Meu nome é Sarah Andrade, tenho 30 anos e sou policial civil no Rio de Janeiro. Mas, para chegar até aqui, precisei passar por muita coisa ruim.
Na escola todos os dias eu era zuada e judiada por todos na escola, ninguém me respeitava e eu era considerada uma aberração só porque na gestação da minha mãe, houve un problema de formação e nasci intersexual e sim, eu tenho um pau, o que pra mim hoje é normal, eu sei que sou mulher e que gosto de mulheres. Mas, até eu entender isso, foram anos de dores, de sofrimento e ódio de mim mesma.
Eles judiavam de mim na rua e eu judiava de mim em casa. Eu sentia tanta raiva, que quando chegava em casa, eu cortava meus pulsos pra tentar me apegar na dor que eu causava em mim mesma, pra esquecer da dor que o mundo me causava. Até os meus 11 anos eu conseguia disfarçar. Mas, quando eu cheguei na puberdade, era difícil. Eu era judiada na escola e dentro de casa.
Os meninos da escola sempre me amarravam, me levavam para o banheiro dos fundos e me estupravam, era de um por um e eles adoravam. Ficavam me punhetando e colocavam meu pau dentro deles e se eu não gozasse, eu apanhava, ou, eles ameaçavam a cortar meu brinquedo com estilete e mesmo sem prazer e só com dor, eu era obrigada a gozar.
Como minha mãe trabalhava muito, eu vivia em casa com o meu pai. Ele até que era bonzinho, parecia um pai protetor e amável, ele era assim comigo quando eu era pequena. Era o tipo de pai que gostava de brincar de tudo comigo e sempre me chamava de minha princesinha. Mas, só foi eu chegar na adolescência, que ele começou a abusar de mim e minha mãe nunca desconfiava. Eu juro, tentava falar muito a ela do que me acontecia, mas, para ela, só existia o trabalho.
Minha mãe nunca foi uma ruim mãe, pelo contrário, ela sempre foi uma mãe incrível e amorosa. Mas, trabalhava tanto, que mal tinha tempo pra me dá atenção. Eu sempre procurava a entender, mas, não aguentava mais viver assim e eu decidi fugir de casa, quando completei 15 anos. Ainda tentei suportar 3 anos sendo violentada dentro de casa.
No início foi difícil pra mim. Eu vivia correndo pelas ruas da Paraíba, pra me proteger das coisas ruins e vivia atrás de comida, mas, no fim do dia a maioria das vezes só me restava o lixo mesmo.
Foi quando passei por uma rua e ouvi o choro, parecia de uma menina. Ela parecia ter uns 12 anos, então cheguei perto, pra tentar ajudar, mas, não me aproximei muito, com receio de que ela pensasse que eu fosse a machucar. Ela era tão linda e parecia tão triste, que até por um momento eu esqueci da minha tristeza.
Me recordo que fizemos amizade, o nome dela era Juliette e depois desse dia, ela me ofereceu pra ficar no porão da casa dela, pra não viver na rua e sempre quando a mãe dela saia pra trabalhar, ela me deixava comida. Eu nunca contei a ela da minha condição, com medo que ela me renegasse ou me fizesse maldade, mas, vontade não me faltou, ela parecia do bem.
Ficamos nessa por 6 meses, mas, logo fugi, porque eu estava mal em abusar dela e de sempre pegar comida. Eu pensava que isso não era justo com a mãe dela, que trabalhava pra sustentar a casa e eu pegava tudo de graça.
Segui meu rumo e toda vez que Juliette me dava algum dinheiro, eu não gastava 1 centavo, porque eu queria sair daquele estado, queria ter um valor ao menos para começar a sobreviver com um quartinho e tentar a sorte com um trabalho, qualquer trabalho eu aceitaria.
Antes de fugir do porão da casa de Juliette, eu ainda a roubei, tirei mil reais das economias dela e eu espero que um dia eu a encontre e devolva esse valor, ou ela aceite minhas desculpas, por ter tirado dela, quando ela confiava em min.
