Apresentação Juliette

604 42 3
                                    

Deixa eu me apresentar, meu nome é Juliette, tenho 26 anos, mãe da Luz, meu anjinho e sou médica no maior hospital do Rio de Janeiro, o Hospital Federal de Bonsucesso.

Eu tinha exatamente 9 anos, quando perdi minha irmã e foi por esse motivo, que coloquei na minha cabeça que iria ser médica. Eu abdiquei da minha infância, para estudar e tentar entender o porque que perdi o amor da minha vida.

Eu não queria aceitar, éramos unha e carne, melhores amigas e tinhamos tantos planos juntas. Enquanto a Julienne tinha 12 anos, eu tinha apenas 9 e jamais esquecerei o dia em que ela morreu, foi no dia do meu aniversário.

Julienne vinha reclamando a dias de uma suposta dor de cabeça. A minha mãe dava remédio, por uns 30 minutos passava e logo voltava. Foi no dia 22 de novembro, onde eu estava em casa sozinha com a minha irmã, que ela passou mal. Como minha mãe trabalhava no salão da cidade, julienne ficava encarregada de sempre cuidar de mim e isso ela fazia com maestria

Mas, no dia 22 de novembro, enquanto eu brincava de boneca, eu jurava que ela estava estudando para as provas e pensei errado, eu dei de cara com a Julienne caída ao chão, desacordada e eu sem saber o que fazer, liguei para a minha mãe, mas, ela não me atendia. 1, 2,3, 4, 15 vezes e nada da minha mãe atender ao telefone. Eu já estava desesperada, quando me lembrei que o número da ambulância era o 190 e eu disquei.

Eu só queria que eles me entendessem e acreditassem em mim. Quem que acreditaria em uma criança de 9 anos, ligando para a ambulância? Tentei por 28 vezes, sempre que me atendiam, mandavam eu parar de ligar e passar trote. Mas, uma alma caridosa decidiu acreditar no meu choro, o nome dela era Maria Abadia e eu jamais esquecerei do coração lindo que ela tinha e da calma que ela me passava, para que eu conseguisse falar o meu nome, o meu endereço e o motivo da minha ligação.

Ela e a equipe dela demoraram apenas 10 minutos para chegarem na minha antiga casa, ainda na Paraíba. Ela me auxiliou e cuidou tão genuinamente de mim e da Julienne, que eu me sentia segura perto dela. Ela tinha cheirinho de mãe e os carinhos que ela nos dava, nos acalmava tal qual o carinho que mainha sempre nos dava. Mas, eu queria a minha mãe e estava preocupada. Porque que mainha não me atendia? Sempre quando ligávamos, ela atendia no primeiro toque.

Expliquei sobre mainha a Maria Abadia e ela escreveu um bilhete, pedindo que quando chegasse em casa, ligasse para aquele número, que estaríamos com ela. Claro que ela não escreveu o motivo, mainha não iria suportar aquela notícia escrita por um papel ou por um telefone e eu não sei se ela acreditaria.

Lembro que aquela mulher queria me levar até a casa dela, porque hospital não era lugar de criança, mas, assim que a ambulância chegou, eu consegui correr e desviar caminho até a maca e me joguei em cima da minha irmã, com toda minha força, pra que ninguém me tirasse dalí e não teve quem conseguisse me tirar de cima.

Eu só sabia chorar, estava com medo de perder a minha irmã, com medo de ficar sozinha e com medo do que viria pra frente. Eu gritava o nome da minha irmã com revolta e ficava pedindo que ela acordasse, abrisse o olho, ou ao menos me desse um sinal de vida. Ela ficava tentando abrir os olhos, mas, eu via que os olhos dela estavam vermelhos, parecia até sangue. O braço direito ela conseguia levantar e ainda conseguiu mesmo de olhos fechados, fazer um carinho em mim, mas, o lado esquerdo parecia anestesiado, paralisado e hoje, eu entendo a causa, foi um avc.

Julienne tremia de frio e eu sem saber o que fazer, tirei o meu casaquinho e tentei aquecer ela, mesmo eu acabando ficando sem roupa, o que importava era ela ficar bem. Assim que eu percebi que a ambulância parou, eu agarrei com ainda mais força o corpo dela e prometi, sussurrando no ouvido dela, que eu faria de tudo pra que ela não sentisse medo e que eu não a deixaria sozinha.

Dona abadia quando me viu deitada em cima da Julienne em uma maca e eu só de shortinho, sem nada por cima, ela começou a chorar, pegou na bolsa dela uma blusinha infantil e me deu pra vestir. Não agradeci e não perguntei de onde veio aquela blusinha, mas, pensando hoje, ela deveria ter uma filha também.

SERIAL KELLER- SARIETTE/ INTERSEXUAL Onde histórias criam vida. Descubra agora