eu lembro de ser menor e ser trazido pra cá, leva uns vinte minutos de carro pra chegar e é uma visão maravilhosa, o lago é tão grande que pra pescar é necessário um barco a motor pra chegar ao centro, e como ele é cercado por floresta, as vezes, dá pra ver animais irem beber água sob o sol que reflete na superfície do lago.
Meu pai estaciona em uma clareira bem aberta, Asriel para o carro dele logo atrás, juntos nós pegamos os equipamentos de pesca enquanto o papai vai em direção a cabana de aluguel de barcos que fica na beira do lago, depois de conseguirmos tirar tudo da caminhonete nós seguimos logo atrás pra ver ele tristemente pagar um barco, Azzy se dispõe a pagar, mas o pai é orgulhoso e no fim acabou arcando com tudo, espero que a floricultura vá bem esse mês pra ele conseguir comer.
- Bem, então rapazes, vamos pegar peixe. - O véio dizia assim que já estavamos bem localizados no meio do lago, o barco que ele pegou só era grande o suficiente pra caber Ele, Asriel e eu sem derrubarmos um ao outro no lago... Ou melhor, pra ELES não me derrubarem, eu daqui sou o mais raquítico. E é claro, não demorou muito pra eu vomitar no lago tudo que bebi ontem, o balançar do barco até piorou um pouco minha dor de cabeça. - Kris? Tá tudo bem?
- Cla- Infelizmente minha resposta otímista foi interrompida por mais um jato de fluídos estomacais fermentados com todo tipo de seja lá o que tomei.
- Ele encheu a cara ontem, devia ter visto como a mamãe ficou quando viu, se a bebida não matasse ele, ela mataria. - Azzy disse rindo enquanto colocava uma isca no anzol.
- Bem... Filho, é bom sair e se divertir... Só toma cuidado pra não... Bem, você sabe. - Ele dá um tapinha nas minhas costas e então pega sua própria vara e começa a por isca.
- É, eu sei...
Bom, pescar é... Chato... Na maior parte do tempo pelo menos, afinal de contas, é sempre bem divertido ver seu pai acertar a cara do seu irmão mais velho com um peixe, ou então a intensa batalha de tirar um mísero peixe da água, pra no final, ver que ele tem só alguns centimetros de comprimento, acho que no fim, a melhor parte da pesca é aproveitar em silencio o tempo com as pessoas que gosto, nesse quesíto eu não tenho reclamação alguma, mas ficar em um barco olhando pra água por trinta minutos ainda é um saco.
- Então... Kris... Como vai o emprego? - Meu pai pergunta, acho que deve ser coisa de pai, se preocupar com esse tipo de coisa.
- Normal, eu acho, não é como se eu precisasse de qualquer talento pra ele, então só me deixam lá...
- Seria tão bom se você se interessasse em fazer uma facul, sabe, só pra ter, nem precisa trabalhar na área se não quiser. - Azzy comenta baixo, olhando pra bóia dele na água.
- Se ele tiver algo que queira realmente fazer eu não me importo, mas acho que não tem problema se ele só quiser ficar na cidade trabalhando tambem. - Meu pai parece bem tranquilo, só prestando atenção na pesca, até que. - MAS... E as namoradinhas filho? Tá tendo alguma? No escritório talvez?
- Não pai, deixa disso. - Não é como se eu tivesse qualquer pretendente mesmo.
- Namoradinho então?
- E isso muda o que? Se não tenho então não tenho, não tem o que fazer. - Azzy fisga algo assim que termino a frase.
Não pegamos nenhum peixe que fosse realmente grande, mas pegamos uma boa quantidade, nós devolvemos o barco pra cabana, então Azzy e eu carregamos tudo de volta pra clareira, mais o Azzy do que eu na verdade, mas ajudei um pouco. O pai monta uma pequena churrasqueira, desdobra alguns bancos e então acende o fogo usando magia.
- Consegue uma faca pro pai? - Materializo minha própria faca e então entrego pra ele. - Lembra quando eu te ensinei isso? Sua mãe ficou apavorada achando que você ia sair se cortando por aí.
- Ou sair cortando os outros, que é o que tenho mais vontade. - Ele dá um tapinha carinhoso na minha cabeça.
