• Capítulo Seis

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Enquanto Agnes continuava com as perguntas, resolvi ir ao toalete. Levantei um pouco o ombro para que Liz notasse que iria sair. Ela retirou a cabeça delicadamente.

Finalmente, voltei a respirar.

Até o caminho ao toalete era charmoso, haviam grandes pedras apontando até um pequeno lago, e se encontrava logo depois da pequena ponte de madeira fosca. Me senti num filme de fantasia.

Quando entrei, logo me senti constrangida. Havia um grupo de adolescentes conversando em frente ao espelho com muitos acessórios e maquiagens espalhados. Paro à porta por alguns segundos, pensando se deixaria pra entrar depois ou enfrentaria isso agora. Não sei para vocês, mas um grupo de adolescentes juntos, pra mim, é a pior espécie de pessoas.

Percebo que estão se entreolhando e me encarando, engulo em seco.

— Você não vai entrar? – A loira pergunta.

— A gente não morde não, gata. – Uma garota baixa dos cabelos altos e cacheados afirma, mas tenho minhas dúvidas.

Elas são tão bonitas que fica difícil disfarçar a leve falta de ar que tenho nesse espaço fechado, ainda que eu esteja segurando a porta.

Fecho a porta e elas voltam a fazer sabe se lá o que estavam fazendo e começam a conversar diante disso. Percebo que duas delas não falaram nada e antes de entrar na cabine e as observo. Uma tem a pele preta e os cabelos longos e alisados. A outra se vira, talvez porque percebe que estou prestando muita atenção nelas. Eu penso em me virar e ignorar, mas ela não percebe que dá para ver seu reflexo pelo espelho. Ela fica com a cabeça cabisbaixa enquanto noto seus cabelos que não parecem estar muito hidratados, provavelmente porque foi recém pintado de preto e dá pra ver por sua postura que é alta. Começo a sentir que estou sendo uma esquisita tarada que está observando garotas num toalete, então paro. 

Entro na cabine.

— Ei, Raven. Me passa esse pincel maior aí, por favor? – Reconheço a voz, é a dos cabelos  cacheados.

Não ouço nada, somente o barulho de algo na bancada. Suponho que seja o pincel.

— Cara, aqui tem uns meninos lindos pra caralho, cês tem que ver. Um deles pediu meu Insta. – A loira diz.

— Bem que eu vi alguns mesmo, vou tentar chegar em alguém. Vou dar um tempo de me envolver com meninas, é mó trampo, muito drama envolvido. – Uma voz que não reconheço diz, suponho que seja uma das garotas que não se impuseram quando cheguei.

Dou a descarga. Elas parecem lembrar que estou ali, pois fazem silêncio.

— Aí porra, errei o delineado. – A cacheada diz. Eu entendo sua dor. – Foi mal perturbar de novo, Rav, mas você pode pegar o papel toalha que tá ai do seu lado?

Raven deve ser a garota que não disse nada até agora, a que estava na ponta da bancada quando vi. A do cabelo preto desidratado, mas muito lindo.

Ouço o barulho do papel sendo retirado.

— Ei gatinha, você tá bem, amor? Você calada é novidade. Estava a mil há 2 minutos atrás...

— Tô bem. – Finalmente, ela diz. E tosse em seguida, uma tosse alta.

Tomo coragem pra sair da cabine.

— Continua falando da garota lá. Alguma coisa Donovan, né? Adorei o sobrenome, me lembra um ator que gosto muito. Ele é demais.

Paraliso.
Não é possível.

— Porra, Alissa. Esquece isso, cara. Ela não é nada pra mim.

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