Calamity

Babá por um dia

  Eu esperava os dois no refeitório do laboratório sky. Em que ponto eu havia chegado, eu iria cuidar de duas crianças de nove anos. Admito eu nunca cuidei de ninguém antes, já era bem difícil cuidar de mim mesma.

  O refeitório era enorme, haviam várias mesas e cadeiras flutuantes espalhadas em posições especificas pelo lugar, máquinas de comida estavam posicionadas perto do balcão onde os pedidos eram retirados

Vi o doutor se aproximar com duas crianças, Riyuki Yamada, que era seu filho e sua amiga que eu não conhecia.

O doutor parou em minha frente e disse:

- Muito bem. A Jeanne vai cuidar de vocês hoje, brinquem com ela e se comportem bem- ele disse olhando os dois.

- Sim, senhor Yamada - disse a garotinha com um sorriso.

- Sim Papai- Riyuki disse parecendo desinteressado.

- Ficarei de olho neles. Prometo que não vai se decepcionar- eu não conheço bem essas crianças, mas acho que brincar um pouco não faz mal.

O doutor se retirou me deixando com eles. A garotinha me encarava sem esconder o nojo em seus olhos.

- O que foi?- perguntei tentando parecer séria, a cara que ela fazia era engraçada, precisei me segurar para não rir.

- Que cabelo estranho- ela disse com um ar de desdém- sua cara também é horrível, você me enoja.

Eu olhei pra ela com uma sobrancelha arqueada.

- Pelo menos eu não sou uma garotinha mimada e arrogante- na verdade eu era, quando me convinha mas, eu nunca admitiria.

- Vocês podem por favor não discutir- disse Riyuki- Karen, meu pai mandou a gente se comportar.

- Claro Rick, qualquer coisa por você- ela disse sorrindo novamente.

- Vamos logo.- eu disse dando as costas para eles

  Enquanto eles me seguiam eu só pensava, a que ponto da minha vida eu tinha chegado, eu estava cuidando de duas pessoas praticamente da minha idade física.

Seguimos em direção a máquina de vendas do refeitório para comprar algo para comer.

- Vocês querem algo para comer? - eu disse enquanto me virava para os dois.

- Ah, eu posso pegar meus lanches sozinho, mas obrigada.- disse Riyuki. Ele não era tão ruim quanto o Karen havia sido.

- E você?

- hunpf - ela virou a cara como se não quisesse.

  Eu dei de ombros e apertei nos botões para escolher meus lanches. Passei um cartão que eu recebi do senhor Yamada para pagar a comida. Riyuki se aproximou da máquina enquanto eu esperava meu pedido próxima ao balcão.

- O que vai querer Karen?- ela agarrou o braço dele o puxando contra si.

- O mesmo que você - ela disse sorrindo enquanto apoiava a cabeça no ombro do garoto.

  Eu não conseguia parar de achar toda a situação estranha. Nunca na minha vida eu havia presenciado tal coisa. Meu pedido me foi entregue e eu o levei até uma mesa para que eu pudesse come-lo.

  No ano em que estávamos a tecnologia era muito avançada. As mesas e cadeiras flutuavam próximas ao chão, haviam também vários tipos de robôs ajudantes e seguranças, alguns deles limpavam o refeitório e outros traziam alguns pedidos.

  Riyuki se aproximou trazendo Karen consigo. Ele se sentou em minha frente e Karen se sentou ao seu lado. Ele me encarou enquanto pegava seus talheres, eu encarei de volta e ele se virou para a comida.

  Eu peguei meus talheres e comecei a comer minha macarronada com almôndegas. Riyuki e Karen também comiam suas refeições, eles haviam pedido camarão empanado com arroz e salada.

-Rick - disse Karen enquanto se levantava- eu preciso fazer uma coisa, mas eu volto logo.

- Certo - ele disse sem nem levantar os olhos da comida.

  Peguei meu suco e o abri tomando alguns goles. Quase engasguei quando vi que Riyuki me encarava novamente.

- O que foi agora?- eu perguntei calmamente.

- Seu cabelo. Ele é bonito - ele voltou os olhos para sua comida novamente.

  Senti meu rosto esquentar, o quê havia sido aquilo?!

- Obrigada. Eu acho..

  Karen voltou depois de uns minutos e todos acabamos de comer. Demos uma volta pelas áreas permitidas do laboratório até ficarmos cansados de andar, o laboratório era enorme mas não podíamos fazer tantas coisas, então fomos ao jardim central e passamos o resto da tarde lá

  O jardim se localizava no centro exato do laboratório, havia uma árvore gigante nele, eu não havia visto muitas plantas na minha vida por nunca poder sair de Mirai, todo meu conhecimento sobre o mundo exterior vinham de livros e história que a doutora Ness me contava.

  No mundo atual a Terra havia sofrido uma grande desertificação graças a irresponsabilidade dos seres humanos e as guerras contra as calamidades. Graças as calamidades maiores tiveram que lançar bombas atômicas semelhantes ao Tsar para destruí-los. As calamidades maiores podem passar de 500 metros de altura, para combater isso o doutor iniciou o projeto sky's limity que se iniciou anos atrás o projeto foi um sucesso, mas agora estão criando um aprimoramento para o projeto.

  O projeto consiste na criação de robôs com quase 150 metros de altura. É pequeno comparado as calamidades, mas são super eficientes. As calamidades são evoluções das criaturas interestelares que estiveram aqui desde milhares de anos atrás. As calamidades atacam os seres humanos e até hoje não se sabe a motivação, usuários de magia como eu tem o risco de pegarem a doença da corrupção se forem feridos diretamente por uma calamidade.

  A corrupção arruína seu corpo e mente, o principal sintoma são as dores causadas por manchas preto-azuladas em sua pele, a doença causa loucura e grande parte das vezes te leva a morte.

  Karen e Riyuki sentaram-se em um banco enquanto eu me sentei apoiando as costas em uma das raízes da árvore. Precisava descansar depois daquele pesadelo esquisito que eu quase não me lembrava mais.

  Um homem se aproximou de Karen e ela o abraçou o chamando de pai, ele a levou embora deixando Riyuki e eu sozinhos no jardim, afinal quase ninguém ia no jardim central.

Riyuki se aproximou e sentou ao meu lado.

- Oi

- Oi..- eu disse com a voz baixa.

- Me desculpe pela Karen. Ela as vezes pode ser um pouco...

- Sem noção.

- Eu ia dizer rude ,mas, isso também.

- Vamos. Preciso te levar de volta ao seu pai- eu disse me levantando.

- Certo- ele me seguiu em silêncio.

- Obrigada. Por ter me tirado da água aquele dia- eu disse meio envergonhada.

- Sem problemas. Mas não faça isso novamente, Okay?

- Ok.

  Eu deixe-o com o doutor e voltei ao me quarto. Me joguei na cama esgotada. Comecei a pensar nas coisas que Karen havia me dito. Eu era realmente horrível? Os pensamentos invasivos tomavam conta da mim naquele momento.

  Me levantei e fui tomar um banho quente para tentar tirar aqueles pensamentos da cabeça. Ao terminar coloquei meu pijama e deitei na cama novamente.

- O que tá acontecendo comigo?- eu disse refletindo todas as coisas que eu havia falado até então- Eu não sou assim.

  Fechei meus olhos e comecei a pensar. Pensei no passado e em algo que me fez mudar completamente.

- É isso!