Parte Cinco

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Sean estava saindo do hospital, junto com Todd e sua avó. Que tentava inutilmente carregar os dois garotos altos.

Pelo fato da mãe de Todd estar trabalhando, ele ficaria aquela semana, assim os dois amigos dormiram juntos no quarto pequeno.

Suspiro, Jumpol encarava o teto do quarto. Compenetrado em uma sensação estranha que começava a dominá-lo.

Uma sensação que os animais deveriam sentir quando estavam próximos ao começo de um avalanche.

Era tarde da noite, quando o rapaz finalmente fechou os olhos. No mesmo momento que aquela figura desocupada decidiu correr, correr para bem longe.

Black chegou ao seu destino, encarando os olhos da mulher ressentida.

—Temos um problema, um grande problema. —Ele disse de uma vez, a rainha ergueu a sobrancelha o convidando a continuar. —Aquele mortal...

Qual mortal?

—Voltou, aquele mortal está de volta.

Era uma manhã quente, a vovó forçou os dois rapazes a acompanhá-la ao templo. Mesmo muito contra a vontade dos dois, ali estavam ambos com seus devidos incensos a mão.

—Celestina, é onde vive todos os deuses. —Todd murmurou, Sean o encarou com o canto de olho. —Elas acreditam. —Com elas Todd se referia a sua mãe e a avó de Sean. —Que ficar aqui rezando pode trazer coisas boas.

Coisas boas...

Sean estava focado em controlar seus próprios impulsos, na verdade isso o fazia se sentir recuado e amuado.

Porém, sua mente continuava focada em proteger sua avó, seu avô e Todd de sua raiva interior.

—Deus White. —A senhora de idade murmurou, abaixada diante de uma imagem dourada, de um deus cheio de pedras. O templo era um ambiente florido, com colunas douradas e brancas, um local que demonstrava poder e autoridade, além da beleza e pureza. Os olhos de Sean se fixaram na imagem dourada.

E instantemente.

Seu coração acelerou, as mãos ficaram geladas, o olhar que era indiferente de repente...

—Quem é ele? —White murmurou, o Deus solar estava caminhando por aquele que era um de seus templos favoritos, criado em sua homenagem.

E seus olhos se cruzaram com os olhos castanhos do mortal diante de si. A voz preocupada que o chamou pareceu esquecida em sua mente, assim que aquele rosto que se curava de machucados pareceu.

Enxergar ele.

A luz do sol dourado, cruzou o caminho entre os dois, a luz do corpo celeste de White brilhou entre as nuvens acinzentadas daquele dia quente, mas antes sem sol.

Antes desse momento.

—Mas quem é você? —O pensamento de Sean fez White arregalar os olhos, sem pensar muito em qualquer coisa, o Deus solar ergueu a mão na direção do rapaz que o encarava fixamente.

—Você pode me ver? —Ele questionou de repente, mas nesse momento, em que o peito de White pareceu arder de certeza, o rapaz diante dele fechou os olhos, desviando o rosto para o chão, antes de simplesmente desmaiar diante de seus olhos chocados.

Do que isso se trata? White se perguntou, instintivamente dando espaço para a avó dele tentar o acudir. Os pelos do braço do Deus se arrepiaram de uma forma que o assustou.

E então, diante de seus olhos celestiais, um filme começou a rodar.

A infância de Sean, os braços erguidos na direção da avó, sempre que precisava de colo. O pai que trabalhava em Bangkok, mas sempre vinha vê-lo quando podia, aquele era o herói dele, a pessoa pela qual ele se colocaria na frente do tiro, um homem alto e de sorriso cansado.

A escola primária passou ainda mais rápido diante dos olhos do Deus, a amizade com Todd, a forma como eles tinham um entendimento mútuo sincero e sem muitas palavras. Um apenas assentia para o outro e então eles ririam juntos.

Aquela ligação, a dor pareceu parar a velocidade da visão, a tornando em um tom de vinho profundo, tudo ao redor começou a se tornar um mar sombrio e gelado, seu pai estava morto, a pessoa que o inspirou a ser o mais correto possível, o mais justo.

Quem o carregou no colo pela campina, quem o ensinou a cavalgar nos bosques, aquele que contava suas histórias para dormir, mesmo cansado daquela longa viagem.

Ele seria tudo e faria tudo por Sean. Esse alguém, estava morto diante de seus olhos, dentro de um caixão lacrado, gelado, uma cova cheia de outros caixões de desconhecidos.

Esse foi o fim dele?

Ali, abandonado e esquecido. Por quem o meteu no crime, pelo estado que deveria tê-lo salvo.

A inocência daquela criança foi roubada, massacrada, torturada e perfurada por balas.

Era assim que a inocência de uma criança era roubada pelos políticos que prometiam mudanças, mas mudavam apenas os seus carros e jatos particulares depois de eleitos.

White recuou alguns passos com a dor que o dominou.

O ódio, o desejo por sangue, por vingança.

A vontade de enfiar a mão dentro da caixa torácica de quem tirou aquele homem dele, e arrancar para fora seu coração pulsante.

Ver com os próprios olhos, se ali existia algo além de cobiça e vaidade.

Para o Deus pleno de amor, aquela era a primeira vez, em toda sua existência que se deparava com tal tipo de sentimento letal e assustador.

O sol foi coberto por nuvens negras, o brilho desapareceu de uma só vez, sugado pela escuridão que agora ele enxergava, as folhas das árvores zuniram com o vento de um dia que começou a se tornar frio.

Todd, conseguiu finalmente despertar o amigo, que voltou a se sentar tonto.

—Sean? Sean? O que aconteceu?

Os olhos turvos do rapaz encararam o céu agora escuro, os olhos redondos do Deus avaliaram o rosto confuso.

Ele ainda pode me ver?

—Cara... se eu perguntar onde estamos, você vai me achar louco? —Sean murmurou, sua avó riu baixinho aliviada.

—Garoto! Você quase mata a vovó do coração! Escuta, vocês ainda estão machucados, desculpe tê-los tirado de casa tão cedo. Vamos voltar então, a médica disse que isso poderia acontecer.

Assim, os três começaram a se afastar, do Deus que se apoiou no altar, sentindo de repente uma fraqueza absurda.

O tempo de tornava cada vez mais frio.

E o coração de White subitamente angustiado.

por sua glória • SeanWhiteOnde histórias criam vida. Descubra agora