Capítulo 12

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Rose

Enquanto Kelson leva minha pequena mala para cima, vou direto para cozinha preparar o jantar.

— Posso ficar aqui lhe fazendo companhia. — Olho e vejo Dimitri na porta.

— A casa é sua, pode fazer o que quiser. — Não entendo porque ele iria querer ficar aqui.

— Essa casa também é sua agora, precisa se acostumar com isso. — Me acostumar, ele fala como se fosse simples assim. — Além disso, não quero lhe atrapalhar enquanto cozinha.

— Não atrapalha, só não estou acostumada a ter alguém comigo, você quer algo em específico?

— Apenas lhe conhecer melhor. — Por que ele se dá tanto ao trabalho, se nunca me quis. — Justin me contou um pouco sobre sua infância.

— Contou o quê sobre mim? — Já desconfio, mas quero ter certeza.

— Sobre como seu pai lhe tratava.

— Ele não tinha esse direito. É a minha vida, ele não pode sair falando sobre isso.

Mesmo que já imaginasse isso, ainda sim me dói pensar nos dias que passava sem comer, sinto meus olhos lacrimejar e me viro para que ele não veja algumas lágrimas escorrer.

— Por favor, não chore, não queria lhe causar tristeza, Justin apenas achou que eu precisava saber, e ele estava certo, assim pude entender porque não queria voltar para casa de seu pai.

— Por que você se preocupa tanto com isso. Se não queria esse casamento?

— Quero que possamos viver em paz, que confie em mim e saiba que nunca irei levantar minha mão para você. — Olho para ele e sinto que diz a verdade, contudo, me lembro de como ele me tratou essa manhã, pode não ter me batido, mas me manteve trancada.

— Mas isso não é motivo para você querer saber sobre minha infância.

— É sim, o que você viveu naquela época a faz ser quem é hoje, quero lhe conhecer cada dia mais, mesmo que nunca seja minha esposa de fato, podemos ser amigos. — Não posso confiar nele, mais cedo ou mais tarde ele irá se cansar de mim e mostrar que é igual a todos os homens. — Estou me sentindo um pouco deslocado aqui parado só te olhando cozinhar, que tal eu lhe ajudar?

— Está brincando comigo não é? Nenhum homem sabe cozinhar.

— Acho que só com o tempo vou lhe mostrar que os homens não são todos iguais. — Ele pode até pensar isso, mas no fundo são iguais sim. — E não estou brincando, eu sei cozinhar um pouco, embora tenha uns dez anos que não faço isso.

Fico surpresa com isso, nunca vi um homem que saiba cozinhar, nem mesmo Daisy, que é mulher, sabia, afinal, nobres não fazem esse tipo de serviço.

— E por que aprendeu a cozinhar?

— Minha avó não é do tipo que se deixa levar pelo que a sociedade impõe. Para ela, toda pessoa tem que saber cozinhar a própria comida, lembro que ela sempre dizia que se não souber fazer um pão preto, não pode dizer que é russo.

— Nunca ouvi falar de pão preto.

— É mesmo? Pois nesse caso me dê um espaço que vou fazer um.

— Vai mesmo cozinhar? — Hoje de manhã ele disse que eu não devia cozinhar e agora resolveu cozinhar também, é uma verdadeira contradição.

Por mais estranho que seja dividir a cozinha com alguém, nós acabamos nos entendendo e ele foi me explicando como fazer o tal pão preto. Permito-me desfrutar o momento, esquecendo as razões pelas quais não devo confiar nele. E para minha surpresa, não foi difícil, talvez ele não seja como papai, será que mamãe estava certa e que eu possa ter paz aqui, longe das maldades de papai, posso até mesmo ser feliz?

A Força da Roza (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora