Sean descia emburrado da caminhonete, os braços cruzados na frente do peito, um beicinho adorável que em nada se assemelhava ao rosto do rapaz que fazia Bangkok virar de cabeça para baixo. Era o meio da noite já, a viagem de seis horas havia sido em silêncio total.
—Querido... —Vovó Nia que era baixinha e com cabelos brancos abraçou o neto beijando o rosto com carinho. —Vovó sentiu tanta saudade.
—Urrum. —Ele resmungou, observando o rapaz de calça jeans e camisa xadrez parado atrás dela, o sorriso dos dois apareceu como fogos de artifício.
—Todd?
—Sean!
Os garotos se abraçaram risonhos, dando aos avós de Sean uma chance para respirarem fundo e relaxarem, ele ainda se sentia em casa em Sukhothai, já que ali estava um de seus melhores amigos de infância.
Então a presença de Todd tornou mais leve para Sean, a sua viagem e mudança forçada, pelo menos naquele momento.
-Vamos, seu avô passou quase 16 horas no carro e vocês precisam comer sim? -A vó chamou a atenção dos dois garotos que se empurravam pela porta do chalé a dentro.
Com um longo suspiro e apertando a mão do marido, os dois seguiram os garotos, rezando profundamente para que aquele ato desesperado servisse o suficiente para salvar a vida do neto.
Afinal, eles já haviam perdido um filho, e por terem criado Sean desde jovem enquanto o pai trabalhava em Bangkok, para aqueles senhores o neto era também um filho amado.
Vó Nia já havia orado tantas vezes aos deuses, com tanta força que ali do lado da enorme árvore onde ela deixava seus méritos, tinha uma figura com uma grande coroa de pedras negras reluzentes.
Black torcia os dedos sobre a túnica de pelo de pantera, seus olhos estavam semicerrados, a curiosidade parecia consumi-lo de uma forma única e quase irreal.
Ele como um deus, dono de tudo e de todos.
Senhor dos destinos, senhor da verdade e do caos.
Queria e precisava entender quem era aquele mortal engraçado. Então mesmo tendo levado uma bronca absurda de sua mãe e mais um de seus castigos, que muito se assemelharia aqueles milênios preso em uma torre.
Mas para sua sorte, White apenas salvou a vida de um mortal, então ele estava em um castigo leve e isso não o impediria de ir ali dar uma olhadinha no seu mais novo entretenimento.
Então Black vestiu seu manto, caminhando porta pela porta sem muito cuidado, a ponto de ouvir a senhora de idade reclamar da batida forte e expulsar o suposto espirito.
O Deus apenas riu baixinho consigo mesmo, afinal ela rezava tanto por sua presença, que mesmo que ela quisesse expulsa-lo, ele tinha o poder de fazer daquele pequeno rancho sua própria casa.
Então Black começou o que seria mais uma de suas obsessões temporárias, coisa que o Deus do caos costumava ter de tempos em tempos.
Naqueles primeiros dias, ele observou de perto a rotina irritada de Sean, ele acordava irritado, seguia irritado até o café, alimentava as galinhas sempre irritado, depois caminhava dentro do rancho, chutando a grama com raiva. Ele realmente não queria magoar a sua avó, então ainda teimava em fingir uns sorrisos.
Então, na hora do jantar, quando seu avô chegava, Sean estava mais uma vez emburrado, o seu sorriso falso não enganava o vô, mas eles não conversavam sobre isso de qualquer forma.
O Deus do caos, sabia que seu mais novo colega sentia uma raiva que lhe dava combustível para entrar em uma briga, inclusive brigas nas quais ele poderia perder.
Afinal, em sua mente durante aqueles três dias, tudo o que Black podia ler e ouvir era Sean recapitulando as brigas que perdeu, além do texto quilométrico que ele enviou para Namo terminando o relacionamento conturbado deles, com uma raiva profunda dela ter o entregado assim deliberadamente.