- É... Isso também.
Desajeitadamente ele corta os peixes e tira tudo que não fossemos comer, depois de fazer isso com todos os peixes que pegamos ele coloca alguns pra grelhar na churrasqueira, Asriel já esta no celular, provavelmente conversando com a tal Chara, meu pai esta ocupado cuidando da churrasqueira, então, aqui estou eu, em um silêncio muito desconfortável, mas olha só, é uma boa oportunidade pra tentar lembrar um da noite de ontem.
Eu lembro realmente muito pouco, alguns flashes aleatórios, mas a parte final eu sinto que foi realmente importante... Mas... Eu não consigo me lembrar o que aconteceu, espero não ter dito nada que eu vá me arrepender.
- Hey pai, você está livre amanhã? - Asriel pergunta depois de um bom tempo calado.
- Acho que sim, por que?
- Bem, vamos todo mundo jantar, eu você, o Kris, a mamãe, a Chara vai chegar amanhã, então vai ser uma boa oportunidade pra você ver a Frisk pela primeira vez. - Os olhos do meu pai se arregalam ao ouvir isso.
- QUE? FINALMENTE?
- Pois é... A gente acha que ela já está bem pra viajar, vamos tomar cuidado ainda, mas como a saúde dela está estável, achamos que seria um bom momento. - Azzy sorri, mas ainda parece meio inseguro.
- Depois de cinco anos, minha neta finalmente vai conhecer o vovô. - Por favor pai não chora... Parece estranho todo mundo já ter essas informações menos eu... Ah como eu odeio minha vida.
Nós comemos e então arrumamos tudo para ir pra casa, assim como o combinado eu volto no carro de Asriel, nós conversamos um pouco sobre os lançamentos de jogos mais recentes e reclamamos muito com o fato de que muito poucos jogos são lançados com multiplayer coop em tela dividida, afinal de contas lembravamos da época em que jogavamos vários jogos juntos, apesar da diferença de idade, nós sempre gostamos muito de jogar juntos, Asriel principalmente, eu só segui na onda dele.
- Ah cara, como é difícil ter tempo de jogar hoje em dia. - É a última coisa que ele diz antes de entrarmos em casa.
- Ah meninos, vocês não tem problema de o Sans jantar aqui com a gente, né? - Minha mãe pergunta do telefone assim que nos vê entrando.
- Ah... Ele... - Asriel, por ser mais velho se lembra melhor da época de casados dos nossos pais, então acho que é por isso que ele não gosta muito da idéia de a mamãe ter um namorado novo. Já eu... Bem, eu sei lá, o Sans é um cara legal, as vezes é irritante, outras vezes sinto um arrepio perto dele, mas no geral, nada contra o cara.
- Sem problemas mãe. - Dou uma cotovelada em Azzy, ele só passa direto pela casa e sobe pro quarto.
Vou atrás dele, quando eu chego no quarto ele já está deitado na cama com o celular, não parece estar falando com ninguem, já que ele só rola a tela com uma das mãos. Mas agora que eu estou pensando nisso, só temos dois quartos na casa e em toda a casa só tem uma cama de casal, que fica no quarto da mamãe, então...
- Azzy, só uma duvida aqui rapidinho... Quando você vai embora?
- Segunda a noite, por que? - Ele para de olhar pro celular e então olha pra mim.
- Certo... Hoje as camas batem, mas amanhã sua esposa chega, então vocês ainda vão passar a noite, onde vocês vão dormir?
-ESSA... É uma boa pergunta na verdade... Mas se precisar a gente vai pra um hotel, não tem com o que se preocupar. - Ele diz se ajeitando na cama. - Então... Realmente, sem nenhuma namorada?
- Sério? Você agora? - Me jogo na minha própria cama.
- Sei lá, é que quando você era menor, sempre andava com a filha do Sr Holiday e anos depois a mamãe disse que você estava se dando bem com uma garota no ensino médio, então eu só quis saber, sabe? O que deu errado?
