QUATRO - leia os meus diários

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Ayana cantarolou, virando-se inquieta na cama. Matteo não parava de chutar em sua barriga e ela simplesmente não conseguia dormir mais.

Levantando-se, bufou e esticou os ossos. A garota não conseguia mais dormir tranquilamente a noite, por isso dormia a tarde inteira em uma poltrona em sua mini biblioteca da casa.

Bocejou, dirigindo-se a penteadeira do quarto, pouco usada desde que ela havia chegado. A beleza de Ayana era conhecida por mão exigir maquiagens pesadas, mas algo mais básico ou até mesmo nada, só a cara lavada.

Desse jovem, Ayana não havia tido muitas espinhas no rosto. Costumavam a chamar de deusa grega da beleza. Seu corpo também se enquadrava nos padrões, desde cedo ela sempre foi magra e alta, com os cabelos intocados.

Setando-se, Ayana finalmente abriu a gaveta que havia intitulado de "gaveta da morte" onde guardava todas as recordações de Gerson que a faziam chorar. Desde o enterro do jogador, a jovem não havia aberto aquela gaveta, ciente de que se o fizesse, não iria conseguir acalmar as lágrimas tão cedo.

Ela estava certa quanto ao fato de que qualquer coisa daquela gaveta a levaria às lágrimas, mas não esperava encontrar três cadernos pequenos revestidos em couro com uma caneta ao lado e um bilhete com as letras dele: aquele que cai sem lutar, pode ser esquecido, mas depende dele deixar uma marca no mundo ~ Gerson, o amor da sua vida.

Puxando-os cuidadosamente da gaveta, ela sentiu o coração parar de bater em seu peito. O couro era familiar em suas mãos, trazendo uma sensação de conforto. Quando abriu o primeiro, percebeu uma nota caindo "meu desejo é que leia".

E só.

Só dizia isso.

Pegando aquelas três malditas lembranças dele, ela fechou a gaveta e voltou para a cama, pronta para começar a descobrir o que diabos era aquilo.

ATO I, 2012 - 2013.
QUEM É VOCÊ?

"27 de agosto de 2012, 15:45.

Nada se comprada a sensação de amar e ser amado igualmente. Eu já havia sentido aquilo antes com meus pais, mas nunca com alguém como ela.

Ayana Saidi era tão imprevisível quanto o tempo de um dia chuvoso que se transforma em sol. Ela tem um brilho natural de beleza que me encanta. Quando conversamos, ela me conta suas aventuras na praia e como sua mãe a fazia se sentir especial. Uma vez, ela me confidenciou que as praias seriam seus lugares favoritos no mundo e eu, ingênuo, perguntei se sua casa não deveria ser seu lugar favorito.

Estava claro que não."

"04 de setembro de 2012, 23:12.

Eu costumo dizer que sorte é algo variável. Assim como amor. Em um único dia você pode amar tanto uma pessoa que faria qualquer coisa por ela e no outro... No outro você quer simplesmente enfiar uma faca nas entranhas dela e a fazer sangrar.

Me sinto assim sobre Pedro. Ele, que era tão amigo meu, me apoiava e dizia que nada poderia nos separar, brigou comigo por futebol.

Eu entendo que ele goste muito do futebol, mas não entendo o motivo de tanta revolta. A vida é realmente imprevisível."

"29 de setembro de 2012, 05:19.

Quando mamãe me disse que quebrar poderia significar algo sentimental, não acreditei nela. Parecia uma definição superficial de traição. A palavra quebrar.

Os setes desejos - Gerson SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora