A lâmina cega de Guhua

6 - Família

Xingqiu pediu que uma empregada levasse um recado ao Chongyun dizendo que ele voltasse à mansão após o tratamento com Barbara, mas a noite chegou e o exorcista não retornou. O jovem mestre da guilda de comerciantes mentiria se dissesse que não ficou chateado por esse ocorrido, mas era algo que não podia descontar em ninguém, nem comentar com ninguém.

A frustração, no entanto, só estava começando, pois no dia seguinte também Chongyun não apareceu, e nem no posterior.

Quando Barbara terminou o procedimento, ela e Xingqiu comeram juntos um lanche preparado por uma das empregadas.

-Barbara... Por acaso eu poderia te pedir um favor? Não querendo te incomodar, mas eu precisava ir até a casa do Chongyun, só que eu não posso ir sozinho e não quero pedir às empregadas para irem comigo porque é algo bem... pessoal. -Suspirou. Odiava ter que pedir ajuda às outras pessoas, esse era exatamente o momento em que se sentia mal por ter perdido a visão, uma vez que ir à casa de seu melhor amigo jamais seria um problema se ele simplesmente enxergasse o caminho, mas como mal saía há anos não tinha nem como arriscar sair da casa sozinho sem que meia dúzia de empregadas e guardas fizessem questão de acompanhar, então não restava opção a não ser pedir ajuda. Por mais que aos poucos estivesse voltando a enxergar, sombras e luzes, borrões de cores, não eram suficientes para levá-lo em segurança até a casa da família de exorcistas.

-Ah, sim, sem problemas. Eu te levo lá sim. -A garota sorriu gentilmente bebendo um pouco mais de chá. -Não precisa hesitar se precisar de qualquer ajuda. Eu não me lembro se alguém ou até eu mesma cheguei a comentar, mas eu sou uma freira e ajudar as pessoas é a coisa que eu mais amo fazer.

-Freira? Sério? Eu nunca tinha conhecido uma antes... Em Liyue não temos uma igreja, embora fosse um consenso comum adorar e honrar ao Rex Lapis até o dia em que ele morreu.

-Barbatos desapareceu séculos atrás, mas mesmo assim em Mondstadt nós o veneramos, pois ele merece, mesmo que ele jamais tenha desejado nenhum tipo de glória. Ele só queria ajudar as pessoas a serem livres e nós o agradecemos repetindo seus atos e ajudando uns aos outros a viver suas vidas livremente da forma que seja melhor e mais justa para todos. Claro, ninguém é obrigado a adorá-lo ou se juntar à igreja, mas eu entendi que essa é a minha vocação e por isso eu fiz os meus votos e me juntei à igreja.

-Isso é muito bonito da sua parte, Barbara. Mas deixa eu te perguntar, pode parecer indelicado da minha parte e você não precisa responder se não se sentir confortável... Freiras de Mondstadt fazem votos de castidade? -O maior defeito de Xingqiu definitivamente era a capacidade de ignorar completamente a aura das coisas quando estava curioso sobre alguma informação, normalmente não levando em consideração os sentimentos das outras partes envolvidas.

Barbara ficou completamente vermelha. "Ó Barbatos, perdoe-o porque não sabe o que diz!" -E-Então... I-Isso, na verdade, é o-opcional. T-Temos freiras que f-fazem o voto e também t-tem as que não fazem. -Ela tentou ao máximo não gaguejar, mas falhou miseravelmente. -S-Somos livres na v-verdade.

-Ah, isso é ótimo, né? Seria sufocante se você tivesse realmente que escolher entre a pessoa que ama e o trabalho que ama caso você se apaixonasse por alguém. Você já se apaixonou por alguém, Barbara? -O garoto perguntou curiosamente e a freira engasgou com o chá que bebia, tossindo bastante antes de conseguir responder.

-E-Eu não! Só amo minha família e ao senhor Barbatos!

-Ah sim... -Xingqiu suspirou. -É difícil se apaixonar, Barbara. Mesmo quando a gente está certo da vitória, as coisas podem desandar muito rápido e a gente fica perdido sem saber exatamente o que fazer...

-Ele não voltou no outro dia? -Barbara questionou cuidadosamente e Xingqiu negou com a cabeça.

-Ele não veio ontem e nem hoje. Estou me perguntando se eu fiz alguma coisa errada ou se ele se arrependeu de ter aceitado meu pedido de namoro. -Ele suspirou novamente, mordendo o lábio inferior se sentindo um tanto inseguro. -Eu não sei o que fazer, Barbara. Eu até peço desculpas por estar desabafando com você... Eu normalmente não sou do tipo que fala muito sobre si mesmo ou sobre os sentimentos, mas não tenho mais ninguém com quem eu possa falar sobre isso agora. Nosso relacionamento é secreto, só você que nos pegou no flagra que sabe sobre isso.