Realmente... O que deu errado? Quando eu era criança, eu realmente era muito mais amigo da Noelle do que sonho em ser hoje em dia, mas mesmo naquela época eu nunca pensei nela dessa forma, quando cresci mais eu me aproximei da... Susie? Ela tentava ser assustadora e a maioria realmente tinha medo dela, mas pra mim era só mais uma aluna do ensino médio, então não tinha porque ter medo... Com o tempo nos tornamos bem próximos, nessa época a Noelle já parecia distante, mas o Pai da Noelle já estava doente e como os outros garotos estavam falando da gente pelas costas eu só... Me afastei... Por que eu fiz isso?
Esses pensamentos, não consigo afastar eles nem mesmo durante o jantar... Sans realmente veio aqui? Não consigo lembrar, o que jantamos aliás? Não sei... Só consigo pensar que eu não devia ter me intimidado pelos boatos da época, não quis ser tachado como o Namorado da Susie e então a magoei... Desde então paramos de nos falar com frequencia e com o tempo deixamos até de nos dar bem...
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- Quê? Aqui de novo? - Rudy Holiday riu ao me ver entrar no quarto. - Caramba, você é jovem, não tem mais nada pra fazer?
Rudolph Holiday era o pai da Noelle e também era o melhor amigo do meu pai, muitas vezes eu o via ajudando meu pai na floricultura e ele sempre foi amigável comigo, como um tio, ou então um segundo pai, mas... Nessa época, ele já estava doente há muito tempo... Durante toda a minha adolescencia eu não consigo me lembrar de um momento sequer em que o velho Rudy não estivesse no hospital, mas mesmo assim ele nunca parecia desanimado e estava sempre confiante de sua melhora.
- Ah... É só que... Sei lá, eu não tenho muito o que fazer depois da escola mesmo...
- Oh, é muito bom saber que eu sou sua melhor opção pra matar o tédio. - Ele sorriu e então apontou uma cadeira ao lado da cama. Eu me sentei enquanto o ouvia tossir pesado. - E a Noelle, como está na escola? Aquela menina só me conta as coisas pela metade.
- Está bem, eu acho. Não temos nos falado muito. - Foi na mesma época em que Noelle e Susie estavam começando a se aproximar cada vez mais.
- Isso é bom... Mas, você não parece muito bem... Já sei... Se apaixonou pela minha filhinha e não sabe como agir, não é? - Ele sorriu, mas ao ver que eu não achei graça se apressou em se esforçar pra dar uns tapinhas no meu ombro. - É brincadeira, sei que você não vê ela assim. Então... Me diz, o que foi?
- Nada em especial...
- Que mau mentiroso, eu te conheço, é igualzinho seu pai.
- Eu acho que me apaixonei por alguém, mas essa pessoa agora está bem distante... Por que eu fiquei com medo de tornar algo mais sério...
-Cara vocês jovens gostam de complicar tudo, né? - Rudy riu alto, uma risada que aos poucos se transformou em uma tosse, quando finalmente parou ele voltou a falar. - Vai ficar tudo bem Kris... No fim das contas, o que tiver que acontecer, acontecerá, e quando você tiver uma nova oportunidade, agarre e diz pra essa pessoa o que você sente, eu mesmo, quando conheci minha esposa, falei o quanto ela era quente, levei um tapa tão forte que desmaiei. - E então ele mais uma vez riu.
Dessa vez eu ri junto...
- Vai ficar tudo bem Kris... E volte a falar com a Noelle, sei que ela vai gostar... E cuida dela pra mim Kris... Estou contando com você.
Depois daquele dia Susie e Noelle começaram a namorar e eu não soube como me aproximar, senti que atrapalharia algo se tentasse, então... Eu só me isolei mais, continuei falando com Rudy até que a saúde dele piorou a ponto de não poder mais receber visitas, até que por fim, um ano depois... Ele morreu.
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Acordo e então me sento na cama... Sonhar com o Rudy foi bom, mas... Eu realmente queria conseguir me lembrar dele fora do hospital... Senhor autor, por favor, no próximo sonho me trazer memórias mais felizes, pare de tentar emocionar os leitores, a única pessoa que chora com essas memórias sou eu mesmo... Mas é claro que não adianta pedir isso, no fim das contas eu sei que não estou narrando pra ninguém, é só que, eu realmente queria ter correspondido aos desejos dele.
