Fúria Vingadora

Encontro

Giryon

Depois de nossa conversa, o Rei Pedro, me mostrou as reformas que fez no castelo e me levou ao quarto que haviam reservado para mim e despediu-se para ir se arrumar, dizendo que nos veríamos na festa. Disse o local onde estava tudo arrumado e se foi.

Minha mochila já estava sobre uma cadeira no quarto, peguei-a e abri, fui até a cama e comecei a tirar de lá, minha roupa de festa. Ela saiu da forma exata em que estava pendurada no guarda roupas. Essas mochilas mágicas, enganam.

Fui tomar banho e me senti como um verdadeiro príncipe ou noivo, dentro daquela banheira enorme, cheia de espuma. Pensava no que Pedro falou, será que encontrarei minha companheira hoje? Como será, pura, híbrida, afinal estamos em um reino de híbridos. Acho melhor parar de pensar nisso.

***

Narrador

Naquele exato instante, uma fadinha agitada passou pelo corredor, sentiu um ligeiro aroma de sândalo, mas não ligou, pois estava muito apressada. Depois de tanto tempo gasto preparando suas vestes, tudo havia caído dentro do rio, num descuido, ao passar voando, se assustou com alguns pássaros e lá se foi sua sacola de roupas.

Jenneffér

Fui até a sala de costura de Kir e encontrei elas se vestindo. Eghara, Kir, Dorothea e até a vampira Cat. Quando entro desesperada, todas se viraram para olhar-me.

– Ai gente, aconteceu uma tragédia! – Detonei minha ansiedade nas palavras.

Todas vieram até mim, preocupadas.

– Mas o que foi que aconteceu, Jenneffér? – Perguntou Kir, que já estava mais acostumada com os meus exageros.

– Deixei minhas roupas caírem no rio, agora não tenho o que vestir – expliquei.

Foi uma ovação, não sei quem exclamou mais alto.Fui ficando vermelha de fúria, mas Kir foi rápida até um manequim e tirou dele um lindo vestido de renda, bordado em lantejoulas e pedrinhas vermelhas.

– Acalme-se fadinha, nós preparamos um vestido para você, por precaução.

Ela trouxe o vestido até mim, muito lindo e parecido com o que eu havia feito.

– Como vocês sabiam que ele era assim? Ficou tão parecido e também muito lindo, vocês são demais, obrigada! – Meus olhos liberaram lágrimas e eu as abracei em conjunto.

– Agora chega, fadinha, venha se arrumar que está quase na hora.– Chamou Kir.

**

Quando enfim, fiquei pronta, me olhei no espelho e não pude crer que era eu mesma. Ficou tão lindo o vestido em mim. Só não é a minha verdadeira aparência, mas quase ninguém sabe. 

Saímos juntas através de um portal aberto por Aurora e logo comecei a andar por todo lugar. Havia muita comida e também tablado de danças, mas preferi não dançar, queria só olhar todo mundo e tentar encontrar meu companheiro. Mas o tempo foi passando e nada aconteceu.

Pedro subiu ao palco e começou seu discurso e todos se aproximaram. Foi então que senti um aroma incrível de ervas e flores, olhei em volta e identifiquei meu companheiro. Fui até ele com minha loba pulando dentro de mim. Ele pareceu ter notado minha presença e me olhou. Foi então que minha loba falou:

– MEU!!!

– Como é?

– O que está acontecendo com vocês dois aí? – Perguntou Pedro, olhando firme para nós dois.

– Ele é o meu companheiro, eu o reconheci! – Gritei, querendo que todos soubessem.

– Eu sou um fae e não um lobisomem – Respondeu o meu companheiro. 

– E eu sou uma fada e daí, você é MEU! – Revidei, convicta.

Ele olhava para mim e pude ver a fúria em seu olhar, fez um gesto com as mãos que percebi. No mesmo instante eu fiz uma bola de fogo na mão direita e lancei na cabeça dele.

– Jenniffer nãããoooooo – meu pai gritou, mas já era tarde.

O fae estava estático, com olhos arregalados e boca aberta de surpresa, que ainda bem, que na hora da bomba, estava fechada. Seus cabelos, longos, lisos e quase brancos, estavam num misto de azul, rosa e amarelo. Seu rosto, totalmente colorido, se transformou aos poucos em uma máscara irada, olhando para mim com fúria.

Pedro  aproximou-se dele e procurou acalmá-lo, falando mansamente:

– Esta é Jenniffér, minha irmã caçula. Ela realmente é uma lobisomem, mas híbrida com fada. Por favor, peço que compreenda que ela é jovem e ainda não tem total controle de sua magia – expliquei.

– Ora, eu fiz porque quis e pronto. – Gritei.

Pedro fez um gesto com a mão e o limpou de todo aquele pó. Papai me segurou com mão firme, mas eu não estava arrependida do que fiz, embora lágrimas escorressem em meu rosto, tentei justificar:

– Ele ia lançar magia primeiro, eu vi e só fiz antes que ele fizesse primeiro comigo, foi para me defender. Ele é meu companheiro e não me reconheceu. Ah papai, – escondi o rosto no peito de meu pai – ele vai me rejeitar, não quero ficar como a Aurora… 

– Pare de falar besteiras, Jenniffér, você precisa se acalmar, minha filha. Faes não identificam suas companheiras como lobos. Você precisa se acalmar para que possam conversar.

– Não quero conversar – falei choramingando.

Então vi que ele veio até mim.

– Muito prazer, meu nome é Giryon. Sou o príncipe do reino fae – falou se  aproximando – não chore, por favor, estou disposto a conversarmos e nos conhecermos, está bem?

 Olhei para ele, gostei de sua atitude. Resolvi lhe mostrar a minha verdadeira aparência, para ver se ele achava mais parecida com a dele. Quando ele me viu, arregalou os olhos, surpreso, e sorriu.

– Agora sim, você se parece com a companheira de um príncipe fae. Venha fadinha, vamos conversar. – Esticou o braço indicando um banco mais afastado.

Abaixei a cabeça, piscando, envergonhada. Passou o braço pelo dele, foram para um dos bancos mais afastados. Fiquei imaginando, como os faes reconhecem suas companheiras?

Fomos para o banco conversar, mas minha loba estava perturbada e não parava de me arranhar para sair. Foi então que me dei conta de que a lua estava plena, no céu e Pedro estava prestes a dar a ordem de início da caçada. E agora, o que eu faço? Olhei para o meu companheiro desesperada e ele não pareceu entender meu desespero.

Aurora e Kir se aproximaram de mim e disseram: 

– Você precisa ir Jenneffér, vai, anda – ordenou Aurora e fui até um lugar reservado e deixei minha loba sair. Peguei a roupa com os dentes e fui deixar no banco. O fae olhou para mim, surpreso.

– Oi lobinha, você não é tão grande como as outras lobas, mas é linda com esses pelos vermelhos – passou a mão, acariciando minha loba.

– Príncipe Giryon, você terá de correr atrás dela e a pegar, mesmo que não acasalem, precisa mostrar para todos que ela tem dono, se não outro pode marcá-la – explicou Aurora.

Neste momento escutei Pedro gritar:

– CORRAM!

Então, corri.