derrotando valentões

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Era como se jogassem um balde de água quase congelando em meu rosto. Eu realmente achei que conseguiria encontrá-lo com vida.

   - Ei Mary. - Eddie estava olhando para mim. - Você precisa tomar água, vem.

   O garoto segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos e me levando até a cozinha. Ele viu o recadinho da minha mãe e me olhou com uma expressão de reprovação.

   - Você não tomou os remédios que sua mãe pediu? - ele me perguntou com as mãos na cintura e uma postura super responsável. Se eu não estivesse daquele jeito, teria dado risada. - Imagino que nem comeu também né? Vamos resolver isso agora. - ele me entrega um copo com água, os remédios e começa a ver o que pode preparar para eu comer.

   - Não precisa disso tudo Eddie, eu tô bem. - digo bebendo a água.

   - Deixa eu cuidar de você hoje sua teimosa. - ele fala rindo. - Inclusive, te trouxe um presente. - Eddie joga uma camisa do Hellfire em minha direção. - Poderia considerar jogar com a gente né?

   - Hmm talvez... - dou um sorriso de canto.

   O garoto fica cantarolando enquanto faz um macarrão para nós comermos. Estava muito cheiroso, não posso negar. Ele serviu a mesa, se sentou ao meu lado e nós tivemos o melhor jantar da minha vida. Eu nunca havia me sentido assim antes.


   - Ai ele saiu correndo com medo, mas quem estava se borrando todo era eu. - Eddie contava uma história sobre o dia que enfrentou um valentão pela primeira vez e eu não conseguia parar de rir. - Eu cheguei em casa naquele dia me sentindo "o cara".

   - Misericórdia! - eu continuava gargalhando. - Onde eu morava também tinha alguns valentões...


julho de 1979

   Uma movimentação estranha começou a acontecer no quarto arco-íris. As crianças estavam indo para seus quartos, mas o grupinho de insuportáveis e a Onze não estavam saindo de lá. Fiquei invisível e observei tudo que aconteceu depois. A câmera parou de gravar, as portas se trancaram e os valentões se fecharam em um círculo em volta da pequena Onze.

   - Achou que fosse escapar da gente garotinha? - o Dois se aproximou sorrindo e a jogou na parede usando sua telecinese. Eu me assustei e ela gemeu de dor.

   - Quem manda aqui nesse lugar somos nós! - a Três repetiu o movimento e eu não me aguentei escondida.

   - Acham divertido fazer isso? - digo voltando a ficar visível e parando na frente deles, protegendo Onze. - Quero ver fazer com alguém do seu tamanho.

   Dois tenta me jogar contra a parede, mas seu poder simplesmente não funciona. Eu dou um sorriso de canto, olho para sua mão levantada em minha direção e faço com que ela se separasse do resto do corpo, flutuando no ar. O sangue também flutuava, como se ali não houvesse gravidade e o garoto gritava, completamente assustado.

  - Vou contar pro papai que você arrancou minha mão! - ele dizia chorando e segurando o punho.

   - E como vai provar se as câmeras estão desligadas e sua mão está bonitinha em seu corpo? - o garoto olha novamente e seu braço está novamente completo, como se nada tivesse acontecido. - Da próxima vez eu arranco sua cabeça. - sussurro no ouvido dele e destranco a porta, indo embora com a Onze.


   Eddie acabou voltando para casa depois da janta e eu fui descansar, pois amanhã seria um longo dia e eu precisaria ir para a escola, pois haveria um tributo ao Will.

   Acordei relativamente cedo, fiz minhas higienes, tomei café da manhã, coloquei uma roupa confortável e fui para a aula. Passei o caminho todo escutando a rádio local enquanto dirigia pela estrada e pensando em tudo que aconteceu essa semana. Que loucura.

   O colégio estava com clima de funeral, o que era bem justo, levando em consideração os últimos acontecimentos. Fui em direção ao ginásio, onde todos estavam indo para ver o tributo ao Will Byers. O diretor começou seu discurso quando foi interrompido por alunos atrasados, eram os melhores amigos do Will e uma garota loira que parecia a Onze?