Olho o relógio na mesa de cabeceira, já vai dar meio dia, bem, é domingo, então não tem problema, ainda assim eu me sinto mal por que perdi boa parte do tempo livre que tenho antes de segunda feira, Asriel não está mais no quarto e eu ouço vozes animadas vindas do andar de baixo, suponho que a tal "esposa" dele chegou, coloco meu suéter verde favorito e então desço pro banheiro, faço o que tenho que fazer lá e então vou pra sala, onde vejo uma mulher humana conversando animada com alguém fora do meu campo de visão por estar coberta pela parede, ela está no sofá com uma criança também humana e meu irmão.
Enquanto passo pela cozinha eu vejo que minha mãe fez uma torta, ela está em cima da mesa, ainda enformada e com uma faca cravada, pronta pra cortar deliciosos pedaços para toda a família.
- Ah, Kris. - Azzy me vê enquanto me aproximo. - Essa aqui é a Chara, olha.
- Muito praz - Ela começa a se apresentar virando pra mim, mas assim que fazemos contato visual ela interrompe o que ia dizer.
Não levou nem mesmo um segundo, ela saltou do sofá, direto pra minha direção, seus olhos pareciam brilhar em um tom escarlate, eu recuo um pouco, ela rapidamente tira a faca da torta e me ataca, tentando estocar a faca na minha garganta, muito rápida, tento dar um passo para trás enquanto materializo minha própria faca pra me defender, mas não dá tempo, ela é muito mais veloz e experiente do que eu, tropeço e caio sentado, isso me salva de um ferimento fatal mas a lámina ainda passa pela minha testa e faz um pequeno corte que começa a sangrar, dói muito mais do que deveria e sangra sobre o meu olho.
Ela percebe que não conseguiu acertar um golpe fatal, eu ainda estou caído, rápidamente ela se prepara para mais um golpe e avança, uma parede de chamas se forma entre nós e Asriel a segura por trás.
- CALMA, CALMA CHARA... ESTÁ TUDO BEM... É SÓ O KRIS... ELE NÃO VAI TE MACHUCAR, TUDO BEM? - Ela solta a faca enquanto ouve Azzy, minha mãe baixa as chamas até que elas simplesmente desaparecem. - Está tudo bem... Calma...
- MAS QUE CARALHOS FOI ISSO? - Grito enquanto me levanto, coloco a mão na testa, minha mãe corre até mim, ela tenta tirar a mão que estou cobrindo o ferimento.
- Kris.. Kris querido, deixa a mamãe ver. - Eu tiro a mão e ela olha antes de pegar um kit de primeiros socorros em cima da geladeira. - Asriel, o que foi isso?
- Desculpa mãe... Desculpa Kris, ela só... Ela só não esperava ver outro humano aqui... Mas já está tudo bem. - Ele suspira, como se estivesse aliviado de eu só ter arranhado a testa. - Calma querida... O Kris pode parecer humano por fora, mas o coração dele é igual ao de um monstro.
- Tudo bem... Tudo bem... - Ela diz e então volta pra se sentar no sofá, a criança só olhava enquanto a mãe se sentava ao lado dela.
Minha faz um curativo na minha testa enquanto Asriel com Chara, eles conversam sério sobre algo que eu não consigo ouvir, eu já tinha ouvido falar de humanos que tem preconceito contra monstros e os tratam com violencia, mas eu nunca ouvi falar de um humano que como primeiro impulso ao ver outro humano é tentar mata-lo, eu acho que vou ter que retirar tudo que eu falei ontem sobre ela ser legal.
Depois que o curativo está pronto, minha mãe me deixa na cozinha e vai pra sala, não ouço direito por que ela está cochichando, mas ela parece estar dando uma bronca muito feia em Asriel que se desculpa fevorosamente. Eu me levanto e então vou até a sala.
- Okay, agora vamos tentar de novo, sim? - Azzy sorri sem graça. - Essa é minha esposa Chara, Chara, esse é meu irmão mais novo Kris.
Ela se levanta e então estente a mão.
- Prazer, Chara Dreemurr.
- Kristopher Dreemurr, bem, se você é esposa do Azzy, então agora somos praticamente irmãos. - Cara, é meio difícil tentar ser simpático com alguém que acabou de tentar me matar.
