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A atmosfera silenciosa das ruas contrastava com as canções e os sons estridentes da taberna onde Leyla costumava passar o tempo. À medida que se afastava da taberna, ela sentia a tensão diminuir e sua mente clarear, procurando sem sucesso seu novo amigo felino.

A moça precisava daquele silêncio, há algum tempo ela vinha experimentando visões desconexas e dores inexplicáveis que irradiavam daquela pulseira. Essa condição era incomum, já que a maioria das pessoas que a usavam mal percebia a magia sendo canalizada. A magia da pulseira, embora potente, não era uma bênção para todos.

No reino de Dumeme, o governo captava essa energia mágica em troca de meios de sobrevivência, garantindo proteção contra o caos que reinava fora dos limites do reino. Para Leyla, parecia ser uma fonte de angústia crescente, considerando injusto, desigual e oportunista o sistema em sua cidade em Naratumi.

Por falar em governo, aquela não era uma boa noite para andar sozinha. Durante a semana das três luas de sangue, os sentinelas mais enfraquecidos sugavam clandestinamente toda a energia que podiam, sem esperar pelas datas fixas da coleta. Leyla sabia que um encontro com um desses guardiões famintos poderia significar a morte. As ruas se tornavam perigosas, repletas de sombras e predadores à espreita, prontos para drenar qualquer vestígio de poder que encontrassem.

Ela apertou a pulseira no pulso, sentindo a magia pulsar dentro dela. Cada passo era uma aposta, uma dança entre a sobrevivência e a captura. A cidade de Dumeme, com suas promessas de proteção, era também uma jaula dourada, onde os cidadãos pagavam um preço alto para manterem suas vidas, e essa noite, especialmente, exigia cautela redobrada. Mas, havia algo naquele gatinho a fazia querer tê-lo por perto.

Leyla deslizava como uma sombra entre os becos e vielas. A arquitetura imponente das construções antigas erguia-se como testemunhas silenciosas de tempos passados, cada engrenagem e tubulação carregando consigo a história de séculos de magia e aventura.

Ao invés do pequenino fujão, o aroma de um homem alcançou as narinas de Leyla. Ela parou, seus sentidos aguçados captando a essência no ar. Não conseguia visualizar a figura do estranho a partir do cheiro, como de costume. Fechou os olhos, inspirou profundamente o ar que vinha daquela presença, que, parecia envolta em um véu de magia, ocultando suas intenções.

Com o coração batendo forte no peito, a moça virou-se rapidamente e adentrou o beco mais próximo. Ela saltou sobre obstáculos com agilidade, buscando uma rota de fuga. A figura sombria emergiu diante dela, bloqueando seu caminho com presença imponente. O homem misterioso estava lá, seu sobretudo envolto em sombras. - O que você quer de mim? - Leyla perguntou recebendo silêncio e um riso como resposta.

No mesmo instante, um som familiar lhe chegou aos ouvidos. Ao olhar para o telhado, a figura felina emergiu da penumbra e em poucos passos já estava no chão, cruzando o caminho de Leyla, parecia querer guiá-la com sua presença misteriosa. O gatinho se movia graciosamente à frente dela, como se soubesse o segredo para escapar do perigo iminente.

A garota sentiu-se intrigada pela aparição do gato, como se ele fosse um aliado improvável em meio ao caos da noite. Tudo parecia suspeito, mas ela decidiu seguir o misterioso animal, confiando em seu instinto para liderá-la para longe do homem sombrio que a perseguia.

O gatinho começou a escalar os parapeitos das janelas até chegar ao que parecia o telhado de uma pequena fabriqueta. Sem hesitar, Leyla lançou-se para cima também, subindo pelos canos e calhas e escalando os telhados com agilidade felina enquanto o homem misterioso a seguia de perto, seus passos pesados e arrogantes.

Leyla saltava de um telhado para o outro, sua respiração ofegante misturando-se com o vento gelado da noite enquanto ela se esforçava para manter-se à frente de seu perseguidor. No entanto, a perseguição logo se transformou em uma batalha frenética, quando o homem misterioso a alcançou, puxou-a pelo braço a desequilibrando, teria caído, se não fosse um cano que se rompeu e a levou para o terraço de um dos edifícios.

Finalmente, frente a frente, os dois se enfrentaram em um confronto mortal. Suas adagas reluziam à luz da lua, brilhando como estrelas cadentes em meio à escuridão da noite. Leyla lutava com destreza e determinação, seus movimentos fluidos e precisos enquanto ela tentava ganhar vantagem sobre seu adversário.

Por um momento, parecia que Leyla estava prestes a vencer, suas habilidades de luta superando as do homem misterioso. Mas então, com um movimento rápido e calculado, ele conseguiu desarmá-la, fazendo com que sua faca caísse no telhado abaixo. Leyla recuou instintivamente, seus olhos se estreitando em concentração enquanto ela avaliava suas opções.

No entanto, o homem misterioso não lhe deu tempo para recuperar-se, avançando com ferocidade renovada. A moça sabia que estava em desvantagem diante daquele homem imenso, mas se recusava a desistir. Com um grito de determinação, ela lançou-se contra ele, pronta para lutar até o fim pela sua liberdade e pela sua vida.

Com um movimento ágil e preciso, Ayla aproveitou uma abertura na guarda do homem misterioso e o derrubou do telhado com um golpe certeiro. Ele cambaleou, perdendo o equilíbrio, antes de desaparecer na escuridão abaixo. Um grito de surpresa ecoou pelo beco enquanto ela observava seu adversário cair, uma mistura de alívio e agitação correndo por suas veias.

Leyla se virou e começou a correr, seus pés ágeis encontrando apoio com confiança. O vento gelado chicoteava seu rosto, enquanto ela se lançava em direção à liberdade. Ela continuou seu trajeto, o gato preto permanecia ao seu lado, seu olhar astuto indicando que a aventura estava longe de terminar.

O que se confirmou alguns minutos depois, pois, foram surpreendidos pela presença do mesmo homem misterioso um pouco à frente. - Como ... como eu não consegui perceber ...  que raios de criatura é você? - Leyla perguntou mais para si do que para ele. O homem estava apoiado displicente na parede de uma casa e, mesmo com o capuz, parecia sorrir, não parecia querer atacar. Mas, sem dúvida ela estava para correr e, para bem longe, se possível.

- Espere. Agora que apresentamos nossas habilidades, podemos conversar? Necessito contratar seus serviços. - Disse ele, sua voz carregada de arrogância. Leyla parou abruptamente, avaliando a situação com cautela. - Como ousa me testar, como se eu tivesse interesse em fazer negócios com você. Quem é você e o que quer de mim? - Perguntou, mantendo sua postura firme apesar da tensão no ar.

Já estava acostumada com situações inusitadas e com pessoas estranhas que procuravam os seus serviços. Mas, ainda não conseguia pressentir as reais intenções do homem.

O homem continuou parado sem sair do lugar.  - Por hora, basta que saiba que tenho uma proposta irrecusável para você, posso lhe oferecer o que você procura há muito tempo. - Respondeu ele. Leyla estreitou os olhos, desconfiada das intenções dele.

- E se eu recusar sua oferta? - Ela questionou, e o homem deu de ombros. - Então teremos que fazer isso do jeito mais difícil. - Ela não se curvaria diante das ameaças de um estranho. Não mesmo. Com um gesto rápido, ela sinalizou para o gato ao seu lado, indicando que era hora de partir. - Se é assim que você prefere, que assim seja. - disse ela, preparando-se para mais uma fuga, desta vez com um desconhecido em seu encalço.

Herdeiras da TramaOnde histórias criam vida. Descubra agora