Prólogo

146 7 0
                                    

Londres, 1822

Rose

Escuto a porta bater e sei que papai chegou bravo, certamente irá descontar em mim sua raiva, ele sempre faz isso, não sei por que odeia-me tanto. Papai sempre reclamou por não ter filhos homens, mas aparentemente o fato de Daisy também ser menina não o incomoda, ele faz tudo por ela, diz que um dia ela será uma grande dama e se casará com um nobre muito importante, talvez até mesmo um príncipe.

Quem vê a nos duas juntas, não diz que somos irmãs, não apenas pelo fato de que com dez anos eu seja mais alta que Daisy, que tem só oito anos, mas fisicamente também, dado quê, enquanto Daisy tem a pele clara como porcelana, os cabelos loiros e olhos verdes, assim como nosso pai, eu tenho a pele oliva, os olhos e cabelos negros, como o céu em uma noite sem estrelas. Não sei a quem puxei para ser assim, já que mamãe tem a pele clara, os olhos azuis e cabelos cor de mel.

Papai entra em nosso quarto e vai até a cama de Daisy, ela passou o dia todo deitada, vejo que ele trouxe um pacote de presente. Ele sempre dá presentes para ela quando fica doente, mas para mim, nem em meu aniversário, ele dá algum presente.

— Como vai minha princesinha?

— Estou melhor, papai.

Ele lhe entrega o presente, fico olhando ela abri-lo, é um arranjo de cabelo com detalhes em pérolas, muito lindo, e depois de dar um beijo em sua testa, papai sai do quarto, sem nem ao menos olhar para mim.

Pouco depois desço para ajudar Grace com o jantar, ficar com ela na cozinha é a melhor parte de meu dia, pois gosto de cozinhar, e ela sempre me ensina com carinho. Chegando aos pés da escada, ouço vozes vindas do escritório, e mesmo sabendo que devo ir logo para a cozinha, paro para ouvir o que está acontecendo.

— Arrependo-me da maldita hora que lhe aceitei em vez de mostrar a todos a vagabunda que realmente é. E a recompensa por minha bondade é ter que criar àquela menina.

É a voz do papai, sinto que ele está falando de mim, mas não tenho a chance de ter certeza, pois papai me vê ali e fica furioso por eu ter ouvido a conversa deles. Pegando-me pelo cabelo, papai me arrasta até o pequeno armário embaixo das escadas e me prende ali.

Já faz muito tempo que estou aqui, sei porque minha barriga dói de tanta fome que estou, para evitar que os ratos subam em minhas pernas, me encolho o máximo possível no pequeno espaço. Há tempos que não tenho mais medo dos ratos ou aranhas, mas não falo isso em voz alta, pois, é por pensar que tenho medo que papai me prende aqui, se souber, ele pode pensar em um novo castigo para me punir quando fizer algo que o desagrade. Em alguns momentos penso que só a minha existência já é para ele um grande motivo.

Ouço barulhos na sala e fico o mais quieta possível, parece estar vindo da direção à porta, deve ser papai para me bater e então me liberar do castigo, prendo a respiração ao ouvir o trinco de madeira sendo girado; essa é uma parte que nunca vou me acostumar, me encolho ainda mais quando a porta se abre, me preparando para o primeiro golpe, mas ele não vem.

— Rose, saia, somos nós. — Essa não é a voz de papai, é uma voz que sempre me acalma, a voz da esperança, é Nathally.

Relaxo um pouco e abro os olhos, mas a claridade é tão forte que preciso cobri-los.

— Nathally, é você?

— Sim, viemos lhe resgatar.

Tento me levantar para sair, mas minhas pernas doem e não consigo, estou muito fraca, sinto alguém me segurar e assim consigo levantar e sair. Olho para minhas salvadoras, Nathally e Alice, duas das pessoas mais importantes para mim, e minhas únicas amigas.

A Força da Roza (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora