Reino de Antar

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Giryon estava finalmente entrando no reino de seu avô, o Reino de Antar, onde verdadeiramente pertencia. Ele sempre se olhou nos espelhos do castelo de Avilá e ficou admirado com a sua imagem, ninguém que ele conhecia tinha aqueles cabelos lisos, compridos e daquela cor quase branca, olhos caramelos meio transparentes e aquelas orelhas pontudas.

Ele sempre se achou estranho, sempre achou que aquele castelo e aquele povo, não era o seu. Mas mesmo assim, ele absorveu tudo que podia aprender ali e se tornou um líder para aquele povo. Um povo sofrido, mas orgulhoso. Um pequeno contingente de bruxas e feiticeiros, enganados e iludidos por alguns vaidosos e loucos, que queriam dizimar todos aqueles de quem eles não gostavam ou consideravam inferiores.

E agora ele, de frente para o rei, seu avô, depois de ter estudado algumas leis e regras do povo fae e de ter se aprimorado em lutas e magia, estava descontente com o que ouvia:

- Meu rapaz, você não conhece os nossos costumes e em breve lhe passarei o meu cargo, o cargo maior que tem aqui no reino, o de rei. Então é necessário que você seja uma pessoa completa, é necessário que você encontre uma companheira, uma fêmea que possa cuidar da parte mais social do reino, das pessoas e suas necessidades. De preferência, uma fêmea pura, que também seja uma fae e que tenha magia elemental, que seja do seu próprio povo, para não gerar criaturas estranhas e diferentes.

- O senhor está me dizendo que aqui, no reino de Antar, não aceitam híbridos? - Perguntei meio indignado, sendo bem direto.

- Não foi isso que eu disse, não ponha palavras em minha boca, ainda mais depois desta última guerra. Já pensou se o Rei Pedro ouve algo assim e resolve nos invadir, nem pensar. - Ele tira o corpo fora.

- Eu entendi bem o que o senhor falou e quero lembrá-lo, de que também sou bruxo. E não sou eu que escolho minha companheira, são os deuses ou sei lá quem, não me imputes esta responsabilidade. - Creio que deixei tudo bem esclarecido.

- Eu sei disso meu neto e espero que você continue controlando este seu outro lado, pois poderá ser muito útil, para o reino. - Insinuou o rei.

- Sim, senhor, mais alguma coisa? - Estava doido para sair dali.

- Sim, eu te deixo esta obrigação e mais uma recomendação: no reino fae, nós só casamos uma vez e tem de ser com a nossa predestinada, pois se não for, a vida se torna um inferno e quando você finalmente encontrar a sua companheira destinada, sofrerá horrores e ela também e por fim podem até morrer e nós não morremos, nós temos eternidade de vida e para não acontecer isso, espero que você encontre logo sua companheira, sinceramente. Você entendeu? - Mais confuso, porém certeiro, impossível.

Giryon abaixou a cabeça e ficou pensativo, como encontraria uma mulher única, que seja sua companheira, em meio a tantas mulheres. Havia passado centenas de anos naquele Reino Perdido, naquele reino miserável, ele vivia num castelo, mas não era um rei. A natureza estava destruída e tinha um mar enorme à frente deles, ao qual eles não podiam nem se aproximar.

- Creio que sim, só acho que será difícil de encontrar - fui sincero em dizer.

O rei desceu de seu trono e se aproximou de mim, para falar baixinho:

- O que quero dizer, meu neto, é: nada de sexo fora do casamento. Transou, casou, compreendeu agora? - Desta vez ele falou com mais intimidade e até um certo carinho.

- Sim, compreendi e tenho a meu favor, que não sou dado a estes arroubos e nunca pratiquei tal coisa. - Esclareci.

- Muito bem garoto - ele sorriu e pegou em minha nuca, num aperto de carinho - você parece um fae puro, isto me deixa muito feliz. - A arrogância anulou o carinho.

