Desavença

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Giryon, por sua vez, tentou ao máximo, controlar sua fadinha que queria deixar tudo cor de rosa e azul e não eram as cores preferidas do rei, que gostava do verde com dourado. 

Quando terminaram, perceberam o sumiço do rei, mas os servos do castelo estavam todos ali, de cabeça baixa e o chefe de todos, perguntou:

– Quais as ordens, príncipe Giryon? 

– Prepare quartos para meus hóspedes. Cuide para que não lhes falte nada e prepare um banquete para a noite, convide o conselho, tenho novidades para contar.

– Sim, senhor, com sua licença – assim, saiu o chefe, já começando a dar as ordens.

Giryon virou-se para seus amigos e agradeceu pela ajuda, convidou-os para irem a uma sala de estar, ao lado do salão e o servo que ali estava, foi imediatamente providenciar um lanche.

– Desculpem o meu avô. Tem sido difícil para ele, se adaptar às nossas diferenças. 

– Ele correu um sério risco com nossas fêmeas, que não deixam passar nenhum insulto. Se Jenneffér não tivesse agido primeiro, Eghara teria feito pior. O que me faz lembrar que há o corpo de uma feiticeira lá na torre. – Contou Vini.

– Fique tranquilo, os servos vão limpar. Aliás, será que poderia cuidar disso Dorotéia? Por favor? – Pediu Giryon.

– Sim, acho melhor, para que ela não ressuscite por aí – Dorotéia falou e saiu 

– Mas fique sabendo, meu companheiro, que não tenho sangue de barata e não vou deixar ninguém fazer pouco caso de nós dois. – Falou, uma irritada fadinha/loba.

– Falou e disse minha fadinha, vou sempre te apoiar. 

Assim que o servo avisou que os quartos estavam prontos, se retiraram para voltar só na hora do banquete, quando Giryon apresentaria sua companheira.

Giryon levou Jenneffér para um quarto de hóspedes e ela achou tudo muito lindo, com toda aquela natureza colorida, mas odiou a atitude do príncipe. Será que ele não gostou de como ela se comportou ou de queimar o castelo? No fundo, Jenneffér era muito insegura e colocá-la no quarto de hóspedes significava que não queria ela por perto. Virou-se para ele e perguntou:

– Você desistiu de mim? Ficou bravo por eu ter queimado tudo? Por isso me deu esse quarto? – Perguntou chorosa.

Giryon achou estranhas àquelas perguntas e respondeu, perguntando:

– Não gostou do quarto? Quer um diferente? 

– Pensei que ficaria no SEU quarto! Somos companheiros, precisamos ficar juntos – Começou falando brava e terminou choramingando, novamente.

Giryon foi até ela segurou seu rosto com as duas mãos e a beijou com carinho. Seus lábios tocaram os dela devagar, desapaixonado, mas expressando ternura.

– Não é nosso costume, meu amor. O casal só dorme no mesmo quarto depois da cerimônia de apresentação e enlace. Hoje a noite te apresentarei ao meu pai e ao conselho e veremos o que diz e quando poderemos marcar a cerimônia.

– Então nós não acasalaremos como fazem os lobos? – Perguntou ela, preocupada com a carência de sua loba, que depois da batalha de mais cedo, estava agitada.

– Não será como aquela caçada, como fez Pedro no reino. É mais parecida com uma cerimônia de casamento humana. Na verdade, aprendi sobre isso a pouco tempo. – Respondeu Giryon.

– Desculpe, é que você parece tão frio, tão sem paixão – ela deu as costas para ele, andando até a janela, olhando todas aquelas plantas coloridas, as cortinas de seda rosa, onde tocou, acariciando e sentindo a carícia do tecido.

Giryon não sabia o que dizer, não era dado a arroubos de paixão. Seu primeiro beijo foi nela e apesar de ter estudado sobre sexo, ter tido um professor para explicar o funcionamento sobre os corpos, nunca tinha visto ou praticado. Não entendia o que sua companheira queria dizer.

– Não entendo o que quer dizer. Nós faes só temos uma companheira para toda a vida e esperamos por ela para acasalar, então não entendo. – Ele tentou explicar a ela, a situação.

