Parte Nove

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—Você não pode fazer isso comigo! Conosco! White! —O general chorava, um pranto alto e conhecido, tão infelizmente conhecido pelo Deus. — White ???

A deusa do amor, se levantou, suprema dos matrimônios, rainha da lealdade. O julgamento do mortal que ousou tocar os deuses era o motivo de seu ódio mais profundo.

As mãos do pequeno deus estavam fechadas em punhos. Sentado em seu trono ele trincava os dentes com amargor.

—Sean... —Ele murmurou baixinho, os olhos do mortal se voltaram para o esplendor do nascer do sol. —Mãe! Eu abdico, abdico do meu trono, eu deixo tudo, me de uma vida mortal, uma vida ao lado dele.

—Nunca!? White você se casará com Eva. —A deusa ninfa do amor sorriu e assentiu para rainha. Esse ato não passou despercebido por White, que mesmo com o respeito e carinho profundo que nutria por sua mãe, estava próximo da cólera. —Quanto a esse mortal... Ele irá esquecer de você, voltará ao mundo dos mortos em martírio e passará cem anos no sepulcro.

O coração do pequeno Deus acelerou e antes que Black pudesse detê-lo. Ele se levantou, encarando a Imperatriz Celestial com rancor.

—Eu nunca permitirei que você faça isso! Eu sou o imperador, eu sou o Deus sol!

—Enquanto estiver casado! Sem uma esposa, você é meu filho e meu súdito, perecerá diante de minhas leis! E com um mortal você nunca ficará!

Um relâmpago alto soou no mundo celestial, único e sozinho, ao fundo.

—White, sente-se por favor. —Black puxou o braço do irmão. A Imperatriz encarou o filho mais velho, seu ato não passou despercebido.

—Claro que haveria interferência do deus do caos nisso tudo.

Black sorriu para a mãe, o seu rosto angelical adornado de lindas covinhas.

—Leve o mortal para seu reino. Faça algo descente pela sua família.

—Black, não se mova. Ninguém tem permissão para se mover. —White gritou, outro relâmpago explodiu próximo ao castelo celestial. Os olhos da Imperatriz se arregalaram chocada. Os demais deuses assistiam em silêncio a competição pelo poder.

—Ele está ameaçando a imperatriz? —Sussurrou o Deus da guerra Marte. Eva assentiu encarando o noivo em silêncio. Para ela o casamento era tão vantajoso, uma ninfa que nasceu de uma flor de hibisco, para trazer paixão e prazer aos mortais. Mas parecia fatídico a uma deusa do amor, ter uma queda pelo deus da guerra, seus olhos faiscaram para Marte e ela corou. Porém o Deus estava mais curioso com o comportamento imprudente de White, afinal o Deus Solar também regia a guerra, junto com o Deus do Caos. E isso deixava Marte com poder apenas sobre as pequenas decisões de batalha entre os mortais. Então ele sorriu de forma gananciosa. —A punição dele será severa. Ele pode até perder o posto de Deidade e ser jogado no sepulcro.

O Sepulcro tão citado, era um castelo em meio ao caos do submundo, reino de Black, nesse castelo eram presos apenas aqueles que pecaram contra os céus, lá havia todo o tipo de tortura para uma alma, das mais vis, ser assombrando por séculos, milênios... pelos seus maiores fantasmas.

—Você não vai fazer isso com ele. Eu não permito.

Sean ajoelhado em meio ao chão branco, levantou a cabeça para admirar aquele que sempre o protegeu, desde que fora banido de sua cidade natal, como um guerreiro renegado, até se tornar um general notório de Zhungou.

Quando em uma batalha, ferido mortalmente, ele foi abrigado por uma pequena criatura de olhos dourados, sorriso afável e uma beleza única.

Naqueles dias, meses antes. Em que lutou entre a vida e a morte. A única coisa que ele tinha era a visão daquele rosto lindo preocupado.

