Theodora?

Capítulo II

         Dora cresceu em um ambiente familiar amoroso e atencioso, sua avó por mais que morasse em outra cidade, ia visitar sempre que podia e mimava a garota ao extremo. Seus pais nunca brigavam, eram um casal de amor e compressão. Bom, eram. Perto do aniversário de dez anos da garotinha ela viu seus pais discutirem pela primeira vez. Uma discussão que gerou várias outras, até que seu pai levantou a mão para bater em sua mãe. Aquela foi a última briga deles dentro de casa, pois no dia seguinte o pai havia ido embora  e pouco tempo depois já estava casado de novo com uma garota mais nova e sem filhos.

         Aquela separação destruiu a imagem de família perfeita, e a mãe carinhosa e amorosa se tornou amarga, sempre brigando, sempre fora de casa. A avó da garota ainda ia visitar às vezes e tentava sempre levar a pequena Dora, seu milagre, com ela, mas Anastácia nunca permitia essa mudança. Na cabeça daquela criança de dez anos recém completamos, sua mãe a odiava e a mantinha como prisioneira, igual na história de Enrolados, um filme de princesa que a garotinha amava.

DOIS ANOS DEPOIS

         A pré-adolescência chegou, e agora, a linda garota ruiva, de olhos cor de mel, passou a andar com os cachos sempre presos em um coque mal feito, o uniforme escolar amarrotado e até sujo. Seu material escolar era sempre de segunda mão, e possuía apenas o básico, sua mochila era remendada em várias partes e o remendo parecia ter sido feito pela própria criança.

         A amargura da mãe apenas piorou com o passar dos anos, o que a fez largar o emprego e começar a gastar toda a pensão em bebida em bares. Agora a casa da família perfeita vivia bagunçada, o milagre da família apenas comia na escola, ou quando algum vizinho gentil a chamava para almoçar, a dona da casa, antes radiante e feliz, agora vivia jogava em cadeiras de bar pela cidade com roupas rasgadas e sujas.

         A bebê gordinha, havia crescido e enfrentado a primeira menstruação com a ajuda da coordenadora da escola, pois a mãe que havia prometido cuidar e ensinar, sumiu. Aquela criança amada e mimada, aprendeu cedo a cozinhar, costurar, arrumar casa, pintar, e a enfrentar gritos e tapas sem reagir. Aprendeu a chorar sem fazer barulho e a se enfiar na própria mente para esquecer o mundo ao redor.

         Sua avó foi proibida de visitar, então era ela com ela mesma enfrentando o terrível mundo chamado escola na pré-adolescência.