Aperto a mão dela, mas sinto como se algo me puxasse pra escuridão, nossos olhos se cruzam e novamente vejo o brilho vermelho em seus olhos, de alguma forma sinto que é igual ao que vejo quando me olho no espelho, sinto algo bater na minha canela, olho pra baixo e vejo que estou quase até os joelhos em uma enorme poça escarlate, tento voltar a olhar Chara, mas ela não está mais lá, eu estou sozinho e agora eu percebo que a poça é na verdade um oceano, um gigantesco mar de sangue em uma imensidão negra... E eu fico lá, até que volto a mim, novamente, com Chara, Azzy, Minha mãe e a criança na sala de casa, foi uma sensação muito familiar... É exatamente a mesma sensação que eu tenho quando eu sonho com aquelas coisas estranhas, como se eu tivesse um desejo intenso de matar alguem, e que passasse logo em seguida.
- Amor, vem comigo um pouco? - Chara diz para Asriel, ambos sobem.
- O que diabos está acontecendo aqui? - Pergunto e então me sento ao lado da criança no sofá.
- Bem que eu queria saber querido. - Minha mãe se senta em sua poltrona.
Passam-se pelo menos dez minutos e eles não descem, começo a ficar impaciente e desconfortável com aquela criança de cinco anos assistindo desenhos cujo o humor eu não consigo compreender, fora que ela é um pouco assustadora já que é muito calada pra idade dela.
Subo e vou até a porta do quarto, me aproximo pra bater mas antes que o faça eu consigo ouvir conversa vindo de lá de dentro.
- Mas ele nem veio em nosso casamento, que tipo de pessoa não vai ao casamento do próprio irmão? - Chara dizia em um tom um pouco raivoso. - Sério? Até ontem ele sequer sabia sobre a gente.
- Ah amor... Dá um tempo pra ele, foi uma época difícil... Só dá uma chance, eu sei que vocês vão se entender. - Azzy diz um pouco sem graça. - Aliás, você não tem nenhuma amiga que possa apresentar pra ele né?
- Não vai me dizer que alem de tudo seu irmão é um virjão, né?
Ah não... Eu não posso só deixar que fiquem me depreciando dessa maneira, abro a porta do quarto com tudo.
- EU NÃO SOU AAAAAAH....
Eles estavam em baixo dos cobertores de Asriel, deitados no tapete do quarto, mas eu conseguia ver pelos ombros expostos que eles estavam claramente nús... Meu deus... Não me diga que eles fizeram algo no tapete? Eu só saio do quarto e fecho a porta com tudo e corro novamente pro andar de baixo. Sento ao lado da criança e encaro o chão, porra cara... eu realmente gostava daquele tapete.
Depois de mais cinco minútos eles voltam a descer, vermelhos, o silencio só não é mais constrangedor por causa do som do desenho que passa na televisão. Depois de um bom tempo desse jeito, Chara resolve falar alguma coisa.
- Então... Vamos dar uma volta? Vamos Sra Dreemurr? - Ela diz de forma simpática pra minha mãe.
- Só me chama de Toriel querida, afinal de contas você é Sra Dreemurr também. Mas vão vocês... Kris, por que você não vai junto? Pra se entrosar? Vai ser bom.
Em silêncio, nós vamos até o carro de Asriel, eu vou atrás com a criança enquanto o casal vai na frente, a viagem foi rápida mas pra mim pareceu uma eternidade, nós fomos até o parque do bairro, Chara vai com a filha na frente brincar no balanço enquanto eu e Azzy observamos de longe.
- Então... Essa é minha sobrinha? - Pergunto vendo a menina brincar com a mãe.
- Pois é... Frisk, é o nome dela. - Ele diz, sorrindo enquanto observa a esposa e a filha.
- Não parece nada com você. - Sinto uma dor repentinha no ombro, Asriel acabou de me dar um soco, devolvo pra ele, e então nós rimos juntos.
- Vem, vamos lá.
Ao ver que nos aproximamos, Chara se senta com Asriel, enquanto me deixam pra brincar com Frisk, ela realmente é muito calada, mas até que me lembra de quando eu era criança, empurro ela no balanço por um tempo, tento não empurrar muito forte pra ela não cair do balanço e não se machucar, não tem nada a ver com o fato de o meu braço ser tão fino a ponto de eu não conseguir empurrar uma criança de cinco anos.