Não bastou muito, entre o delírio da febre e os pequenos momentos de sanidade. Sean se apaixonou pelo pequeno Deus.

White jamais teria se envolvido na vida de um mortal, era um crime, punível de morte e sentenças terríveis.

Mas aqueles olhos de felino, encarando os céus, implorando por ele, pedindo pelo seu milagre. Desde sempre sua fé inabalável, sua gratidão imensurável.

Seria errado dizer que.

Ele se apaixonou pelo general.

Então, quando estava curado. Sean perguntou a White.

—Quem é você? —Sentado na cama, envolto de curativos, ele encarava a pessoa pequena a sua frente, vestindo um hanfu dourado. White corou, e seu rosto pareceu a obra mais divina aos olhos daquele mortal. —Você parece algum tipo de benção em forma de pessoa.

—Eu sou, um admirador. —White respondeu, erguendo a mão para dar uma colherada de sopa na boca de Sean. Mas o mortal abaixou a mão dele, colocando a colher e a cumbuca no chão ao lado da cama. White assistiu em silêncio o ato demorado, afinal o mortal estava ferido ainda. Ele se perguntou baixinho qual seria o intuito dele negar a sopa. —Está ruim? —Não fazia sentido para o Deus, ele aprendia qualquer coisa mortal em uma fração de segundos. Mas o ato de Sean foi puxar o Deus para seu colo com força. Uma força que o assustou.

Os dois se encararam. White a princípio chocado. Sean sorrindo amplamente.

—Você me lembra uma imagem que eu costumava ver.

—Qual?

—A de um deus. White, Deus do Sol, da esperança, da vitória. Seria isso uma benção divina?

White só teve forças para encarar o rosto do mortal perigosamente perto do seu e assentir.

—Eu... Eu cuido de você. —Respondeu, contra todas as leis divinas, contra as próprias leis que redigiu. —Desde... sua mãe pediu a mim.

—Eu vi, você subindo aos céus, nesses dias em que estive doente. Então você realmente...

—Realmente...

—É um anjo?

White riu, a jogada tinha sido baixa a um ponto mortal. Será que ele nunca seria capaz de pensar que um Deus, com suas próprias mãos cuidou e zelou dele?

—Eu sou White. —Ele respondeu, pisoteando completamente tudo aquilo que acreditava, tudo o que as leis celestiais comandava. —Deus do Sol, da vitória, da justiça, da esperança... Sou o Deus de um milhão de nomes e um milhão de sentenças. Apolo, Hórus... todos esses sou eu.  Sou o Deus da benevolência e por isso eu... Estou aqui.

Aos poucos as mãos de Sean soltaram o Deus. Em choque.

Aquela fé que parecia movê-lo, como pólvora e fogo. O fez permitir que o Deus levantasse, e se ajoelhar diante dele.

Era sua fé que o fazia acreditar e ter certeza.

Que aquele era o seu Deus. Ao qual era tão devoto.

—Levante, você está machucado ainda, não deve fazer esforço. —White fez força para colocar o homem sentado diante de si. —Não é necessário essa formalidade entre nós.

—Oh senhor, Deus da vitória, minha maior vitória essa vida é poder estar diante de sua presença.

White sorriu com carinho. E acariciou o rosto ainda machucado, mas não menos belo de seu súdito tão leal.

—Não deves nada a mim mortal. Eu devo a você, sua fé me devolveu a esperança que milênios tiraram.

Os olhares deles se cruzaram. Mil histórias se passaram entre eles. Almas gêmeas, Akai Ito, todos os mitos de uma sentença de amor verdadeiro e único.

Passaram diante daquele olhar singelo.

Antes que pudesse se deter. Esmagando todas as leis em seus pés.

White se curvou e beijou os lábios daquele mortal.

Que o desafiava ao impossível.

por sua glória • SeanWhiteOnde histórias criam vida. Descubra agora