Era estranho pensar que no dia seguinte, eu estava deitada na cama de Steven como se não fosse nada importante. A realidade era apenas uma. A sua ligação me pegou de surpresa ao dizer que não estava concluindo com sucesso as suas milhares tentativas de dormir, pois seu medo de acordar em outro lugar ficava maior a cada dia que passava e não havia mais nada a fazer. A presença cativante do homem que se encantava toda vez em que perguntava algo sobre o Egito Antigo, uma forma de manter sua mente acordada dos seus próprios demônios, me fazia ter um sorriso contido nos lábios observando toda a sua gesticulação ao me contar sobre cada informações específicas sobre cada um dos deuses, essas informações que nem eu mesma tinha conhecimento.
E meu sorriso aumentava toda vez em que Steven fixava seus olhos em mim, me vendo concentrada na sua explicação que por vezes se perdia no próprio raciocínio.
— Isso não importa mais, eu fui demitido — Steven parecia conter o máximo de informações sobre o seu desligamento do museu, como se não quisesse me preocupar com os seus próprios problemas. Conhecia alguém assim, e só percebi o quanto era irritante, no momento em que notei que era uma autocrítica — E recomendaram um hospital psiquiátrico…
Grant buscava expressões minhas enquanto se deitava ao meu lado esquerdo, cuidadosamente e ficando com a menor parte da cama, sem ouvir uma única reclamação sua para lhe dar mais espaço.
— Um hospital psiquiátrico parece um pouco extremo, não acha?
Assentiu, ainda possuindo dúvidas em seu olhar.
— Mas e se eu estiver mesmo ficando louco?
Não sabia como responder, pois também deveria seguir o mesmo conselho dado por tantas pessoas, que na realidade não foram conselhos, foram mais uma forma de me depreciar.
Pegando em uma de suas mãos, deslizou o polegar pela palma do homem, descendo suavemente pelo seu pulso antes de subir novamente. Steven, com menos timidez que o dia anterior, mas ainda notando o seu cuidado e respeito, deixou um beijo em minha bochecha, seguindo para o canto dos meus lábios e demorou longos segundos antes de selar meus lábios com os seus, trazendo meu rosto para mais perto, ainda deitado sob a cama macia do homem.
Estranhamente aquelas horas em seu quarto, havia se acostumado com a areia em volta da cama e a tornozeleira em um pilar bem perto onde seus pés geralmente descansavam.
— Seus olhos parecem o céu iluminado pelo sol… — sussurrou baixo para si mesmo contra meus lábios.
— O que? — me fazendo de desentendida, o homem negou com a cabeça como se não fosse nada.
Compartilhamos os mesmos questionamentos enquanto ficávamos olhando para o teto de lados contrários na cama. Se um peixe é mesmo capaz de se auto-regenerar ao ponto de fazer nascer uma barbatana, que amendoim e grão-de-bico eram as piores leguminosas e qual filme revolucionou o cinema na última década.
— Eu experimentei o sabor de melancia daqueles doces do museu, é horrível! Como gostou daquilo?
A garota acabou rindo com o travesseiro enfiado em sua cara, tentando ao máximo não suspirar pelo cheiro inebriante do homem que ficava escancarado na fronha.
— Quem disse que eu fui até a loja de presentes para comprar doces?
Steven nada falou, com o corpo de bruços na cama, trilhou com o indicador os detalhes de minhas meias, suavemente subindo as suas digitais até a panturrilha, precisando adentrar a calça moletom cinza para isso.
— E… Por que foi lá então?
Tentando mudar rapidamente de assunto, procurava por qualquer coisa ao redor do quarto para conseguir parar de sentir o arrepio em suas pernas. Deslizando o olhar, encontrei Grant me observando da outra ponta da cama, ainda fazendo carinho em minha pele.
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THE BROKEN RULE | Moon Knight
Fiksi PenggemarEm uma vida pacata e traumática, Mychèle Hernàndez Kassar tenta sobreviver à própria rotina de Londres, utilizando de bebidas alcoólicas e substâncias ilícitas para diminuir a dor interna. Entretanto, ao cruzar com a vida de Steven Grant e todas as...