Suposição - Lizago

2.

Se fosse para ser sincero, ligar para Alexander Kothe era a última coisa que Thiago faria, mas era uma situação extrema. E ele precisava de Alex.

Alex não o atenderia, não de primeira, então Thiago teve que ligar cinco vezes até ouvir a voz do colega:

– O que você quer, Thiago? – a voz continha irritação e Thiago soube que tinha o acordado.

– Um oi seria legal, sabia? – Thiago respondeu e ele sabia que Alex tinha revirado os olhos. Ele podia visualizar isso.

– Vamos, Thiago. Diga logo o que quer.

– Preciso de ajuda – Thiago falou.

Silêncio.

E então uma risada.

– Uau, Thiago Fritz me pedindo ajuda? Que surpresa. Deixa eu pensar, invadir a casa de um civil alheio novamente? – Alex falou, com aquela amargura. Ele jamais esqueceria.

Nem Thiago. Nem Liz.

O jeito como eles fizeram, como o enfiaram naquela vida contra o paranormal, Thiago jamais esqueceria.

Em algumas noites, ele tinha pesadelos com a biblioteca.

– É sobre o Joui, ele desapareceu – Thiago falou.

– Seu filho? – Alex perguntou com a voz surpresa.

Alex tinha saído em missão fazia um ano, foi enviado para uma missão na França para ajudar a Obscurité, foi antes de Joui sumir, a missão tinha acabado fazia um tempo, mas ele continuou por lá. Ninguém se incomodou com isso, Alex precisava de férias.

– Sim – Thiago respondeu e olhou para a mesa, vazia.

Se Joui estivesse ali, ele estaria tomando uma caneca de Nescau enquanto Thiago preparava um misto quente e eles conversariam sobre o seriado que eles estavam assistindo na noite anterior.

Mas Joui não estava ali e a única coisa que tinha naquela casa era o silêncio.

– Meu Deus, por que eu não soube disso? – a voz de Alex aumentou.

– Porque ninguém queria atrapalhar suas férias e porque achei que íamos achar ele logo, mas isso não aconteceu – Thiago disse, cansado. Tão cansado. Só queria seu filho de volta.

– Quanto tempo? – Alex perguntou.

– Seis meses – Thiago respondeu.

– Puta que pariu.

– Sim, eu sei. Muito tempo. Não reclame, vai me ajudar ou não? – Thiago perguntou, querendo acabar com aquela conversa o mais rápido possível para ir até a Ordem atrás de Cesar e Arthur.

– Só me diga o que fazer – Alex falou.

Thiago encarou o grande livro com um símbolo na capa. O símbolo da Calamidade.

– Preciso que você procure algo no Grimório do meu pai.

Se fosse em outra ocasião, Thiago não pediria isso a Alex e deixaria Liz olhar o Grimório, mas bem, não era.

Na época que Veríssimo contou aos agentes sobre o Grimório de Arnaldo Fritz, Liz e Alex foram os únicos que se prontificaram a estudar e descobrir sobre, os dois eram uma dupla e Thiago sabia que se alguém, além de Liz, descobriria sobre a Seita, esse alguém era Alex.

– Quando você quer eu volte? – Alex perguntou. Thiago se sentiu péssimo por fazer ele voltar.

– O mais rápido que você puder.

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– Liz, a Liz que foi embora sem mais nem menos há anos atrás e que virou escripta, te encontrou ontem e contou onde Joui estava? –  Cesar perguntou surpreso, Thiago assentiu e Cesar balançou a cabeça como se acreditasse ao mesmo tempo que desconfiava e completou: –  Eu lembro dela, sabe? Não muito porque eu tinha nove anos, mas lembro que ela levava eu e Joui para tomar sorvete todas as sextas feiras. Ela também era superprotetora, mas não de um jeito ruim.

Thiago mexeu no canudo do milkshake que tomava, concordando com o que Cesar falava. Thiago também se lembrava disso, se lembrava que Liz sempre comprava sorvete de morango e levava para casa, porque Thiago não podia ir encontrar eles na sorveteria nesses dias e ela não queria que ele se sentisse excluído.

– Joui falava dela –  Arthur comentou, também brincando com o canudo do milkshake. Ele não tinha falado muito desde que Thiago começou a falar do encontro com Liz e Thiago entendia, Arthur chegou depois que Liz já tinha ido embora. Ele nunca a conheceu.

Cesar o olhou, confuso.

– Ele falava? –  perguntou.

 Arthur olhou para Cesar.

– As vezes, não muito, mas falava. Dizia que sentia falta dela e que um dia ia descobrir porque ela foi embora – falou e olhou para Thiago –, você sabe por que ela foi embora?

– Diz ela que foi necessário – Thiago respondeu dando de ombros.

Ele também queria descobrir porque Liz o deixou há dez anos atrás. Era algo que durante muito tempo fazia Thiago passar a noite acordado se perguntando o que ele tinha feito de errado, se foi um péssimo marido ou se Liz simplesmente se cansou dele e de Joui.

Por que quem ama não vai embora, né?

– Você tá legal com isso, Thiago? – Cesar perguntou, Thiago o olhou confuso com a pergunta e ele explicou: – Em trabalhar com ela.

– Ela vai ajudar a achar o Joui, isso que importa – Thiago falou, mesmo que sentissse um nó na garganta e um frio na barriga toda vez que lembrava desse fato.

Deus, ele e Liz iam voltar a ser uma dupla.

– E se ela estiver mentindo? – Arthur falou, fazendo Thiago o olhar assim como Cesar.

– Será? É Joui, sabe. Não acho que ela mentiria sobre ele, eu lembro como ela era com ele. Ela pode ter ido embora, mas não acho que ela mentiria sobre querer achar o filho, né? – Cesar falou e olhou para Thiago no final da frase, esperando que ele desse sua opinião.

Thiago apenas respondeu:

– É bom que ela não esteja mentindo.

Porque Liz tinha sido sua única esperança em meses sobre achar Joui.