- Quer ir no escorregador Frisk? - Ela concorda com a cabeça e então segura minha mão, eu coro um pouco e olho pra Azzy que só faz um joinha pra mim. - Vem, o tio te leva.
Eu levanto ela e então a coloco no topo do escorregador, ela escorrega por ele e então corre de volta pra mim ergue-la de novo, nós ficamos assim até que eu eventualmente canso, cara, é muito difícil cuidar de criança, eu pego a mão dela de novo e a levo pros pais dela.
- Olha gente, é de vocês. - Levanto ela e a coloco no colo de Chara.
- Olha filha, como seu tio é frouxo. - Chara diz e então ri. - Não durou 2 segundos contra a mamãe.
- Azzy, sua esposa está me humilhando. - Ele não diz nada, só ri.
Nós tomamos sorvete e brincamos durante mais umas três horas, e quando digo NÓS eu quero dizer ELES, eu só tomei sorvete e fiquei sentado sorrindo e acenando, a filha não é minha, não tenho obrigação de nada,
- Ei Kris, quer tirar uma foto com a gente? - Azzy pergunta sentado na grama, ele move o braço me chamando.
- Nem, vou ser só um cara chato no meio da família feliz.
Eles tiram uma foto juntos sentados na grama, eu meio que sinto inveja, queria ter energia pra ser tão alegre quanto Asriel, ele faz tudo parecer feliz, e eu acho que nunca o vi tão contente quanto agora quando estão os três juntos, nós só vamos embora quando Frisk tosse, meu irmão dá uma olhada preocupada pra ela antes de a pegar no colo e irmos todos pro carro, de qualquer forma vamos ter que voltar pra casa, tomar banho e nos prepararmos pro jantar que combinamos com o papai.
- Okay, se for pela minha neta, eu juro que vou suportar o pai de vocês. - Mamãe diz com Frisk no colo enquanto Asriel dirige pro restaurante.
- Pelo menos o Sans não vai estar lá, se não o clima ficaria bem estranho. - Azzy diz enquanto aumenta o volume do som do carro, está tocando a música tema de Super Smash Bros Ultimate, há, nerd.
Papai já estava sentado na mesa quando nós chegamos, ele dá um gole em uma taça de vinho e então acena quando nos vê, logo nós estamos todos sentados a mesa, não demora muito até sermos atendidos por um garçom e fazermos nossos pedidos.
- Eu acho que vou querer vinho também. - Digo, Asriel olha pra mim um pouco receoso e então olha pra mamãe que lança um olhar furioso pra mim. - Calma gente... Vocês estão aqui, e eu vou me segurar, tá bom?
- Bom mesmo Senhor Kristopher. - Mamãe diz em um sério.
- Ouça sua mãe Kris. - Papai diz logo em seguida. - Ei Frisk, quer ver o vovô fazer uma mágica?
- Uhum - Ela concorda com a cabeça.
- Olha só essa moeda, está vendo? - Ele mostra uma moeda de cinquanta cents, ela então pega fogo e desaparece. - E agora... - Ele coloca a mão por trás da cabeça de Frisk e tira a moeda de trás da orelha da menina. - Uau Frisk, tá precisando lavar bem a orelha viu? Tem até moeda perdida.
Ele e Frisk riem, ele então dá a moeda pra ela. Nós estamos sentados em uma mesa redonda, Frisk está entre meu pai e minha mãe, Chara e Azzy estão lado a lado e eu estou logo a direita de Asriel, da minha posição eu tenho uma visão perfeita da porta, não que eu precisasse, mas pra matar o tédio das conversas que não me incluem é muito bom ver o pessoal entrando e saindo do restaurante.
- Chegou a comida gente. - Asriel disse quando chegaram cinco garçons ao mesmo tempo para trazer nossos pedidos. - Vamos comer então né?
Eu pedi só um pedaço de torta, não muito grande, estou meio sem fome, só depois de comer que eu percebo que Frisk estava comendo exatamente a mesma coisa que eu, bom, eu devia ter visto pelo tamanho que se tratava de algo do cardápio infantil.
- Pai, ME faz desaparecer, rápido por favor. - Peço baixo enquanto me escondo com o menú, no restaurante acabou de entrar Noelle e Susie.
