Parte Quatro

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"Você não pode fazer isso comigo! "—Ele gritou em alto e bom tom, sendo atingido pelo recuo de energia como uma bola escura.

"Não pode me tirar ele, leve tudo! Leve minhas honrarias, leve minha inútil humanidade, mas não me tire isso, não tire ele de mim!"—Aqueles gritos que saiam por sua boca, era tudo o que ele podia realmente enxergar naquele ambiente escuro.

Esses gritos plenos de um ódio tão gutural como a própria voz rouca e alta, preenchiam sua mente como se estivesse saindo de sua boca naquele exato instante.

"Eu amaldiçoo você! Amaldiçoo você e toda sua existência se você concordar com ele! Se concordar com isso!" —As mãos frias e pequenas tentavam o conter, enquanto ele voltava a ponta de sua espada pro próprio pescoço.

"Hoje, se for de sua vontade e desejo, eu derramo meu sangue aos seus pés, para que você possa enxergar o carmim do meu coração, mas nunca mais poder ver os meus olhos" —E assim, como uma lâmina rasga uma pétala de flor, a leveza e calmaria. O seu pescoço foi partido em dois com o brandir de sua espada, que a tantos matou, que por apenas um ser lutou.

Assim, o sangue carmim percorreu seu caminho entre os dedos daquelas mãos frias, sendo espirrado nos próprios pés daquele, daquele ser que.

"Você tirou tudo de mim, hoje eu tiro de você... Aquilo que você mais deseja." —A frase capaz de destruir toda a existência daquele para a qual foi dita, tomada como uma lâmina afiada que cerraria seu coração pedaço por pedaço.

Aquele maldito dia.

Sean abriu os olhos para a luz turva do quarto branco, seu corpo todo ardia e doia assim como a luz do sol brilhava forte, em pleno ao meio dia.

O choro baixo ao seu lado, o fez piscar um pouco voltando a si, tentando deixar para trás a sensação estranha de um sonho muito importante, que fora esquecido, isso o incomodou por um momento, afinal ele sentia que tinha algo de importante velado ali. 

O rapaz se moveu na maca, sentando em meio a um baixo sibilo de dor, seu rosto se virou para a senhora de idade que chorava baixinho o encarando.

—O que você fez? O que você quer fazer consigo mesmo mais Sean? Você já não se destruiu o suficiente meu filho?

Aquela frase foi jogada em seu rosto, em um sussurro repleto de uma dor, que também sabia como doer no seu coração cheio de raiva. Ele se perguntava, se algum dia a sua vó entenderia, que tudo aquilo também doía nele, aquela raiva profunda que parecia queimar em seu peito como fogo, doía e ardia.

Mas tudo o que ele pode fazer, foi abaixar a cabeça envergonhado, ouvindo o choro da senhora de idade se intensificar enquanto ela puxava o braço dele com força.

—Você e o Todd quase se mataram! Olha o quanto vocês se destruíram por briga de gangue! Namo disse que você quase levou um tiro!

—Vovó! —Ele resmungou tentando puxar o braço, mas sendo segurado com mais força.

—Chega disso! Chega Sean! Vovó está implorando! O que mais você precisa passar para entender que ninguém merece viver assim? Em busca de uma vingança!

Sean engoliu em seco, sentindo sua cabeça assentir levemente sem a sua total permissão, mas ele não tinha mais o que dizer ou fazer, aquele seria realmente o ponto final.

Olhou pelo canto de olho Todd os observando enquanto sua mãe dormia na cama com o rosto lavado por lágrimas. Assim Sean leu nos olhos temerosos do amigo, aquilo que para ele era uma sensação até aquele momento desconhecida.

Dor, a dor de fazer alguém que você ama sofrer.

Esse tipo de dor era única, por que ela vinha com a lembrança de tudo o que aquela pessoa passou com você, fez por você, dedicou a você. Tudo isso intensificava a dor de ver o rosto distorcido por lágrimas.

Aquilo doía, doía como o inferno. Para Sean nesse momento em que olhou para o amigo, sua mente parece clarear.

Primeiro sobre a surra que eles levaram, aquele momento assombroso que passaram os dois contra seis garotos. Para Sean, ser chutado e sangrar no chão, era algo tão comum que ele nem sentiu mais medo.

Fazia tanto tempo que não sentia medo.

Até olhar para o amigo apanhando, o amigo de infância, que cresceu lado a lado. Então o garoto forte, de repente sentiu a primeira fraqueza. O medo nunca fez parte da vida de Sean, mas agora ele via, que ter voltado para sua cidade natal, em meio às pessoas que passaram seus melhores anos ao seu lado.

Era algo perigoso, um homem tão repleto de sede de vingança, encarar a sua versão criança diante de si. O garoto que amava o colo da avó, o garoto que corria pelo campo com Todd.

Esse garoto, parecia balançar a mão do lado de fora da janela do hospital do interior, como se quisesse chamar sua atenção, atrás de Todd...

Então Sean apenas suspirou assentindo para o amigo, que lhe sorriu embora estivesse com o olho roxo e a boca inchada.

A mão grande segurou a pequena e fria da avó, então ele puxou a delicada mão para seu rosto, sorrindo docemente.

—Vovó... desculpe. —Ele murmurou de repente, fazendo a senhora o encarar curiosa.

—O que? —A voz baixa saiu trêmula e Sean apenas suspirou se virando para ela em meio aos tubos em seu corpo. —Não se mexa.

—Eu vou melhorar... —Sean continuou. —Talvez eu faça mais bobeira daqui pra frente, mas entenda que eu estou focado em ser o meu melhor, eu... Não quero mais chatear a senhora... —Uhm ele não sabia mais como continuar, mas em resposta a isso foi abraçado com força.

A senhora de idade agradeceu novamente aos deuses, primeiro pelo garoto estar vivo quando foi chamada pela polícia, depois por ele estar sendo de repente tão bom... Como o menino que foi estudar em Bangkok dois anos antes.

Então o Deus que recebia o agradecimento, observava Sean irritado.

Dessa vez Black estava mais do que incomodado.

Ali, parado, dentro do quarto de hospital, ele finalmente descobriu, da onde vinha aquela sensação.

E era a pior opção possível.

por sua glória • SeanWhiteOnde histórias criam vida. Descubra agora