Por fim, no fundo da mente dele, como algo que passava em segundo plano, ele realmente se perguntava.
Porque aquela bala não o atingiu?
Isso surgiu por volta do fim do terceiro dia, quando aquele tratamento de imersão em campo começou a surtir seu efeito, limpando a mente do ódio fugaz, a dúvida começou a vir a tona.
Black estava quase voltando para Celestina pelo tédio de ver tanta raiva acumulada, quando ele estacou ao ouvir aquela pergunta silenciosa.
Porque aquela bala não me matou?
O Deus do Caos parou, se sentando próximo a cama de Sean, em uma cadeira de madeira antiga de uma escrivaninha tão velha quanto. Aquele quarto era um tipico quarto de interior, uma cama de madeira que rangia, um guarda roupa de carvalho em apessoado, afinal a sua avó cuidava daquele quarto como se fosse sua maior jóia.
Mesmo assim, mesmo sendo o que a Vó Nia via como mais precioso, tudo o que se passava na mente raivosa era vingança.
Agora dando aquele pequeno teor de dúvida sobre o tiro, o tiro daquele policial.
Black sorriu silenciosamente, de fato eles estavam chegando a algum lugar.
Na manhã seguinte, Todd usando mais um de seus jeans surrados, camisa velha e uma jaqueta jeans, chegou em cima de uma moto, realmente boa de mais para alguém que morava em um lugar tão ermo.
Então foi isso que acionou certa dúvida em Black, quando ele finalmente parou para prestar atenção em Todd.
Sobre o garoto diante do Deus, que não podia o enxergar, mas certamente sentia a energia caótica, pois seu braço se arrepiou por inteiro. Todd era menor que Sean alguns centímetros, mas os dois eram bem altos se comparado ao deus do caos e o deus solar. Ele parecia ser um tipo de herdeiro, pois mesmo com sua roupa surrada ele tinha uma pele brilhante e alva, o cabelo preto longo caia em seus olhos, mas ele continuava o puxando para trás assim que tirou o capacete.
Então Black franziu o cenho, quando o garoto o olhou fixamente, por alguns segundos, o olhar foi desviado para Sean e Black se perguntou que sensação era aquela de ter sido visto por um mortal, afinal isso era impossível certo?
-Onde vamos? -Sean perguntou interessado de repente, aqueles dias infernais pareciam ter perdido o tom sombrio, com a menor ideia de poder sair com o amigo para algo divertido.
Todd lhe sorriu inocentemente.
-A gente vai fazer aquilo que você mais gosta!
-Oh não... -Black exclamou, capturando o olhar de canto de olho do motoqueiro.
-O que?
-Vamos brigar com uns idiotas, bora? -O garoto jogou um capacete para Sean e Black decidiu que aquela era hora de partir antes que acontecesse mais alguma idiotice, dessa vez realmente por culpa dele, já que aquele adolescente idiota continuava se metendo em encrencas. -Você tem uma arma?
Silêncio, o Deus do caos se virou lentamente para encarar os dois meninos risonhos, como se ele tivesse visão de raio laser.
Pelos céus ele queria esganar os dois.
-Eu não!
-Bom, eles tem... você está pronto para isso?
Os amigos sorriram divertidos, e Black apertou a ponta do nariz com os dedos completamente irritado, então ele apenas riu para si mesmo, afinal julgou tanto o garoto por toda aquela raiva.
Quando a mínima atitude idiota deles o irritou na mesma proporção.
-Você não deveria brincar comigo, se não quer me conhecer pessoalmente. -Ele sussurrou para Todd.
Antes de seguir os dois naquela idiotice.
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por sua glória • SeanWhite
FanfictionPara Sean, a tudo podia ser resolvido entre troca de socos e rachas. Ele era realmente consumido pela sua rotina nas gangues de Bangkok. Como ele podia ser salvo? Essa eu fiz pela Marjori 🤍