- Caramba Kris, o que foi? - Papai pergunta.
- Hum? - Asriel olha pra porta pra ver o que me assustou. - Hey, não é a filha do Sr Holiday?
- Conhecida? - Chara pergunta pra Azzy.
- Ela é amiga de infância do Kris. - Asriel responde pra esposa.
- Agora que mencionou, acho que lembro dela no casamento. Vamos chamar elas pra ca então. - Chara diz já se preparando pra chamar por elas.
- nããããão. - Sussurro ainda por trás do cardápio.
- Ué, por que não? - Asriel tira o cardápio da minha mão.
- Você sabe o por que, eu fiquei bêbado, devo ter dado o maior vexame, não estou pronto pra encarar as vítimas da minha embriague-
-Oi Kris. - Noelle diz se aproximando, ela já havia visto a gente, DROGA!!
- Ah oi... - Respondo meio a contra gosto.
- Ah, oi Azzy, Sr e Sra Dreemurr, Sra Dreemurr do Azzy, vieram jantar em família? - Ela pergunta.
- Ah sim, a Frisk melhorou de saúde então estamos aproveitando a oportunidade pra jantar todo mundo junto. - Meu irmão responde.
- Então essa é a pequena Frisk, oi ooi. - Ela diz pra Frisk que acena.
- Por que não se junta a nós? - Chara convida.
Noelle olha pra Susie que só dá de ombros, no fim, elas realmente se juntaram a nós, isso meio que me fez falar ainda menos do que eu normalmente falaria, Susie nem sequer falou comigo ou e cumprimentou, sendo bem sincero, eu acho que ela estava até mesmo evitando OLHAR pra mim, eu realmente queria me lembrar se eu fiz algo no dia do bar.
A noite termina bem apesar de tudo, papai vai pra casa dele, Noelle e Susie ainda ficaram no restaurante e eu vou sonolento no banco de trás do carro de Azzy, mamãe vai com Frsk dormindo em seu colo, enquanto Chara e Asriel conversam sobre as compras do mês da casa deles, não que eu me importe, chegando em casa mamãe coloca Frisk no sofá, a garota ainda permanece dormindo.
- Então... Hora de começar a procurar um hotel pra gente passar essa noite. - Asriel diz se sentando em uma das poltronas da sala.
- Nada disso, vocês vão dormir aqui. - Mamãe diz se sentando na própria poltrona.
- A gente não quer ser nenhum incomodo dona Toriel, sabemos que não tem muito espaço aqui. - Chara diz sentando-se ao lado da filha e então afagando a cabeça da menina.
- Lógico que tem, vocês podem dormir com Frisk no meu quarto, e eu durmo com Kris no quarto dos meninos, - Ela diz calma... Até que é uma boa idéia... Mas pensando bem... Acho que não quero dormir no meu quarto não, pelo menos não até eu esquecer o que vi hoje mais cedo.
- Dorme com a Frisk você no meu quarto mãe... Eu acho que vou encarar o sofá por hoje. - Digo me espreguiçando. - Só deixa eu pegar uma muda de roupas pra eu ir trabalhar amanhã.
- Não tem problema filho?
- Não, tranquilo.
- Então fica assim, tudo bem Azzy, Chara? - Ela pergunta pro casal, eles se entreolham.
- Tudo bem, então. - Asriel fala.
Eu me aproximo do meu irmão e o puxo para um canto, pra que ninguem mais pudesse nos ouvir, então eu sussurro pra ele.
- Só... Não faz nada de errado na cama da mamãe tá? Tipo... É a cama da mamãe, é sagrada. Okay?
Então ficou assim, eu vou dormir no sofá, Mamãe e Frisk vão dormir no meu quarto e Azzy junto a Chara vão ficar no quarto da mamãe. Assim terminou nosso dia em família e o último dia da minha folga... Amanhã vou ter que encarar Susie como minha supervisora novamente...
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Vida Adulta e Compromissos
FanfictionComo teria sido se Kris e Susie jamais tivessem ido ao Darkworld? Será que ainda teriam conseguido se dar bem? Ou será que ela ainda implicaria com ele? E na vida adulta? Sem faculdade e com um emprego mediano, as vezes Kris sonha coisas esquisitas...