Theodora?

Capítulo VI

         No ano em que Théo completou dezesseis, ele também encontrou uma amiga com quem dividir toda a angústia de ter uma genitora que não merece o título de mãe. A amizade inusitada foi a salvação dos dois. Com o tempo, aquela amizade se tornou algo a mais, uma paixão, e junto com essa paixão aconteceu o primeiro beijo de Théo. Com sua inimiga de infância, que no momento era sua melhor amiga. Não demorou para eles passarem a se envolver romanticamente. Até que a mãe de Clara descobriu e tudo se afundou em um grande poço. Carla foi obrigada a mudar de cidade com sua mãe, que dizia ser o melhor para ela, pois aquela cidade estava corrompendo a garota. O grande problema era que Théo, por pagar o tratamento hormonal e as contas da casa sozinho, não havia conseguido dinheiro para comprar um telefone, então, o casal ficou incomunicável.

         Não tardou para que as brigas com Anastácia ficarem insuportáveis também, principalmente quando a mesma achou um papel de autorização para realização de mastectomia completa nas coisas de Théo. Ela se recusava a aceitar Théo como o homem que ele era, e isso já causava várias brigas, principalmente quando os hormônios fizeram efeito e sua voz engrossou. Assim que Théo fez dezessete ele foi expulso em definitivo de casa, o que o levou a ir para a cidade pacata onde sua avó morava.

         Sua avó morava em uma cidadezinha pequena e amigável, onde todos conheciam todos, e isso assustou um pouco o garoto recém chegado. Ele tinha medo de ser rejeitado de novo, depois de ter conseguido finalmente respeito em sua antiga escola. Por medo, ele passou o primeiro mês inteiro da mudança dentro de casa auxiliando a avó, que também não estava muito bem de saúde, depois do desgosto de ver sua filha abandonando o neto. Dona Eva sempre amou aquele bebê gorducho, então mesmo com sua idade avançada, não teve nenhum problema em aceitá-lo como quem ele realmente era. E para provar isso, ela passou a ajudá-lo com os hormônios, agora que moravam juntos, e estava tão ansiosa quanto o neto para a tão sonhada cirurgia.

         Sem ter que pagar as contas de casa, com a ajuda com os hormônios, e a pensão que havia começado a ser mandada diretamente para ele, mesmo o pai não o aceitando como Théo, o garoto viu uma esperança de conseguir comprar um telefone e reencontrar sua garota. No começo de fevereiro, com o dinheiro que tinha guardado e a pensão, ele foi enfim em busca de um aparelho celular, e conseguiu comprar um. Infelizmente ele não tinha o número de Carla e nem conseguia encontrar ela em nenhuma rede social. Foi uma grande decepção perceber que havia realmente perdido a amada de vez.

         Com o tempo, e com o incentivo da avó, o garoto passou a sair mais e conhecer a cidade, e até se matriculou na escola local para enfim terminar o ensino médio. Enquanto conhecia o local ele procurava um trabalho também, pois se recusava a depender financeiramente de sua bondosa avó.

         Foi um primeiro mês difícil para o garoto, que sentia falta de sua melhor amiga, seu porto seguro.

NOTAS DA AUTORA:

Eu amo um clichê de inimigos para amantes, desculpa kkkk

Mas é isso, Théo foi morar na cidade dos Desajustados e no próximo capítulo vai mostrar um pouco da visão dele do encontro. 

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