Parte Seis

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White era o que se descreve a palavra benevolente.

Disposto a absolver, complacente. Que quer o bem, favorável.

Você poderia ouvir apenas aquela voz suave e segura de si, durante os julgamentos de vida pós a morte, onde ele categoricamente iria pontuar os inclusive escassos pontos positivos de qualquer um no julgamento dos deuses.

Aquela era a forma que ele encontrou de ser complacente com qualquer um que passou pelo desafio de ser mortal, sem nunca cometer um pecado absoluto.

A sua energia se fazia presente em quase todos os seu templos, onde ele costumava passear e observar o carinho mortal por ele.

A maior parte dos deuses ignoravam qualquer simpatia mortal por eles, isso era diferente para White, ele acreditava que precisava dar valor para a simpatia dos seres que moviam o universo que ele guardava e zelava.

Sendo assim, White era notavelmente bom de coração, as preces feitas em seu nome eram prontamente atendidas, sua fama se espalhou pelo mundo dos humanos, desde os tempos mais antigos, com qualquer nome que os mortais o deram, cada qual sociedade em sua era.

Ele era um deus muito popular e querido. Então não era de se surpreender quando aquela empatia assustadora o dominou.

Seus olhos se arregalaram, os pelos de seu braço se arrepiaram, seu coração deu um solavanco e ele sentiu o mais profundo é pesado rancor.

Um rancor de mil vidas.

Uma sensação estranha de reencontro não o abandonou, desde o dia que ele salvara aquele mesmo humano de uma bala mortal. White não conseguia se livrar daquele sentimento de que já o vira em algum lugar.

Sendo assim, o Deus não pode evitar acompanhar aquela família para casa, subitamente sendo muito atento a cada passo, ele se sentia estranhamente ansioso por aquele olhar e desmaio subsequente.

Ao chegar num rancho humilde, a energia densa tão conhecida o bateu como uma enxurrada.

Por que Black está aqui?

A dúvida surgiu de repente, Black ignorava a vida mortal, se concentrando apenas em si mesmo ou em proteger White de seus próprios passos.

•*•

—Você só pode estar maluco! —O grito assustado de Gumpa, o mago do destino reverberou pelo palácio do Deus Solar. —Eu não vou permitir que você faça isso, nem em mil anos.

—Ele não tem mil anos, é um mortal! —White se defendeu, percebendo que aquela abordagem ia além da inocência. —Preciso ajudá-lo, sinto algo estranho sobre ele.

Gumpa suspirou alto, os dedos apertando as têmporas tentando achar uma forma de dissuadir White daquela ideia odiosa.

—Eu não vou criar um corpo mortal pra você fazer uma coisa burra dessa White!

—Eu vou fazer de qualquer jeito! Só preciso de um apoio ok?

—Apoio? Você tem noção do que o Black fará se descobrir? Ou sua mãe? Isso é suicídio White. Para mim! Não para você.

—Eu realmente preciso ajudá-lo... —A esse ponto White se levantou do trono, caminhando pela sala, sua longa capa dourada farfalhando no chão. —A forma como eu senti ódio, eu nunca tinha sentido isso, sabia que mortais sentiam mas...

—O que é o ódio?

White suspirou, a sensação de tremer por dentro, como se todo seu corpo estivesse tentando repelir algo, aquela necessidade estranha de que toda aquela energia estagnada se encha até o máximo apenas para que explodisse em seguida, em um ataque de fúria, quase como um vulcão explodindo depois de uma estranha calmaria.

—Eu sinto que é libertação, como finalmente poder abandonar algo que te consome, a questão de sentir aquela raiva e rancor, não é mantê-la para si, mas se livrar dela, deixar que ela abandone a face da fúria.

—Por quem ele sente isso?

—Por alguém que tirou algo que lhe era sagrado.

—Como quando você... Sobre aquele seu castigo que Black assumiu a culpa?

White estacou, se virando lentamente para encarar os olhos do mago do destino. Aquela lembrança que lhe fora negada durante mais de mil anos, será que um dia ela iria retornar a consciência de White?

"Prometa nunca me esquecer!"

"Você tirou tudo de mim, hoje eu tiro de você... Aquilo que você mais deseja."

Aquela dor de cabeça que geralmente o abatia voltou, então Gumpa se lembrou que aquela memória era negada a White, e tentou mudar de assunto imediatamente.

A única forma de tirar a atenção dele daquilo foi murmurar:

—Então vamos, vou o ajudar a criar seu corpo mortal.

A descida ao mundo dos humanos, era uma tarefa quase impossível para um Deus, sendo tortuosa de mais e dolorosa além do que um Deus poderia superar, desde a criação de um corpo, até se colocar em uma situação onde ele vai sofrer.

Um Deus se sente desconfortável na pele de um mortal.

O que poderia levar White, a querer passar por isso.

Além da enorme benevolência que corria por seu coração de ouro.

Seria aquela sensação profunda de raiva e ódio que ele nunca sentira antes?

Ou a necessidade estranha de salvar aquele mortal, a qualquer custo.

•*•

Eu não sei se estou certo, não consigo descrever se estou errado. Mas sei que, sou um ator fajuto.

A essa altura, White caminhava na direção de um Sean desatento encarando o celular, ele desviou o olhar para o lado e então os dois bateram de frente.

Imediatamente White caiu no chão e Sean soltou o celular assustado.

A reação comum de Sean seria arrumar briga com o pequeno ser a sua frente.

Mas de repente o garoto que procurava um emprego em um café pequeno na beira da estrada, encarou completamente chocado o rapaz caído diante dele.

Vestindo um moletom branco, incrivelmente branco, um shorts igualmente branco. O garoto de cabelo em um tom profundo de loiro, quase que branco, um champanhe claro, o rosto redondo e delicado, os lábios grossos e vermelhos, olhos redondos de cor escura e brilhantes, como uma estrela numa noite sem nuvens, o encarava assustado.

—Desculpe...  —Sean se surpreendeu murmurando essa palavra estranha e estendendo a mão. O pequeno garoto de mãos quentes e suaves a agarrou se levantando. —Esta bem?

—S-sim... —White murmurou assustado, sua mão foi ao peito e ele sentiu o coração acelerado. Um ardor desconhecido nascia em seus cotovelos e transbordava pela sua pele. Ele ergueu o braço para avaliar o vermelho do sangue que escorria.

Seus olhos se arregalaram em surpresa. E ele sorriu lindamente, sorriso esse que foi capturado pelos olhos atentos de Sean.

Ele está feliz por ter se machucado?

Você se machucou. —Sean puxou o braço de White sem muito cuidado, constatando o sangue que descia abundante. —Venha, vou te levar a uma farmácia.

—Eu... sou novo aqui... Não tenho... —Como eles chamam isso mesmo? —Dinheiro...

White se sentia um idiota, de fato ele era um ator fajuto. Mas de que forma ele poderia invadir a vida de Sean?

De certa forma, isso deu até que certo.

por sua glória • SeanWhiteOnde histórias criam vida. Descubra agora