   Me assustei ao vê-la, mas não tinha certeza se era a garota que eu conhecia mesmo. Esperei ansiosamente o final de todos os discursos e me levantei indo até ela, mas parei quando alguns meninos começaram a fazer bullying com o garoto que já havia morrido e seus amigos. Aquilo me deu um ódio mortal e uma vontade de dar uma lição neles. Decidi não fazer nada e acompanhei o que aconteceu, até que minhas dúvidas se confirmaram quando o menino que fazia bullying travou e começou a fazer xixi na calça. Dei risada, olhei para a menina e seu nariz sangrava. Era ela mesmo.

    Saí correndo atrás deles e a chamei quando estávamos em um corredor vazio.

  - Onze! - o grupo se virou assustado e me olharam confusos.

   - Nove? - ela veio até mim e me abraçou fortemente.

   - Eu senti tanto sua falta! Pensei que tivesse morrido. - uma lágrima escorre por minha bochecha e um dos garotos nos interrompe.

  - Puta Merda a Mary conhece a Onze? - era o Dustin. Ele é super apaixonado pela Nancy e é engraçadinho. Adoro ele. - E ela tem nome de número também? - perguntou apontando para mim.

   - Teremos tempo pra entender tudo isso depois. Agora temos que achar o Will! - Lucas disse nervoso e abrindo a porta da sala do audiovisual.

   Onze se juntou aos garotos e eu entrei na sala também. Ela sentou na frente da estação de rádio e fechou seus olhos, sintonizando com o que parecia ser o Will. Meus olhos se arregalaram quando escutei o mesmo barulho do bicho que matou a Barbara. Will estava vivo e em perigo. 

   - Will? - o irmão mais novo da Nancy gritou o nome do amigo enquanto ouvíamos ele falando sobre o lugar que estava.

   Meu coração ficava acelerado conforme ele ia dizendo tudo que eu havia visto naquele lugar. Ele estava lá, estava vivo. Eu precisava tomar um ar e simplesmente sai da sala, deixando os garotos sozinhos.

   - Mary? Tá tudo bem? - Nancy se aproximou de mim. - Você teve alguma notícia da Barbara? Eu e o Jonathan encontramos uma possível pista.

   - Oi? - fico meio perdida com o tanto de coisas que ela disse. - Que pista é essa?

   - Vem comigo. - ela me puxou pelos corredores até a sala de fotografia, onde o Jonathan estava. - Eu vi esse bicho na floresta ontem quando fui procurar a Barb e o Jonathan disse que a mãe dele viu algo assim também. - ela apontou para algo na foto. Era o bicho que havia matado ela. - Você estava junto, bem aqui e deve ter visto algo, pode ajudar.

   - Lembra que ela cortou o dedo? Em um momento o sangue pingou e acho que isso atraiu esse bicho. Foi tudo muito rápido. - se eu mentisse, talvez ela pense que eu a matei. Mas se eu falasse a verdade, ia ter que contar como escapei e isso ia envolver meus poderes. Eu precisava ser sangue frio agora, pra me proteger. - Quando olhei para o lado, Barbara não estava mais ali. Eu juro que tentei a achar, corri pela floresta toda, mas simplesmente não a encontrei. - uma lágrima escorreu do meu rosto e Nancy me abraçou.

   - Calma Mary. Tudo vai ficar bem, vamos achar nossa amiga, mas agora você precisa descansar. - ela me olhou e percebeu que eu estava exausta. Me levou até a porta e eu saí.

   Fui andando em direção à saída da escola, quando os garotinhos juntos de Onze me encontraram.

   - Precisamos conversar. - Mike disse parando em minha frente. - Onde conheceu a On?

   - Não dá pra você me interrogar aqui no meio da escola garoto. - digo indo até meu carro e todos me seguindo. - Anda entra todo mundo ai.

   - Vamos para a minha casa. - Wheeler parecia ser o chefe do grupo. Achei engraçadinho ele dando ordens.

Number Nine - stranger thingsOnde histórias criam vida. Descubra agora