Com mil reais dela e mais quinhentos que ela me dava e consegui juntar por 6 meses, consegui uma passagem na rodoviária e segui para o Rio de Janeiro. A passagem foi 300 reais e o que me restava, eu precisava fazer render, para não precisar ficar morando na rua, ou simplesmente ser pega e ir para um abrigo. Isso era o que eu mais temia.
O filho da dona do quartinho que eu consegui alugar por 200 reais se tornou um grande amigo e a mãe dele me ofereceu trabalho na oficina. Eu comecei a ganhar dinheiro na oficina e continuava sem gastar um centavo. 500 reais por mês era um luxo pra mim e o Gil sempre me ajudava a pagar a minha alimentação .
A mãe dele ficava com dó de mim, eu sentia isso e dó, era tudo que eu não precisava que alguém sentisse por mim, porque eu queria mostrar que eu conseguiria e seria digna em vencer batalhando e trabalhando, sem precisar incomodar ninguém.
Nesse período, como eu ainda era menor de idade e a mãe de Gil sabia de toda minha história, ela conseguiu pra mim uns documentos falsos, como se eu fosse filha dela e maior de idade, cuidou muito bem de mim, me fez voltar para a escola e me deu trabalho.
Quando de fato completei 18 anos, eu não precisava mais daqueles documentos falsos e como eu já tinha autonomia e uma boa grana que dava pra me sustentar sozinha, sem luxo, porém com o que o que eu necessita no momento, eu comecei a ir atrás de trabalho e consegui o meu primeiro trabalho em uma empresa de jóias. Eu até que comecei a ganhar bem e através daí, consegui alugar uma casa, sem precisar morar em um quarto. A casa não era grande, mas, era digna de morar e tinha espaço.
Eu comecei a estudar enlouquecidamente, para passar no concurso, eu queria ser agente da patente e foi quando o Gil juntou a vontade dele de ser policial, em nome de toda homofobia que ele passa até hoje, seguiu o mesmo caminho que eu, que juntei toda minha raiva do preconceito e de toda violência que sofri e seguimos carreira na polícia.
É muito bom ter um irmão ao nosso lado no trabalho, a gente se sente seguro, mesmo voando e voando alto. Sou independente, mas, tenho com quem contar e eu tenho certeza que se eu continuasse engolindo tudo que eu engolia e vivendo daquele jeito, eu jamais teria chego onde cheguei agora e jamais teria amadurecido desse jeito.
Claro, jamais esquecendo das pessoas boas que me ajudaram. Juliette, Gil e a mãe dele, foram essenciais para eu jamais passar tanta dificuldade e meu sonho de agradecer pessoalmente aquela garotinha que um dia me ajudou, ainda está presente.
Por onde andaria minha mãe, Maria Abadia? Será que se separou daquele assediador, pedófilo e estuprador? Já ouvi relatos que ele pegava meninas novas a força, mas, não sei se minha mãe chegou a descobrir. Ela merece um cara do bem e não aquele maldito.
Minha vida aqui na polícia esses dias está agitada, tem um serial killer atuando todos os dias na cidade e eu estou louca pra descobri quem é. Ele sempre antes de matar, estupra a mulher e o perfil do infeliz é mulher que tem filha. E como se não bastasse, não estupra só a mulher, estupra a filha também, não importa a idade, se é bebê, criança, ou não. Sempre mulheres sendo mãe e todas morenas. Esse caso está cada dia mais podre.
A vida de uma policial civil não é fácil e de uma policia civivil mulher e ainda intersexual, é ainda pior. Mas, eu falo a vocês, jamais desistam dos seus sonhos e lutem por eles.
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SERIAL KELLER- SARIETTE/ INTERSEXUAL
FanfictionJuliette, durante a infância perdeu sua irmã e durante a juventude perdeu sua mãe. Mas, pelo caminho da vida, mais uma vez foi injustiça e foi estuprada, sendo mãe solteira e médica no sus. Sarah, filha de uma médica, policial civil, mas, que pra c...