Ainda bem que ele estava feliz, pois eu bem sei o que passei até aqui e agora continuo tendo que viver limitado, como se tivesse cometido algum crime e estivesse cumprindo pena. Aqui, pelo menos, tenho fartura de alimentos, vestes e é bem confortável. O lugar é lindo e posso passear bastante.

Passou centenas de anos naquele Reino Perdido, naquele reino miserável, ele vivia num castelo, mas a comida era racionada, a água era impura e tinha um mar enorme à frente deles, ao qual eles não podiam desfrutar. Não dava para passear pelos lugares bonitos, pois estavam bloqueados, a floresta estava toda queimada e ele ali, vivendo só de ler na biblioteca sobre as coisas que existiam, mas que ele não tinha acesso. Estava se tornando repetitivo, só relembrando desgraça.

E agora que ele pode ter acesso a todas as coisas e ver pessoalmente tudo, pode visitar outros reinos, conhecer estradas e ruas de cidades diferentes, outras bibliotecas e pessoas de outras raças. Vem essa cobrança para reinar, uma cobrança que impõe várias regras e tira dele novamente a liberdade.

Em meio a tudo isso, ele se retirou do salão do rei e chegando em seu quarto, no quarto enorme, elegante, muito bem decorado e cheio de plantas enfeitando tudo, pois o reino fae é dedicado ao cuidado da vida, da natureza, são elementais e o quarto é todo assim. Não percebeu uma sombra, passando pelo quarto, pois estava muito aflito. Foi procurar papel e lápis para escrever alguma coisa e se ocupar.

Sobre a sua escrivaninha, avistou um envelope, deve ter chegado no correio da manhã. Era um convite, um convite do Rei Pedro para voltar aquele que um dia foi o seu lar ou sua prisão, para uma festa de comemoração, depois da grande guerra que haviam vencido. Agora o reino está aberto para a prosperidade, para crescer, aberto para outros povos se juntarem e poderem viver com Liberdade. Talvez seja o que eu preciso para poder espairecer de todas essas regras que têm me imposto. É isso que vou fazer, vou preparar minhas coisas e viajar de encontro a festa e aos meus amigos.

**

Eu, Jenneffér, da Alcateia Lua Azul, filha de Derick e Lizandra Bener, estou ajudando minha mãe a cuidar de seus queridos gêmeos, preparando-os para ir para o reino de Avilá. O castelo foi reformado e também tem muitas casas, amigos e famílias que estarão dispostos a ajudar a cuidar deles e levaremos também as fadinhas, para poder ajudar mamãe, que já está com a barriga grandinha, mas a sua energia é muito grande e ela não para.

Eu estou me sentindo muito diferente, muito ansiosa. Tenho, cada vez mais, mudado minha aparência para não me parecer com uma fada, eu gostaria de ser mais uma loba do que uma fada, mas não é isso que acontece. Sou mais fada que lobo, com um pouco de bruxa e sinto ter decepcionado meu pai, por não ter nascido uma loba como ele.

Tenho sentindo algo diferente dentro de mim, nestes últimos dias, minha loba está agitada, ela é tão suave, tão tranquila, mas está tão agitada ultimamente. Ela não gosta muito de aparecer, por isso nem me transformo tanto, também não corro tanto pela floresta como as outras lobas.

Quem me conhece, sabe que eu sou loba, mas quem não me conhece, nem imagina que tenho uma loba ruiva dentro de mim e hoje ela está muito agitada, justo hoje que vamos para o reino de Avilá, para a festa do Rei Pedro. Rei Pedro, meu irmão, que orgulho.

Estou também ansiosa, porque gostaria muito de encontrar meu companheiro. Todos os meus irmãos, todos, já têm seu companheiro, mas eu ainda não e eu vejo eles tão felizes, vejo a vida tão completa tendo seus predestinados com eles, que fico ansiosa para encontrar o meu companheiro também.

Será que quando eu encontrá-lo, ele vai me aceitar como eu sou, uma loba/fada/ bruxa, na verdade uma fada/loba/bruxa. Porque a que predomina em mim é a fada. Será que ele vai aceitar isso, hein? O que será que a lua preparou para mim?

Fúria VingadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora