Theodora?

Capítulo V

Boa noite, raios de sol!!

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         Perto do fim do ano, faltando um mês para completar dezesseis anos, Théo, que nunca utilizava o banheiro na escola, por medo de preconceito no feminino ou assédio no masculino, não teve como esperar chegar em casa e foi ao banheiro feminino no horário que imaginava que estaria vazio. Não estava vazio, e foi meio desesperador ver a Carla, a garota que sempre se mostrava perfeita, em frente a pia com a camisa levantada analisando um grande hematoma na costela. Por mais que a morena tivesse tentado esconder quando viu o ruivo entrar, ela não foi rápida o bastante.

          — Quem fez isso com você?

         O silêncio pode ser ouvido ecoando naquele banheiro enquanto a morena olhava assustada tentando fingir que nada aconteceu.

         — Carla. Quem. Fez. Isso? — a voz de Théo havia se tornado um pouco mais grave devido aos hormônios que ele já tomava a quase um ano, mas ficou ainda mais rouca enquanto ele sussurrava aquela frase, palavra, por palavra.

         — Minha mãe...— depois de mais uns momentos de silêncio, a garota havia respondido de cabeça baixa para esconder as lágrimas acumuladas em seus olhos.

         — Eu preciso usar o banheiro, e depois iremos conversar. Me espera no fundo da quadra, ok?

         — E quem você pensa que é para mandar em mim?

         — Carla, por favor, agora não. Me espera lá.

         Não demorou para Théo utilizar o banheiro e ir para o local que havia marcado, e foi um alívio ver que a morena estava ali encolhida parecendo perdida na grama, esperando por ele. Durante alguns segundos o ruivo só conseguia olhar embasbacado ao ver a rainha da escola parecendo tão frágil.

         —Ei...desculpa pelo jeito que falei com você lá no banheiro, precisava que você entendesse que precisávamos conversar, e você é a pessoa mais teimosa e cabeça dura que eu conheço. Agora me explica, o que deu na sua mãe para fazer isso com você?

         —Ela não gostou de eu ter respondido ela, então me ensinou uma lição.

         —Do jeito que você fala faz parecer que não foi a primeira vez que isso acontece.

         — Não é...

         —E por que você deixa ela fazer isso com você? Não é porque ela é sua mãe que ela pode fazer isso com você, Carla.

         Aquele silêncio ensurdecedor voltou, mas dessa vez, Théo preferiu aderir a ele e apenas ficar encarando a grama junto com ela. Naquele dia, depois daquele silêncio um tipo de amizade se formou, para a surpresa de muitos.

         No ano seguinte quando Théo completou dezesseis, ele não estava mais sozinho, ele tinha Carla, uma amizade inesperada, mas que se tornou um porto seguro para Théo. A garota morena era exatamente o que ele previu quando ainda eram duas crianças, um papagaio que repetia as atitudes da mãe tóxica e narcisista. O motivo daquele hematoma gigante na costela quando eles se conheceram foi que por alguma razão a morena havia acordado e decidido que não iria mais aceitar aquela vida. A mãe da Carla havia começado a comentar e falar mal de Théo, e a jovem simplesmente surtou e começou a defendê-lo. É claro que aquilo deixou a mais velha irada, era um absurdo sua garotinha defender uma abominação que nem a criança Novaz.