o passado se faz presente

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Outubro de 1983

   - Bola de fogo Will! – Lucas gritava batendo na mesa.

    - Feitiço de proteção! – Dustin aumentou ainda mais o tom da voz e os dois começaram a discutir.

   Era possível escutar os garotos gritando daqui do quarto da Nancy, mesmo com a música que escutávamos.

   - Juro que um dia ainda vou matar meu irmão e os amigos dele. – Nancy se levanta, aumenta o som e reclama.

   - Deixa eles se divertirem. – digo rindo.

   Meu sorriso some em questão de segundos e dá lugar a uma expressão de angústia com a falta de ar que senti. Pousei as mãos em meu peito, tentando respirar, mas meu corpo apenas foi preenchido por algo que havia perdido há quatro anos.

   - Mary? O que tá acontecendo? – Nancy segura meus braços e me olha com preocupação. – Quer um copo de água?

   Apenas balanço minha cabeça em um gesto positivo e ela sai do quarto correndo. Fecho meus olhos, imagino o oxigênio adentrando meus pulmões e consigo voltar a respirar normalmente. Me levanto da cama e vou até o espelho, me observando. Tudo parecia ter ficado em câmera lenta. Os gritos dos meninos, as folhas das árvores balançando do lado de fora, a Nancy entrando no quarto...

   - Toma amiga. Vai te fazer bem. – ela me entregou o copo e eu bebi toda a água.

   - Obrigada Nancy. Acho que preciso ir para casa. – digo pegando minha bolsa. – Vou tomar um remédio, descansar e amanhã apareço no colégio novinha em folha. – dou um sorriso, a abraço e pego as chaves do meu carro.


   Me despeço da senhora Wheeler e ofereço carona para os garotos que iriam embora de bicicleta, mas eles afirmam que não querem incomodar, mesmo sendo perigoso ir a essa hora para casa. Acabo os deixando irem sozinhos e vou logo para minha casa, pois precisava descansar.


   Chego em casa e tudo está apagado, pois minha mãe já foi dormir. Subo as escadas correndo e vou em direção ao meu quarto, jogando minhas coisas em cima da cama. Pego a caixinha que guardava dentro de uma gaveta e a abro, encontrando um último baseado ali. O acendo e fecho meus olhos após sentir a fumaça percorrendo meu sistema respiratório. Aquilo era a única coisa que poderia me tranquilizar agora e não demorou para eu sentir meu corpo formigar.

   Senti a brisa bater e consumir todos os problemas que vieram à tona hoje mais cedo. Me deitei na cama, com a barriga para cima e os braços abertos. Não demorou para o sono e o thc se unirem no desligamento do meu corpo.



   - Mãe já estou indo tá bom? – digo terminando de comer minhas torradas. – Combinei de me encontrar com a Nancy hoje cedo.

   - Fico feliz de você estar focada nos estudos agora Mary. – ela diz antes de dar um beijo em minha testa e voltar a ler seu jornal. – Bom dia minha filha.

   Dou um sorriso fraco e vou até a garagem, onde entro em meu carro e vou dirigindo em direção à escola. Como era bem cedinho, não havia muitas pessoas por lá e eu fui até nosso ponto de encontro.


   - Estava com saudades de mim ou das coisas mágicas que ofereço? – dou um sorriso ao escutar a voz que preencheu o silêncio do local.

   - Sabia que você é muito carente as vezes Munson? – o observo sentar na mesa e abrir sua caixinha.

   - Esse é meu charme. – ele sorri e dá uma piscadinha. – Vai querer o mesmo de sempre?

   - Aham. A verdinha da boa. – digo pegando o dinheiro em minha bolsa. – Mas quero mais que da última vez.

   - Sabe que é muito antiético uma garota de 16 anos comprando droga né? – ele pega o pacotinho e me olha semicerrando os olhos.

   - E você sabe que é mais antiético ainda um garoto de 17 anos vendendo droga para a escola inteira né? – devolvo a alfinetada e ele sorri de canto.

   - Você não presta mesmo Mary Weinstein. – Eddie pega o dinheiro e fecha sua caixinha. – Vou indo para seus amiguinhos populares não desconfiarem de que você é amiga de um esquisito.

   - Misericórdia que drama. – dou um beijinho na testa dele e saio dali, guardando meu pacotinho dentro da bolsa.


   Caminho pelos corredores, até que vejo minhas amigas conversando próximas aos armários.

   - Bom dia Nancy e Barb. – dou um abraço nas duas. – Qual o assunto de vocês?

  - O novo namoradinho da Nancy. – Barbara diz dando um sorrisinho e Nancy revira os olhos.

   - Já disse que ele não é meu namorado! Só demos um beijo. – ela fala e não consegue conter um sorriso. – Talvez dois, ou três... – a garota abre seu armário e encontra um recadinho do motivo de nossa atual conversa.

   - O que você dizia mesmo? – Barb pergunta e Nancy apenas se despede de nós duas. – E você Mary? Não está interessada em ninguém?

   - Eu? Não tô não. – digo esboçando um sorriso fraco enquanto íamos para nossa sala. – Tenho umas coisas mais urgentes para resolver...


   Depois que as aulas acabam, fui caminhando em direção à saída da escola, quando vi Jonathan Byers colando alguns cartazes.

   - Aconteceu alguma coisa Byers? – pergunto me aproximando e leio de relance o papel.

   - Foi o meu irmão. – ele não consegue terminar de falar e uma lágrima escorre de seus olhos. Apenas o puxo para um abraço apertado.

  - Eu sinto muito. Vou ajudar a procurá-lo tá bom? – ele retribui o abraço e encaixa sua cabeça na curva de meu pescoço. Jonathan estava precisando daquele apoio.

  - Obrigado Weinstein. – ele sorri fraco e continua com o que estava fazendo.

   Segui o meu caminho e quando estava distante o suficiente, comecei a chorar. Se eu tivesse insistido em deixar os meninos em casa ontem, nada disso teria acontecido. Eu poderia ter o protegido de qualquer coisa. Senti a culpa me consumindo. Por mais que não tivesse nada a ver comigo, eu poderia ter evitado essa situação. Agora sentia que precisava achar esse garoto, custe o que custar.


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Oi oi gente! Espero que estejam gostando da leitura. Bom, meu nome é Sofia, a escritora, e só vim atualizar vocês de algumas coisas da história: tudo se passa na ordem da série, tirando a personagem que eu acrescentei e o Eddie estar aparecendo desde o início, mesmo não sendo uma alteração tão grande, pois ele já estudava na escola nessa época. Enfim é só isso mesmo que queria dizer pra vocês. Beijinhos de luz.

Number Nine - stranger thingsOnde histórias criam vida. Descubra agora