Ela olhou o vale e as montanhas distantes, pela janela, pensando no que ele acabou de dizer e entristeceu-se. Queria um companheiro apaixonado, fogoso, que a tratasse como a jóia mais preciosa, mas seu companheiro parecia mais um príncipe frio, voltado para o seu reino, sem muito interesse por ela. Virou-se para olhar para ele.

– Eu não sei o que pensar...acho melhor descansar um pouco agora, para estar bem para o jantar. – Ela achou melhor não falar mais nada, daria tempo ao tempo.

Ele sorriu, aliviado. Fez uma reverência simples e se retirou para seus aposentos  e chegando lá, aproveitou a banheira para tomar um bom banho e sentiu-se bem. As coisas pareciam estar bem. O reino salvo, o rei tendo que reconhecer sua força e de sua companheira, que além de linda, era um trunfo a ser somado às riquezas do reino. Quase dormiu na banheira.

**

Estavam todos prontos para o banquete e Giryon foi buscar sua fadinha. Bateu na porta e esperou, esperou...bateu novamente e esperou… nada, Jenneffér não apareceu. Ele chamou, mas ela não respondeu. Abriu a porta e entrou, olhou por todo o quarto e não a encontrou. Foi até a janela e olhou para toda a área externa e nada. Voltou e saiu pela porta.

Desceu as escadas e mandou que chamassem o chefe da guarda. Enquanto o oficial não chegava, andava de um lado para o outro, nervoso. Os convidados já iriam chegar e onde estaria sua companheira?

– Pois não, príncipe, em que posso lhe servir? – Perguntou o oficial, entrando no recinto.

– Minha convidada sumiu, ela é uma fada, quero saber se alguém a viu e que procurem por ela – respondeu Giryon.

– Alguns guardas viram uma fada voando pelo reino, príncipe. – Falou o chefe, inseguro.

Giryon desconfiou de algo, pois o chefe de segurança estava nervoso e olhava para o chão.

– O que fizeram com ela? – Giryon falou baixo, mas expressando todo seu descontentamento.

– Os guardas pensaram que era uma intrusa e a alcançaram com uma rede e quando ela caiu, prenderam ela e depois de tirarem a rede, ficaram brincando com ela, então ela lançou várias bombas de pó colorido neles, se transformou em uma loba e fugiu.

– O que? Quem se transformou em uma loba? Já capturaram? – Era o rei.

– Estão trazendo ela agora, meu rei – respondeu o oficial chefe.

Quatro guardas entraram e um deles trazia a fada no ombro e deixou-a cair no chão de qualquer maneira, aos pés do rei, provocando a fúria do príncipe, que olhou para os guardas e pegando sua varinha, lançou um feitiço de paralisia e dor neles.

– Como ousam fazer isso com a minha companheira? Ela será a vossa princesa e seria apresentada no banquete dessa noite, mas como, se vocês quase acabaram com ela? – Giryon se abaixou e pegou sua fadinha no colo, diante do olhar estupefato de seu avô.

Eghara e Vini estavam descendo as escadas, quando se depararam com Giryon subindo. Imediatamente, Vini fechou o semblante preocupado e pegou sua irmã do colo do príncipe, mesmo este não querendo soltá-la. Levou-a para o quarto e chamou Aurora em pensamento.

Um portal se abriu e logo Aurora passou por ele e foi direto ao encontro da irmã, deitada inerte sobre a cama.

– O que fizeram com ela? – Perguntou Aurora.

– Dardo tranquilizante para lobos. Ela vai dormir um bom tempo – falou Giryon, que conhecia bem os métodos do reino contra lobos e outros animais intrusos.

– Ah, mas não vai mesmo, nossa fadinha não vai ficar estirada numa cama por causa de uns guardinhas de merda – falou Aurora já tendo pedido mentalmente, para Pedro vir e trazer um antídoto.

Logo a família toda estava no quarto e Jenneffér, tomando o antídoto do tranquilizante, começava a acordar e vendo sua mãe sentada na cama, jogou-se nos braços dela a chorar.

Fúria VingadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora